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O investimento português no exterior

Francisco Mendes *

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No contexto da crescente internacionalização das empresas portuguesas, o investimento directo de Portugal no exterior – de reduzido significado até 1994 – adquiriu importância crescente a partir de 1995. Essa evolução, conjugada com a retracção nos fluxos líquidos de entrada do investimento directo estrangeiro em Portugal, iniciada em meados dos anos 90, originou uma alteração qualitativa da posição de Portugal nos fluxos líquidos do investimento directo estrangeiro (IDE). Com efeito, contrastando com a anterior situação tradicional de receptor líquido de IDE, Portugal, entre 1998 e 2002, tornou-se investidor líquido no exterior. Em 2003, o afluxo líquido do investimento directo estrangeiro em Portugal voltou, porém, a ultrapassar o investimento líquido no exterior.

No período 1990-95, o peso das saídas líquidas do investimento directo no exterior foi em média de 0,5 % do PIB (com um mínimo de 0,2 %, em 1993). A partir de 1996, a expansão espectacular desses fluxos fez o investimento no exterior atingir cerca de 7 % do PIB no biénio 2000-01, superior ao maior peso relativo já alcançado pelo IDE em Portugal (6,4 % do PIB, em 2000). O facto de o investimento bruto no exterior no período 1990-95 representar apenas 4,2 % das saídas brutas no período 1996-2001 é bem revelador da extraordinária expansão para o exterior realizada pelas empresas portuguesas, iniciada em meados da década de 90.

A trajectória da subida explosiva dos investimentos directos portugueses no exterior inverteu-se em 2002 e 2003. Em 2002, as saídas líquidas desse investimento contraíram-se 59 %, descendo o seu peso para 2,7 % do PIB. Em 2003, a quebra ainda foi mais acentuada, anulando-se praticamente o significado desses fluxos (0,1 % do PIB). Nestes dois últimos anos, também o fluxo líquido de entrada do IDE em Portugal sofreu drástica redução, descendo o seu peso relativo no PIB de 5,3 %, em 2001, para apenas 0,7 %, em 2003. Convém referir que os crescimentos expressivos de ambos os fluxos de IDE nos últimos anos estão afectados por aumentos das participações cruzadas entre algumas SGPS de grupos económicos nacionais e diversas empresas estrangeiras.

A referida expansão do investimento das empresas portuguesas no exterior ocorreu num contexto caracterizado por progressiva liberalização e internacionalização dos mercados financeiros, integração de Portugal na Europa comunitária e crescente globalização da economia mundial. Nos últimos anos, o quadro de actuação das empresas portuguesas sofreu um complexo processo de transformações estruturais, marcado, nomeadamente, pela abertura de sectores à iniciativa privada, liberalização e aumento da competição no mercado interno e expansão significativa do investimento directo estrangeiro, originando maior concorrência de produtos e empresas nos seus mercados. Foi nesta envolvente em rápida mutação que muitas empresas nacionais foram capazes de implementar estratégias de internacionalização, nalguns casos prolongando as suas actividades no exterior e, noutros, diversificando para outros sectores. A quebra registada nas operações de investimento directo entre Portugal e o exterior em 2002 e 2003 deverá estar associada à desaceleração da actividade económica a nível mundial e nacional.

Para a retracção do investimento líquido estrangeiro em Portugal (resultante do efeito conjugado de menor investimento e maior desinvestimento) deverá também ter contribuído a concorrência dos países da Europa Central e Oriental e do Extremo Oriente. Em termos de destino do investimento português, verifica-se que, no período 1990-95, as saídas líquidas de fundos foram especialmente dirigidas para Espanha. Assim, em 1995, a Espanha recebeu metade do investimento líquido português. A partir de 1996, ocorreu nítida alteração de tendência, traduzida numa maior diversificação dos destinos geográficos do investimento no exterior e no aparecimento do Brasil como receptor principal do investimento português. No período 1996-2000, o Brasil representou, em média, cerca de 54 % do total do investimento líquido português.

Posteriormente, em 2001 e 2002, a Espanha recuperou a posição dominante, absorvendo 37 % e 87 %, respectivamente, dos fluxos líquidos das saídas do investimento português. O ano de 2003 foi caracterizado por forte desinvestimento líquido na União Europeia (em particular em Espanha) e no Brasil. No período 1996-2003, em termos líquidos, destaca-se a forte presença dos investidores nacionais nos países da União Europeia – principalmente em Espanha (26 %) e nos Países Baixos – e no Brasil (35 %). O investimento português nos PALOP atingiu, nesse período, uma quota média de 2,5 %.

Verifica-se, assim, que a dinâmica de internacionalização da economia portuguesa, em termos de destino dos fundos, se tem concentrado em Espanha, nos Países Baixos e no Brasil, notando-se também alguma expressão nos investimentos canalizados para Marrocos, o Leste Europeu (em especial a Polónia), Angola e Moçambique. Os principais factores determinantes da expansão do investimento das empresas portuguesas no Brasil devem encontrar-se, nomeadamente, no potencial de crescimento e na dimensão do mercado brasileiro, na insuficiente dimensão do mercado português e nas dificuldades encontradas para a entrada nos mercados mais amadurecidos da União Europeia. Acresce, ainda, a proximidade cultural e as grandes afinidades históricas entre os dois países.

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Por sua vez, o mercado peninsular representa cada vez mais para muitas empresas portuguesas o primeiro patamar do avanço para o mercado interno europeu. A Espanha constitui o principal parceiro comercial de Portugal, sendo o nosso primeiro cliente (mais de um quinto das exportações) e também o primeiro fornecedor (mais de um quarto das importações). Não surpreende, assim, a vocação ibérica das empresas portuguesas que optam pelo investimento directo em instalações fabris em Espanha, visando consolidar uma presença comercial, ou firmar estratégias de entrada no mercado espanhol nas zonas transfronteiriças e em mercados regionais.

Por vezes, uma certa cultura proteccionista, ainda existente em Espanha, levanta dificuldades ao investimento português. No entanto, muitas empresas nacionais têm sabido contornar essas barreiras. Na análise da repartição sectorial do investimento português no exterior devem salientar-se três grandes áreas de actuação das empresas nacionais: bancos e empresas de grande distribuição (onde se evidenciam os operadores de hipermercado e promotores de centros comerciais); sectores infra-estruturais (telecomunicações, electricidade, água, obras públicas); e sectores industriais (aglomerados de madeira, componentes para a indústria automóvel, cimentos, cortiça, etc.). No que respeita à natureza do investimento, ou seja, por tipo de operação, verifica-se que o crescimento do investimento directo das empresas nacionais se tem processado de forma predominante através da participação no capital de empresas, particularmente via aquisição de partes de capital. Com efeito, esta forma de investimento foi responsável por cerca de 80 % do total do investimento líquido efectuado no período 1996-2003. Aliás, esta tem sido essencialmente a natureza do investimento das empresas portuguesas em Espanha e no Brasil, correspondendo a uma estratégia de consolidação da sua presença nesses mercados.

No Brasil, uma parte significativa do investimento português foi dirigida para a participação no processo de privatizações que tem sido realizado nesse país, com maior incidência no sector das telecomunicações. Dada a natureza que o investimento directo português no exterior tem assumido, não surpreende que o stock de capital detido pelas empresas nacionais no exterior corresponda essencialmente à participação nos capitais próprios das empresas de investimento directo. No final de 2003, esse tipo de capital ascendia a cerca de 88 % do capital total.

A economia portuguesa é actualmente confrontada com os desafios colocados pela crescente globalização dos mercados e pelo alargamento a leste da União Europeia, encontrando-se numa encruzilhada estratégica. Com efeito, numa situação caracterizada por evolução recessiva da actividade económica – aumentando a divergência real face à média comunitária, desequilíbrio orçamental e perda de competitividade, torna-se imperioso repensar a estratégia de actuação que poderá relançar o necessário crescimento potencial da economia portuguesa. Esse objectivo só poderá ser alcançado através de um esforço colectivo que mobilize toda a sociedade, passando, nomeadamente, pelo aumento da educação de base e formação profissional dos trabalhadores, a melhoria de funcionamento e desburocratização da Administração Pública, o desenvolvimento das infraestruturas e a capacidade de renovação estratégica das empresas portuguesas.

A actuação modernizadora das empresas reveste-se de vários aspectos: reforço das estratégias de diferenciação e de especialização da produção; investimentos em factores de produtividade mais avançados; inovação e desenvolvimento das capacidades de gestão e de iniciativa empresariais. No contexto da crescente concorrência decorrente da globalização e do alargamento da União Europeia, será igualmente essencial intensificar a internacionalização e o reforço da capacidade de exportação das empresas residentes. A captação do investimento estrangeiro, conducente à diversificação de actividades, ao reforço de competências e ao aumento da componente tecnológica das exportações portuguesas, poderá também criar melhores condições para o incremento da expansão das empresas portuguesas para novos mercados.

 

Informação Complementar

ALGUNS CASOS E ACTORES DE INVESTIMENTO EXTERNO

P. TELECOM – Maior investidor português no exterior, com grandes investimentos no Brasil. Detém a maioria do capital da Telesp Celular. A PT Inovação Brasil vai fornecer a tecnologia de rede inteligente para o operador móvel Vivo, no Brasil.

EDP – Em Espanha, controla a Hidro-Cantábrico, através da qual tem a maioria na Naturcorp, distribuidora de gás. No Brasil, apostou no processo de liberalização do sector eléctrico, controlando as distribuidoras Bandeirante, Escelsa e Enersul.

BRISA – Ligação com a Acesa, grupo catalão em Espanha, e participação na CCR, “holding” brasileira com grandes interesses em concessionárias de auto-estradas na América Latina.

CIMPOR – Em Espanha, detém a Corporación Noroeste, grande grupo cimenteiro com fábricas em Vigo e Lugo, e uma associada na Andaluzia. Presente há 6 anos no Brasil, é a maior empresa estrangeira no sector (3.º lugar no “ranking” das cimenteiras brasileiras). Tem interesses noutros países.

GRUPO SONAE – Gere vários centros comerciais e tem várias fábricas de aglomerados de madeira em Espanha e no Brasil. Opera também na Itália, Alemanha, França, Holanda e Irlanda do Norte. Líder mundial nos painéis de madeira.

LOGOPLASTE – Possui 5 fábricas em Espanha e interesses no Brasil.

MOTA-ENGIL – Empresa de construção com Angola como principal mercado; opera ainda nos EUA, na Hungria e no Peru.

LUÍS SIMÕES – Líder no transporte de mercadorias entre Portugal e Espanha.

INAPA – 3.º maior distribuidor de papel em Espanha. Opera também na Alemanha e na França.

SIMOLDES – Produtora de moldes, investiu no Brasil, em França, na Roménia e na Polónia, projectando a abertura de uma fábrica na China.

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* Francisco Mendes

Licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE. Docente na UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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