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Onde estou: | Janus 2003 > Índice de artigos > A convulsão internacional > O “arco de crise” (II): Israel, Palestina, Iraque > [As guerras e as Intifadas] | |||
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AQUI! O protesto árabe e a reacção judaica aos ataques aos colonatos cedo conduziram à guerra civil. Com o fim do Mandato Britânico, à meia noite de 14 de Maio de 1948, em Telavive, o Conselho de Estado Provisório dos Judeus “representando o povo judeu na Palestina e o Movimento Sionista Mundial” proclamou o Estado Judeu (Medinat Ysra’el). No dia seguinte os exércitos do Egipto, Transjordânia, Síria, Líbano e Iraque, aliados aos Palestinianos, que combatiam as forças judaicas desde Novembro de 1947, invadiram a Palestina, tornando a guerra civil num conflito internacional, a primeira guerra israelo-árabe, que os Judeus designam por Guerra da independência. Os Palestinianos e Árabes fracassaram no objectivo de impedir o estabelecimento do estado judaico e a guerra apenas terminou em 1949 (armistício de Rodes) por mediação da ONU. As fronteiras definidas no armistício alargaram o território do Estado de Israel a 77% da Palestina (20.700 km2) contra os 57% (15.500 km2) previstos no plano de partilha das Nações Unidas e mantiveram-se inalteradas até à Guerra dos Seis Dias (1967). Israel ocupou ainda uma larga parte de Jerusalém. Como consequência, metade da população palestiniana, mais de 700.000 palestinianos árabes, fugiu ou foi expulsa, devido a acções militares israelitas e sionistas, a campanhas de guerra psicológica e também, à vontade de líderes políticos e militares árabes. Expulsões em massa ocorreram em Lydda e Ramle e a população da aldeia árabe de Deir Yasin, próximo de Jerusalém, massacrada. As outras parcelas do território atribuído pelo plano de partilha da ONU ao Estado palestiniano, que não chegou a ser constituído, foram anexadas pela Jordânia (Margem Ocidental) e ocupadas pelo Egipto (Faixa de Gaza). Os refugiados palestinianos, simultaneamente pasto da propaganda árabe e má consciência de Israel, foram amontoados em sórdidos ‘campos de refugiados’, onde sobreviveram graças à caridade da ONU e de ONGs. As tentativas para converter o armistício israelo-árabe (1949) em tratados de paz revelaram-se infrutíferas. A recusa egípcia em permitir o acesso da marinha israelita ao canal do Suez, o bloqueio do estreito de Tiran, acesso israelita ao mar Vermelho, bem como, a intenção da França e da Inglaterra de recuperarem a influência na região, perdida pela nacionalização do Canal e a política de Nasser, conduziu à erupção da segunda guerra israelo-árabe, a guerra do Suez-Sinai (Out.-Nov. 1956). Israel obteve uma vitória rápida, ocupando a Faixa de Gaza, a península do Sinai e as margens do Suez. O conflito foi travado com o envio de uma força de emergência da ONU e a rara cooperação política e diplomática entre EUA e URSS forçou os três países invasores à retirada (1956-57). O incremento do Nacionalismo Árabe, a manutenção da tensão entre Israel e o Egipto, o bloqueio de Tiran e a insistência de Nasser na retirada da força da ONU (UNEF) conduziram Israel ao ataque simultâneo ao Egipto, Jordânia e Síria, Guerra dos Seis Dias (5.06.1967; a terceira guerra), ao aniquilamento dos seus exércitos, à ocupação da Faixa de Gaza, península do Sinai, Jerusalém Oriental, Margem Ocidental e Montes Golan, controlando uma área quatro vezes superior à das fronteiras de 1949 e 1,5 milhões de árabes, provocando um segundo êxodo de 500.000 palestinianos. Da guerra resultou a explosão do Nacionalismo Palestiniano-Árabe sob a direcção da Organização de Libertação da Palestina (OLP), fundada em Junho de 1964, e que reuniu no seu seio organizações de refugiados e combatentes fedayeen palestinianos como a Fatah e a Frente Popular de Libertação da Palestina, que levaram a cabo várias acções terroristas com o objectivo de “resgatar” a Palestina. A manutenção dos territórios ocupados em 1967, principalmente a Margem Ocidental, tornou-se uma questão política candente em Israel e conduziu à ascensão do Sionismo Religioso: a vitória, encarada como sinal do cumprimento da, e a sua conquista, representavam a reconstituição da bíblica Terra de Israel (Judeia e Samaria), justificando-se assim, para os partidos religiosos ortodoxos, a extensão da política dos colonatos judeus a Gaza e à Margem Ocidental do rio Jordão e a anexação consumada de Jerusalém oriental. Em Outubro de 1973 o Egipto e a Síria, frustrados pela recusa israelita em retirar dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, com o apoio financeiro do Koweit e Arábia Saudita, a participação de tropas da Jordânia e do Iraque, e a tecnologia militar da URSS, desencadearam um ataque surpresa a Israel no feriado do Yom Kippur que, após vitórias iniciais no Sinai e Montes Golan, foi rechaçado pelo poderio militar de Israel, apoiado pelos EUA. Um cessar-fogo foi acordado com mediação da ONU após três semanas de combates. Apesar da vitória sionista na guerra do Yom Kippur (a quarta guerra), o Egipto, pela performance militar inicial, logrou difundir uma mensagem psicologicamente vitoriosa. O facto é que o governo israelita de Golda Meir foi derrubado; os trabalhistas desgastados perderam as eleições de 1977 para o bloco Likud, de direita; a economia de Israel deteriorou-se com inflação galopante e, de Outubro de 73 a Março de 74, os países árabes mantiveram um embargo às exportações de petróleo para os EUA e países ocidentais aliados de Israel. A iniciativa do presidente egípcio Anwar al-Sadat, que em Novembro de 1977 se deslocou a Jerusalém, discursando no Knesset (parlamento israelita) e apelando a negociações de paz, traduziu-se no Acordo de Paz Israelo-Egípcio (Acordos de Camp David, 26.03.1979) e na retirada de Israel do Sinai (completada em Abril de 1982). Contudo, o conflito israelo-árabe manteve-se tenso. Em Junho de 1982, Israel invadiu o Líbano (quinta guerra) com a declarada intenção de eliminar a OLP. Em meados de Agosto, após intensos combates, esta concordou em retirar de Beirute, sendo transferida para países vizinhos, com a garantia israelita de segurança para os refugiados palestinianos ali residentes. Contudo, o seu massacre em larga escala teria lugar nos campos de Sabra e Shatila. As relações entre Israel e os palestinianos entraram numa nova fase a partir desta altura. Em Setembro de 1983, a Conferência Internacional para a Questão da Palestina adoptou a Declaração de Genebra que rejeitava o estabelecimento de colonatos judeus nos territórios ocupados e a alteração do estatuto de Jerusalém. Em Dezembro de 1987, a população palestiniana na Margem Ocidental e em Gaza iniciou um Levantamento Geral duradouro de desobediência civil, a intifadah (1987-1991) contra a ocupação israelita, que se foi tornando progressivamente violento, nele participando as facções principais da OLP, o Hamas e a jihad Islâmica. Embora os métodos repressivos utilizados pelas forças israelitas resultassem em inúmeros feridos graves e em pesadas perdas de vidas humanas entre a população civil palestiniana, a Intifada fez deslocar o eixo de gravidade da iniciativa política palestiniana, da liderança da OLP, exilada na Tunísia, para os territórios ocupados. Em Novembro de 88, o Conselho Nacional Palestiniano, numa clara mudança de política, reconheceu o Estado de Israel, proclamou um Estado palestiniano na Margem Ocidental e renunciou ao terrorismo. Contudo, na Conferência de Paz do Médio Oriente (Madrid, 30.10.1991) não foi admitida a presença de representantes directos da OLP, fragilizada pelo apoio declarado ao Iraque na guerra do Golfo Pérsico (Jan.-Fev., 91). Sem embargo, a Intifada foi o factor despoletador de uma série de subsequentes negociações secretas em Oslo que produziram a Declaração Israelo-Palestiniana de Princípios que foi assinada em Washington (Setembro, 1993) e constituiu a Autoridade Nacional Palestiniana e o governo autónomo da Faixa de Gaza e da Margem Ocidental. A aceitação pela OLP deste acordo demasiado fluido resultou da sua fragilidade interna e falta de suporte diplomático do mundo árabe. O adiamento de questões-chave como a extensão dos territórios a devolver
por Israel, a natureza da entidade palestiniana a ser estabelecida, o
futuro dos colonatos judeus, os direitos da água, a resolução do problema
dos refugiados, o estatuto de Jerusalém e a lentidão na implementação
do acordo, consequência da contínua violência perpetrada por extremistas
dos dois lados, combinado com as frustrações e humilhações infligidas
diariamente aos palestinianos nos territórios ocupados, convergiram numa
segunda e mais sangrenta Intifada, iniciada no Outono de 2000, cujo fim
se não vislumbra, a que Israel respondeu desmesuradamente atacando e
bombardeando instalações civis e da Autoridade Nacional Palestiniana
e liquidando, na prática, os Acordos de Oslo.
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