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Globalização e oligopólios Na base de todas as alterações está um processo que se convencionou designar por globalização. Desde o início dos anos 80 que esta palavra invadiu todos os domínios da sociedade, da economia à cultura, passando pela política, pela ciência e pela tecnologia. Dirigentes políticos, gestores, consultores, jornalistas e académicos adoptaram-na integralmente nas suas linguagens e nas suas argumentações do dia-a-dia. Para uns, a globalização é um fenómeno gerador de oportunidades para as economias e para as empresas. Para outros, ela é a principal causa de todos os problemas que afectam as economias e as sociedades contemporâneas. Para outros ainda, a globalização é simplesmente uma realidade incontornável que condiciona tudo e todos. Embora possa ser errado decretar a morte dos capitalismos nacionais, com a globalização estes deixaram de ser as únicas formas coerentes de organização das actividades económicas. O mundo está a tornar-se um meta espaço, isto é, um espaço que interliga todos as subespaços mundiais, ou, pelo menos, os mais importantes. Deste modo, a globalização não constitui apenas uma moda. Ela corresponde a uma organização cibernética das relações económicas internacionais e encerra um conteúdo real de mudança. Consequentemente implica uma necessidade de compreender processos que perderam clareza e significado à luz de conceitos tradicionais. A globalização coloca problemas novos, ou, pelo menos, coloca os mesmos problemas de sempre de uma forma nova. Porém, abre também grandes oportunidades para os resolver. Embora os efeitos da globalização não possam ser determinados à partida, é desde já claro que eles põem em causa as formas de compreensão das realidades actuais. As teorias existentes sobre as relações económicas internacionais estão ultrapassadas porque se encontram inevitavelmente ligadas a realidades que já não existem. É a nível económico que a globalização é mais evidente, colocando importantes desafios a todos os agentes económicos e, em particular, às empresas. Estas, até há pouco tempo protegidas da turbulência em territórios nacionais bem determinados, são agora ameaçadas por múltiplas adversidades, para onde quer que se virem, o que as obriga a competir à escala planetária, ou, pelo menos, à escala dos territórios mais relevantes. A sua reacção estratégica torna-as actores privilegiados das transformações actuais. Assim, a globalização é em grande parte explicada pelo comportamento das empresas à escala do globo, que se assumem como seus agentes directos. Compreendê-la passa necessariamente por perceber o comportamento das empresas. A globalização é a era por excelência das relações oligopolísticas. As empresas concorrenciam-se mas ao mesmo tempo aliam-se para estender a sua influência, para abater um adversário considerado perigoso ou para atingir massas críticas que permitam realizar investimentos cada vez mais pesados. Portanto, o desenvolvimento económico futuro deverá apoiar-se na interligação entre agentes, numa base de competição talvez mais acentuada do que no passado, mas também de cooperação. As alianças têm constituído uma das vias privilegiadas de adaptação das empresas à globalização e, simultaneamente, um dos factores explicativos dessa mesma globalização e do aparecimento das empresas globais. Estas são cada vez mais responsáveis por uma espécie de economia mundial policêntrica privada, interconectada por redes que põem em causa uma organização tradicional baseada em Estados nacionais. Tradicionalmente, a característica fundamental da empresa multinacional tem sido a criação de filiais no estrangeiro sobre as quais dispõe de um controlo directo. Neste modelo de empresa, as alianças são encaradas como alternativas de second best. Em contrapartida, a empresa global arbitra entre criação de filiais e alianças com parceiros locais, duas modalidades que são vistas como complementares e como suportes uma da outra, por forma a obter um grau de flexibilidade adequado que lhe permita aceder às vantagens proporcionadas por todos os territórios em tempo oportuno. A organização externa da empresa global é então condicionada por dois factores básicos. Em primeiro lugar, pela necessidade de reagir em tempo real aos choques provenientes do exterior, ou seja, pela necessidade de enfrentar eficazmente a incerteza associada ao processo de globalização. A grande vantagem das alianças reside na sua capacidade para gerir a incerteza, isto é, limitar os prazos, os custos e os riscos de adaptação ao meio envolvente. A globalização exige que a empresa não se comprometa em decisões que venham a mostrar-se irreversíveis. Ora, a aliança significa também a possibilidade de retroceder sem custos, ou com custos inferiores aos da criação de filiais, caso as escolhas efectuadas venham a revelar-se erradas. Em segundo lugar, pela necessidade de enfrentar em tempo real uma concorrência global. Este factor obriga cada empresa a dominar simultaneamente um conjunto alargado de competências para se manter competitiva. A complexidade actual dos factores de sucesso torna, no entanto, impossível controlar simultaneamente todos os aspectos da cadeia de valor acrescentado, ou seja, o seu domínio não está ao alcance de uma empresa agindo isoladamente. As alianças permitem então uma especialização nas competências nucleares e, simultaneamente, uma externalização das actividades para as quais a empresa está menos preparada, mantendo ao mesmo tempo algum controlo sobre elas.
Uma nova modalidade de concorrência As alianças entre empresas constituem, portanto, uma forma típica de comportamento empresarial na era da globalização, um instrumento adequado para manter ou criar capacidade competitiva. Embora não constituam uma novidade organizacional, a globalização estimula-as muito mais fortemente do que qualquer outro factor no passado. Elas devem ser entendidas como formas de organização externa adequadas à complexidade que envolve as empresas modernas, criando zonas de estabilidade (redes) que permitem amortecer os impactos dos choques externos e enfrentar a concorrência global em tempo real. Assim, a globalização traz associada uma nova modalidade de concorrência: a cooperação/competição, isto é, as empresas são então obrigadas a cooperar para competir globalmente. A cooperação/competição põe em causa a ideia tradicional de independência, de conflitualidade e de antagonismo entre empresas na qual assenta a maior parte da estrutura conceptual e explicativa tradicional das relações económicas internacionais. A concorrência exige, actualmente, uma concentração de recursos em competências nucleares e uma articulação de cadeias de valor por forma a reforçar complementaridades e sinergias que apenas estão ao alcance da maior parte das empresas através das relações de cooperação com outras empresas. Embora as alianças não assentem em princípios de conflitualidade e de antagonismo, podem constituir, contudo, um importante instrumento de prolongamento da concorrência ou de reforço das bases concorrenciais face a terceiros. Assim, o postulado da concorrência não foi totalmente posto em causa mas deixou de ser universal na era da globalização. Poder-se-ia dizer que os comportamentos de aliança respondem às restrições específicas de um ambiente que, de estável e previsível, se tornou fluido e incerto. Estes comportamentos derivam directamente da necessidade de enfrentar a mudança de contexto, proporcionando flexibilidade e rapidez de reacção face à instabilidade. Ou seja, as alianças podem representar para as empresas uma reposição da estabilidade a que estavam habituadas no passado. As suas grandes vantagens em relação a outras formas de organização das actividades internacionais das empresas residem na capacidade em gerir a incerteza que é originada pelos processos de transformação tecnológica estrutural e de globalização tecno-económica que caracterizam mais fortemente as economias modernas desde os anos 70. Com efeito, trata-se de uma forma de organização relativamente reversível (vantagem de reversibilidade) que permite encurtar os prazos (vantagem de tempo) e reduzir os custos e os riscos de adaptação a um meio envolvente volátil e mal conhecido (vantagem de partilha), sem perda de autonomia estratégica. As evoluções recentes permitem pensar que este fenómeno irá intensificar-se ainda mais no futuro. No entanto, ele também pode ser transitório e representar apenas uma resposta provisória ao fenómeno da globalização, o qual pôs em causa as fontes das vantagens competitivas vigentes. Em qualquer dos casos, os comportamentos de aliança não substituem nem as estratégias de internacionalização tradicionais de crescimento por integração, nem as relações de mercado. No limite, podem representar apenas uma fase intermédia para uma intensificação das estratégias de crescimento externo nos mercados internacionais, induzida pela queda das barreiras ao processo de globalização. As alianças assumem as formas mais diversas, sendo em geral consideradas formas de organização intermédias entre o mercado puro e a integração pura. Algumas implicam a criação de uma nova entidade jurídica, como é o caso das joint ventures, mas na maior parte dos casos há apenas um contrato escrito ou verbal entre as partes envolvidas que se comprometem a colaborar durante um determinado período para atingir determinados objectivos. Da análise de 114 casos de aliança detectados entre empresas portuguesas e empresas estrangeiras concluiu-se que cerca de 20 % dizem respeito a joint ventures.
Informação Complementar As alianças assumem as formas mais diversas, sendo em geral consideradas formas de organização intermédias entre o mercado puro e a integração pura. Algumas implicam a criação de uma nova entidade jurídica, como é o caso das joint ventures, mas na maior parte dos casos há apenas um contrato escrito ou verbal entre as partes envolvidas, que se comprometem a colaborar durante um determinado período para atingir determinados objectivos. Da análise de 114 casos de aliança detectados entre empresas portuguesas e empresas estrangeiras concluiu-se que cerca de 20 % dizem respeito a joint ventures. Os dirigentes empresariais portugueses parecem estar atentos aos efeitos da globalização e às vantagens proporcionadas pelas alianças entre empresas enquanto instrumento adequado para enfrentar os novos desafios. A esmagadora maioria dos cerca de 400 dirigentes de empresas portuguesas que responderam a um inquérito considerou que os acordos de cooperação são opções altamente vantajosas para as empresas neles envolvidas. Embora tenham sido referidos diversos objectivos, sobressai das respostas a ideia de que uma aliança é uma boa opção estratégica para enfrentar ou neutralizar a concorrência e/ou para aceder a novos mercados. Com a globalização, as alianças entre empresas de diferentes nacionalidades passou a estar na ordem do dia. Um levantamento dos casos noticiados na imprensa económica portuguesa sobre alianças que envolveram empresas portuguesas nos anos 90 mostrou que os parceiros estrangeiros provêm de diversas nacionalidades. Contudo, os principais parceiros das empresas portuguesas são, sobretudo, empresas espanholas, francesas e americanas. Repartição das alianças entre empresas portuguesas e estrangeiras, por formas Objectivos das alianças segundo a opinião de dirigentes empresariais portugueses Repartição das alianças por países / territórios de origem dos parceiros das empresas portuguesas
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