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Janus 2004



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Portugal e a Ásia-Pacífico – relações económicas

João Dias*

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As intensas relações comerciais e culturais de Portugal com a zona da Ásia-Pacífico (AP) nos últimos séculos projectaram uma forte impressão no imaginário português. Índia, China e Japão são alguns dos casos de uma forte ligação subsequente à época dos descobrimentos, com os casos de Macau e Timor a persistirem de forma mais contundente no presente. As relações actuais com a AP são muito menos intensas, apesar de uma dinâmica da importância económica e da dinâmica de crescimento de um conjunto de países desta área. Traçar um quadro nítido do relacionamento actual de Portugal com a Ásia-Pacífico revela-se tarefa complexa, dadas as limitações da informação disponível. Esta informação é fragmentária ou simplesmente não existe, situação que, nalguns domínios, se tem vindo a agravar nos últimos anos. Ainda assim, serão abordados os aspectos referentes ao movimento de pessoas, de capitais e de mercadorias.

Um primeiro aspecto interessante seria justamente o de analisar em que medida o peso do passado no imaginário colectivo português se projecta na vontade de visitar os países da AP. Naturalmente que visitar um país tem (crescentemente) que ver com outras determinantes económicas. De qualquer forma, parece não haver registo de "para onde viajam os portugueses", pelo que não é possível dar aqui conta das preferências nacionais em relação à AP. Do ponto de vista dos países da AP, Portugal tem um peso bastante reduzido (e decrescente), seja em termos de importância turística ou de local de negócios. No total, a zona da Ásia-Pacífico representa apenas cerca de meio ponto percentual do número de estrangeiros entrados em Portugal em 1996, valor inferior ao registado no início dos anos 80. O crescimento e modernização da economia portuguesa passam, em larga medida, pela captação de investimento directo estrangeiro (IDE). Mas essa modernização e expansão, a par com a globalização crescente da economia mundial, impõem cada vez mais a necessidade de as empresas nacionais também investirem no exterior (IDPE).

A internacionalização das empresas portuguesas é ainda incipiente, particularmente no que se refere à zona AP, dada a forte dependência de Portugal do espaço da União Europeia. Em 1996, apenas 0,1% do investimento directo de Portugal no exterior se dirigiu para os países da Ásia-Pacífico, zona de crescente captação do IDE mundial e, também neste domínio, competidor de Portugal. Quanto ao peso desta zona económica no IDE realizado em Portugal, este é também ainda pequeno, apesar de alguns investimentos japoneses e sul-coreanos realizados nos últimos anos no nosso país. No seu conjunto, os países desta área geográfica representaram apenas cerca de um por cento do total do IDE registado em Portugal em 1996. As trocas comerciais entre Portugal e os países desta região têm um peso substancialmente maior do que o dos investimentos directos e aproximam-se já mais da real importância económica desta zona.

A forte competitividade de alguns destes países traduz-se num crescimento elevado das suas exportações para os principais mercados. Também no caso português, a capacidade exportadora de países como o Japão, os Novos Países Industrializados (NPI: Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Taiwan), a par de alguns países do grupo ASEAN e, mais recentemente, da China, tem originado um elevado crescimento das importações portuguesas com origem nestes países. As exportações nacionais não têm acompanhado o ritmo das importações, pelo que existe um défice comercial de alguma importância com alguns desses países (Japão, Coreia do Sul...).

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Note-se que, a par das relações comerciais com os países mais dinâmicos desta área, as trocas com outros países são muito reduzidas ou nulas. É bem o caso da Índia onde, claramente, o presente e o passado nas relações comerciais com Portugal estão em pólos opostos.

 

Informação Complementar

A concorrência dos NPI

Na esteira do Japão, a zona da Ásia-Pacífico regista um conjunto de países com um forte crescimento económico nas últimas décadas e um dinamismo exportador sem precedentes. O primeiro grupo de países (signifiativamente designados por dragões, ou tigres) é constituído pela Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Taiwan. Estes Novos Países Industrializados (NPI) têm, durante os últimos anos, atraído significativos investimentos externos em produtos de alta tecnologia, pelo que este tipo de produtos representa já a maior parte das suas exportações. Uma segunda vaga de países do grupo ASEAN (Tailândia, Filipinas, Indonésia e Malásia) segue entretanto os NPI. A própria China tem registado, após as reformas iniciadas em 1978, uma enorme expansão nas suas exportações. No seu conjunto, a zona da Ásia-Pacífico constitui uma zona de fortíssimo crescimento e transformação económica, com claras repercussões à escala mundial.

Uma comparação da evolução das exportações destes países mais dinâmicos da Ásia do Sul e Sudeste com Portugal no mercado da União Europeia é ilustrada nos gráficos Portugal: Peso de Alguns Produtos nas Exportações para a EU; NP14: Peso de Alguns Produtos nas Exportações para a UE e no quadro Conteúdo Tecnológico das Exportações de Produtos Manufacturados para a União Europeia. No primeiro caso, note-se a persistente dependência de Portugal nos "têxteis e calçado" e a clara substituição destes produtos por "electrónica" operada pelos dragões. No segundo caso, registe-se o forte peso (e crescimento) dos produtos de alta tecnologia nas exportações destes países para a União Europeia, contrariamente ao verificado por Portugal, onde se deu mesmo uma ligeira queda na importância deste tipo de produtos nos últimos anos. A persistente e reforçada especialização portuguesa em produtos de baixa e intermédia tecnologia torna mais problemática a posição competitiva nacional, face à crescente pressão de novos países com baixos salários no mercado mundial nos produtos mais tradicionais.

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* João Dias

Doutorado em Economia pelo ISEG. Docente no ISEG.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Entradas de estrangeiros em Portugal, 1996

Link em nova janela Investimento directo de Portugal no exterior (IDPE) e investimento directo estrangeiro (IDE) em Portugal, 1996

Link em nova janela Comércio externo de Portugal, 1996

Link em nova janela Portugal: peso de alguns produtos nas exportações para a UE

Link em nova janela NP14: peso de alguns produtos nas exportações para a UE

Link em nova janela Conteúdo tecnológico das exportações de produtos manufacturados para a União Europeia, 1988 e 1995

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