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Onde estou: | Janus 1998 Supl. F.A. > Índice de artigos > F.A. portuguesas: funções e transições > [A posição de Portugal no mundo e os seus reflexos nas F.A.] | |||
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Na Europa, hoje como há séculos, Portugal e a Inglaterra, sem que tal tivesse sido sempre evocado ou explicitado, foram os países que agiram naturalmente e de forma coerente com a sua mentalidade marítima. De forma também naturalmente diferente se manifestaram as potências de mentalidade marcadamente continental, a França, a Rússia e, fora da Europa, discretamente, a China. Novamente se verificou a incapacidade frequentemente manifestada pela União Europeia em adoptar uma Política Externa e de Segurança Comum, projecto que começa já a estar rodeado de alguma incredibilidade. Podemos encontrar na História e na Geografia o quase imperativo geo-histórico que explica as atitudes agora assumidas. Portugal nasceu de um condado cedido por dote a um nobre europeu e a futura capital foi conquistada com o apoio dos cruzados, as coligações militares europeias temporárias da Época Medieval. Ainda na primeira dinastia, o último rei envolveu-se em três guerras contra Castela, um conflito europeu que opôs as futuras potências marítimas, Portugal e Inglaterra, às duas grandes potências de mentalidade sempre continental, Espanha e França. Estas duas alianças voltaram a enfrentar-se na Península Ibérica e a mesma diferença de mentalidades e de atitudes ainda influenciou claramente a posição das quatro potências já nesta metade do século XX, tanto na entrada de Portugal e da Espanha para a União Europeia Ocidental, como na formação do Eurocorpo. A partir das guerras de D. Fernando contra Castela, Portugal, país europeu desde a fundação, nunca mais conseguiu evitar envolver-se em todos os grandes conflitos do velho continente. Portugal não foi nem é um país periférico, a não ser para os decisores do actual sistema económico construído a partir do sempre perturbador centro de gravidade localizado na Europa do Meio. Saltando na História, o século passado começou com um daqueles conflitos.
A esquadra de Siniavin Em Novembro de 1807 procurou abrigo no porto neutro de Lisboa a poderosa esquadra russa do almirante Siniavin, tão poderosa que o número de navios excedia o permitido pelo estatuto de neutralidade que Portugal vinha procurando manter, desde 1801. O Rei recebeu o almirante russo e poucos dias depois, a 29 de Novembro, embarcou para o Brasil, com a quase totalidade da Armada portuguesa. A esquadra inglesa do almirante Sidney Smith fazia o bloqueio naval do porto de Lisboa desde o dia 20 e prestou honras militares ao nosso Rei no dia 30, quando os últimos navios portugueses saíam a barra, ao mesmo tempo que a guarda avançada de Junot entrava em Lisboa. Tinham começado as Invasões Francesas, inicialmente com participação espanhola. Portugal tinha apoiado o seu aliado ao recusar o bloqueio continental decretado por Napoleão e aceitou a presença inglesa, mais ou menos forçada no continente e sem consulta nos Açores, na luta contra a França. Não é neutro quem quer, mas quem pode. A Bélgica, país que nasceu apenas em 1831, duas vezes declarou a neutralidade e duas vezes foi invadida. Durante e após a Guerra Peninsular, as Forças Armadas portuguesas reestruturaram-se, e o sistema nacional de fortificações foi reforçado, tudo com base nos ensinamentos colhidos no contacto com inimigos e aliados, franceses e ingleses. Mas as guerras que Portugal teve que travar na segunda metade do século XIX não foram na Europa, mas sim em África. Neste aspecto, o século XX foi uma repetição do século anterior. Começámos mais uma vez com a participação nos conflitos europeus, rapidamente transformados em Guerras Mundiais, com consequências importantes para os nossos territórios ultramarinos. A crescente globalização dos conflitos, maior importância conferiu à nossa posição geoestratégica.
Duas mobilizações Duas vezes mobilizámos e nos preparámos para lutar na Europa. Apesar das reticências que o sistema político português levantava às democracias aliadas, o interesse pela posição geográfica de Portugal, durante e após a última Guerra Mundial, foi decisivo para a sua admissão como membro fundador da NATO. Porém, na segunda metade do século tivemos que travar em África uma guerra de características totalmente diferentes, para a qual inicialmente não estávamos preparados. Precedendo os outros ramos das Forças Armadas, a Marinha tinha começado a participar na actividade de treino operacional da NATO muito cedo, em 1950-51. Foi notável o esforço de modernização dos meios, de estudo das novas doutrinas e dos novos conceitos operacionais e tácticos que as marinhas aliadas tinham desenvolvido secretamente, durante a guerra. E quando, a partir dos últimos anos da década de 50, as atenções se voltaram para África, as Forças Armadas não deixaram de participar, com continuidade, no sistema de defesa transatlântico estabelecido pela NATO. Se, nos tempos em que era grave a ameaça no hemisfério Norte e em que travava uma guerra no Sul, Portugal pôde ponderar, com honra e sensatez, o equilíbrio entre as opções Europa e África, ambas de carácter eminentemente atlântico, é inacreditável que hoje, em ambiente de paz, haja quem considere que essa dupla dedicação constitui tarefa insuperável.
Dupla personalidade Na verdade, Portugal sempre foi europeu e atlântico, mesmo que a esta atlanticidade se atribuam significados diferentes, todos impostos pela posição de Portugal no mundo: o da opção transatlântica da defesa Ocidental, euro-americana, ou o do interesse de Portugal em acompanhar a Europa em processo de integração, ou ainda o do interesse nacional em manter e aprofundar as relações históricas e culturais criadas há cinco séculos. O português é a terceira língua da bacia do Atlântico, a seguir ao inglês e espanhol e acima do francês, e as mais valiosas posições geoestratégicas do Atlântico, a Sul do importante paralelo que passa pelo Continente e Açores, com excepção do Cabo da Boa Esperança, falam a língua portuguesa e pertencem à CPLP. As grandes reestruturações e modernizações das Forças Armadas tiveram sempre lugar durante os conflitos e no período que imediatamente se lhes seguiu. Se a guerra exige o empenho sem limites da nação, a invenção e a inovação, o pós-guerra é sempre tempo de desmobilização e de modernização imposta pelas lições que o conflito tão duramente proporcionou. A década de 90 apresenta uma particularidade em relação ao que foi dito: a guerra terminada e que tanto contribuiu para o espectacular desenvolvimento científico e tecnológico foi uma guerra fria, toda baseada nos equilíbrios das capacidades mais variadas para a dissuasão mútua de qualquer ideia de agressão. Mas as preocupações do pós-guerra mantêm-se: modernização e desmobilização ou redimensionamento a significar redução.
Redimensionar Portugal deverá redimensionar as suas Forças Armadas, mas a redução não deve ser excessiva nem ditada pelo orçamento. E terá, certamente, que as modernizar, para acompanhar o mundo europeu e atlântico em que está inserido. O prestígio de um país depende muito do poder que possui ou que põe à disposição da comunidade internacional a que pertence. Portugal tem tido uma maior aceitação e credibilidade em todas as organizações internacionais de que faz parte, ocupando com dignidade diversos cargos e assumindo responsabilidades que muito o prestigiam. Para além do valor da acção diplomática que vem desenvolvendo, entre os factores do poder nacional que exibe, certamente que ocupam lugar de maior relevo o factor geográfico e a competência e disponibilidade do factor militar.
Informação Complementar Portugal na Europa Portugal nunca deixou de participar nos assuntos europeus, nem conseguiu evitar ver-se envolvido nos conflitos entre as grandes nações europeias. São inúmeras as intervenções portuguesas que antecederam a nossa actual participação no conflito da Bósnia. Entre os muitos acordos estabelecidos durante a I Dinastia e as duas guerras mundiais deste século, recordam-se alguns dos episódios do nosso envolvimento na História da Europa (a projecção de poder era quase exclusivamente através do mar): 09.05.1386 15.06.1500 01.04.1534 27.05.1588 12.01.1672 25.07.1716 28.04.1717 15.08.1761 05.07.1776 19.06.1784 18.04.1789 16.06.1792 25.05.1793 20.09.1793 13.01.1794 19.09.1795 30.08.1808
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