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Onde estou: | Janus 2007> Índice de artigos > Religiões e política mundial > Influência política das religiões > [ O lobby judaico-americano: mito e realidade ] | |||
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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! Não é o propósito deste artigo entrar em polémica com os autores sobre se o “ Lobby israelita” influencia bem ou mal a política externa dos EUA, se é ou não responsável por tudo o que os autores consideram errado nessa política. Todas as pessoas interessadas em acompanhar este debate podem fazê-lo consultando o site da Universidade de Harvard. Basta-me apenas referir que, em minha opinião, mais do que um documento de análise, este documento é uma acusação, sustentada pelas opções políticas dos autores, ao “poder ímpar” do “Lobby” – escrita, aliás, com maiúscula para vincar o seu carácter todo-poderoso. Assim, sem entrar no detalhe das questões políticas mencionadas no texto, o objecto deste artigo será apenas uma tentativa de caracterização do lobby judaico na América, do seu funcionamento e da sua real influência na política externa americana para o Médio Oriente.
Um lobby entre outros... Contrariamente ao que acontece na Europa – onde o conceito de lobby ainda remete para uma imagem infamante de grupos de pressão mais ou menos desleais e clandestinos, espécie de quinta coluna conspirativa, – nos EUA, a actividade de lobbying é protegida pela Constituição e os grupos de pressão actuam abertamente porque representam interesses de segmentos da população, considerados legítimos. Não será por acaso, que logo em 1830, Alexis de Tocqueville compreendeu e descreveu a importância da associação de grupos de cidadãos no sistema político americano, em defesa dos seus interesses. Nos EUA existem assim lobbies de reformados – considerado, aliás, o mais forte de todos –, petrolíferos, agrícolas, têxteis ou de comércio de armas, lobbies religiosos de católicos, judeus ou muçulmanos, lobbies nacionais de arménios, cubanos, irlandeses, árabes e outros, lobbies de países estrangeiros como Taiwan... e todos eles, exercem, em maior ou menor grau, ou esforçam-se por exercer, uma certa influência. Assim, por exemplo, a legislação sobre Cuba, com o embargo que dura há meio século, não é indiferente à influência dos grupos de emigrados cubanos, tal como a política anterior de relativa indulgência em relação ao IRA, contra a vontade do próprio governo britânico, esteve relacionada com o papel das associações de americanos de origem irlandesa, ou ainda a posição americana sobre Chipre, mais favorável à Grécia do que à Turquia, se deve em parte à influência da comunidade grega mais bem organizada e numerosa. Esta realidade tem a ver com o sistema político americano e também com o verdadeiro mosaico de minorias étnicas e religiosas que compõem o tecido social do país. O lobby judaico não foge à regra, mas talvez fosse mais rigoroso falar de lobbies no plural e não no singular, porque se trata de uma rede extraordinariamente diversificada. O grupo mais importante será provavelmente o American Israel Public Affairs Comittee – AIPAC, criado em 1954 por líderes judeus americanos que entenderam que a filantropia não era suficiente para ajudar o jovem Estado de Israel. A AIPAC conta com perto de cem mil membros activos e reúne no seu seio diversas organizações judaicas. Mas para além da AIPAC existem outras instituições importantes: o American Jewish Committee , criado em 1906 para ajudar os judeus vítimas dos pogroms na Rússia czarista; o World Jewish Congress , fundado em 1918, a fortíssima Conference of Major American Jewish Organizations , a Anti-Defamation League , o B'nai B'rith ... e a lista não acaba aqui. Estas instituições, antes da guerra centradas na luta contra a discriminação, evoluíram mais tarde para o apoio a Israel. Para além destas, existem outras de carácter filantrópico, como a United Jewish Appeal , que doa cerca de mil milhões de dólares anuais a diversas causas judaicas no mundo, o American Jewish Joint Distribution Committee , cuja missão é também a solidariedade judaica e que teve um papel fulcral durante a guerra no apoio aos refugiados e sobreviventes do nazismo, incluindo em Portugal; a World Jewish Restitutuion Organization , que pugnou junto dos bancos suíços pela restituição dos bens espoliados aos judeus durante a guerra... Esta multiplicidade de organizações reflecte o modelo americano, plural e descentralizado, e nenhuma delas se pode arrogar a representação exclusiva dos judeus, cada uma operando separadamente. Já a Europa tem uma tradição mais centralizada, o que se reflecte nas suas organizações: em França, funciona o CRIF (Conselho Representativo das Instituições Judaicas de França); na Alemanha, o Zentralrat , na Grã-Bretanha, o Board of Deputies , organizações federativas dos judeus nesses países. As organizações judaicas americanas – que por comodidade podemos denominar no seu conjunto de lobby – têm um peso significativo devido a vários factores: em primeiro lugar, uma consciência profunda da sua identidade por parte dos judeus; em seguida, os meios financeiros de que dispõe e que angaria no seu seio; em terceiro lugar, a capacidade em se adaptar à legislação americana e de forjar uma organização extraordinariamente eficaz; finalmente, o posicionamento político, social e intelectual de muitos dos seus membros. Tal como os outros grupos de pressão, o lobby judaico actua através de campanhas políticas levadas a cabo junto de deputados eleitos, do financiamento público (e não oculto), de campanhas eleitorais de candidatos ao posto de senadores ou de presidente, actua também junto de representantes do mundo da indústria, das universidades e dos media. ... Ou um lobby omnipotente? Mas será o lobby judaico assim tão poderoso, como pretendem os redactores do documento acima mencionado, ao ponto de determinar a política externa dos EUA para o Médio Oriente? Será o lobby judaico o tal polvo da mitologia de “Os Protocolos dos Sábios de Sião” capaz de controlar a maior (e única) superpotência mundial? A ideia que os autores do documento acima mencionado tentam fazer passar, de que a política externa americana no Médio Oriente é um simples resultado da acção do lobby é, pois, simplesmente falsa. Contrariamente ao mito sustentado pela extrema esquerda, segundo o qual Israel e o sionismo não passam de marionetas do “imperialismo” americano e aos velhos fantasmas anti- Em síntese, pode afirmar-se que a aliança entre os EUA e Israel é uma constante ao longo da história do Estado de Israel, mas este nunca teve carta branca, sobretudo num quadro ofensivo. Washington nunca sacrificou, em nome dessa relação, uma parceria ou aliança com qualquer Estado árabe sob pressão de Israel ou do lobby judaico-americano. Real, mas complexa, a relação privilegiada entre os EUA e Israel merece uma análise séria e rigorosa e não os fantasmas e diatribes de certas correntes extremistas de direita ou de esquerda.
Uma base nacional, afectiva e religiosa Na realidade, o “segredo” da aliança entre a América e Israel e a força do lobby judaico--americano tem uma base nacional, afectiva e teológica que é totalmente ocultada no documento dos dois universitários. Essa força reside precisamente na conjugação destes dois termos judaico-americano, ou seja no seu carácter nacional americano: os judeus estão presentes em solo americano desde meados do século XVII e o lobby judaico é um grupo nacional de cidadãos dos EUA e não um agente de um Estado estrangeiro e pago por ele. Mas mesmo como grupo nacional, forte e organizado, ele seria ineficaz e impotente se a opinião pública americana não tivesse uma profunda simpatia em relação a Israel. Todas as sondagens de opinião desde 1945 mostram, com variações maiores ou menores, um importante apoio popular a Israel, factor mais decisivo certamente do que a acção dos lobbies para influenciar a política americana. Porque, na realidade, os dois países partilham uma experiência essencial: a de duas nações erguidas deliberadamente a partir de um projecto filosófico, político e religioso. Entre os pioneiros do Novo Mundo e os pioneiros do Lar Nacional Judaico, há muitos pontos em comum: a procura da liberdade, a vontade democrática, a valorização do trabalho, as profundas raízes bíblicas. Nesse mosaico de minorias étnicas que é Israel, a América reconhece a mesma obstinação que foi a sua em construir uma nação – uma nação de homens e mulheres livres, decididos a não deixar mais o seu destino em mãos alheias. Mas o apoio a Israel não tem apenas uma dimensão afectiva. Do ponto de vista teológico, para muitas igrejas protestantes americanas que representam dezenas de milhões de fiéis, presentes nas elites políticas, industriais e financeiras, o sionismo e o retorno dos judeus à Terra de Israel é o prenúncio da realização das profecias de Isaías, Jeremias e Ezequiel e condição da segunda vinda de Cristo. Um dos erros dos dois autores do estudo já referido é o de escamotearem – incluindo-os no lobby judaico – a influência crescente destes círculos evangélicos protestantes imbuídos de um sionismo cristão que se tem vindo a reforçar ao longo anos. Sobre o seu país, os israelitas costumam dizer: “Tem história a mais e geografia a menos”. Para os EUA, a questão põe-se exactamente ao contrário. Mas para lá da história e da geografia há uma certa comunhão de destino e sobretudo de valores entre os descendentes dos peregrinos do Mayflower e os descendentes dos sobreviventes do Exodus . Esse é fundamentalmente o “segredo” da força – relativa – do lobby judaico na América. Informação Complementar Lista das pricipais associações / organizações judaico-americanas AIPAC (American Israel Public Affairs Committee); 1 - Frédéric ENCEL; François TUAL — Geopolitique d'Israel. Seuil, 2004. Principais comunidades judaicas nos Estados Unidos
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