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Janus 2004



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Portugal e América do Norte – relações económicas

Jorge Moita*

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As relações de Portugal com esta enorme região do mundo composta por apenas dois países, os Estados Unidos da América e o Canadá, embora passando por um período de relativa estagnação, possuem para nós uma importância que transcende em muito uma avaliação meramente quantitativa, a qual, de resto, não deixa de ser bastante relevante uma vez que esta região ocupa o segundo lugar, imediatamente a seguir à Europa, nas nossas relações com o mundo. Com efeito, em consequência das nossas opções europeias e da superconcentração das relações económicas com a Europa Comunitária que se lhe seguiu, os nossos contactos com os países desta região perderam importância em termos relativos, embora permaneça o facto de se tratar da região mais rica e poderosa do globo, onde residem e trabalham importantes comunidades de portugueses emigrados e à qual nos liga o mar comum que nos separa.

 

Aspectos das nossas relações económicas com a América do Norte

O quadro “Comércio e Turismo com a América do Norte” apresenta alguns aspectos quantitativos das nossas relações económicas com esta região. Do ponto de vista do comércio ocorreu, em 1996, um facto digno de nota. Com efeito, representando 5,1% das exportações portuguesas e 3,5 % das importações, esta região proporcionou a Portugal um saldo positivo na balança comercial de 421 mil contos. Este saldo positivo deveu-se aos 664 mil contos provenientes das nossas trocas com os Estados Unidos, tendo as nossas empresas aproveitado a forte retoma do segundo semestre naquele país, o que se traduziu por um crescimento de 6% das nossas exportações. O mesmo não ocorreu com o Canadá onde uma conjuntura medíocre conduziu a uma diminuição (- 6,2%) das nossas exportações.

O número de visitantes provenientes desta região é relativamente pequeno se tomarmos como referência o número total de estrangeiros que nos visita, não ultrapassando 1,3%. Todavia, a América do Norte constitui de longe a principal proveniência de visitantes estrangeiros, com exclusão da Europa Ocidental, ultrapassando em 3 vezes os 100 mil visitantes oriundos do Brasil, situando-se o Canadá em terceiro lugar mas muito próximo deste país lusófono. Em número de dormidas a importância desta região torna-se bem mais significativa, ultrapassando 3,4% do total de dormidas de estrangeiros para o ano de 1996. A América do Norte torna-se verdadeiramente importante em termos de receitas, ultrapassando 10,6% devido sobretudo às fortes despesas dos americanos, que representam por si só 9,3%.

O essencial do investimento português nesta região dirige-se principalmente para os EUA ultrapassando, em 1996, os 5,4 milhões de contos (5 milhões líquidos) representando 3,4% do investimento bruto português no estrangeiro. O investimento líquido português neste país atingiu em 1996, em termos acumulados, cerca de 25 milhões de contos (4,7% do investimento líquido português em todo o mundo). No que diz respeito ao Canadá, trata-se de um destino pouco importante para os investimentos portugueses no estrangeiro, tendo registado em 1996 o valor líquido de 239 mil contos.

O fluxo financeiro inverso, isto é, os investimentos dos países da América do Norte em Portugal, traduz-se também pela mesma acentuada diferença entre a maior importância dos EUA e o menor peso do Canadá. Apesar disso, o ano de 1996 foi para ambos um ano de nítido desinvestimento no nosso país, com valores que rondam os 19 milhões de contos de desinvestimento líquido para os EUA e 600 mil contos para o Canadá. Em termos acumulados, e em relação aos EUA, este país já investiu em Portugal cerca de 68 milhões de contos (valores líquidos), o que representa 3,1% do total do investimento líquido estrangeiro realizado até hoje.

 

Relações económicas com os Estados unidos da América

Durante quase três décadas e após porfiadas negociações, a nossa burocracia conseguiu estabelecer um acordo de dupla tributação com os Estados Unidos da América, o nosso parceiro político e económico mais importante da América do Norte e do grupo NAFTA. Os nossos parceiros da UE demoraram no máximo 1 a 2 anos a fazer um idêntico acordo. Se para a General Motors, a Ford e outros grandes grupos económicos, isso não constitui um óbice para efectuar investimentos directos em Portugal, para as pequenas e médias empresas a burocracia nacional, foi e ainda é, uma barreira difícil de ultrapassar. Como consequência, a nossa economia viu-se ao longo dessas penosas negociações privada de investimentos e instalação física de unidades industriais e de serviços dinâmicos e geradores de riqueza e trabalho, o que hoje em dia é mais importante que emprego. Foram para outros países, perto de nós, de onde exportam para Portugal. As trocas comerciais entre Portugal e os EUA, quando analisadas em termos numéricos têm de ter esse facto em consideração.

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Para os americanos, quando falamos de Portugal as primeiras associações de ideias que fazem são o Mateus Rose, Estoril, Cascais, por vezes o Oporto e para alguns o turismo algarvio e os campos de golfe da Quinta do Lago. Não temos pois muitas marcas implantadas no mercado e não somos uma forte zona de destino em termos turísticos. Os nossos restaurantes, dois ou três em Manhattan por exemplo, têm nomes como a Cabana do Carioca porque, como diz o proprietário, se eu lhe puser um nome português ninguém vem cá porque não nos conhecem. É preciso ir para New Jersey, (Newark) e para o norte (Rhode Island) ou então para São Diego, Sacramento, etc., para encontrarmos os nomes portugueses bem claros nos anúncios de néon. Mas aí, são zonas das comunidades portuguesas das costas Oeste e Este dos EUA.

Não é pois de admirar não encontrarmos vinhos para além do Mateus e Porto e começar a encontrar todos os nossos produtos de boa qualidade desde os cristais às cerâmicas, etc. Mesmo as revistas influentes na opinião pública americana, nomeadamente no mundo dos negócios, parece que não nos conhecem. A Fortune por exemplo, não nos recomenda como uma localização com alguns atractivos para investimentos, num conjunto muito vasto de cidades europeias. Parece lógico concluir que ainda sofremos os efeitos dessas negociações penosas que duraram 32 anos e temos um sério problema de imagem quer na opinião pública quer no mundo dos negócios nos EUA.

A economia portuguesa, cansada de estar "orgulhosamente só", quando teve a abertura europeia para aí se virou de armas e bagagens, esquecendo-se das Américas e de África. Em 1985, por exemplo, as nossas exportações para os EUA eram cerca de 9% do total. Em 1996 representaram somente 4,5%. Por um lado, perdemos o estatuto de país beneficiário do sistema de preferências dos EUA o que criou barreiras alfandegárias aos nossos produtos e os terá tornado porventura menos competitivos no mercado; por outro lado nas economias europeias essas barreiras foram fortemente atenuadas. Cerca de 82% das nossas exportações vão para a Europa. Este elevado grau de concentração torna vulnerável de um só destino as nossas exportações. O nosso nível de exportações para os EUA não apresenta uma tendência crescente nos últimos três anos. Quer dizer que não temos diversificado os destinos das nossas exportações, mesmo durante o período da recente recessão europeia dos anos 93/95. As importações portuguesas de produtos dos EUA conheceram a mesma tendência: para os anos referidos (1985/1996), baixaram de cerca de 14% para 3% do total das nossas importações.

É interessante ver os produtos que importamos e exportamos de e para os EUA. A nossa indústria de moldes merece destaque. Segundo o ICEP, exportámos mais de 50 milhões de dólares em 1995 para os Estados Unidos, o que significa cerca de 25% da nossa produção neste tipo de produtos. Para 1996, a estimativa é superior e para os próximos anos as previsões são optimistas. Em termos gerais, os quadros “Comércio e Turismo com a América do Norte” e “IDPE (No Exterior) 1996” apresentam as principais grandes categorias do que importamos e exportamos. As nossas exportações acentuam os nossos produtos tradicionais. Do lado das importações notam-se as categorias de produtos mais elaborados.

Mas esta análise é hoje em dia equívoca. O meu computador IBM no seu interior tem peças de pelo menos 6 países entre eles Portugal. O teclado é Made in Thailand, o rato IBM é da China. O Intelimouse da Microsoft é do México, e assim por diante. A globalização da economia não permite já uma análise de origens/destinos com estatísticas tradicionais. Permite tão somente detectar lacunas na política e ajudar na formulação de cenários contendo as nossas expectativas de melhorar as nossas relações com o grupo NAFTA.

Primeiro, não se pode demorar 30 anos a negociar um acordo fiscal, ou qualquer outro. Segundo, há que redobrar os esforços do ICEP na criação da nossa imagem. Terceiro, há que flexibilizar (os nossos e os deles) investimentos directos nomeadamente os que utilizam tecnologias de ponta. Convém nunca perder de vista que o que a Siemens pode produzir às portas de Lisboa por 10 dólares poderá amanhã ir fazê-lo por menos de metade a curta distância de Berlim. A globalização da economia exige uma atitude mais competitiva da nossa economia e um sentido geográfico mais apurado. Isto é, precisamos de conhecer bem os ventos da economia internacional para ter empresas que possam repetir a "lenda" de Pedro Alvares Cabral. Isso não se faz sem trabalho e investigação. Dois pontos merecem referência: o papel das Câmaras de Comércio e as actividades do ICEP.

A recém-nascida APACC – Association of the Portuguese American Chambers of Commerce tem um objectivo de longo prazo que queremos sublinhar: "A constituição de uma vasta estrutura de Câmaras de Comércio representativas das várias regiões do mundo onde existem comunidades que têm, como traço comum, o horizonte da portugalidade". A existência de um projecto desta natureza pode gerar efeitos multiplicadores nos domínios económico e cultural, ajudando a orientar a nossa economia para mercados potenciados pelas comunidades portuguesas espalhadas pelo vasto espaço americano. É um projecto moderno, que poderá ajudar a abrir às nossas empresas o espaço global onde a economia real hoje se desenvolve em ritmo crescente. No princípio do século XXI não se pode terminar um artigo sobre economia sem falar na NET. E aqui deixamos um site para consulta de quem se interroga sobre a nossa economia e o seu futuro: é uma página do ICEP de muito boa qualidade técnica onde se oferece uma síntese da nossa imagem e se abrem portas para investigações mais profundas sobre o nosso país e a nossa economia. Quando nessa página pudermos ter com mais evidência o objectivo de longo prazo da APACC, penetraremos com mais eficiência com a nossa imagem no mundo dos negócios americanos.

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* Jorge Moita

Ex-Conselheiro Interregional em Desenvolvimento Económico das Nações Unidas. Docente no ISEG.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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