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- JANUS 1999-2000 -

Janus 2001



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As telecomunicações e o futuro

Raul Junqueiro *

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A evolução tecnológica não tem parado nas telecomunicações, ao mesmo tempo que as fez convergir, primeiro, com a informática e, mais recentemente, com o audiovisual e o entretenimento, gerando as infotecnologias. Estas tecnologias de informação e os sistemas que lhes estão associados percorrem horizontalmente as diversas actividades económicas e sociais, mostrando-se determinantes na sua reorganização, eficiência e rentabilidade.

A liberalização, por seu turno, vai prosseguindo a marcha iniciada há alguns anos, abrangendo um número cada vez maior de áreas de actividade, imprimindo uma renovada dinâmica ao mercado, introduzindo uma concorrência agressiva, dando uma atenção crescente e prioritária aos interesses dos utilizadores.

Também a privatização dos até aqui operadores públicos de telecomunicações ocorre um pouco por toda a parte, mostrando que os capitais privados são bem-vindos ao apoio dos pesados programas de investimento. Mas evidencia também que os Governos vão considerando as telecomunicações cada vez menos como meras infra-estruturas e cada vez mais como parceiros fundamentais na dinamização do tecido económico e empresarial.

Outra das características das telecomunicações dos nossos dias, a internacionalização, resultou da necessidade de sair dos mercados tradicionais e partir à disputa de outros, levando nomeadamente os operadores de telecomunicações a enfrentar o mesmo tipo de desafios que, há alguns anos, se colocaram aos industriais do mesmo sector, com a formação de alianças estratégicas a nível global. A internacionalização resulta ainda da constatação do carácter global das telecomunicações.

São estas tendências gerais das telecomunicações que trazem hoje o sector para a ribalta da actividade económica, dada a força dos respectivos impactes, quer ao nível do aparelho produtivo, quer ao nível do consumo, quer ao nível da transformação das organizações, da educação e formação dos recursos humanos e dos métodos de trabalho.

Entre as tendências enunciadas merece particular destaque a Convergência. Para melhor compreender a sua importância importa constatar a própria mudança da cadeia de valor. O que hoje é oferecido ao utilizador final começa de facto numa actividade que produz conteúdos, que procede depois à organização desses conteúdos e dos serviços que lhes estão subjacentes para, seguidamente, avançar para a oferta dos serviços, suportados nas adequadas infra-estruturas os, quais, finalmente, são vendidos através dos terminais próprios.

 

A cadeia de valor

O conceito de cadeia de valor é importante para se poder compreender o comportamento dos mercados e dos seus agentes à luz da Convergência. Actualmente, as empresas estão presentes num ou mais elementos da cadeia de valor; o avanço do processo de Convergência fará com que muitos dos actuais intervenientes procurem alargar as respectivas actividades a outras partes da cadeia de valor, dando origem nomeadamente a processos de alianças, aquisições e fusões.

A Convergência pode ser vista em diferentes âmbitos. É o caso da Convergência de tecnologias, de redes, de serviços, de produtos, de mercados e da própria Convergência da Indústria.

Quando falamos da Convergência Tecnológica, queremos sobretudo referir a aplicação comum das tecnologias digitais aos sistemas e redes associados à entrega de serviços.

As tecnologias digitais abrangem uma variedade de disciplinas geralmente associadas às indústrias da informática e das telecomunicações, de que se destacam a microelectrónica digital, o software aplicacional e a transmissão digital. Todas estas diferentes tecnologias estão igualmente a fazer com que as aplicações e os serviços actuais estejam a tornar-se progressivamente independentes da infra-estrutura subjacente que os transporta.

O exemplo mais significativo dessa independência é o do Protocolo Internet (IP), o qual se tornou o protocolo de rede de facto para a Internet, capaz de encaminhar e transportar todos os elementos de um serviço multimédia (texto, imagens em movimento e som).

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A Convergência de redes é bem visível em muitos domínios, desde as redes RDIS de banda larga à própria Internet, sendo certo que aparece também entre as modernas redes fixas e redes móveis e mesmo entre redes móveis usando tecnologias e frequências distintas.

No que respeita à Convergência de serviços, é difícil ser muito preciso, já que muitos dos novos serviços continuarão a resultar do progresso tecnológico e muitos outros de uma efectiva convergência intersectorial. De qualquer forma, importa ter a consciência de que os serviços convergentes são aqueles que dão corpo à Sociedade de Informação, como, por exemplo, o comércio electrónico, o qual abrange uma grande variedade de actividades e poderá vir a revolucionar sectores tão diversos como a venda a retalho, as viagens e os serviços financeiros. Outro aspecto interessante, ainda no âmbito da Convergência, diz respeito, à Convergência da Indústria.

Esta está já a traduzir-se em alianças, fusões e aquisições de empresas, baseadas no know how técnico e comercial de diferentes parceiros, por forma a explorar os mercados existentes e futuros. Lembro a cadeia de valor emergente no sector, para salientar que o movimento de Convergência industrial resulta directamente da necessidade sentida pelas empresas de trabalhar outras partes da cadeia de valor. A própria paisagem audiovisual está a ser profundamente alterada por força da Convergência e da introdução das tecnologias digitais.

A compressão digital veio possibilitar a entrega de um número muito maior de canais através da mesma infra-estrutura, aumentando a eficiência técnica e económica. Os serviços de televisão digital, com base nos trabalhos do projecto Radiodifusão Vídeo Digital (DVB) e tendo como pano de fundo o quadro regulamentar instituído pela Directiva Televisão sem Fronteiras, Directiva Normas de Televisão e outros actos, foram recentemente lançados na Europa.

Como resultado de tudo isto vão surgindo novos tipos de oferta que, ou são uma evolução de práticas anteriores ou são completamente novos em televisão. É o caso dos chamados "Cabazes de Programas", que complementam os canais generalistas com canais temáticos centrados em assuntos específicos, desde as notícias ao desporto passando pelo cinema.

É também o caso do Vídeo a pedido ou do Quase Vídeo a pedido, onde a interactividade se vem tomando uma realidade.

O mesmo acontece com a televisão paga e o pagamento por sessão ou por evento, onde se comercializam eventos específicos com base numa assinatura individual.

A televisão digital é flexível e permite entregar um conjunto de serviços sob a forma de dados, imagens fixas, imagens animadas e suas combinações, ao mesmo tempo que oferece som com qualidade próxima da do CD.

Empresas de radiodifusão importantes disponibilizam já, via Internet, parte dos seus conteúdos onde, de resto, promovem coberturas ao vivo de certos acontecimentos, dando origem ao aparecimento de novos webdifusores.

A Internet é, no seu campo próprio, um bom exemplo das mudanças que estão a ocorrer no mercado. De ano para ano a Internet vem afirmando cada vez mais o seu papel estruturante na vida económica e social, colocando-se no cerne do desenvolvimento e modernização e contribuindo de forma decisiva para a construção da Sociedade de Informação. O seu potencial é enorme.

A Internet como plataforma de comunicações, no sentido em que gera e recebe informação, de e para qualquer lugar, a qualquer momento, de forma instantânea, interactiva e multimédia, faz com que seja encarada como uma alternativa aos sistemas existentes.

A Internet como plataforma de comércio electrónico, no sentido em que se afirma como o suporte de transição para uma economia em rede, faz com que seja um factor estruturante de toda a vida moderna. Segundo os últimos dados disponíveis, o mercado Internet é constituído por mais de 150 milhões de utilizadores em todo o mundo, os quais acedem a mais de 43 milhões de domínios.

Mais de metade destes utilizadores situam-se nos EUA e cerca de 33 milhões na Europa. Em Portugal o número de utilizadores atinge já cerca de 800.000, para um número de clientes de 180.000, registados em 18 ISP’s, havendo mais de 5.000 domínios e um crescimento do mercado de 10% ao mês. As novas estruturas de mercado e os novos serviços resultantes da convergência terão um impacte não só na economia em geral, como também nos próprios sectores em causa. Vejamos alguns exemplos destes novos negócios, que podemos apelidar de electrónicos, mas que com mais propriedade seria correcto denominar de digitais, já que para além da interactividade se desenvolvem sempre em rede (on-line), ilustrando bem o novo paradigma emergente.

Informação, englobando desde os "News Groups" WWW, até aos Directórios, Motores de Busca e Portais.

"Whats on / Booking", funcionando como uma gigantesca revista de espectáculos, viagens, eventos, etc., associada a uma enorme central de reservas, com pagamentos associados. Pode-se seleccionar apenas o que nos interessa, reservar na data que queremos e pagar sem sair de casa.

Educação, permitindo desde ensino à distância massificado e barato até aos cursos superiores avançados e especializados, reunindo professores e alunos das mais variadas localizações. As aplicações para as empresas no âmbito da formação e troca de informações são de enorme potencial em termos de rapidez, uniformidade de procedimentos e criação de espírito de equipa.

Lazer e entretenimento, onde a internet funciona como o maior salão de jogos do mundo, "bar" para conversar (chat/IRC) e um esplêndido repositório de cultura "on-line". Comunicações sobre IP, providenciando múltiplos novos serviços e actividades decorrentes da extraordinária versatilidade do Protocolo IP. As principais aplicações de comunicações passíveis de correr sobre IP são o correio electrónico, a voz e o fax, que representam a fatia mais significativa das receitas dos operadores. As aplicações de tecnologia IP destinadas ao segmento empresarial são intra e extranets, redes virtuais (VPN's), Internet Call Centers e a integração de diferentes tipos de recepção e armazenagem de mensagens (voz, fax, e-mail e respectivos ficheiros), mais conhecida por unified messaging.

Teletrabalho, possibilitando novas formas de trabalho e de relacionamento empresarial, desde o trabalho nómada, passando pelo trabalho cooperativo até às soluções SoHo -Small Office Home Office.

Telemedicina, facilitando um enorme fórum de discussão médica, com a consequente cascata de comunicação a todos os níveis, passando pela transmissão de imagens de actos cirúrgicos, criação de directórios e motores de busca específicos.

Comércio Electrónico, onde a dimensão se reduz a uma "home page". A segmentação dos mercados vai ao seu último escalão, permitindo o "marketing to one".

As ofertas de comércio electrónico através da Web TV e das novas formas de TV Digital em muito contribuirão para a sua massificação. Portugal dispõe de um panorama actual que lhe permite encarar este momento como uma das suas maiores oportunidades de desenvolvimento e de crescimento.

Nesse sentido, a existência de uma infra-estrutura de rede de comunicações moderna e digital, a grande apetência para o consumo de bens relacionados com a Net, a clara explosão na natalidade de empresas ligadas à área das tecnologias de informação e das comunicações, são indícios de que há espaço para encarar este desafio.

 

Informação Complementar

O mercado das telecomunicações

A política comunitária tem influenciado decisivamente a política portuguesa de telecomunicações, ao ponto de podermos afirmar que as diferenças se situam mais a nível de calendários de execução das grandes orientações de Bruxelas, do que propriamente ao nível dos respectivos conteúdos programáticos.

Na sequência do acordo estabelecido no início de 1997 entre o Governo Português e a Comissão da União Europeia, falta apenas liberalizar o serviço telefónico de voz, o que terá lugar a 1 de Janeiro de 2000.

Na área já liberalizada, existem mais de 180 operadores e prestadores de serviços devidamente licenciados e autorizados pelo ICP, o órgão regulador nacional.

As telecomunicações representaram em 1998 um volume de negócios de 935 milhões de contos (considerando apenas a facturação dos operadores e prestadores de serviços), continuando a crescer de forma significativa, não só devido aos efeitos da liberalização, mas também ao enorme crescimento da telefonia móvel.

No mesmo período fornecedores e empreiteiros deverão ter facturado cerca de 200 milhões de contos.

Cerca de 65% do volume de negócios dos operadores diz respeito ao monopólio controlado pela Portugal Telecom (o serviço fixo de telefone), enquanto o serviço móvel terrestre, prestado pela Telecel, pela TMN e pela Optimus, é responsável por grande parte do restante.

Os proveitos das telecomunicações portuguesas representaram em 1998 cerca de 5.5% do PIB, tendo crescido em mais de 1% relativamente ao ano anterior. Note-se que as telecomunicações representavam, em 1990, apenas 1,4% e, em 1995, menos de 2,3% do PIB.

No que se refere ao serviço telefónico fixo, o respectivo parque telefónico atingiu, no final de 1998, pouco mais de quatro milhões de linhas, registando apenas um ligeiro crescimento devido aos acessos RDIS.

A densidade telefónica fixa (número de telefones fixos por cem habitantes) é assim actualmente de 41%, inferior à média europeia.

No que se refere aos postos públicos, o seu número tem vindo a aumentar lentamente, estando Portugal bem posicionado, quando comparado com a média europeia. A rede telefónica está a caminho da digitalização total (objectivo a atingir durante 1999), tendo já ultrapassado os 97% no final de 1998.

No campo do serviço móvel, o crescimento do parque tem sido espectacular, tendo-se atingido no final de 1998 cerca de 3 milhões de clientes, o que representa uma densidade telefónica móvel de 30%, uma das mais elevadas da Europa. No final de 1999 o número de clientes móveis irá ultrapassar os 4 milhões e assim igualar os da telefonia fixa.

No que toca ao "paging", pela primeira vez, o número de clientes decresceu de forma significativa em relação ao ano anterior (de 320.000 para 270000), sobretudo face ao êxito da telefonia móvel e de uma concorrência muito agressiva.

O Serviço Móvel de Recursos Partilhados ou "Trunking" tem registado boas taxas de crescimento, conquistando nichos de mercado específicos e atingindo, no final de 1998, o número de 14.000 clientes.

A televisão por cabo cresceu de forma espectacular, registando no final de 1998 quase 600.000 clientes e perto de 2 milhões de casas passadas.

O número de utilizadores Internet atingiu os 760.000, no final de 1998, continuando a crescer de forma exponencial, o que fará com que se atinja um milhão duzentos e cinquenta mil utilizadores no final de 1999.

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* Raul Junqueiro

Sócio gerente da empresa de consultadoria Clama – Estudos e Projectos, Lda. Presidente do Conselho Consultivo do ICP. Presidente da APDC.

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