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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! Bastaram menos de duas décadas para o emergir de um forte sabor castelhano na geografia comercial portuguesa. De quinto parceiro comercial em 1985, a proximidade territorial e adesão à união europeia levaram Espanha a saltar para a primeira posição. Uma mudança de perfil nas exportações portuguesas e na internacionalização da economia nacional com a substituição da Alemanha, Reino Unido e França como tradicionais parceiros, se bem que por via de uma relação desequilibrada: por cada dez empresas espanholas que se instalam em Portugal, apenas uma faz a viagem em sentido inverso, e o peso dos euros que entram está longe de chegar aos que saem. Um comércio bilateral favorável à Espanha, com o valor das vendas portuguesas a não ser suficiente para pagar metade do que consumimos vindo do outro lado da fronteira, embora o coeficiente de cobertura, fruto de um aumento das exportações portuguesas nos últimos quatro anos, tenha vindo a subir.
Um comércio diversificado Se os têxteis, o calçado e o vestuário são as exportações tradicionais mais relevantes, a verdade é que as máquinas e o material eléctrico tem assumido uma proporção crescente, assim como os automóveis e outro material de transporte que em 2002 representaram 17% do material exportado. As relações comerciais com Espanha não diferem muito do padrão de exportação portuguesa, com os metais comuns como grupo mais importante – curiosamente, um dos sectores mais competitivos de Espanha, o que indicia um forte comércio intra-ramo – dominado pelo comércio do ferro, aço e alumínio. O segundo principal vector das saídas para Espanha é constituído pelo grupo dos veículos e das máquinas e aparelhos com 12,9 e 12,8%. Trata-se de mais de um quarto do comércio português para terras vizinhas, incorporando produtos de médio-alto valor tecnológico, o que permite induzir uma tendência de mudança no modelo estrutural assente nos baixos salários e reduzida qualificação tecnológica. Mesmo as exportações de vestuário têm merecido um claro incremento em termos de tecnologia, inovação e design por forma a competir nos mercados internacionais. As vendas para Espanha estão igualmente marcadas pela diversificação, com nenhum grupo de produtos a ter uma importância superior a 13% e com apenas quatro deles a ultrapassar os dois dígitos de percentagem em termos de peso total. Quanto a novas tendências, desde 1998 que os metais comuns e os veículos e material de transporte têm alargado a sua influência no mercado espanhol, tendo os restantes grupos mantido, sensivelmente, a sua quota de importância. Do outro lado, as entradas espanholas são dominadas em mais de um terço pelas vendas em Portugal de máquinas e aparelhos (15,5%), veículos e material de transporte (13,4%) e produtos agrícolas (11,4%), seguidos pelos metais comuns. Um perfil que se encaixa nos esforços de especialização espanhola, apostada na exportação de veículos automóveis e numa agressiva penetração de produtos agrícolas, sobretudo vegetais e fruta. E se a Espanha é um importante comprador, Portugal é ainda um pequeno fornecedor: apenas pouco mais de 3% dos bens que Espanha compra ao exterior.
Inverter a “movida” de investimento A Espanha tem-se mantido nos últimos anos no topo das prioridades de internacionalização das empresas portuguesas. Muitas fazem-no em simultâneo com a aposta no Brasil, onde, de resto, já há tantas empresas portuguesas como no país vizinho. Contudo, o movimento entretanto iniciado está distante de uma parceria equilibrada: 3000 empresas espanholas sediaram-se em Portugal, apenas pouco mais de 300 romperam a fronteira e apostaram em vender no mercado espanhol, com presença físicano local. Para além dos bancos nacionais,da EDP, Galp ou Sonae, há já um númerosignificativo de médias empresas industriaisdo outro lado da fronteira. E se até à décadade 90 o investimento português no exteriortinha como destinos preferenciais o ReinoUnido, a Alemanha, os EUA e a França, de1991 a 1995 a economia espanhola assumiu-selargamente como o primeiro objectivodo investimento português, tendo mesmochegado a representar mais de 40 % do totalem 1995. Uma tendência que vai depoisabrandar fruto de uma maior diversificaçãodos mercados e, sobretudo, face à emergênciado Brasil como rota concorrente dosfluxos para a União Europeia. Contudo, essaé uma supremacia que vai ser retomada apartir de 2001, com Espanha a recolher de novo no ano seguinte mais de 41 por cento do total e a recuperar o primeiro lugar no mapa da expansão das empresas portuguesas. Há cerca de três anos, Portugal chegou a estar entre os quatro maiores investidores em Espanha, atrás dos EUA, Reino Unido e Países baixos, três dos maiores investidores líquidos no mundo. Quanto à estrutura da internacionalização, no passado recente a gestão de participações sociais, o cruzamento de interesses na banca e o imobiliário absorveram mais de 90% dos fundos canalizados por empresas portuguesas para terras vizinhas, conquanto nos derradeiros oito anos o seu peso tenha sido bem menor, com o comércio por grosso e a retalho, a par da indústria transformadora e os transportes e comunicações a equilibrarem a carteira das apostas lusas em terras espanholas. Realce, igualmente, para o facto do investimento espanhol ter sido dos mais importantes em Portugal, embora a sua dimensão tenha perdido fulgor recentemente. Por isso, em 2002, a Espanha aparece apenas no sexto lugar, num contexto dominado pela França e Reino Unido. E se a comparação abranger a dimensão das economias relativiza-se, também, parte do desequilíbrio entre o número de empresas em cada economia vizinha: o PIB espanhol é quase cinco vezes e meio superior ao português, mas o investimento foi apenas 1,7 vezes maior. De resto, nos últimos dois anos o saldo foi favorável a Portugal com os agentes económicos nacionais a investirem mais em Espanha do que o inverso: é que vender em Espanha exige dinâmica, agressividade e, muitas vezes presença no local. Até porque sem uma estrutura e vivência habituadas a um mercado de 40 milhões de consumidores as empresas portuguesas não têm, na maioria das vezes, a facilidade das concorrentes espanholas de se imporem à custa do preço.
Informação Complementar CASAMENTO INEVITÁVEL Se antes se dizia que de Espanha “nem bom vento, nem bom casamento”, hoje os ventos até têm sido de feição e a união é inevitável. As relações económicas ibéricas são tão importantes para Portugal como para a Espanha e fazem parte dos interesses fundamentais dos dois países. A própria teia de relações, embora já de si bastante desenvolvida, apresenta ainda uma apreciável margem de progressão, sobretudo, se olharmos para outros exemplos dentro da União Europeia, quer em termos de trocas comerciais quer em matéria de fusões, aquisições e outros projectos de cariz ibérico. Portugal e Espanha são dois parceiros europeus que, tendo assumido lado a lado o desafio da adesão e da moeda única, enfrentam agora um novo desenho do espaço europeu, centrado e alargado a Leste. Por isso, uma periferização das duas economias teria consequências trágicas. Hoje, mais do que nunca, depois de nove séculos de convivência – muitas vezes, naturalmente, sobressaltada – urge criar uma orientação e estratégia comum capaz de tornar o espaço ibérico mais forte e ágil à luz dos restantes parceiros europeus. Redes transeuropeias, energia, água, sociedade de informação – onde os dois países apresentam défice elevado comparativamente aos restantes concorrentes da União – pressupõem uma cooperação bilateral estratégica num momento em que novos países trazem outras valências e argumentos no quadro da concorrência europeia. Neste capítulo, ganham especial relevo as parcerias trans-regionais como Minho-Galiza ou Andaluzia – Algarve – Alentejo, até porque quase metade das empresas que investe em Espanha está concentrada na região de Madrid, onde se encontram igualmente os competidores ingleses, franceses e alemães. E não existe uma oportunidade chamada Espanha, existem várias, com diversidades e diferenças regionais marcantes e, por conseguinte, apetecíveis. Por outro lado, tal como a experiência brasileira já provou, a parceria luso-espanhola em mercados alternativos e emergentes é um modelo com boa margem de sucesso quando se procura um caminho para a internacionalização, aquisição de massa crítica e projecção além mercado europeu. Nesse sentido, o potencial derivado de relações culturais e históricas dos dois países – com laços espalhados pelos cinco continentes –, o passado comum na América Latina e as preocupações conjuntas com o evoluir do flanco sul do Mediterrâneo selam a inevitabilidade do aprofundamento da integração ibérica. Até porque um “arco atlântico” na Península teria um valor precioso no contrariar da tendência europeia para um recentramento económico e histórico a Leste. Principais destinos dos produtos portugueses Exportações portuguesas para Espanha em 2002 Peso da Espanha no investimento directo português no exterior Investimento de Portugal na Espanha Balança comercial Portugal - Espanha
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