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Onde estou: | Janus 2007> Índice de artigos > Religiões e política mundial > Actores político-religiosos > [ Arcebispo Makarios: entre o desejável e o possível ] | |||
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De noviço a Etnarca Ordenado diácono em 1938, e com uma bolsa do Conselho Mundial das Igrejas (WCC) para estudar na Universidade de Boston (Massachusetts, EUA), residiria em Atenas até ao fim da II Guerra Mundial e ao início da guerra civil grega (1946-1949), rumando então para Boston, onde recebeu uma pequena paróquia ortodoxa grega. Eleito bispo de Kition (Larnaca) em 1948 com a idade de trinta e cinco anos, adopta o nome clerical de Makarios e regressa a Chipre, sendo entusiasticamente recebido por uma multidão que o aguardava em Nicósia, e a quem promete “a liberdade, quebrando as cadeias do colonialismo”. Emergindo como uma figura popular e carismática, dois anos depois, em 18 de Setembro de 1950 seria eleito – como Makarios III – aos trinta e sete anos, arcebispo de Chipre, convertendo-se não apenas no chefe da Igreja Ortodoxa cipriota como no Etnarca , o dirigente principal e líder nacional de facto da comunidade cipriota-grega da ilha, desempenhando nessa qualidade um papel central na defesa da autodeterminação como via para a Enosis – união de Chipre com a Grécia –, pondo em causa a presença colonial britânica.
Entre a Enosis e a Taksim: a independência de Chipre Em nome da “união” entabulou contactos com o governo grego que conduziram, em parte, ao levantamento pela Grécia da “Questão Cipriota” na ONU (1954), argumentando com a necessidade de se aplicar o princípio da autodeterminação à ilha, de que esperavam, na sequência de um plebiscito sobre a matéria, resultasse a união voluntária de Chipre com a Grécia. Esta aspiração foi, contudo, confrontada com a oposição britânica e da própria ONU; a primeira porque tornara a ilha, na sequência da retirada da Palestina, a sua base para o Médio Oriente, e a segunda porque agravava as tensões locais e regionais emergentes da rivalidade greco-turca e do conflito israelo-árabe. O facto é que, em favor desta ideia, em 1955 seria fundada uma organização pró- enosis , a EOKA ( Ethniki Organosis Kyprion Agoniston ), movimento com características independentistas próprias da época mas com tácticas de combate próprias de movimentos de guerrilha e grupos terroristas. Partilhando o mesmo terreno político, Makarios cedo seria implicado pelos britânicos que o acusaram de manter contacto ou inspirar os grupos clandestinos de libertação, responsáveis pela eclosão de graves distúrbios na ilha, ordenando a sua prisão e desterro para as ilhas Seychelles (1956-57). Libertado, mas impedido de regressar a Chipre, Makarios estabelecer-se-ia em Atenas pugnando pela realização daquele ideal. Contudo, o protagonismo do primeiro-ministro Constantine Karamanlis faria evoluir a posição da Grécia de um objectivo de enosis para o reconhecimento e garantia da independência cipriota, ao mesmo tempo que, entre a comunidade cipriota turca emergia, em contrapeso, a ideia de Taksim ou partilha da ilha, como forma de garantir, sob soberania britânica ou turca, a salvaguarda dos seus interesses num quadro de superioridade e maioria populacional e política da comunidade cipriota-grega. De motu próprio ou, segundo outros, forçado política e pessoalmente, Makarios evoluiria para uma posição de aceitação do princípio da independência total de Chipre, que mais tarde explicaria como resultado da constatação de que se a enosis era “desejável” a independência era “possível”. Os acordos de Zurique e de Londres (19.02.1959) entre a Turquia, a Grécia, o Reino Unido e os líderes das duas maiores comunidades, Makarios pelos cipriotas gregos e Fazil Küçük pelos cipriotas turcos, estabeleceram as bases e Constituição do futuro Estado comunal independente, assente na partilha e proporcionalidade da representação das duas comunidades nas instituições, mas garantindo ao grupo minoritário (cipriotas turcos) um poder de veto que ia para além da sua dimensão populacional e que a prazo tornava impraticável o funcionamento das instituições. Estes acordos seriam complementados por dois tratados (1960) que na prática punham em causa a independência do Chipre: o Tratado de Garantia, visando garantir a não-anexação ou partilha da ilha por nenhuma das potências signatárias e o Tratado de Aliança entre Chipre, Grécia e Turquia que permitia o estacionamento de contingentes militares das duas potências no novo país.
Sua Beatitude o “Arcebispo Vermelho” Eleito presidente da nova república (13.12.1959), Makarios rapidamente evoluiu para uma posição moderada e centrista no espectro político cipriota, prosseguindo uma política de não-alinhamento, cultivando um bom relacionamento com a Turquia e a Grécia, tornando-se uma das mais representativas figuras do Movimento dos Não-Alinhados, que lhe valeu o epíteto pelos norte-americanos de “Castro do Mediterrâneo” ou “Arcebispo Vermelho”, mas ganhando, a nível interno, a inimizade dos cipriotas turcos, na sequência da proposta de treze emendas à Constituição que, eliminando a obrigatoriedade da representatividade étnica, pretendia dotar o Estado de maiores recursos e forçar a cooperação interétnica, o que conduziu os cipriotas turcos a confinarem-se em zonas habitacionais não mistas, numa tentativa de forçar a Taksim (divisão). Em Dezembro de 1963 a violência intercomunal estalava, pondo de facto fim ao Estado intercomunal e às tentativas de o tornar um Estado unitário. Ao mesmo tempo, Makarios, granjeou o ódio dos partidários radicais da enosis que, não lhe perdoando o desvio e liderados por George Grivas, fundaram (1971) uma organização paramilitar de extrema-direita, EOKA-B, a qual levaria a cabo várias tentativas de o assassinar e outras acções violentas. Apoiados pela “junta dos coronéis” no poder na Grécia (1967-1974), levaram a cabo um golpe de Estado (15.07.1974) que Makarios denunciou no Conselho de Segurança da ONU (19.07.1974) como sendo uma verdadeira invasão de Chipre. A Turquia encontrou no golpe a justificação para, em nome do Tratado de Garantia, invadir Chipre (20.07.1974) o que conduziu rapidamente à queda da ditadura militar grega, ao fim do apoio aos golpistas cipriotas e à restauração da legalidade constitucional, embora num contexto de divisão e ocupação turca da parte norte da ilha que se mantém até à actualidade. Makarios regressaria ao país (Dezembro, 1974), retomando as suas funções presidenciais e centrando-se, sem sucesso, até ser vitimado por um ataque cardíaco (3.08.1977), refém de um passado pró- enosis , em restaurar a integridade territorial de Chipre. * Fernando Amorim
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