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Portugal e o Leste Europeu

Pedro Pinto *

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O aproveitamento dos novos mercados de leste propiciados pelo alargamento da União Europeia está longe de ser um objectivo estratégico das empresas portuguesas, quer nas suas estratégias de internacionalização, quer na definição da geografia comercial das suas vendas. Portugal é mesmo o país da União Europeia com menor envolvimento económico com os países da Europa de Leste. O peso dos novos países aderentes nas exportações portuguesas ficou-se por 1,4% em 2001 e 1,6% em 2002. Uma reduzida dimensão sublinhada ainda pela fraqueza dos fluxos de investimento para os antigos países da “cortina de ferro”: apenas pouco mais de 5 em cada cem euros investidos por empresas nacionais no exterior se dirigiram para estes mercados.

Quanto às importações ficaram-se por um valor ligeiramente superior, 2,6%. No fundo, é a confirmação de uma centralidade do relacionamento comercial português com os mercados tradicionais da União Europeia, que congregaram nos últimos anos quase 80 % das vendas portuguesas no exterior. A única verdadeira excepção parte da Polónia, com direito a figurar entre os maiores destinos de investimento durante o ano de 2002, à frente mesmo de países como Marrocos e uma região tão especial para os portugueses como Macau. Também em matéria de comércio é o país aderente à União Europeia que melhor performance apresenta.

 

Um comércio ainda incipiente

Se em termos globais a trilogia têxteis (10,5%), vestuário (7,2%) e calçado (5,2%) representa quase um quarto do total de vendas portuguesas ao exterior (23,5%), a sua tradução para os países de Leste está relativamente longe deste valor, o que pressupõe uma forte capacidade de crescimento. Por outro lado, o grupo de produtos individualmente mais forte na pauta de exportação portuguesa – máquinas e aparelhos com 19,2%, seguido dos veículos e material de transporte (17%) apresentam um peso similar quando olhamos para a pauta de exportação rumo à Polónia, República Checa e Hungria, os dois últimos, contudo, com um peso diminuto nos fluxos internacionais portugueses.

A República Checa foi o 32.º fornecedor português e o nosso 39.º cliente com uma quota de exportações de apenas 0,16%. A balança comercial é claramente desfavorável a Portugal que tem apresentado défices crescentes nas transacções com este país graças a um crescimento brutal das importações entre 1996-2000: em média 59,5% ao ano, muito superior ao aumento das exportações (33,2%). Fica, por isso, a ideia de que esta é uma tendência para se acentuar, sobretudo à medida que se estreitem e aprofundem os laços de integração com a União Europeia. Relativamente à Hungria, é também um mercado de pouco relevo no quadro da internacionalização e expansão das empresas portuguesas: ocupa o 26.º lugar na lista de maiores clientes e responde por 0,36% das exportações portuguesas. É o único dos três países com que Portugal mantém uma balança comercial favorável, se bem que os excedentes fiquem marcados por uma forte irregularidade ao longo dos últimos anos.

Finalmente, a Polónia, um mercado diferente e onde a concentração de atenções do empresariado português mais se fez sentir. É já um parceiro comercial com um peso apreciável no contexto global, sobretudo em termos de importações, cujo ritmo de crescimento tem sido bastante elevado nos últimos anos. No que toca às exportações o peso das vendas portuguesas tem igualmente vindo a subir de expressão e a Polónia é o país de Leste para onde as empresas nacionais mais vendem. Ao longo dos últimos três anos este país saltou, na lista de clientes, de 27.º lugar para 19.º em 2002, com um peso de 0,9% no total das exportações portuguesas. Do lado das estatísticas polacas, contudo, Portugal não aparece como fornecedor relevante, permanecendo fora da lista dos vinte países mais importantes.

Dado o aumento das importações ao longo dos últimos anos, sobretudo de máquinas e aparelhos, Portugal tem apresentado défices crescentes na relação comercial com este país de Leste, com o coeficiente de cobertura a descer dos 187,6% para 37,6% em apenas três anos. Destaca-se da análise dos fluxos de vendas portuguesas para a região que os três principais países de Leste aderentes à união Europeia apresentam praticamente uma total ausência de importações de produtos agrícolas, o que indicia uma forte capacidade do mercado interno e da aposta noutras paragens em termos de abastecimento.

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Embora não seja possível estabelecer um padrão único, os três destinos apresentam na compra de matérias têxteis uma quota apreciável, conquanto mais elevada na Polónia e República Checa, e menos densa na Hungria. Mas, sem dúvida, o grosso das exportações portuguesas encontra-se concentrado nas máquinas e aparelhos, em especial na Hungria, onde atinge 73,4% da pauta de exportações portuguesa. Igualmente na Polónia, com mais de um terço, e na República Checa, com quase um quinto, as exportações ascendem a valores apreciáveis. Um grupo de produtos cuja importância é depois seguida por veículos e outro material de transporte cuja cifra chega a ultrapassar os 15% na República Checa, cuja principal compra a Portugal se centra nas matérias têxteis (29,2%).

 

Parco investimento

Se o Leste não tem sido uma preocupação de fundo ao longo da última década, a Polónia é dos novos aderentes o país que maior atenção desperta em matéria de criação e aquisição de unidades no local. Os valores não são significativos, mas representam o grosso do investimento português na região. Embora apresentando grandes variações, quer em termos de investimento bruto quer em termos líquidos – inclusive com valores negativos resultantes do desinvestimento ocorridos em 2002 no sector da intermediação financeira –, o stock acumulado de investimentos coloca Portugal no 18.º lugar do ranking de países que para aí canalizam fluxos produtivos. Ao todo, 1% das aplicações totais, se bem que a quota portuguesa já tenha atingido os 3,7% em 2001.

Contudo, actualmente, não existe qualquer empresa nacional entre as 30 maiores unidades económicas estrangeiras presentes neste país de Leste, embora sejam variados os grupos nacionais cuja estratégia de internacionalização passou igualmente por uma aposta na Polónia: Banco Comercial Português e Banco Espírito Santo no sector da banca, comércio e distribuição através do Grupo Jerónimo Martins, construção e obras públicas por intermédio da Mota & C.ª e indústria transformadora com particular destaque para a produção de calçado. Apesar da relativa importância em termos comerciais, o investimento directo português na República Checa tem ostentado cifras residuais ao longo dos últimos anos, com o valor mais alto a aparecer em 1998. Na altura, foram aplicados 153 mil contos, uma quota insignificante na globalidade das apostas das empresas portuguesas no exterior. Não espanta, por isso, que o investimento em sentido contrário tenha sido igualmente muito reduzido.

Quanto à Hungria, embora ainda timidamente, os valores de investimento são já mais significativos. Contudo, em virtude dos elevados fluxos de desinvestimento nos últimos anos, em termos líquidos os montantes têm sido geralmente negativos. Em 1998, o sector da construção foi o grande responsável pela expansão da marca portuguesa no país, uma internacionalização muito marcada pela tendência para o desinvestimento na indústria transformadora, na actividade imobiliária, no aluguer e prestação de serviços às empresas. No fundo, os sectores que mais atenção tinham concentrado em matéria de implantaçãoportuguesa no local.

Em resumo, perante a ausência de uma estratégia concertada a vários sectores e de uma abordagem sistemática às oportunidades de negócio geradas pela abertura dos mercados dos países de Leste, a presença portuguesa na região tem-se saldado por iniciativas dispersas e caracterizadas por uma certa insipidez. Apesar de tudo, Portugal tem em áreas como a construção de infra-estruturas – uma carência de fundo nesses países e área para a qual vão receber apreciáveis fundos comunitários – as novas tecnologias, os têxteis, o calçado e o automóvel um potencial suficiente para vingar nesses mercados, embora o desconhecimento do mercado, a distância e as barreiras linguísticas constituam um importante elemento dissuasor de uma estratégia de internacionalização mais arrojada no Leste da Europa.

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* Pedro Pinto

Licenciado em Relações Internacionais pela UAL. Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo ISEG. Doente na UAL. Jornalista da TVI.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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Link em nova janela Origem das importações portuguesas - 2002

Link em nova janela Investimento directo português

Link em nova janela Investimento directo português no exterior - 2002

Link em nova janela Balança comercial portuguesa coeficiente de cobertura

Link em nova janela Exportações portuguesas em 2002

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