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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! Federalismo "competitivo" e ensino superior alemão Após a reforma realizada por Wilhelm von Humboldt (1767 - 1835), as universidades alemãs tornaram-se o paradigma do “modelo Humboldt” que implicava a unidade entre pesquisa e ensino, e a busca do conhecimento de forma independente e livre de qualquer tipo de controlo ou censura por parte do Estado. Este modelo constituiu-se como paradigma alternativo e concorrente ao modelo francês (“napoleónico”), assente numa formação universitária orientada somente para a profissão, mas que acabou por se estabelecer em outros países da Europa.
A relação do Estado com a universidade Na Alemanha, assim como na Europa continental em geral, incluindo os países escandinavos, as universidades e todo o sistema educativo integram-se nas funções O que constitui uma diferença comparativa fundamental em relação ao Reino Unido e aos EUA que, por razões diferentes, possuem uma visão distinta do Estado e insistem, sobretudo, na própria responsabilidade dos cidadãos, o que explica a expansão e autonomia das suas universidades privadas. Ao contrário, na Alemanha, o sistema de universidades públicas que oferecem vagas suficientes deixou pouco espaço de implantação para as universidades privadas que, ao contrário do sistema público, dependem da cobrança de propinas para financiar o seu orçamento. Este condicionalismo produz um cenário em tudo semelhante ao do ensino superior privado português, em que os custos exorbitantes no investimento em cursos de ponta impedem a sua afirmação no mercado da investigação científica. Pelo que, em regra, a aposta das universidades privadas se concentra, principalmente, em cursos que não exijam maiores custos e que ofereçam boas perspectivas profissionais, superando as públicas pela via da personalização da formação, a que aquelas não podem almejar, tendo em conta o elevadíssimo número de alunos e as debilidades inerentes. Ainda assim, o Estado federal alemão não abdica da sua função de “protecção preventiva ao consumidor” através de um controlo regional sobre as universidades privadas, as quais necessitam do reconhecimento estatal, tanto para a sua criação como para a organização e reconhecimento dos currículos dos seus cursos, em nome da garantia de uma qualidade comparável à das universidades estatais.
Estrutura institucional e financiamento Sendo uma república federal com 16 estados, cada um com as suas próprias competências em matéria de legislação, administração e financiamento da educação, ciência e cultura, apenas os Länder , e não o Estado federal ou os municípios, possuem universidades públicas. A coordenação das políticas de educação era feita, numa fase próxima à reunificação, unicamente ao abrigo de tratados e convénios básicos e no âmbito da Conferência dos Ministros da Educação e Cultura dos Länder , a quem competia eliminar qualquer diferença essencial na Na sequência deste processo e da reunificação alemã, em 1990, o sistema de ensino superior e investigação científica da Alemanha tornou-se bastante diversificado e passou a apresentar um pendor fortemente desregulado e descentralizado, que reconhece maior autonomia às universidades, incrementa a competição e a diversidade, procura garantir a qualidade e fomenta a Este desenvolvimento do ensino superior foi o resultado de uma reestruturação alargada do sistema, que transformou pólos universitários e departamentos específicos em instituições autónomas de ensino superior, bem como o resultado da fundação de novas instituições universitárias privadas (onde não se incluem as academias profissionais – Berufsakademien ) que cresceram de 62, no ano lectivo de 1992-1993, para 101 no ano lectivo de 2003-2004. No início de 2005 o modelo público de ensino superior sofreu um rude golpe, na sequência de uma sentença do Tribunal Constitucional Federal, sedeado em Karlsruhe, que culminou um debate que se estendia há muitos anos e que se prendia com a questão do financiamento do sistema. Esta sentença pôs fim a décadas de financiamento e apoio a estudantes de famílias carenciadas, com recurso a verbas públicas, mas sobretudo, ao princípio da gratuitidade e da isenção do pagamento de propinas universitárias. Ao declarar inconstitucional uma lei federal que visava manter os estudos gratuitos em todo o país, consagrou um novo paradigma para o sistema ao estabelecer que apenas os Estados federados alemães ( Länder ) poderiam determinar se as universidades continuarão a ser gratuitas ou não. Esta mudança de paradigma foi forçada por uma política cega de aumento de universidades e de vagas de acesso sem as necessárias medidas de adequação financeira, o que provocou o subfinanciamento e sobrecarga do sistema. Contudo, as vozes críticas desta decisão argumentam que a cobrança de propinas poderá constituir um sério obstáculo ao objectivo estratégico de, no quadro do “processo de Bolonha”, promover a internacionalização do sistema de ensino alemão, tendo em conta que uma das grandes vantagens competitivas da Alemanha, no sector educacional, resultava do facto de o ensino superior (ainda) ser gratuito. A contestação à mudança sustenta que ao abandonar o sistema 100% subsidiado pelo poder público, o país nivelará o seu “poder de atracção” internacional com o de países como EUA, Inglaterra e Austrália, três dos maiores “importadores” de alunos estrangeiros do mundo, sem com isso poder superar o obstáculo competitivo que constitui a necessidade de proficiência linguística no alemão, mesmo que diminua a exigência de domínio do idioma aos estudantes estrangeiros, aumente a oferta de cursos com um currículo internacional e multiplique os cursos em inglês. Demografia e massificação Numa população de 82.431.390 habitantes no “semestre de Inverno” de 2003-2004, 2.020.000 estudantes encontravam-se matriculados numa instituição de ensino Pese embora estes condicionalismos, as instituições de ensino superior privado alemãs encontram-se, para efeitos de garantia de qualidade e de certificação e acreditação das qualificações conferidas, juridicamente sujeitas, tal como as públicas, à legislação federal definida pela Lei de Bases do Ensino Superior ( Hochschulrahmengesetz ) e, desde 1-02-2005, à Fundação-Conselho Alemão da Acreditação ( Akkreditierungsrat ) competindo, por sua vez, aos Länder executar os processos de acreditação através de agências específicas.
O “processo de Bolonha” e a internacionalização Até à adesão ao processo de reforma estabelecido em Bolonha, em 1999, o sistema de graduação superior da Alemanha assentava no modelo de um nível (“ one tier ”) que consistia em apenas um ciclo integrado de estudos traduzido em cursos E se os estados federados fixaram 2010 como prazo limite para a implementação completa de todas as medidas, as quais se têm realizado, até agora, de forma voluntária e variada, a verdade é que no semestre de Verão de 2005, estavam já reestruturados 2.925 programas de bachelor e de Master , o que representa 26,3% dos programas de graduação disponíveis, sendo que 716 estavam já acreditados (316 bachelors e 401 masters ), correspondendo a 7,5% da população universitária estudantil (2003). Apesar de, ao abrigo do programa Erasmus , continuar a ser um país que envia mais estudantes do que recebe, no semestre de Inverno de 2003-2004 as universidades alemãs albergavam já 246.136 estudantes estrangeiros, constituindo 12,2% da sua população matriculada total, os quais foram titulares de metade dos 3.000 masters concedidos, a maioria nas áreas da Economia, Gestão, Ciência Computacional e Engenharia. A estratégia de internacionalização do ensino superior alemão está assim a produzir rápidos efeitos, tendo em conta que, de acordo com um estudo da OCDE, a Alemanha detém já, em conjunto com o Reino Unido, o segundo lugar no ranking dos destinos universitários internacionais no contexto da mobilidade estudantil.
Mestre em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Docente e Investigador do Observatório de Relações Exteriores da UAL. Editor do Janus. GERLACH, Johann W. – O desenvolvimento actual da educação superior da Alemanha no contexto europeu . Berlim: Freie Universität Berlin, 2004. GALLER, Birgit; HENDRIKS, Birger – «National Reports 2004-2005». In BOLOGNA-BERGEN Summit 2005. – Towards the European higher education area: Bologna process national reports 2004-2005 . http://www.bologna-bergen2005.no/Docs/Germany/National_Reports-Germany_050118-orig.pdf HAHN, Karola – «Germany». In J. Huisman & M. van der Wende (Eds) – On Cooperation and Competition: National and European Policies for the Interna-tionalisation of Higher Education , vol. I, pp. 51-79. Número de estudantes alemães Erasmus
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