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Depois de um vigoroso crescimento em 2006, a actividade económica na zona euro desacelerou no 2º quartel de 2007. O crescimento ficou nos 0,3%, metade do que as previsões iniciais apontavam e muito abaixo dos 0,7 registados nos primeiros tês meses. Pela primeira vez nos últimos 5 anos, a trajectória ascendente do investimento viu-se bloqueada, muito devido a um menor fulgor no sector da construção. Em dissonância com as nuvens que pairam sobre o ciclo de crescimento, a taxa de desemprego tem estado em queda desde 2005 e encontra-se, agora, no nível mais baixo dos últimos 15 anos. O lento retrocesso nos níveis de desemprego fortaleceram a confiança dos consumidores e embora o ambiente de negócios tenha sido prejudicado pela tempestade nos mercados financeiros, o crescimento deverá, mesmo assim, rondar o produto potencial. Contudo, o pico de crescimento da zona euro já deverá ter ficado para trás. Daí que em suspenso tenha ficado um adiamento na subida dos juros por parte do BCE, esperada numa primeira fase para Setembro, mas agora adiada previsivelmente para 2008, perante um soluçar acima do esperado. A embalar os efeitos de uma travagem que ensombra este final de ano e projecta consequências para além dele, dois factores estruturais merecem acompanhamento para o andamento da zona euro: a subida do preço do petróleo e a afirmação da moeda europeia – a bater recordes a cada semana que passa. Um menor fôlego nas exportações e uma maior competitividade dos produtos asiáticos concorrentes ameaçam comprometer um pouco mais o ciclo económico, a par de uma subida directa dos custos de produção. De referir ainda que o padrão europeu de exportações tem estado a inflectir, com as novas alianças a Leste – Turquia e Rússia – a ganharem peso, em paralelo com um rápido crescimento dos mercados asiáticos. Uma procura que tem consolidado a dinâmica interna de uma economia decisiva para todo o ciclo da zona euro como é a Alemanha, agora a retirar os benefícios de anos a fio em que os aumentos salariais do seu sector industrial ficaram abaixo da inflação. Para concluir, sublinhar que a Europa não irá alcançar o crescimento de 3% atingido o ano passado e estima-se que fique ainda mais aquém no próximo ano. De qualquer forma, uma suavização do crescimento longe dos cenários catastróficos de crise que chegaram a ser ponderados. Até porque as bases estruturais da economia europeia mantêm-se fortes: a confiança de particulares e empresas permanece alta apesar de um abrandamento natural face à crise nos mercados financeiros. As condições de crédito mais apertadas para os próximos tempos sugerem um abrandamento moderado no crescimento, mas pouco mais, mesmo para 2008. Para além disso, crescem os sinais de que, ao longo dos últimos 30 anos e dado o seu novo enquadramento macroeconómico e evoluir da integração, a Europa foi-se tornando mais resistente às crises económicas. Mesmo que isso signifique recuperar de forma mais lenta que a economia americana perante um cenário desfavorável, sendo certo que o impacto inicial é também ele menos forte no lado europeu. A zona euro na tríade: desemprego, crescimento, produtividade De entre a tríade da economia mundial, a zona euro é aquela que tem apresentado pior desempenho em matéria de emprego. Se os ciclos são comuns aos três vértices deste supertriângulo, com inflexões de acordo com a dinâmica conjunta, é no lado da Europa que as taxas de desemprego apresentam maior expressão: uma diferença média ligeiramente inferior a 3 pontos percentuais face a Estados Unidos e Japão, historicamente a zona com valores mais baixos de entre as três áreas. Sublinhar ainda a redução por parte da Europa dessa diferença para com as duas outras zonas, que até 2001 foi claramente maior. Para além disso, há uma tendência comum às três potências: ao longo dos últimos 4 anos, os níveis de oferta de trabalho têm estado a aumentar de forma consistente reduzindo as taxas de desemprego nos 3 principais pilares da economia mundial. Em termos mais específicos, os Estados aderentes à moeda única vão enfrentar um desemprego ligeiramente inferior durante estes dois anos face ao que se passou anteriormente, numa trajectória descendente sustentada por um crescimento, se ainda não vertiginoso, pelo menos consistente. De referir ainda o facto de a Holanda manter, em matéria de empregabilidade, o melhor registo entre os treze países analisados, e definitivamente a substituir o Luxemburgo numa posição em que este era tradicionalmente líder. Num outro plano, os incrementos de produtividade apresentam naturais divergências de região para região. A tradicional liderança da economia americana, acentuada nos primeiros cinco anos deste novo século, foi substituída nos últimos tempos por um maior ritmo por parte da Europa e, numa fase mais tardia, pelo próprio Japão. Já em matéria de crescimento, a zona euro deverá acompanhar o ritmo da economia americana em 2007, mas vai voltar a ser ultrapassada já em 2008, isto depois de nos últimos dois anos ter ficado muito abaixo do vigor apresentado pela rival atlântica. Uma tendência inversa emerge quando se posiciona a zona euro face ao Japão: o declínio nipónico face a um maior fulgor europeu nos últimos anos vai estender-se até 2008, apesar de um resultado atípico em 2005. No seguimento de uma trajectória que já vem de trás, Espanha, Grécia, Irlanda e Luxemburgo vão continuar a criar elevados níveis de crescimento, agora acompanhados pela Eslovénia, também ela com rácios de aumento de Produto Interno Bruto á volta do dobro da média europeia. Portugal é, uma vez mais, um dos países onde o crescimento da riqueza menos se vai fazer sentir, atrás apenas da Alemanha e da Itália. Em treze países, a economia nacional apresenta o décimo – primeiro pior resultado para os anos em análise. Para os portugueses, a Europa “vai ficar mais longe”, como aliás tem acontecido sucessivamente a partir de 2000, desde então a crescer abaixo da média da zona euro. Registo ainda para o bom andamento da economia da Grã-Bretanha, a manter taxas de crescimento superiores às da zona euro pelo quarto ano consecutivo. Depois de em 2006 o diferencial ter sido mínimo, a diferença no ritmo de crescimento vai voltar a alargar-se até 2008. Também no que toca ao desemprego, a dinâmica da libra leva vantagem relativamente ao euro, embora o fosso esteja a encurtar.
Tendências futuras A expansão económica dos últimos anos permitiu um significativo progresso na consolidação das contas públicas da maioria dos países da zona euro, mas mantêm-se as dúvidas se esse movimento foi suficiente, agora que estamos perante um decréscimo das expectativas de crescimento. Ainda assim, um Pacto de Estabilidade e Crescimento modificado e mais suavizado funcionou como uma almofada ideal para países em incumprimento e, nesta altura, quase todos os Estados da zona euro baixaram o seu défice para valores inferiores a 3% do PIB. De qualquer forma, a Europa tem que reposicionar o seu papel na economia mundial, onde continua a perder peso face aos tradicionais rivais e às novas economias emergentes como a China e a Índia. Depois de uma convergência acentuada no pós- Segunda Guerra, desde 1995 que os aumentos de produto per capita na Europa têm sido sempre inferiores aos da economia americana, com excepção da Irlanda. Uma diferença no rendimento que traduz uma menor produtividade do trabalho, à medida que esse factor na zona euro perdeu ritmo em contraste com uma aceleração do lado americano. E embora as taxas de desemprego estejam agora mais próximas, o maior envelhecimento da população europeia nos próximos anos poderá voltar a criar uma maior distância entre os dois pólos. Até porque os elevados custos de emprego na Europa, a par de esquemas de compensação considerados demasiado generosos tornam mais resistente essa descida. Nesse sentido, estão em curso na Europa novas abordagens, quer seja pelo modelo anglo-saxão, com redução de protecção aos desempregados e custos do lado das empresas, de forma a encorajar uma maior eficiência nos mercados laborais, quer pelo modelo nórdico da Flexigurança, susceptível de conjugar facilidade de despedimento com grande protecção social. De resto, o menor brilho europeu fica sublinhado por uma deficiente utilização das novas tecnologias, sobretudo na área das tecnologias de informação e comunicações, com um acentuado fosso diante dos valores alcançados do outro lado do Atlântico. Uma vertente onde a Europa apresenta sectores de produção mais pequenos, níveis inferiores de investimento em equipamento e menor produtividade nos sectores que directamente dependem dessas tecnologias . Uma menor regulamentação dos mercados laborais, mais despesa dos Estados em investigação e desenvolvimento e uma maior competitividade nos sectores ainda não totalmente desregulamentados continuam a ser as receitas veiculadas para um maior crescimento e equilíbrio da zona euro face aos Estados Unidos. Embora algum progresso tenha sido alcançado, o espírito da Agenda de Lisboa e a total aplicação da Directiva dos Serviços estão ainda longe de ser plenamente alcançados.* Pedro Pinto Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Autónoma de Lisboa. Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo Instituto Superior de Economia e Gestão. Docente na UAL. Jornalista da TVI. Crescimento da produtividade do trabalho Zona euro: componentes do crescimento Desemprego: EUA, zona euro e Japão
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