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A visibilidade externa da cultura portuguesa (II)

Teresa Maia e Carmo *

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Nas artes plásticas, os anos 90 vêem surgir uma nova geração de artistas, contemporâneos e internacionalizados, alheios às reivindicações de não-inferioridade portuguesa da geração anterior. No cinema destaca-se o papel de Paulo Branco, no último festival de Cannes, com participação em treze filmes, dos quais somente três portugueses. A projecção da cultura e língua portuguesas, a cargo do Instituto Camões, foi activa: participação de Portugal como país convidado na Feira de Livro de Tóquio, na Expolíngua, como convidado de honra, em Paris e em Timor, com várias iniciativas.

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Curiosamente, é no universo anglo-saxónico que se verifica um número mais modesto de traduções – o que poderia servir de aviso aos responsáveis, que ali têm uma reserva de aposta a intensificar... É justo referir que o ICA apoiou já a edição de trinta e dois livros no Reino Unido, sendo a língua inglesa a sua mais clara prioridade, a par do castelhano. O Instituto não subvenciona os autores directamente, optando por uma política de apoio às editoras através da aquisição de exemplares.

 

Artes plásticas

Nas artes plásticas são já inquestionáveis na cena mundial nomes como Paula Rego e Julião Sarmento, seguidos de nomes de uma geração um pouco mais jovem mas plenamente afirmada no circuito internacional que integra artistas como Pedro Cabrita Reis ou Rui Chafes, com carreiras sólidas à escala europeia e mundial, expondo com regularidade em galerias e museus de primeiro nível.

Todavia, além destes consagrados importa referir a emergência de um conjunto de jovens artistas que se afirmou em 90 de forma completamente diferente da geração de 80. Se para estes a internacionalização era quase uma reivindicação, reclamada durante uma atmosfera cultural e económica entusiasta em que o investimento em arte era um facto, os mais jovens chegaram numa década que começou com a (I) Guerra do Golfo e se espraiou num ambiente negativo de crise generalizada.

Aos primeiros coube a energia de rejeitarem todos os complexos de inferioridade nacional, afirmando-se como plenamente contemporâneos. Aos mais novos, contudo, muitos nascidos já depois do 25 de Abril, a questão deixou sequer de se colocar. Iniciam os seus percursos profissionais e expõem com toda a naturalidade tanto em Portugal como no estrangeiro. Estudam fora, viajam e circulam um pouco por todo o mundo.

No início do século XXI, as artes plásticas portuguesas voltam a viver um horizonte de promessa. Vasco Araújo fez uma exposição individual na Austrália e foi um dos artistas convidados para a Bienal de Sidney. Filipa César vive na Alemanha e mostra o seu trabalho lá e cá. João Onofre fez a sua primeira apresentação individual em...Nova Iorque. Entre vários outros nomes, a que o espaço não deixa fazer justa referência.

Ou seja, esta é uma geração naturalmente cosmopolita que encara a circulação internacional do seu trabalho como algo de simplesmente inevitável.

E se há área em que o multiculturalismo tem revelado uma oportunidade evidente, é a arte contemporânea. Nela convivem toda a espécie de tendências e temáticas definindo um território essencialmente aberto e plural, onde faz sentido apostar nos valores portugueses que se vão cimentando.

 

Cinema

No cinema, o produtor Paulo Branco esteve em Cannes com treze filmes. Só três eram portugueses («A Mulher que Acreditava ser Presidente dos EUA», de João Botelho; «Vai e Vem», de João César Monteiro, falecido recentemente e objecto de tocante homenagem; «Quaresma», de José Álvaro de Morais) mas apresentou-se também como co-produtor de outros três, entre eles «Father and Son» de Alexander Sokurov, e distribuidor de mais sete, onde pontificam nomes como Techiné ou François Ozon.

Mário Ruivo foi eleito vice-presidente da Comissão Oceanográfica Intergovernamental, assinalando a primeira vez que um português ocupa a presidência neste organismo da UNESCO, fazendo jus à aposta feita nos oceanos que serviram de tema à Expo98.

A projecção da cultura e língua portuguesas ficou em grande parte a cargo do ICA, tutelado pelo MNE. Foi o caso da Expolíngua em que o «português como língua de culturas» foi Convidado de Honra, ou do Festival de S. Petersburgo, em parceria com a CPLP, ICEP e GRI (do MC) que, entretanto levou a exposição «Amar o Outro Mar: a Pintura de José Malhoa» ao Rio de Janeiro.

O ICA desdobrou-se em iniciativas nos centros culturais e de língua portuguesa que tutela um pouco por todo o mundo. Foi o principal organizador da presença portuguesa na Feira do Livro de Tóquio, onde Portugal era o país convidado, e teve os seus pontos altos em Paris e Timor.

Na capital francesa, a sua delegação extremamente activa sob coordenação discreta mas competente de Nuno Júdice organizou ciclos de cinema, conferências, exposições, espectáculos de dança e teatro, num ritmo apreciável. E nestas coisas, sabemo-lo, o ritmo é fundamental.

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Difusão da língua

O ICA abriu Centros de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau, Hamburgo, Joanesburgo e Jacarta – onde um indonésio utiliza diariamente palavras como «sapato» «mesa» «bandeira» ou «bola». Reforçou a sua presença em Angola, onde ao Centro Cultural Português em Luanda e aos dois Centros de Língua Portuguesa (na capital e no Lubango), acrescentou publicamente a intenção de abrir um novo Centro de Língua Portuguesa em Benguela, assim como a aposta no ensino a distância e o fomento da articulação entre empresas e instituições portuguesas e angolanas interessadas na difusão da língua no país. Por fim, cabe destacar a I Feira do Livro Lusófono em Timor-Leste, que organizou com estrondoso sucesso e onde foram vendidos mais de 90mil livros ao preço simbólico de um euro.

A Câmara Municipal de Lisboa honrou os seus compromissos na organização de Mindelo-Capital Lusófona da Cultura.

O IPLB (Livro), ainda que muito apagado relativamente a anos recentes, prosseguiu os seus programas de divulgação no estrangeiro através do apoio à tradução e edição, com destaque para o projecto Rede Bibliográfica da Lusofonia, que apoia a recuperação e revitalização de bibliotecas e arquivos, organiza feiras do livro, reactiva parques gráficos e outras infraestruturas de base para a comercialização do livro.

Este é um dos mais importantes sinais da afirmação portuguesa no mundo: a Lusofonia vem ganhando espaço como conceito na cena mundial. Estima-se que o universo lusófono agregue hoje cerca de 200 milhões de pessoas, sendo a língua oficial de oito Estados e a terceira língua europeia mais falada no mundo. Foram vários os encontros dedicados ao tema, com destaque para o Festival Cultural de Aarhus, Dinamarca.

A ideia da identidade cultural ser feita de negociação permanente, aberta ao mundo e ao que acontece (sempre foi e sempre será assim, ao contrário do que sustentam concepções mais conservadoras) escava um caminho de possibilidades verdadeiramente sintonizado com a lógica de globalização que informa os nossos dias. Donde, é verdadeiramente necessário um gesto voluntarista que saiba casar em comunhão de bens uma política cultural com uma política da língua numa aventura que só pode ser a dois.

 

Plataforma

Ou seja, Portugal tem a oportunidade estratégica de potenciar o seu estatuto único de plataforma entre os riquíssimos espaços afro-brasileiro e europeu, assumindo-se sem complexos como herdeiro e fazedor de ambos.

Apostando em tradição e contemporaneidade, fugindo da bolorenta (e perigosa) clivagem que tende a opor património e criação. Ambos são uma e a mesma coisa em tempos diferentes, como afirmava lapidarmente Baudelaire, o mais moderno dos modernos. Há mais de 100 anos. Não se trata de ampliar geograficamente uma lógica bairrista dos supostos eternos valores da cultura portuguesa, mas sim de a afirmar de forma viva e plural na cena internacional. Não mais, de resto, do que fizeram os descobridores portugueses, os primeiros globalizadores da história que, se se tivessem confinado à lógica atarracada da pequena dimensão do país, nunca teriam saído de Lisboa.

A título de exemplo, colhe apontar o caso paradigmático da fadista Mariza. Nascida em Moçambique e criada na Mouraria, apresenta-se de cabelo louro muito curto, num estilo haute couture que combina os seus traços de negritude com o clássico traje negro, onde deixa despontar umas meias de riscas coloridas. Cantou o hino nacional antes do fatídico jogo com a Coreia do Sul e o mundo marcou-a. O seu primeiro disco «Fado em Mim» foi lançado em 2001 pela holandesa World Conection, depois de recusado pelas editoras portuguesas, tendo chegado à platina, intra-muros. Em 2003 é última estrela nos céus da EMI-Internacional e a Melhor Artista da Europa em world music, um galardão de enorme projecção internacional.

Parece-nos pois ser tempo de concertar, na lógica de arranjo e musicalidade que a palavra encerra, a cultura como vector decisivo da afirmação da imagem de Portugal no mundo. O que implica uma política externa cultural menos errática e repentista, que nos resgate do desânimo de uma eterna semiperiferia. Não é cedo, mas talvez possa ainda não ser tarde.

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* Teresa Maia e Carmo

Licenciada em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa - FCSH. Mestre em Comunicação Educacional Multimédia pela Universidade Aberta. Doutoranda em Comunicação pela Universidade Complutense de Madrid. Docente na UAL. Jornalista.

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