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Emigração portuguesa para África: residual e concentrada

Manuel Ennes Ferreira *

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Falar de emigração portuguesa no passado é recordar inevitavelmente países de destino como a França e alguns outros países europeus e o Brasil. O continente africano resumia-se à África do Sul. Poucos países africanos apresentavam então condições económicas suficientemente atractivas para a mão-de-obra portuguesa, fosse ela pouco qualificada como o era na maioria dos casos de então ou dissesse respeito a quadros técnicos. Por essa altura as estatísticas não contabilizavam no movimento migratório para o estrangeiro os cidadãos saídos de Portugal para as suas ex-colónias. Daí que, e conforme os dados apresentados demonstram, a importância relativa de África como continente de destino da emigração total portuguesa tenha sido bastante reduzida, para não dizer incipiente: de 1970 a 1974 variou num intervalo de 0,40% a 0,84% do total.

O destaque vai naturalmente para a África do Sul que, só à sua conta, era responsável por bem mais de metade da emigração portuguesa em África, tendo mesmo atingido um valor acima de 70% nos anos de 1970,1973 e 1974. De destacar que em termos absolutos essa situação correspondia a apenas poucas centenas de portugueses.

Em consequência de vários factores, nomeadamente da independência das ex-colónias portuguesas em 1975, em particular de Angola e de Moçambique, da distensão político-diplomática que a partir de então se assistiu no relacionamento entre Portugal e África, da inserção de Portugal na CEE (actualmente União Europeia) e na maior abertura internacional que então se processou em Portugal, assistiu-se a partir daí a uma certa modificação não apenas na estrutura geográfica da emigração portuguesa para África, como também ao nível das qualificações técnico-profissionais envolvidas. Recorrendo de novo ao mesmo quadro, verifica-se que a partir do início da década de 80 os PALOP (com destaque para Angola) ganham um peso relativo significativo ultrapassando mesmo a África do Sul nos anos de 1982,1983 e 1986. No entanto, vale a pena destacar o início deste novo período, os anos de 1974 e 1975, momento em que a África do Sul atingiu o ponto mais alto de destino dos portugueses em África: 76,4% e 81,2%. As mudanças que então se verificavam e adivinhavam em Angola e Moçambique ajudam a explicar esta constatação estatística (ver infografia).

A década de 90 não viu alterar o padrão de emigração portuguesa anterior, no que respeita a África já que este continente continuou a ser um destino menor para os portugueses, embora o seu peso relativo tenha aumentado para 5% do total, o que é significativo se compararmos com os 0,42% de 1988. Este movimento traduziu-se num aumento, em termos absolutos, de algumas dezenas de portugueses (71 em 1986, 65 em 1987 e 41 em 1988) para a casa do milhar (1 830 em 1992,2 785 no ano seguinte e 1048 em 1998). Se na década de 80 as condições políticas, as derivadas do sistema económico pouco receptivo à iniciativa privada e as situações de risco militar como eram os casos de Angola e Moçambique, não exerceram um factor atractivo para a emigração portuguesa, a partir de 1992 as alterações aí introduzidas, sobretudo ao nível económico, passaram a ser uma nova realidade que tem captado o interesse de um número crescente de portugueses, quer de forma permanente quer temporária. Simultaneamente, a abertura de novas oportunidades de negócio em outros países africanos tem levado igualmente à fixação de portugueses, em menor número, em outros países africanos.

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Portugueses residentes em África

O balanço actual da população portuguesa residente em África não difere em muito daquela que ocorreu na década de 80. De acordo com as estatísticas disponíveis, a primeira importante constatação tem a ver com a diminuição absoluta de cidadãos nacionais que ali residem: eram 663.550 em 1988 e são 342.264 no ano 2000. Isto é, uma quebra de quase 50%. A que se deveu esta diminuição e que países estão no centro desta alteração? A quebra no número de portugueses residentes deve ser atribuída às situações de instabilidade que afectaram, ou que ainda afectam, alguns países. A incerteza no futuro resulta em abandono desses países. Os casos paradigmáticos são a África do Sul, que registava 600.000 portugueses residentes em 1988 e que passou para 300.000 em 2000 (embora com a ressalva que este número possa situar-se entre os 300 e os 500 mil); o ex-Zaire, actualmente R. Democrática do Congo, que viu passar de 4500 para 400 o número de portugueses ali residentes; a Líbia, que viu desaparecer os 1400 portugueses residentes de 1988; Moçambique, onde a comunidade portuguesa é de 13.299 pessoas contra as 21.000 de 1988; a Zâmbia, que passou dos 3500 portugueses para apenas 64 no ano 2000; e, finalmente, o Zimbabwe que assistiu à partida de cerca de 6000 portugueses: eram 8000 em 1988 e são actualmente 2300.

Finalmente, de destacar o facto de que, em consequência da nova abertura dos portugueses para o conjunto de África, o número de países africanos com portugueses residentes passou de 18 em 1988 para 39 no ano 2000. E embora as relações privilegiadas de Portugal se façam com os PALOP e a África do Sul, são apenas três destes países — a África do Sul, Angola e Moçambique — que ocupam os primeiros lugares de residência dos emigrantes portugueses no continente africano. A Guiné-Bissau situa-se na 6ª posição, São Tomé na 9ª e Cabo Verde queda-se no 10° lugar.

 

Informação complementar

Portugueses em África: nas cidades-capital e no comércio e serviços

De acordo com os dados recenseados pêlos serviços consulares portugueses nos diversos países africanos, os cidadãos nacionais residem na sua esmagadora maioria nas principais cidades daqueles países e preferencialmente nas cidades-capitais. Embora não seja regra geral, onde a presença de portugueses residentes é mais numerosa encontramos normalmente referenciadas mais de duas cidades ou províncias. Estão neste caso a África do Sul (4 cidades), Angola (8 províncias) e Moçambique (8 províncias), isto é, os três países africanos onde existe o maior números de portugueses residentes. Nos restantes países, tanto naqueles em que a população de portugueses se situa entre as 500 e as 2300 pessoas (Cabo Verde, Namíbia, Quénia ou Zimbabwe) como nos que contam com uma presença inferior a 500 pessoas (por exemplo, Egipto, Gabão, Gana, Guiné-Conacry, Lesoto, Malawi, Mali ou Senegal), encontramos duas cidades, uma das quais é sempre a capital do país.

Por outro lado, as actividades económicas a que estão ligados os portugueses residentes em África são de índole diversa, embora na sua quase totalidade a referência à actividade de comércio e de serviços seja uma constante. No entanto, em muitas outras actividades podem igualmente ser encontrados portugueses, nomeadamente na agricultura (como sejam a África do Sul, Angola, R.D. Congo ou Moçambique), na indústria (África do Sul, Angola, Moçambique, Sudão, Zimbabwe), na hotelaria e na restauração (África do Sul, Angola, Costa do Marfim, Lesoto, Namíbia, Rep. Centro-Africana e Zimbabwe), na construção civil (África do Sul, Angola, Cabo Verde, Egipto, Guiné-Bissau, Marrocos, Nigéria, Rep. Centro-Africana, Suazilândia e Zimbabwe), nas pescas (África do Sul, Angola, Guiné-Bissau), na reparação de automóveis (Botswana, R.D. Congo), nos transportes e nas comunicações (Costa do Marfim e Rep. Centro-Africana) ou nos serviços navais (Mauritânia). O apoio à administração pública (Moçambique) e ao sector da educação (Gabão e S.Tomé) completam o leque de actividades às quais cidadãos portugueses estão ligados nos países africanos onde residem.

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* Manuel Ennes Ferreira

Professor auxiliar no ISEG/UTL Docente de Economia do Desenvolvimento (licenciatura) e Economia Africana (Mestrado).

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Emigração portuguesa para o mundo e continente africano

Link em nova janela Movimento migratório por país de destino e segundo tipo de emigração

Link em nova janela População portuguesa residente no continente africano

Link em nova janela Distribuição percentual da emigração portuguesa com destino a África

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