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A internacionalização dos serviços financeiros

Henrique Morais *

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Esgotado, em meados da década de 90, o modelo de desenvolvimento económico de Portugal assente em custos de produção mais baixos e na desvalorização progressiva da nossa moeda, como forma de tornar competitivas as empresas que se dedicavam ao comércio externo em sectores intensivos de mão-de-obra, potenciado pelo avanço inexorável da globalização e pela queda do muro de Berlim, que levou as grandes empresas na Europa a reorientar os seus investimentos para o Leste, com níveis de custos inferiores aos que se verificavam em Portugal, agravado ainda pela falta de capacidade do país em atrair novos projectos de investimento, num contexto administrativo-burocrático e fiscal pouco aliciante – uma parcela significativa dos nossos empresários e grandes empresas interiorizaram a necessidade de procurar mercados externos atractivos, face à exiguidade do mercado interno e à incapacidade manifesta de concorrer com as fortíssimas congéneres espanholas pelo controlo do minimercado ibérico.

 

A internacionalização no sector dos serviços financeiros

No sector dos serviços financeiros (1), o esforço de internacionalização foi particularmente intenso, detendo os principais bancos portugueses (BCP, BES, BPI e CGD) participações maioritárias em 20 bancos estrangeiros, dos quais 12 correspondem ao controlo quase absoluto do respectivo capital (entre 98,5% e 100%). As participações em bancos estrangeiros destas quatro instituições de crédito portuguesas ascendem hoje a cerca de 1.541 milhões de euros, um valor significativo atendendo a que o somatório dos capitais sociais destas instituições de crédito é ligeiramente inferior a 7.970 milhões de euros.

Aliás, considerando as participações cruzadas (2) e ainda as participações dos bancos portugueses noutras sociedades financeiras não bancárias (corretoras, empresas de consultoria e de informática, mediadoras de seguros, entre outras) o peso do investimento dos bancos portugueses no exterior é ainda maior. A título exemplificativo, o BCP Investment, com sede em Amesterdão, tem um capital social de 767,4 milhões de euros, muito próximo do conjunto de participações do BCP em bancos estrangeiros.

Em oposição ao verificado nas telecomunicações e sector energético, em que os investimentos foram maioritariamente canalizados para o Brasil, o processo de internacionalização dos nossos bancos foi preferencialmente orientado para os mercados em expansão da Europa (cerca de 52% das participações dos bancos) e ex-colónias portuguesas (13%), enquanto o caminho de expansão “natural” das empresas portuguesas de telecomunicações e do sector energético apontava para o vasto mercado latino-americano (especialmente o Brasil), em parceria com empresas espanholas, face a um mercado ibérico com fortíssima concorrência por parte das congéneres espanholas, muito superiores em termos de dimensão.

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Paragem para reflexão ou os ecos da crise?

Uma análise mais global, a partir da balança financeira, confirma o movimento de alteração, nos últimos anos, no padrão dos movimentos de investimento de/para Portugal.O saldo da balança financeira, apóster atingido valores muito significativos em 2000 (cerca de 10.870 milhões de euros),começou a deteriorar-se, tendo-se situadoem 4.473 milhões de euros, em 2003. Traduzindouma significativa diminuição do investimentodirecto estrangeiro em Portugal,este movimento esconde afinal a descidado investimento português no exterior, quecaiu de 8.153,6 milhões de euros, em 2000,para 84,6 milhões, em 2003.

Ao nível dos investimentos directos e de carteira em actividades financeiras, e no que diz respeito ao investimento directo de Portugal no exterior, a acentuada diminuição nos anos de 2002 e 2003 revela-nos que o desinvestimento no exterior mais do que compensou os novos fluxos de investimento português no estrangeiro. Os não residentes também desinvestiram em Portugal no ano de 2003, o que não acontecia desde 1999, mas, globalmente, nos dois últimos anos, e no que diz respeito às actividades financeiras, Portugal recebeu mais capitais do que aqueles que saíram do país.

Já os investimentos de carteira têm uma evolução distinta, tendo 2003 representado o ano em que as empresas portuguesas do sector financeiro mais investiram no exterior (cerca de 10.574 milhões de euros) e, simultaneamente, mais foi investido pelos não residentes em empresas portuguesas do sector financeiro, o que se explica com o bom momento atravessado pelo mercado de capitais em 2003. Nestas circunstâncias, quanto aos próximos movimentos de internacionalização das empresas financeiras portuguesas, importará esclarecer se estamos a assistir ao início de uma nova tendência, em que o sector financeiro em Portugal já não representa um mercado atractivo para o investimento estrangeiro, com a nata das nossas empresas financeiras na sua posse, em simultâneo com um quadro de dificuldades acrescidas em nos expandirmos, através do investimento, para o exterior.

 

Informação Complementar

O MILLENNIUM DO BCP

De entre todas as participações de bancos portugueses em instituições de crédito estrangeiras, realce para o Bank Millennium. Com um activo total de 4,6 mil milhões de euros, 493 balcões e mais de 5.000 colaboradores (3) cotado na Bolsa de Valores da Polónia, com uma capitalização bolsista próxima de 2.640 milhões de euros (o que corresponde a um peso de cerca de 1,5% no principal índice de cotações polaco), trata-se, sem dúvida, do maior investimento externo efectuado por uma instituição financeira portuguesa no sector bancário e, por outro lado, configura uma interessante aposta do banco de Jardim Gonçalves num país tido como estratégico no processo de alargamento a Leste das empresas dos países da área do euro.

Os resultados deste investimento situaram-se, até ao momento, aquém das expectativas, sobretudo em 2001, em que se registou um resultado líquido de apenas 5 milhões de euros, o qual foi substancialmente aumentado no ano seguinte (45,8 milhões de euros). Este comportamento dos resultados deveu-se a problemas com o crédito mal parado, fenómeno que não foi exclusivo do mercado polaco e que ocorreu num contexto de grande abrandamento da actividade económica à escala global. Agora que a Polónia faz parte integrante da União Europeia alargada a 25, e sendo provável que a médio prazo venha a aderir ao euro, o investimento do BCP por terras polacas será certamente um dos case studies mais interessantes em termos de estratégias de internacionalização de empresas portuguesas, para acompanhar atentamente nos próximos anos.

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1 Os serviços financeiros correspondem ao sector bancário, aos seguros, e, de uma forma geral, às empresas financeiras que operam na área dos mercados monetário e de capitais.
2 As participações cruzadas correspondem às partes de capital noutras empresas detidas pelos bancos estrangeiros em que as instituições de crédito portuguesas detêm participações.
3 Dados retirados do Relatório e Contas do BCP referente ao exercício de 2002.

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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo ISEG. Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório de Relações Exteriores da UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Balança financeira

Link em nova janela Investimento directo de Portugal no exterior - por tipo de operação

Link em nova janela Investimento de carteira - por tipo de instrumento

Link em nova janela Investimento directo e de carteira em actividades financeiras

Link em nova janela Participações dos principais Bancos portugueses no capital social de Bancos estrangeiros

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