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Janus 2004



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Das Exposições universais à Expo 98 – o património dos Oceanos

Inês da Costa Pessoa *

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Há mais de um século que se organizam exposições internacionais fazendo convergir para uma cidade povos de todo o mundo. Em 1851 realizava-se no Crystal Palace, em Londres, aquela que é hoje unanimemente considerada a primeira grande exposição mundial, incentivando a multiplicação de iniciativas do mesmo teor, como confirmam as cerca de 90 exposições realizadas até ao momento, em mais de uma vintena de países. As raízes destas mostras remontam à antiguidade, embora nessa altura se apresentassem sob a forma de grandes mercados, feiras ou festivais.

As exposições mundiais têm, no presente, um pendor essencialmente cultural e formativo em detrimento do carácter comercial e mercantil que caracterizava as exibições de outrora: em pleno século de revolução industrial, não só se ostentavam as grandes inovações tecnológicas do momento – utensílios agrícolas e máquinas ligadas à indústria têxtil — mas ofereciam-se essencialmente produtos susceptíveis de ser transaccionados, como tapeçarias, objectos de porcelana e artigos exóticos. A dimensão lúdica começou a ser explorada mais tarde pelos EUA que, nas suas grandes manifestações científicas e culturais, conciliavam a transmissão de novos conhecimentos com propostas de entretenimento que atraíssem um maior número de adeptos.

Independentemente do vector privilegiado nas exposições (negócio, diversão ou didactismo), sempre foi e continuará a ser, para as cidades e países de acolhimento, um prestígio enaltecer a própria tradição e identidade, concedendo uma imagem notória das mesmas junto de uma série de nações. Aliás, um dos maiores proveitos das exposições internacionais é favorecer o cruzamento de valores, de estilos de vida, de modos de fazer, estar e sentir heterogéneos, proporcionando um enriquecimento nunca alcançado por eventos nacionais.

A percepção de que as exposições mundiais não poderiam ser acontecimentos geridos arbitrária e anarquicamente conduziu à criação do Bureau International des Expositions em 1931, após a Convenção Internacional de 22 de Novembro de 1928, em Paris. Este organismo intergovernamental, actualmente com sede em Paris e presidido pelo dinamarquês Ole Philipson, possui personalidade jurídica, conta com representação de 86 países (entre os quais Portugal) e está vocacionado para regulamentar os eventos internacionais (aspectos legislativos, financeiros, medidas de segurança e periodicidade), garantindo assim a conformidade do projecto às normas previamente impostas.

Dentro dessas, instituiu-se que a duração das exposições não deveria ultrapassar os 180 dias, sendo ainda fundamental a apresentação de um Tema, espécie de alicerce que servirá de fio condutor aos conteúdos da exposição. A questão do Tema foi matéria de inúmeras discussões, visto que inicialmente havia uma forte pretensão de universalismo e abrangência no que concerne aos objectos exibidos. A partir dos anos 20, o tratamento enciclopédico das exposições deu lugar à opção por assuntos específicos de interesse público, relacionados com aspectos de ordem histórica, técnica, científica e moral. Portugal esteve representado não só na primeira exposição mundial, em Londres, como também noutras que lhe sucederam, embora nem sempre com o mesmo estatuto. De um total de 96 acontecimentos foi possível averiguar que o nosso país compareceu em mais de 20: sabe-se que em 6 participou oficialmente — o governo respondeu afirmativamente à solicitação do país hospedeiro — e em 2 não oficialmente — o governo declinou o convite por razões políticas, permitindo no entanto que os expositores interessados decidissem acerca da sua presença — (1880-1881 em Melbourne, na Austrália e 1889 em Paris).

Em Junho de 1992, a Assembleia Geral do BIE atribuiu a Portugal (contra Toronto) a responsabilidade de preparar a exposição mundial de 1998: a última do século XX. Assim, no decorrer do Ano Internacional dos Oceanos (segundo declaração da ONU), é a vez de Portugal ser anfitrião, reunindo em Lisboa um conjunto de aproximadamente 145 países e organizações internacionais que se irão deter durante 132 dias (de 22 de Maio a 30 de Setembro) em torno das questões oceanográficas e ambientais, despertando assim a atenção da humanidade para a necessidade de valorizar e preservar a riqueza marítima. "Os Oceanos, um Património para o Futuro" é um tema que, dando voz a um problema inquietante para o mundo contemporâneo, não pode ser mais apropriado para fazer realçar um país banhado por mares e com uma tradição naval internacionalmente reconhecida. Por essa mesma razão se aproveita para celebrar os 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia em 1498, num século de descoberta de novos continentes e de verdadeiro apogeu português.

São ainda aprofundados quatro subtemas — Conhecimento dos mares, recursos dos oceanos; Os oceanos e o equilíbrio planetário; Os oceanos dos lazeres; Os oceanos, fonte de inspiração artística — reflectidos por meio de pavilhões temáticos: de Portugal (que salienta o papel dos portugueses na descoberta e conquista marítima, relembrando a viagem de Vasco da Gama), do Conhecimento dos Mares (onde são apresentados os progressos científicos no domínio dos oceanos, conquistados pelo homem ao longo dos tempos), do Futuro (no qual se elucida e sensibiliza o visitante para as questões levantadas pelos mais recentes programas de investigação oceanográfica), dos Oceanos (que tem como principal referência o maior Oceanário da Europa e o segundo mais amplo do mundo) e da Utopia (construído para estimular o imaginário das pessoas, proporcionando-lhes navegar pelos mitos, as crenças, as utopias e as lendas que no passado se criavam sobre os mares e os oceanos). Para além dos pavilhões, a Expo98 oferece um anfiteatro ao ar livre para a realização de múltiplas iniciativas culturais; um vídeo-estádio destinado a grandes espectáculos musicais; os jardins da água dedicados ao desporto e ao lazer e muitos outros espaços de animação e celebração da grande festa dos oceanos.

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Não obstante o avultado número de visitantes que aderem a estes mega-eventos — cerca de 200 milhões de visitantes afluíram às mais destacáveis e recentes exposições mundiais realizadas em Bruxelas (1958), Montreal (1967), Osaka (1970) e Sevilha (1992) — a afluência varia consoante o perfil de cada exposição, a sua duração e dimensão e com a mediatização que é feita em torno da mesma. Pensa-se que Lisboa conseguirá atrair por volta de 8,5 milhões de pessoas, entre as quais terão grande peso os portugueses e espanhóis, embora se espere igualmente uma comparência expressiva de americanos, japoneses e de oriundos dos países africanos de língua portuguesa. Para finalizar, refira-se ainda a importância das exposições mundiais como um factor de incentivo à reabilitação urbana dos países que as realizam: por vezes as cidades de acolhimento não estão preparadas para receber números tão significativos de visitantes, quer ao nível de vias de acesso e transportes, quer de edifícios e espaços apropriados para os albergar e encontram assim uma oportunidade única de enriquecer o seu património.

A exposição de Paris, em 1900, estimulou a inauguração da primeira linha metropolitana e em Lisboa podemos todos testemunhar os esforços feitos no sentido de reaproveitar uma das áreas mais poluídas e deterioradas da cidade — a zona oriental. Assim se cruzam, através da Expo98, interesses nacionais e internacionais: por um lado, a capital de Portugal irá ficar favorecida com os fortes investimentos em redes viárias, locais para habitação, comércio e serviços, equipamentos culturais e desportivos e espaços verdes, numa área que, sendo geograficamente privilegiada, foi durante muito tempo negligenciada. Por outro, a Exposição de Lisboa será certamente relembrada pelo seu contributo para uma causa planetária: a reflexão em torno do maior recurso do futuro.

 

Informação Complementar

Expo98: De Mundial a Universal

A terminologia utilizada para designar as grandes exposições realizadas fora das fronteiras nacionais não tem sido nem clara, nem pacífica. Conceitos como universal, mundial e internacional confundem-se e foram no presente texto, tal como na maior parte dos casos em que se reflecte sobre estes fenómenos, enunciados sem um critério semântico rigoroso: a intenção reside basicamente na necessidade de referenciar um acontecimento supranacional. Contudo, é importante esclarecer porque é que a Exposição de Lisboa é mundial e não universal ou internacional. Até 1988 fazia-se uma distinção entre exposições "universais" e "internacionais especializadas". As primeiras, mais importantes, eram consideradas de primeira categoria, tinham uma maior duração e o espaço ocupado era bastante superior às de segunda categoria. Em 1988, o BIE decide criar dois novos conceitos no sentido de substituir os anteriores: as exposições "registadas" correspondem às "universais" e as "reconhecidas" às "internacionais especializadas", mas só em 1996 é que esta alteração entra em vigor.

Quando Portugal se propõe realizar uma exposição em Lisboa, só era possível inscrevê-la no BIE como exposição "reconhecida" (especializada), tendo em conta que entre 1992 e o ano 2000 estavam já contempladas duas exposições de carácter universal (as de Sevilha e Hanôver). Todavia, não só não interessava a Portugal a perspectiva de realização de um acontecimento de "segunda categoria", como também não pareciam favoráveis as condições que teria de aceitar: a exposição não poderia ultrapassar os 90 dias de duração, num espaço limitado por 25 hectares. Uma série de negociações com o poder decisor do BIE, resultaram na abolição das distinções feitas até então entre os dois tipos de exposições, passando todos estes eventos, independentemente das suas características espacio-temporais, a ser considerados "mundiais", daí a designação da Expo98 como Exposição Mundial de Lisboa. Conseguiu-se, então, acordar que o evento tivesse a duração de 132 dias num espaço de 60 ha e alcançou-se o carácter de universalidade tão desejado, já que, se atendermos à tradução para inglês e francês do termo "mundial", obtemos as designações de "World Expo" e "Exposition Universelle".

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* Inês Costa Pessoa

Licenciada em Sociologia pela UAL. Assistente de Investigação no Observatório de Relações Exteriores da UAL.

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