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Onde estou: | Janus 2007> Índice de artigos > Religiões e política mundial > Actores político-religiosos > [ Rick Warren e as igrejas de crescimento rápido ] | |||
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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! Passados estes anos, a Saddleback Valley Community Church (seu título oficial), no Sul da Califórnia (EUA), é considerada a igreja baptista de mais rápido crescimento em toda a história. Tem mais de 18.000 membros efectivos, mas o culto principal de domingo pode ultrapassar este número de presenças. Na opinião de Rick Warren, tem mesmo de ultrapassar, ou então os crentes não estão a cumprir a sua missão de trazer os descrentes. O ficheiro total de contactos da igreja ( church roll ), que inclui os frequentadores não regulares, ultrapassa os 80.000 nomes. Além disto, desenvolve uma estratégia de expansão que já deu origem a outras 34 “igrejas-filhas”, e 5.000 dos seus membros estão envolvidos em projectos missionários no estrangeiro. O Pastor Rick Warren exporta o seu método e dois dos seus livros, The Purpose Driven Church e The Purpose Driven Life , têm sido usados por milhares de outros pastores interessados neste modelo de crescimento. Num tempo em que quase todas as igrejas “históricas” se ressentem da desertificação dos seus templos e da crise de vocações associada à secularização, este fenómeno das mega-churches é motivo de perplexidade e de uma certa ambivalência de atitudes. Não faltam os seus críticos – que reprovam o conceito de uma igreja customer-friendly – como não faltam os seguidores entusiastas. Rick Warren dedica o segundo capítulo de Uma Igreja com Propósitos (1) ao trabalho de refutar as acusações dirigidas às igrejas de crescimento rápido. Ele mesmo filho de um pastor baptista, casado com a filha de outro pastor, cresceu no coração da cultura Southern Baptist dos EUA. É um conservador, em termos doutrinários e morais, e a Igreja de Saddleback é membro da Southern Baptist Convention (Convenção Baptista do Sul), considerada a maior denominação protestante nos EUA.
O isco e o peixe Os “segredos” do método de crescimento da igreja de Rick Warren são descritos pelo próprio, com toda a franqueza, em Uma Igreja com Propósitos . Como californiano, ele começa por aplicar a imagem do surf à evangelização moderna: é Deus quem cria as ondas, os praticantes de surf só têm que saber apanhá-las e manter o equilíbrio. “Creio que Deus envia as ondas de crescimento onde quer que o seu povo esteja preparado para pegá-las...” ( op . cit ., pág. 19). Em segundo lugar, Rick Warren decidiu, desde o início, que a sua igreja nascente não tentaria atrair cristãos de outras igrejas já implantadas na região, mas sim “alcançar os sem-igreja para Cristo.” Outra imagem usada por Rick Warren é a da pesca, a partir do texto do Ev. Mateus 4:19, em que Jesus diz aos primeiros discípulos, Pedro e André: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.” Trata-se então de saber pescar, de conhecer os hábitos dos diversos tipos de peixe, de escolher o isco apropriado. Rick Warren conta que passou doze semanas a fazer uma pesquisa de opinião no vale de Saddleback, indo de casa em casa com cinco perguntas simples: 1. – Qual acha que é a maior necessidade desta região? 2. – Está a frequentar alguma igreja? (se a resposta fosse afirmativa, ele agradecia e passava à casa seguinte; só lhe interessavam os “sem-igreja”) 3. – Por que acha que a maioria das pessoas não vai à igreja? 4. – Se estivesse à procura de uma igreja para frequentar, que tipo de coisas iria buscar? (“Esta questão simples me ensinou mais como pensa um não crente do que todo o treinamento que recebi no seminário. Descobri que a maioria das igrejas estava oferecendo programas em que os sem-igreja não estavam interessados.”) 5. – O que posso fazer por si?
Crescer de fora para dentro Esta pesquisa de público-alvo conduziu ao retrato-robô de uma figura denominada Saddleback Sam: um homem na casa dos quarenta anos, com formação universitária, céptico em relação à “religião organizada”, satisfeito com a sua posição na vida, casado com Saddleback Samantha e com dois filhos. Gosta de música contemporânea e sente-se melhor em situações informais. O modelo do culto foi adaptado a este retrato. Rick Warren admite que “o rock é o principal estilo musical que escolhemos para usar na nossa igreja” ( op . cit ., pág. 344). O crescimento é explicado num esquema de cinco “círculos de compromisso”. O grande anel exterior designa a comunidade dos descrentes da região, portanto os “sem-igreja” que se pretende evangelizar. Há depois a “multidão” dos frequentadores regulares do culto de adoração (podem até ser descrentes). O terceiro círculo é o dos membros baptizados, que mantêm um compromisso pessoal de pertença à igreja. O quarto descreve um nível de envolvimento ainda maior: são crentes que praticam um culto privado diário, contribuem com o dízimo e participam num dos pequenos grupos activos. Há por fim o núcleo central, uma minoria de leigos especializados nos vários ministérios da igreja. Em última instância, espera-se dos que chegam a esse núcleo central que estejam suficientemente equipados e motivados para voltarem, agora como “missionários”, à grande comunidade exterior, ajudando a fundar novas igrejas. Para Rick Warren, uma igreja saudável cresce “de fora para dentro, e não de dentro para fora.” O seu ponto de partida (e de chegada) é a comunidade dos descrentes, não o núcleo fiel. “Este conselho é o oposto dos sugeridos nos livros sobre a implantação de novas igrejas.” Informação Complementar Os cinco propósitos da Igreja Rick Warren assenta os cinco Propósitos em que baseia o seu método de crescimento em duas passagens do Novo Testamento, em que Jesus define o Grande Mandamento (Ev. Mateus 23: 35-39) e a Grande Comissão (Ev. Mateus 28: 19-20). Destes textos decorrem as cinco tarefas indispensáveis a “Uma Igreja com Propósitos”: 1. – Adoração. -evangelistas”, que assentam o seu ministério nos meios de comunicação de massas, normalmente cadeias de televisão que transmitem o culto em directo de um grande estúdio. O espaço de Rick Warren continua a ser o da igreja local. 1 - Uma Igreja com Propósitos . Editora Vida: São Paulo (Brasil), 1997. 2 - Em Portugal, as principais confissões representantes desta corrente são a IURD e a Igreja Maná. * Silas Oliveira Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Jornalista e Assessor em órgãos de soberania.
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