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Janus 1997



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Movimentos turísticos

Policarpo Lopes*

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Os movimentos turísticos são um dos eixos centrais do relacionamento entre povos, culturas e países. O turista é simultaneamente importador e exportador de bens e de influências.

O turismo pode ser definido como a procura colectiva da alteridade social, marcada pelo prazer, pela diversão e descompressão, centrada na abertura e na descoberta do "Mundo" e do "outro". Ao longo dos tempos foram as "mirabilia" da natureza, da História e do sobrenatural que mobilizaram os homens a viajar na descoberta do "Mundo" e do "outro". Hoje, aos valores culturais, estéticos, espirituais associaram-se (e sobrepuseram-se) os valores hedonistas numa grande pluriformidade, contribuindo para diversificar e segmentar o espaço de procura e da experiência turística.

Assim, em referência à sua morfologia espacial temos o turismo de mar, de montanha, de espaço rural ou urbano e o turismo itinerante. Em relação ao tempo identificamos o turismo veraneante, de férias, o turismo sazonal ou intersticial. Se considerarmos a sua natureza identificamos o turismo heliotrópico, cultural, étnico, esotérico, lúdico-desportivo, histórico, ambiental, termal, de saúde, e ainda de carácter político-científico.

Em termos de utentes, temos o turismo de elite, de luxo, formalizado no viajante clássico, e o turismo de massa, familiar e social. Desde 1950, o turismo é uma das actividades dominantes, tanto a nível mundial como regional. Da observação da Figura 1 (ver Infografia), ressalta primeiro que, apesar da recessão económica, a actividade turística continuou em expansão a nível mundial.

Em seguida, verificamos que os movimentos turísticos apresentam uma forte concentração geográfica: embora a perder quotas de mercado, em benefício de novos destinos emergentes, a Europa continua a ser o destino mais procurado. Em 1994 e 1995 recebeu 60% do movimento turístico internacional.

 

O lugar de Portugal

Portugal, apesar das suas potencialidades naturais, só em 1960 começou a sentir o impacte dos fluxos turísticos, registando-se um crescimento espectacular a partir de 1964. Em 1969, as chegadas turísticas externas foram de 1,1 milhões, para atingirem os 9,5 milhões em 1995. Regista-se um "boom" em 1985,1987 e 1990. Este crescimento em flecha sofre uma ligeira inflexão nos anos 92-93, devido ao clima recessivo internacional.

Na lista dos 20 principais destinos turísticos, a nível internacional, Portugal ocupava em 1990 o 14° lugar e, em 1995, o 17°. Em termos europeus, Portugal era o 12° país receptor em 1994. A nível dos países da O.C.D.E, Portugal ocupa o 4° lugar no crescimento das chegadas com um acréscimo de 4,2%.

Em 1993 quase 2 milhões de portugueses gozaram férias fora de casa, o que significa um aumento de 4,5% relativamente a 1992. A informação disponível não nos permite identificar, de forma fiável, a percentagem de portugueses que orienta a sua procura turística para o exterior nem tão pouco os locais de destino. Segundo o Eurostat o nível de férias internacionais da população portuguesa é ainda muito baixo. Contudo, o número de carros e autocarros de matrícula nacional em circulação pela Europa durante os períodos de férias é um indicador claro de que estes níveis estão em constante crescimento.

A relação de proximidade com a Espanha, França e Reino Unido faz que estes países sejam os destinos preferenciais dos portugueses. Porém a Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (A.P.A.V.T) fala da emergência de uma nova sensibilidade na procura turística para os países escandinavos, para o triângulo Viena, Praga e Budapeste e para países de longa distância como Cuba, República Dominicana, Tunísia, Tailândia e E.U.A. São essencialmente os quadros das empresas, certos comerciantes e altos funcionários públicos que solicitam os mercados externos, facto que explica, como é óbvio, os baixos níveis de procura externa e contribui para o desenvolvimento do turismo doméstico.

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A natureza da procura turística

Tanto as antigas como as novas formas de turismo apresentam já níveis de procura significativos, embora o turismo de montanha e o turismo de espaço rural, na sua pluriformidade (agro-turismo, turismo de aldeia ou turismo de habitação) que hoje a oferta pretende implementar, tenham fraca visibilidade. A procura turística, quer externa quer interna, concentra-se em três grandes zonas: Algarve, Grande Lisboa e Madeira, o que significa que o produto turístico português é essencialmente heliotrópico.

A Costa Algarvia, só por si, acolhe, por ano, mais de sete milhões de veraneantes. A concentração do turismo de sol e praia no Algarve estende-se ainda pela região turística de Lisboa e arredores. Os 847 km de costa que Portugal possui representam potencialidades inestimáveis à procura crescente deste tipo de turismo.

Na prática está intimamente associado a outras formas de turismo, designadamente de natureza cultural, na sua vertente histórica, ecológica e religiosa.

O turismo cultural está mais direccionado para as elites, para o viajante clássico, e o turismo especificamente religioso para as massas populares. Um dos sectores que está em plena expansão é aquele que engloba a realização de conferências, reuniões, congressos, seminários, a nível internacional e nacional. Em 1992 o nosso país posicionava-se entre os 25 primeiros destinos mundiais destes eventos. A expansão do sector resultou de uma série de factores, designadamente do investimento em infraestruturas na Costa de Lisboa, entre as quais sobressaem: o Centro Cultural de Belém, o Resort Caesar Park Penha Longa, os auditórios da Caixa Geral de Depósitos e da Marconi.

A promoção de “marketing” a nível internacional, designadamente por ocasião da presidência da U.E em 1992, do Congresso da ASTA em 1994 e de Lisboa Capital da Cultura 94, é outro factor explicativo do desenvolvimento deste tipo de turismo.

Segundo um estudo realizado em 1994-95, o mercado internacional privilegia os "meeting planners" para viagens de incentivos, conferências internacionais e lançamentos de produtos. As empresas nacionais tendem a organizar directamente os seus seminários de quadros e reuniões de administração. O turismo de natureza especificamente religiosa, a nível nacional, concentra-se em torno das romarias locais, regionais e nacionais e das peregrinações a Fátima. A nível internacional, está concentrado à volta da mesma realidade Fátima, que em 1993-95 recebeu peregrinações oriundas de 81 países dos 5 continentes. Em 1995, os mais representados foram Itália, Espanha, Alemanha, E.U.A e Polónia.

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* Policarpo Lopes

Doutorado em Sociologia pela Universidade Católica de Lovaina. Docente e Director do Curso de Sociologia da UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Tendências evolutivas dos movimentos turísticos

Link em nova janela Chegadas de turistas em 1995

Link em nova janela Os 20 principais destinos turísticos a nível internacional

Link em nova janela Fátima

Link em nova janela Turistas estrangeiros entrados em Portugal

Link em nova janela Chegadas de turistas em 1994 e 1995

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