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Janus 2001



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Competitividade em queda

Graça Franco *

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Numa sociedade competitiva não basta fazer bem, nem sequer muito bem. É essencial fazer melhor do que os outros e de preferência primeiro. Este princípio básico que se aplica aos indivíduos também se aplica às economias. A portuguesa, por exemplo, nem andou mal nos últimos anos mas muitas outras aproveitaram melhor a onda do crescimento e chegaram primeiro à "nova economia" capitalizando os ganhos de produtividade obtidos. Portugal, pelo contrário, foi incapaz de evitar a desaceleração deste indicador.

Resultado: o país perdeu quotas de mercado na exportação, viu os termos de troca deteriorarem-se e o défice comercial subir em exponencial. Pior ainda, em muitos mercados foi ultrapassado não só pelos seus concorrentes tradicionais como por várias economias emergentes. Numa palavra: perdeu competitividade.

No actual contexto internacional, o desempenho português, não sendo mau, deixa apesar de tudo muito a desejar. Segundo o Banco de Portugal, os custos unitários do trabalho aumentaram 4 % em 1997, 4,1 % em 98 e 4,3 % em 99, com uma produtividade aparente do trabalho (medida pela evolução do produto per capita por trabalhador empregue) em forte desaceleração nos últimos cinco anos a atingir em 1999 um mínimo de 1,2 %. É verdade que a produtividade "por hora trabalhada" crescia na série do Banco de Portugal um pouco mais, mas a desaceleração mantinha-se. Como agravante, pelo quarto ano consecutivo, a taxa de crescimento real das remunerações foi superior ao crescimento da produtividade, prosseguindo a escalada iniciada em 1995.

Pior ainda: na indústria transformadora, a mais sujeita à concorrência externa, o agravamento dos custos de trabalho por unidade produzida foi o ano passado de 3,9 %, contra um agravamento médio de apenas 0,6 % registado nos nossos principais parceiros comerciais. Resultado: este agravamento nos custos do trabalho só foi parcialmente compensado pela desvalorização cambial e os exportadores portugueses voltaram a perder terreno pelo segundo ano consecutivo, suportando mais uma vez um agravamento dos custos superior em dois pontos percentuais ao dos seus concorrentes.

 

Investimento estrangeiro em fuga

O andamento registado nestes custos afectou certamente o cálculo da rentabilidade esperada do investimento estrangeiro. Este registou em 1999 o valor mais baixo dos últimos catorze anos. Pelo segundo ano consecutivo notou-se sobretudo um forte desinvestimento na indústria transformadora. Além disso, o país tornou-se um fornecedor de investimento ao exterior. O investimento estrangeiro registou ainda uma quebra em Portugal muito superior à registada, por exemplo, em Espanha e que contrasta com o forte aumento, pelo quarto ano consecutivo, nas economias de Leste.

Esta evolução faz temer não só um desvio de investimento em favor dos novos países candidatos à adesão à UE, como um deslocamento dos investimentos no mercado ibérico em favor da Espanha e em detrimento de Portugal. Nada irrelevante se pensarmos, por exemplo, que boa parte do milagre de crescimento irlandês é explicado pelo bom andamento deste indicador, responsável, em 1996, por cerca de dois terços da produção e praticamente metade do emprego. Em matéria de produtividade global do trabalho a desaceleração sofrida em Portugal não é uma novidade para a mesma fase do ciclo económico (cuja expansão se iniciou em 1994), mas torna-se mais grave quando se constata que as coisas estão a mudar à medida que o processo tecnológico avança e o país continua à margem dessa mudança.

A evolução do indicador da produtividade do trabalho avaliada pelo PIB per capita por trabalhador que, de acordo com os dados do Banco de Portugal, já era preocupante, torna-se ainda mais desfavorável se analisarmos as séries publicadas em Junho pela OCDE. Essas séries registam já não um simples abrandamento em 1998 mas uma quebra de 0,7 % nesse ano contra um crescimento de 1,8 ainda no ano anterior.

Como se tudo isto não bastasse, o aumento dos preços do petróleo não favoreceu a competitividade da economia nacional, tendo sido o principal responsável pela perda de termos de troca (0,4 % em 1999). Acresce que, depois de uma perda de quatro pontos percentuais nas quotas de mercado das exportações nacionais verificada em 1998, estas voltaram a reduzir-se em 99 em mais 0,5 %. O que, segundo o Banco de Portugal, se ficou a dever pelo menos em parte "à deterioração da posição concorrencial portuguesa face a algumas economias de mercados emergentes", que beneficiaram das desvalorizações das respectivas moedas e "concorrem com as exportações portuguesas mais tradicionais". Por fim os produtores portugueses além de perderem posição face ao exterior viram ainda reduzida a sua quota-parte no mercado interno, tomado de assalto por produtos importados. Esse aumento das importações é um dos principais factores responsáveis pela escalada do défice comercial para valores que já superam os 12 % do produto.

 

Exportações de mal a pior

Portugal viu ainda, em 1999, as contas externas duplamente penalizadas pelo facto da sua estrutura exportadora continuar baseada em sectores de média e baixa tecnologia. Sectores como os têxteis e o vestuário representam quase 15 % do total das nossas exportações, contra escassos 2 % na média dos nossos parceiros. A diferença de estrutura exportadora explica, segundo o BP, cerca de 60 % do diferencial de crescimento das exportações portuguesas em relação à média dos Quinze.

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Embora a economia portuguesa figure entre as oito economias que nos últimos cinquenta anos apresentaram um melhor desempenho (rapid catch-up) na aproximação aos níveis de bem-estar dos países mais desenvolvidos, segundo o já citado estudo da OCDE sobre as "tendências de crescimento da zona", as séries aí reproduzidas mostram mais uma vez que esse esforço foi sobretudo efectuado até meados dos anos 70, período em que o PIB per capita português passou de cerca de 20% do norte-americano para um valor próximo dos 40%. A partir daí, ou seja, nas últimas duas décadas, poucos progressos se fizeram. Entre 1995 e 98, dados do Eurostat mostram que em paridade de poder de compra o produto per capita em Portugal passou apenas de 47 para 48% do norte-americano. Foi mais forte a aproximação à Europa com o produto per capita a subir para 74% e um ganho de quatro pontos percentuais. Entretanto a Irlanda que ainda no principio dos anos 70 partilhava o mesmo grau de desenvolvimento com Portugal com um PIB per capita de 40% face ao norte-americano conseguia descolar, nos últimos vinte anos, do grupo dos mais pobres aproximando-se, sobretudo nos últimos cinco, de um PIB per capita de perto de 70% do dos EUA. A aproximação deste país à média da Europa foi ainda mais intensa, com o produto per capita irlandês a passar de 92% do PIB per capita dos Quinze em 95 para 107% em 98. É claro que o fenómeno irlandês é parcialmente irrepetível: a língua comum, o bom nível de educação da sua mão-de-obra e a forte comunidade irlandesa nos EUA tornaram o país uma porta privilegiada de entrada do investimento norte-americano na União Europeia. Mesmo assim, o esforço de reformas internas, sobretudo no mercado de trabalho e no domínio da desregulamentação e da fiscalidade, essenciais para a captação desse investimento, não se deve negligenciar.

 

Informação complementar

Cinco anos a marcar passo

Um optimista diria que, nos últimos cinco anos, Portugal conseguiu subir sete lugares, passando de 36° para 29° lugar entre os 47 países analisados no ranking internacional da competitividade. Um desempenho que supera o da Espanha que nesse espaço de tempo subiu apenas cinco lugares ficando agora em 24°. Nada mau! No entanto, um pessimista diria, e com razão, que no caso português "pouco mais se fez do que marcar passo".

Em 1995, Portugal já estava na 32° posição na listagem da competitividade internacional do Institute for Management Development. No ano seguinte, caiu a pique para um desonroso 36° lugar. Em 1997 reconquistou de novo a posição de 95, subindo depois, já em 1998, para 29°. É esse o lugar que ainda hoje ocupa, depois de recuperar em 1999 da queda de um ponto registada no ano anterior. Mais ainda: a Polónia, num estádio de desenvolvimento bastante inferior, fez praticamente a mesma proeza (passando de 45° em 1995 para 40° este ano). Com uma diferença: no último ano conseguiu saltar quatro lugares, quando o próprio IMD admitia que pudesse saltar "um máximo de sete" caso conseguisse dar prioridade máxima ao combate de todas as suas fragilidades, atingindo em todas elas um desempenho igual à média dos 47 países analisados.

A previsão baseia-se numa simulação feita em computador para todos os 47 países analisados e que permite calcular qual seria a "lugar do país" se este conseguisse um "nível de competitividade médio" em todos os itens onde apresenta grandes debilidades e visa dar uma ideia do "progresso ao alcance das políticas governamentais". Neste quadro a Polónia teria ao seu alcance um 34° lugar já em 2001. Aplicado a Portugal o mesmo raciocínio ter-nos-ia trazido de 28° em 1999 para 26° em 2000, o que prova bem como começa a ser mais difícil a mudança quando nos aproximamos do topo. Na prática, isso não foi conseguido e, pelo contrário, acabámos por perder um lugar no ranking. Agora, na melhor das hipóteses, segundo a projecção do instituto suíço, o 26° lugar continuará ao nosso alcance mas no próximo ano. E mesmo aí será necessário aplicar o tal princípio de dar prioridade máxima ao combate às fragilidades detectadas.

O pior é que essas fragilidades não parecem de fácil combate porque se referem a coisas tão concretas como o excessivo défice comercial (o mais grave de todos os países analisados) passando pela reforma fiscal dos impostos indirectos (em que somos os antepenúltimos), a alteração da estrutura de custos de electricidade para a indústria (41°) ou a redução do nível de iliteracia económica (40°). Somam-se-lhe a necessidade da reforma da justiça (39°), o reforço da formação profissional (40°) e da cultura empresarial em que o défice de iniciativa é manifesto (42° posição) além de um sem-número de outros requisitos idênticos.

Enquanto Portugal se mantinha nesta espécie de sobe e desce em torno da trigésima posição, a Irlanda saltava quinze lugares em cinco anos, passando de 22° em 1995 para 7° lugar, este ano. No mesmo período, a Finlândia subiu 12 lugares, colocando-se agora em terceiro no ranking. Para não falar da Hungria que subiu 12 lugares passando a 27° (ou seja, ultrapassando Portugal).

É evidente que os últimos cinco anos foram bem mais desastrosos para alguns dos nossos parceiros de clube: a Dinamarca caiu sete lugares, a Bélgica três, a Áustria e a Itália dois, a França um.

Por outro lado, a metodologia do relatório, que faz recurso a uma sondagem de opinion makers destinada a avaliar a evolução de uma série de indicadores sensíveis como a "qualidade do empresariado" ou a bondade das políticas governamentais, introduz algum subjectivismo na análise. Mesmo assim, o diagnóstico baseado na mistura dos indicadores clássicos da competitividade com os tais indicadores de avaliação mais subjectiva, torna-se em tempos de intensa mudança particularmente útil e parece em tudo coincidente com o fornecido pêlos clássicos indicadores macroeconómicos.

Por exemplo, de 1988 a 1998 o peso das despesas em investigação e desenvolvimento não atingia sequer os 2 % do produto da União Europeia (contra 2,6 nos EUA e 2,8 no Japão), mas esse número escondia realidades tão diferentes quanto os 3,8 % registados pela Suécia em 1998 (líder mundial neste indicador) ou os 2,9 exibidos pela Finlândia e os escassos 0,7% investidos por Portugal. Pior só a Grécia com apenas 0,43 por cento do produto investido nesta área.

Se pensarmos que este tipo de investimentos é, no caso americano, feito em quase 70 % pelas empresas (75 % no caso sueco), restando 21 % para as universidades e apenas 16 % para as entidades governamentais (4 % na Suécia) e nos recordarmos que, em Portugal, para além da escassez do investimento, a estrutura é inversa — com um esforço de apenas 22% feito pelas empresas e o grosso da coluna (41%) entregue às universidades — ficam bem claras algumas das vulnerabilidades nacionais.

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* Graça Franco

Licenciada em Economia e Pós Graduada em Ciências da Informação pela Universidade Católica de Lisboa. Economista. Jornalista.

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Dados adicionais
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(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela PIB per capita por trabalhador — taxa de crescimento anual

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