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Imigrantes portugueses em São Paulo

Alice Lang, Maria Christina Campos e Zeila Demartini *

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Através da grande empresa das navegações dos séculos XV e XVI, Portugal lançou-se ao mar e constituiu o seu império, conquistando terras na África, Ásia e América do Sul, levando a sua língua e costumes. Extensa e significativa parte desta conquista foi o Brasil, onde aportaram as caravelas portuguesas em 22 de Abril de 1500. Foi o Brasil, até então habitado por tribos indígenas, colonizado pêlos portugueses; iniciou-se a povoação, as plantações foram formadas, os escravos africanos introduzidos, os sistemas de governo implantados. No século XVIII, as jazidas auríferas foram um forte factor de atracção. No início do século XIX, viveu o Brasil a experiência de se tornar, por algum tempo, a sede da monarquia portuguesa guerreada pêlos franceses. A independência chegou em 1822 pelo brado do príncipe português, que se tornou o primeiro imperador do Brasil. Os portugueses que continuavam a chegar ao país eram agora considerados estrangeiros.

Na segunda metade do século XIX, prevendo-se a iminência do fim da escravidão africana, a imigração de trabalhadores livres europeus passou a ser incentivada pelo governo imperial brasileiro. Vieram em grande número italianos, portugueses, alemães, espanhóis entre outros.

Em 1889 foi proclamada a República no Brasil e a Constituição do novo regime promoveu a grande naturalização, oferecendo a cidadania brasileira a todos os estrangeiros que aqui se encontrassem, desde que não se manifestassem em contrário. Imigrantes portugueses continuaram a chegar, dirigindo-se especialmente para o Rio de Janeiro e São Paulo.

 

A imigração portuguesa

A imigração portuguesa no Brasil fez-se por fluxos. De 1891 (Primeira Constituição Republicana) a 1929, foi um período de grande imigração, quando grande parte dos 362.156 portugueses entrados no país se dirigiu para a lavoura. A crise económica mundial de 1929, bem como a política migratória adoptada pelo governo brasileiro, que assumiu o poder com a Revolução de 30, determinaram uma queda violenta nos números da imigração; de 1930 a 1950, chegaram ao Brasil 445.863 estrangeiros, dos quais 33% eram portugueses.

Na década de 50 a imigração estrangeira voltou a ser incentivada, criando oportunidades no meio urbano, para trabalhadores com pouca qualificação; de 1950 a 1963 entraram no país 772.157 imigrantes, sendo 41% portugueses provenientes, na sua maioria, do norte de Portugal e das ilhas da Madeira e dos Açores.

A partir de 1964 caíram violentamente os números da imigração portuguesa. Os emigrantes optavam por outros destinos, especialmente a França. Na década de 70, vieram aqueles que deixavam a África, na fase da guerra da descolonização. Hoje, a imigração portuguesa é diminuta e reveste-se de outro carácter - são agora profissionais qualificados, geralmente chamados por empresas multinacionais, na decorrência do processo de globalização.

 

A comunidade portuguesa no Brasil de hoje

Para bem conhecer a comunidade portuguesa no Brasil, há que se ter em conta que aqueles que chegavam nas diferentes épocas do período republicano somavam-se a muitos que para cá vieram anteriormente e às gerações subsequentes que aqui nasceram. Importante também é considerar os vários espaços em que os imigrantes se foram instalando, espaços com diferentes desenvolvimentos sócio-económicos e culturais, que permitiram aos imigrantes múltiplas possibilidades de trabalho e de convivência com os mais diversos grupos sociais.

De entre as várias regiões brasileiras, o Estado de São Paulo, desde o século XIX, foi se tornando um forte pólo de atracção de imigrantes portugueses, pois a cultura cafeeira florescente oferecia muitas possibilidades de trabalho. Ainda o desenvolvimento acelerado da indústria, comércio e serviços nas cidades que se expandiam permitia o exercício de profissões muito diversas. Oferecia-se o sonho do enriquecimento simbolizado pela árvore das patacas. Em 1888 havia no Estado de São Paulo 9.853 portugueses; em 1920 eram já 167.198, em 1940 houve um pequeno decréscimo (155.251), atingindo 174.089 em 1980, num total de 526.444 estrangeiros e em 1991, o número de 174.089 num total de 523.444 estrangeiros (33,25%). São dados, contudo, que pouco dizem das gerações que se sobrepõem nesta imigração que se caracterizou pela vinda contínua de pessoas de famílias portuguesas ao longo de todo o século XX, constituindo uma grande comunidade portuguesa em São Paulo.

 

O associativismo português

Associações de vários tipos — médico--hospitalares, filantrópicas, económicas, desportivas e culturais — fundadas em ocasiões diversas, continuam em actividade. Data de 1859 a fundação da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência de São Paulo, hoje um dos maiores e mais modernos conjuntos hospitalares do País.

 Até à década de 20, foram fundadas associações filantrópicas, como a Câmara Portuguesa de Comércio, que data de 1912. A Associação Portuguesa de Desportos teve o seu início em 1920 e ainda hoje é o clube social e desportivo mais popular da comunidade, com a sua importante equipa de futebol, hoje conhecida como Lusa. O Clube Português foi criado também em 1920.

 Na década de 30, os portugueses de São Paulo criaram a Casa de Portugal, casa-mãe da comunidade. A partir de então, tiveram início as associações regionais reunindo imigrantes procedentes de uma mesma região, como a Casa do Minho, a Casa do Douro, o Centro Beirão, etc. Casas de Portugal foram também criadas em várias cidades paulistas. Nas décadas de 40 e 50 não foi fundada nenhuma nova associação e na de 60 apenas o Elos Clube. Contudo, depois de encerrado o grande fluxo migratório, posteriormente a 1963, várias foram iniciadas, representando a vitalidade da comunidade, embora muitos portugueses não participem dessas associações. Estas significam, sem dúvida, o meio de que o governo português dispõe para entrar em contacto com os portugueses radicados no Brasil.

 

Os meios de comunicação social

Desde o final do século XIX, a comunidade portuguesa de São Paulo recorreu a meios de comunicação, inicialmente à imprensa e posteriormente à rádio e até à televisão. Em meados do séc. XIX com o crescimento do fluxo migratório, muitos periódicos foram criados, alguns permanecendo até hoje; depois destes anos, há poucos registos. Muitos imigrantes recebem e lêem jornais portugueses e até publicações das aldeias de origem. Os programas radiofónicos têm grande audiência, fornecendo notícias da comunidade, divulgando festas e reuniões e falando de Portugal; os ouvintes participam pelo telefone pedindo músicas portuguesas. Os anunciantes são sempre empresas de origem portuguesa. Quanto à TV, existiram dois programas dedicados à comunidade, ambos na extinta TV Tupi: Caravela da Saudade e Portugal no Mundo. A comunidade portuguesa tem uma efectiva participação no desenvolvimento económico do Estado de São Paulo. Empresas de propriedade de pessoas de origem portuguesa ou que promovem produtos portugueses nesta região são anualmente recenseadas pela Câmara de Comércio de São Paulo.

 

O significado de "ser português"

Entrevistando imigrantes de diferentes gerações que vieram para São Paulo percebemos que "ser português" em São Paulo e certamente no Brasil, reveste-se de grande ambiguidade. Difere do "ser português" em países de outra língua. Nestes, a comunidade portuguesa tende a agrupar-se: as escolas são organizadas, realizam-se reuniões frequentemente, os festejos lembram a terra de origem. No Brasil, país com a mesma língua, os portugueses são numerosíssimos, mas a comunidade está dispersa. Neste país, que compartilha um longo passado com Portugal, vivem os imigrantes de hoje a preocupação com o futuro da comunidade, com a manutenção das obras por eles construídas, com a preservação das raízes pelas gerações sucessivas, com o sentimento de lusitanidade.

No âmbito colectivo, são as associações que buscam manter as tradições portuguesas. No nível individual, é a casa o locus onde as tradições são preservadas. Em todas elas estão presentes lembranças de Portugal e da aldeia, como a imagem de Nossa Senhora de Fátima, o galo de Barcelos, muitas flores, a hospitalidade que não pode faltar, as festas comemoradas como se fazia na terra de origem e especialmente a comida, além de outros objectos trazidos como recordações. Tornam a casa um "lugar da memória".

Esta ambiguidade de "ser português" no Brasil, talvez mais acentuada que em outros países de imigração pela língua e raiz cultural comuns, expressa-se no jogo de duas forças antagónicas que se reflectem na comunidade: uma força centrífuga que trabalha no sentido da integração do imigrante no país de acolhimento e uma força centrípeta que mantém os laços que unem o imigrante à terra de origem.

Em todas as gerações percebe-se este processo de reconstrução da identidade, incorporando tanto as raízes lusas como as brasileiras. Trata-se efectivamente uma comunidade luso-brasileira.

 

Informação complementar

Meios de comunicação (jornais, revistas e programas de rádio)

Jornais e revistas (a)
António Barroco Jornais Revistas
Jornal da Portuguesa Jornal
Duas Nações
Jornal O Mundo Português
Jornal Portugal em Foco
Jornal Voz de Portugal
Revista Nau's
Revista Raízes Lusíadas

 

Programas radiofónicos (b)
Longe dos olhos, perto do coração – Júlio Pereira (Rádio Mundial)
Portugal, a saudade e você – Isabel Botelho (Rádio Capital)
Domingo em Portugal – Abílio Herlander (Rádio Imprensa)
Portugal, trilha nova – Varela Leal (Rádio ABC)
Melodias portuguesas – Irene Coelho (Rádio Difusora d'0este)
Alvorada portuguesa – (Rádio Difusora d'0este)
A voz da Madeira – (Rádio Santo Amaro)
Saudades de além-mar – (Rádio São Paulo)
Heróis do mar – (Rádio Difusora d'0este)
Programa Sucesso livre – (Mega FM 90,1)
Portugal em noite de estrelas – (Rádio Imprensa FM)
Cardápio musical internacional – (Rádio Imprensa FM)

Fontes: (a) Anuário 2.OOO – Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil. – anexo, p. 17; (b) Relação gentilmente fornecida pela empresária e radialista Isabel Botelho

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* Alice Lang

Doutorada em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Investigadora do Centro de Estudos Rurais e Urbanos – USP. Membro do Conselho Científico da Associação Brasil de História Oral.

* Maria Christina Campos

Socióloga. Doutorada em Ciências Sociais pela Universidade de Duisburg (Alemanha). Docente na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Directora-Presidente e investigadora do Centro de Estudos Rurais e Urbanos NAP CERU/USR

* Zeila Demartini

Doutorada em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Directora de Pesquisa do Centro de Estudos Rurais e Urbanos – USR Docente na Universidade de Campinas. Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Migrações Internacionais da ANPOCS.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

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