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Dois actores distintos, com concepções diferentes Em primeiro lugar, a União Europeia e a Rússia são dois actores completamente distintos – a UE é um conjunto de 25 Estados soberanos, em breve 27; a Rússia, um único Estado, euro-asiático, gigantesco (é, de longe, o maior Estado do mundo: ocupa 1/8 da superfície terrestre do planeta, maior do que a China e a Índia combinadas) – que, em virtude das respectivas histórias e evoluções internas, apresentam concepções muito diferentes sobre soberania (integração com partilha de soberanias versus soberania tradicional baseada na integridade política e territorial); sobre democracia (democracia liberal e estrito respeito pelos direitos humanos versus democracia vigiada/musculada e elevado controle do poder central); e sobre segurança (segurança projectada e intimamente associada aos Estados Unidos e à NATO versus segurança em termos de integridade territorial, encarando a Rússia a vizinhança, simultaneamente, como um escudo protector contra agressões externas e um espaço para controlar perturbações internas). Há, ainda, dois outros elementos decisivos: por um lado, ao contrário da UE, a Rússia tem estado em guerra há vários anos – a Chechénia tem sido o conflito mais mortífero dos últimos anos no continente europeu; por outro, Moscovo concebe a actuação e a intervenção da UE no âmbito de uma acção mais vasta de todo o “Ocidente”, isto é, em conluio com os EUA/NATO.
Diálogo político O diálogo político UE/Rússia cobre uma enorme multiplicidade de matérias: da energia à segurança europeia, passando pela luta antiterrorista e o combate à criminalidade organizada, as questões dos mares Báltico e Árctico (Northern Dimension), o programa nuclear do Irão ou a situação na Palestina e no Médio Oriente. Deste diálogo resultaram inúmeros acordos sectoriais e internacionais e declarações conjuntas, registando-se progressos e mesmo cooperação nalgumas áreas: por exemplo, a Rússia participou na missão policial da UE na Bósnia-Herzegovina, implementada em 2003; em Novembro de 2004, a Rússia aderiu ao protocolo de Quioto, tendo este entrado em vigor em Fevereiro de 2005, após a ratificação russa; também em 2004, a UE e a Rússia concluíram as negociações bilaterais sobre a adesão russa à OMC, mantendo-se as discussões ao nível multilateral; em 2005, acordaram os roteiros para os quatro “Espaços Comuns”. Energia A importância das relações UE-Rússia no sector da energia é óbvia, tendo as duas partes implementado um Diálogo sobre Energia, desde 2000. A UE é pobre em recursos energéticos e extraordinariamente dependente da energia que importa. A Rússia, pelo contrário, é um gigante energético: terá entre 6% e 10% das reservas mundiais conhecidas de petróleo e 32% das reservas de petróleo da bacia do Cáspio (onde estão cerca de 20% das reservas mundiais); conta ainda com mais de 30% das reservas mundiais conhecidas de gás natural. A contribuição do sector da energia para o PIB da Rússia é de 25%, aproximadamente. Ora, as suas exportações de petróleo para a UE-25 representam 63% do total do petróleo exportado, enquanto as exportações de gás natural para a UE-25 significam 65% do total do gás que exporta. Por sua vez, 30% das importações totais de petróleo da UE provêm da Rússia, donde vem ainda 50% do total do gás natural importado pela UE.
“Vizinhança comum” A “vizinhança comum” é o principal factor de crispação entre a Rússia e a UE. De facto, o duplo alargamento da NATO e da UE reconfigurou a Europa, aproximando geograficamente a UE da Rússia e criando uma nova “vizinhança comum”. Aparentemente, nem Bruxelas nem Moscovo se prepararam realmente para o impacto, nas suas relações, desta nova realidade geopolítica. A UE preparou o alargamento, essencialmente, numa perspectiva de arranjos institucionais e financeiros internos. A Rússia, pretendendo manter uma capacidade de controlo desta região, focalizou-se no alargamento da NATO, tratando o alargamento da UE, essencialmente, numa perspectiva mais técnica: acesso dos cidadãos russos ao oblast de Kalininegrado, regime de vistos e situação da população de origem russa nos países bálticos – com efeito, são 800 mil russos na Lituânia, 453 mil na Estónia e 380 mil na Letónia, sendo que muitos deles não têm direitos políticos nestes países, situação que a União deveria considerar intolerável e resolver rapidamente. Depois das intervenções da NATO contra os aliados sérvios da Rússia na Bósnia e no Kosovo, bem como dos alargamentos da NATO e da UE, aumentou em Moscovo o complexo de “efeito dominó” e de estar a ser “empurrada para fora da Europa”.
Novo acordo, mais substância? Em breve, UE e Rússia iniciarão negociações com vista a um novo acordo que substitua o actual Acordo de Parceria e Cooperação (APC), cujo prazo de validade inicial de 10 anos termina em Novembro de 2007. Com elevada probabilidade, esse novo acordo será assinado em Lisboa, durante a presidência portuguesa da UE no segundo semestre de 2007. A era das grandes declarações, porém, acabou. É chegado o tempo de as duas partes adaptarem as suas perspectivas uma à outra, e ambas à nova Europa, implementando estratégias de “benefício mútuo” em vez de “soma nula”. E isso é independente de novos mecanismos e mais diálogo. As discussões sobre o novo acordo deverão coexistir com cooperação efectiva, sob pena de se continuar a acentuar o hiato entre a retórica da parceria e a pobreza da substância. Ou até de se arriscar uma nova “cortina de ferro”, algures na “vizinhança comum”.Informação Complementar Quadro de cooperação e diálogo UE / Rússia Acordo de Parceria e Cooperação (APC) No centro das relações União Europeia/Rússia está o Acordo de Parceria e Cooperação (APC): assinado em Junho de 1994, em Corfu, entrou em vigor em 1 de Dezembro de 1997 para um período inicial de 10 anos, estando previsto que seja automaticamente prolongado numa base anual a menos que seja substituído por outro acordo ou que alguma das partes decida abandoná-lo. Destinado a fortalecer os laços políticos, económicos, comerciais e culturais, visando, inclusivamente, o eventual estabelecimento de uma zona de comércio livre UE-Rússia, este documento sustenta a ideia de que a Federação Russa e a UE são « parceiras estratégicas », partindo de princípios e objectivos comuns como a promoção da paz e da segurança internacional, a democracia e as liberdades políticas e económicas. Em Abril de 2004, a Rússia e a União acordaram estender o APC aos dez novos membros da UE. O APC estabelece o quadro institucional para os contactos regulares entre a União e a Rússia, cujo diálogo atravessa vários níveis, desde as cimeiras de chefe de Estado e de governo (que têm lugar duas vezes por ano) ao nível Ministerial (Conselho Permanente de Parceria), passando pelo Comité de Cooperação Parlamentar entre o Parlamento Europeu e a Duma, pelos encontros entre representantes oficiais das duas partes no Comité de Cooperação e também ao nível de peritos nos sub comités. O diálogo político da UE com a Rússia cobre virtualmente todo o tipo de matérias. Diálogo sobre Energia Para complementar o Acordo de Cooperação e Parceria existe um número importante de acordos sectoriais e internacionais, bem como outros mecanismos de cooperação. Destaca-se o Diálogo UE-Rússia sobre Energia ( Energie Dialogue ), lançado na Cimeira de Paris, em Outubro de 2000, com os seguintes objectivos: progressos na definição de uma parceria energética UE-Rússia; contribuir para a segurança no fornecimento de energia; cooperação na eficiência energética; racionalização das infraestruturas de produção e transporte e importância das interconexões de electricidade; facilitar e promover os investimentos no sector energético; contribuir para o aprofundamento das relações entre os paí-ses produtores e os países consumidores. Espaços Comuns UE-Rússia Na cimeira de São Petersburgo, em Maio de 2003, a UE e a Rússia acordaram reforçar a sua cooperação prevendo criar, a longo prazo, quatro “Espaços Comuns” no quadro do APC. Em Maio de 2005, a cimeira de Moscovo adoptou um pacote de roteiros ( Road Maps ) contendo instrumentos de curto e médio prazo para a implementação dos quatro Espaços Comuns. As cimeiras de Londres (Outubro 2005) e de Sochi (Maio 2006) já se centraram na concretização daqueles roteiros. Os quatro Espaços Comuns são os seguintes: 1. Espaço Económico Comum : visa tornar as economias da Rússia e da UE mais compatíveis, de modo a promover o investimento e o comércio. O objectivo final é criar um mercado aberto e integrado entre a Rússia e a União, o que não implica, necessariamente, a harmonização das normas e dos standards russos ao acervo comunitário. O diálogo sobre energia e a cooperação em matéria ambiental estão incluídos neste Espaço Comum, bem como o desenvolvimento das redes trans-europeias de transportes, energia e telecomunicações. 2. Espaço Comum de Liberdade, Segurança e Justiça: área de crescente cooperação entre as duas partes, em virtude dos desafios e ameaças comuns, nomeadamente o terrorismo, a migração ilegal e o crime transnacional. Paralelamente, os dois lados consideram que devem ir sendo desmanteladas as barreiras que obstem à interacção entre as suas sociedades e economias. 3. Espaço Comum sobre Segurança Externa: fortalecerá a cooperação na política internacional e nos assuntos de segurança, sublinhando a importância do efectivo multilateralismo e de organizações internacionais como a ONU, a OSCE e o Conselho da Europa. Há um vasto campo de intervenção para a Rússia e a União combinarem os seus esforços na prevenção de conflitos, gestão de crises e reconstrução pós-conflito, em particular na área da “vizinhança comum”. 4. Espaço Comum de Investigação, Educação e Cultura: visa promover a cooperação científica, educacional e cultural, bem como aprofundar o conhecimento mútuo entre os cidadãos dos dois lados. Pretende ainda capitalizar a força das comunidades científicas e intelectuais da Rússia e da UE. Novo Acordo UE-Rússia Na cimeira Rússia-UE de Maio 2006, em Sochi, os líderes acordaram desenvolver um novo quadro que substitua o actual APC, mantendo-se este em vigor o tempo necessário quer para evitar um vazio legal quer para permitir que as negociações decorram ponderada e proficuamente. Em 3 de Julho de 2006, a Comissão aprovou os termos da negociação do novo Acordo UE-Rússia, sugerindo que este cubra um vasto leque de assuntos, em particular na prossecução dos roteiros para os quatro Espaços Comuns. Bruxelas pretende que o novo acordo seja baseado em valores comuns como a democracia, os direitos humanos e o Estado de Direito e quer que sejam adoptados objectivos ambiciosos na cooperação política e sobre segurança externa, o efectivo multilateralismo, a luta contra o crime organizado, a proliferação de ADM, migração e asilo e antiterrorismo. Em particular, a Comissão sugere que se consolide o relacionamento UE-Rússia em matéria de energia e se promovam as relações comerciais entre as duas partes. As negociações com a Rússia iniciar-se-ão depois de alcançado o acordo do Conselho sobre as directrizes da negociação, algo que a Comissão espera obter até ao final de 2006.
A origem das importações de energia pela União Europeia
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