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Onde estou: | Janus 2002 > Índice de artigos > Portugal e o mundo > Aspectos da conjuntura internacional > [A estratégia da OPEP e o preço do "crude"] | |||
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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! Deste modo, o preço do Brent (1), após atingir um mínimo histórico próximo dos 9 dólares norte-americanos por barril (USD/barril) em Dezembro de 98, iniciou uma trajectória ascendente durante o ano seguinte, que culminou no exorbitante e desproporcionado preço de 37,4 USD/barril em Setembro de 2000 — ver gráfico. Esta alta dos preços foi claramente resultado de uma evolução económica favorável nos países industrializados, sobretudo nos Estados Unidos e área do euro, que levou a um incremento conjuntural da procura. Além disso, a OPEP desenvolveu uma estratégia concertada de preços que passava pela relativa manutenção da oferta de petróleo, numa altura em que a elevada procura justificaria precisamente o oposto. A partir do 2º semestre de 2000, embora com mais incidência após o 3º trimestre, as notícias de abrandamento económico mais acentuado nos Estados Unidos e, já este ano, a convicção de que esse abrandamento está a alastrar a outras áreas do globo, vieram recolocar as pressões sobre o preço do petróleo, só que, desta vez, em sentido inverso. Não se estranha, pois, que o barril evolua agora próximo dos 25 USD/barril e com tendência para a baixa (2).
A oferta e a procura de petróleo Uma oferta cartelizada... A produção mundial de petróleo atingiu 72,11 milhões de barris diários (mb/dia), em 2000, quando em 1999 havia sido de 69,64 mb/dia. Todavia, considerando-se ainda os derivados e processing gains (ganhos tecnológicos) a oferta eleva-se a 74,12 e 76,7 mb/dia, respectivamente, em 1999 e 2000. Numa desagregação por regiões, constata-se que a OPEP contribuiu com aproximadamente 39% da oferta, sendo o restante assegurado em 30% por países da OCDE (de que se destaca os Estados Unidos, com 11% da produção mundial), enquanto os países que não pertencem à OCDE fornecem 31% do petróleo mundial. Nestes últimos destaca-se a Rússia, com 9%, apesar das convulsões políticas e sociais observadas e que não têm permitido o desenvolvimento dos inúmeros recursos petrolíferos nesta zona do globo. É todavia a OPEP quem tem condicionado decisivamente o comportamento do preço do petróleo nos mercados internacionais, não só porque assegura uma parte substancial da oferta internacional, como ainda porque actua de forma concertada e com objectivos tradicionalmente bem definidos. Além disso, é nessa zona do globo que se concentram cerca de 2/3 das reservas petrolíferas mundiais. Na verdade, enquanto esta organização canaliza a parte esmagadora do petróleo extraído para o mercado internacional, os países da OCDE produzem essencialmente para consumo interno, com excepção do Reino Unido, da Noruega e do México que são igualmente grandes exportadores. Ora a OPEP, embora ciclicamente se confronte com desavenças internas, nomeadamente entre uma linha dura iraniana e líbia que pretende limitar as quotas de produção e a moderação dos sauditas, tem mantido uma estratégia coerente com os seus objectivos. Os efeitos dessa estratégia foram visíveis após os cortes de produção efectuados entre o 2º semestre de 1998 e o 1º trimestre de 1999, que contribuíram para que os preços se elevassem dos 9 USD/barril, em Dezembro de 1998, para os 37,8 USD/barril, em Setembro de 2000. Por outro lado, a colocação do preço do petróleo em níveis aceitáveis para a OPEP permitiu à organização definir, a partir de 2000, um objectivo de estabilização de preços no intervalo de 22-28 USD/barril. Assim, enquanto em 2000 foi aumentando a oferta num contexto em que a forte pressão da procura induzia os preços para a alta, a redução dos preços observada no corrente ano levou a OPEP a reduzir por duas vezes a oferta, em 1,5 e 1,0 mb/dia, em Janeiro e Março.
... e uma procura instável. A procura de petróleo em 2000 atingiu, em média, 75,39 mb/dia, em ligeira alta face ao valor observado no ano anterior (74,96 mb/dia). Por regiões, salienta-se a América do Norte que absorve cerca de 32% do total da procura e a Ásia (27%), enquanto a Europa consome 21% do petróleo transaccionado a nível mundial. A procura registou, no ano 2000, alguma desaceleração face a 1999, tendo a taxa de crescimento dos volumes negociados descido de 1,8%, em 1999, para 0,8%, em 2000. Este comportamento encontra justificação no clima de abrandamento da actividade económica que penalizou a procura de petróleo em todas as regiões do globo, não só pelos efeitos directos que teve sobre a actividade industrial mas ainda pela queda da confiança dos agentes económicos, que se repercutiu, nomeadamente, na contenção dos gastos em gasolina (este efeito foi sobretudo sentido nos EUA, durante o Verão). Por outro lado, a procura internacional de alguns sucedâneos do petróleo é fortemente condicionada pelas condições climatéricas, sobretudo no hemisfério norte, com Invernos rigorosos a corresponderem a uma maior procura de produtos para aquecimento, sucedendo o inverso nos mais amenos.
E o futuro? Segundo uma projecção da Energy Information Administration (EIA) (3), os preços poderão atingir cerca de 36 dólares/barril, em 2020, o que corresponde a 22,4 USD/barril a preços de 1999. A EIA identificou ainda dois cenários alternativos, segundo os quais os preços (em termos constantes) poderão atingir naquele ano 15,1 USD/barril e 28 USD/barril, respectivamente. Esta previsão incorpora uma forte descida em relação aos preços praticados recentemente, sendo justificada por três motivos: i) pela convicção generalizada, ao que parece, inclusive no seio da OPEP, de que a manutenção de uma tendência altista dos preços levará à deterioração do crescimento económico nos países industrializados e nas nações em desenvolvimento; ii) pelo impacte negativo que essa situação traria em termos da evolução da procura; iii) pelo provável aumento da oferta oriunda de regiões como o Mar Cáspio e a Bacia Atlântica da África Ocidental e da América Latina. Quanto à evolução da oferta, espera-se que passe dos 76,7 milhões de barris diários observados em 2000 para 117 milhões em 2020. A OPEP terá presumivelmente um papel decisivo nesse aumento de oferta, estimando-se que contribua com 58 milhões de barris diários, quando actualmente a oferta desta organização ronda os 30,8 milhões. Embora admitindo que o Iraque poderá não retomar, a breve prazo, as suas exportações (4), as descobertas recentes na Nigéria, os planos da Venezuela que apontam para uma rápida expansão da oferta e ainda o esperado aumento da capacidade produtiva na Arábia Saudita e no Irão permitem estimar este acréscimo significativo da oferta oriunda dos países que integram a OPEP. Por outro lado, os produtores do Mar do Norte, a Austrália, o Canadá e, na América Latina, a Colômbia, o Brasil, a Argentina e o México (que têm vindo a efectuar um esforço considerável de privatização das empresas do sector) são países que poderão vir a aumentar, igualmente de forma significativa, a oferta. Ainda nesta década, os gigantescos projectos para o Mar da China e costa ocidental africana deverão começar o ciclo produtivo, sendo ainda de esperar que o regresso da estabilidade política à ex-União Soviética possa permitir a exploração dos inúmeros recursos do Mar Cáspio (Caspian Basin). Neste cenário, a grande questão que continua a colocar-se é a de saber até que ponto estarão os países mais industrializados dispostos a um esforço sério e concertado na procura de produtos que possam substituir, ao menos parcialmente, o petróleo. Numa altura em que as preocupações ecológicas parecem ganhar terreno, e sabendo-se que o petróleo não é um bem inesgotável, essa procura revela-se imprescindível, numa perspectiva de médio e longo prazo. Procura de petróleo por região Evolução do preço da gasolina sem chumbo nos países da zona Euro
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