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A nova economia (americana)

Manuel Farto *

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A economia americana realizou na última década um conjunto de resultados económicos excepcionais, observáveis designadamente na evolução das principais variáveis macro-económicas: forte crescimento do produto nacional bruto (cerca de 4%, ou seja 1,5% acima da tendência de longo prazo), um extraordinário aumento do consumo sem inflação (o índice de preços no consumidor desceu abaixo dos 2%) e o nível mais baixo da taxa de desemprego dos últimos 30 anos (cerca de 4%, muito inferior aos 6%, considerada consistente com uma inflação estável). A explicação de uma tal evolução, imprevista pela generalidade dos economistas, provocou um aceso debate entre os economistas americanos.

 

Os factores conjunturais favoráveis

O sucesso da economia americana pode ser encarado como consequência de um duplo choque favorável: da procura agregada, por via do comportamento do consumidor, e da oferta agregada, em consequência de um choque favorável dos custos. Do lado da procura, uma irrepressible exuberance do consumidor teria conduzido a taxas de crescimento do consumo sem precedentes, em consequência do efeito conjugado do crescimento do emprego e do endividamento das famílias (possível pela expectativa do crescimento da riqueza mobiliária devido à inflação bolsista). A política orçamental de contínua redução dos défices (contracção das despesas militares e contenção das despesas sociais) geradora de excedentes orçamentais antecipados (e efectivos) e de redução da inflação, teria, por sua vez, estimulado o próprio consumo e investimento privados, compensando a perda de dinamismo do consumo público.

Do lado da oferta, como é sublinhado por Paul Krugman, os americanos têm igualmente motivo para estarem satisfeitos:

• o funcionamento dos mercados de capitais e a substituição de empréstimos por financiamento bolsista reduziu os custos de capital;

• a liderança à escala mundial no desenvolvimento das "tecnologias emergentes" (choque tecnológico) cria expectativas de rendimentos futuros elevados;

• a valorização do dólar reduziu o preço dos produtos importados;

• a melhoria da rendibilidade das empresas devido à intensificação de fusões e aquisições permitiu importantes economias de escala de organização etc.;

• o alargamento dos processos de trabalho com o uso mais intensivo do período de trabalho nocturno aumentou a produtividade e reduziu custos;

• a diminuição (ou estabilidade) dos custos reais do trabalho.

A evolução favorável da produtividade e dos custos nominais e reais unitários, é observável na figura. Todavia, o modelo de crescimento não-inflacionista deverá esgotar-se rapidamente devido à volatilidade dos factores que lhe estão na base. Por um lado, a valorização do mercado bolsista (após 18,4% por ano na década de 90) da qual dependem o consumo e os volumosos influxos de capital exigidos pela economia americana, é dificilmente previsível. A dinâmica de custos do passado é, por seu lado, insustentável (a moderação salarial é difícil em ambiente de pleno emprego, a queda contínua dos preços das matérias-primas e da taxa de juro impossível e a valorização do dólar tornará os défices da BTC difíceis de suportar).

 

A credibilidade da política económica                                                  

A política económica tem contribuído de modo muito significativo para a manutenção do ambiente de estabilidade e sucesso da economia americana. A política orçamental agiu de forma atempada e bem sucedida na recessão de 1991, aumentando o défice estrutural para 3,3% seguindo-se ainda um aumento de 0,7% em 1992, sem receio de atingir o nível de 4,2%, elevado para as tradições americanas. Todavia, logo que a retoma estava solidamente encaminhada, a política orçamental orientou-se para o equilíbrio, eliminando o défice estrutural, como se vê no gráfico correspondente. As autoridades utilizaram firmemente a política orçamental numa perspectiva anti-cíclica.

A política monetária tem igualmente sido habilmente conduzida criando as condições mais favoráveis para o crescimento da economia. A yield curve que exprime a diferença entre as taxas de juro de longo prazo (Rlp) e de curto prazo (Rcp) sintetiza a estrutura a prazo das taxas de juro. Uma curva crescente (taxas de juro de longo prazo mais altas do que as de curto prazo) é interpretada como apoiando o crescimento económico, uma curva horizontal ou, em especial, invertida é encarada como lhe sendo desfavorável. No caso dos EUA constata-se a existência das melhores condições na fase de recessão e retoma. A política monetária expansionista do FED durante a recessão resultou numa quebra da taxa de juro de curto prazo (1,6%, 0,8% e 0,4% respectivamente de 91 a 93) e portanto um forte desvio positivo da curva que exprime a diferença entre as taxas. Verifica-se igualmente uma redução desta curva para o fim do período devido ao decréscimo tendencial das taxas de juro de curto prazo, ele próprio favorável ao crescimento.

A fraqueza do dólar entre 1990 e 92 expressa na taxa real efectiva de câmbio variou negativamente no período de recessão, como se pode ver na figura, apoiando o crescimento económico. Posteriormente o dólar apreciou-se fortemente, sobretudo a partir de 1997-98 quando a procura doméstica se revelava suficientemente forte para compensar a perda de competitividade internacional. Assim, a coordenação das políticas orçamental e monetária revelou-se eficiente na prossecução da estabilização económica, não confirmando o pessimismo das análises que sustentam a ineficiência actual das políticas macroeconómicas. Ao ganhar crescente credibilidade, a política económica contribuiu significativamente para o sucesso e o poder da economia americana.

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A nova economia e os factores permanentes da actual conjuntura

Uma terceira linha explicativa, baseada em factores mais estáveis e permanentes, relaciona-se com a ideia da existência de uma nova economia associada a duas tendências pesadas da economia mundial contemporânea.

A primeira refere-se à globalização da actividade económica com a extensão das forças de mercado, do comércio livre e da desregulamentação a todo o globo. A concorrência global mantém os preços de certos bens e serviços sob pressão, elevando a procura e oferta globais e ajudando a manter os custos baixos do trabalho e produtos.

A segunda refere-se à revolução nas tecnologias da informação (fax, celulares, PCs, modem, internet etc.) aí incluindo a sua digitalização (palavras, imagens, dados etc.) que criam novas empresas e novas indústrias (1/3 do crescimento económico dos EUA deve-se às tecnologias da informação). Estas pagam elevados salários, produzem a preços cada vez mais baixos e influenciam todas as outras indústrias, que integram as novas tecnologias de informação no desenvolvimento de novos processos e métodos de produção e gestão, com consequentes aumentos de produtividade.

As oportunidades geradas por este duplo movimento permitiram um enorme aumento do dinamismo e da competitividade na economia americana, o que é observável através de vários indicadores, designadamente: a crescente importância das Gazelas (empresas de rápido crescimento), o relacionamento de novo tipo entre as empresas conhecido por coopetition (cooperação e concorrência), a diversidade de produtos e serviços e a inovação e adaptação constantes. A nova economia refere-se com frequência a Douglas North a propósito da noção de adaptative efficiency — a capacidade das instituições em inovar, aprender continuamente e efectuar mudanças produtivas. Com a nova economia, a aceleração da fragmentação dos mercados, o salto tecnológico e concorrência vêm dos lugares mais inesperados; aprendizagem, criatividade e adaptação, mais do que o financiamento e o trabalho tradicionais, tornam-se as principais fontes das vantagens competitivas em muitas indústrias.

O crescimento do rendimento líquido do capital bem como o aumento do desvio desta variável em relação à taxa de juro de longo prazo durante todo este período assinala o bom desempenho das empresas americanas que reforçaram a sua posição nos rankings empresariais e dá uma sustentação real à persistente valorização bolsista. A partir desta base, a nova economia sustenta que a elevada velocidade de crescimento da economia americana sem inflação e o alongamento da fase de expansão do ciclo económico resultam de factores que estão longe do esgotamento e poderão manter-se, em consequência do crescimento da produtividade.

 

A natureza do "Shift global" e a orientação das políticas da nova economia

A problemática da nova economia exprime, antes de mais, o sucesso da economia americana. As vantagens competitivas da economia e empresas americanas por dominarem as tecnologias da informação e os sectores motores do crescimento nesta etapa da globalização, apoiadas no próprio poder que a nação americana detém nos diversos planos das relações económicas e instituições internacionais, bem como uma política económica coerente e credível, constituem as bases sólidas que permitem manter por períodos relativamente longos um equilíbrio aparentemente precário. Ter-se-ia formado uma espécie de círculo virtuoso, em que a valorização da bolsa alimenta o consumo interno e o equilíbrio externo e estes reforçam aquela valorização.

A nova economia sublinha as novas possibilidades para o progresso tecnológico e define novas preocupações para as políticas, em ordem a aumentar o ritmo de inovação e crescimento e preparar os trabalhadores para os novos desafios, modelizando uma política económica estrutural assente em 3 pilares:

• investimento em novas fundações económicas, em especial na investigação científica e tecnológica e na educação e formação, preparando os trabalhadores para enfrentarem um ambiente de risco e de mudança,

• regime aberto e flexível de regulação e comércio que suporte o crescimento e inovação,

• reinvenção/digitalização do Estado dotando-o de maior capacidade de resposta e flexibilidade para o tornar mais eficiente.

Uma tal política depende crucialmente da existência de estruturas sociopolíticas flexíveis e inovativas para realizar plenamente as potencialidades da globalização e da revolução das tecnologias da informação e do conhecimento. Os países que não possam adaptar-se rapidamente às novas circunstâncias correm o risco de ser irremediavelmente excluídos da partilha dos enormes benefícios que as transformações em curso podem proporcionar, com graves e inevitáveis consequências sobre a riqueza e bem-estar das suas populações. Provavelmente, ninguém estaria tão habilitado para o jogo económico global como a economia americana e em menor grau as dos países de tradição liberal anglo-saxónica. A nova economia forja-se nos Estados Unidos e fala inglês.

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* Manuel Farto

Doutorado em Economia pela Universidade de Paris-X. Docente no ISEG. SubdirectorGeral do Ensino Superior.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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Link em nova janela Retorno do capital (taxa de juro)

Link em nova janela O equilíbrio orçamental

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