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Embora o estudo dos media e da saúde seja uma área de investigação com um largo acervo de produção nos EUA, em termos europeus e nacionais, o investimento no aprofundamento desta área de conhecimento tem até hoje tido expressões muito localizadas e de aplicação reduzida. Considerando que, na sociedade em rede, a saúde faz parte de uma equação que tem em conta utentes, profissionais de saúde, instituições de saúde e conteúdos disponíveis na Internet, a pesquisa foi desenvolvida em quatro vertentes diferenciadas: utentes (inquérito por questionário à população portuguesa); profissionais de saúde (inquérito postal ou on-line por questionário aos diferentes grupos de profissionais de saúde); estudos de caso sobre sistemas de informação na saúde; análise de conteúdo de sites institucionais e de outros na área da saúde e ainda de blogues.
Utentes e saúde na era da informação: Internet, telemóveis e media O aparecimento e a consequente massificação da utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC) vieram permitir, nomeadamente no seio do mundo ocidental, a comunicação e a interacção entre indivíduos, de forma praticamente universal. As suas características têm impacto em quase todas as áreas da sociedade, não sendo imunes à mudança produzida os serviços de cuidados de saúde. Neste âmbito, e num contexto de sociedades com populações cada vez mais envelhecidas, a utilização das tecnologias da comunicação proporcionou a geração de novas fontes de valor, à medida que os custos vão sendo reduzidos e novas políticas públicas de saúde, onde o utente ocupa uma posição activa e central, vão surgindo. É assim possível pensar no potencial da Internet como meio de interacção e de organização social no âmbito da saúde através da combinação de processos de comunicação e de informação, estando esse potencial ainda por desenvolver de forma plena. Assiste-se, simultaneamente, a uma confiança generalizada nas práticas médicas e no tratamento que elas oferecem, mas também a um aumento da necessidade de informação relativa à medicina científica e, muitas vezes, a uma certa desilusão relativamente à medicina científica tradicional (patente na enorme procura de informação sobre medicinas alternativas on-line ). O objectivo de acesso à informação actualizada e de confiança sobre saúde e cuidados de saúde pode ser partilhado por políticos, profissionais de saúde e grupos de cidadãos com intervenção na área da saúde, mas também o é, em grande medida, pelo cidadão individual, em processo de autonomização, se considerarmos a noção de «utente informado».
Instituições de saúde e tecnologias de informação: mudança organizacional e autonomia Oferecer melhor saúde parece ser, hoje, um tema central nas preocupações dos diferentes actores sociais, transposto depois para a agenda mediática. Novos modelos organizativos, de gestão, de modernização dos serviços, de desenvolvimento tecnológico, a discussão da melhoria da qualidade assistencial dos cidadãos entrevêem no uso das TIC (tecnologias de informação e comunicação) passos primordiais para a obtenção de resultados positivos. Tais preocupações ecoam designadamente quando se mobiliza a ideia de « nova rede hospitalar». Noutras ocasiões, ouvimos falar de empresarialização, de eficiência no controlo dos gastos, de unidades integradas de saúde, de um novo utente, de e-health. A primeira grande conclusão que retiramos é a crescente utilização das tecnologias de informação e comunicação aplicadas à saúde. Esta tendência, evidenciada pelo potencial destas ferramentas tecnológicas é evocada ao longo de muitas das entrevistas que realizámos e tem sido promovido e estimulado em Portugal. Esta pesquisa permitiu identificar diversas formas, estratégias e opções de introduzir e implementar processos relacionados com sistemas e aplicações tecnológicas nas instituições visitadas, que correspondem, respectivamente e por parte dos profissionais, a diversas formas de aceitar, aderir e utilizar as TIC. De um modo geral, em Portugal parece estar a haver um investimento na informação e comunicação aplicadas à saúde, uma tendência resultante de uma necessidade crescente de aplicações e sistemas de informação que optimizem os processos de cuidados de saúde prestados à comunidade, sejam eles de ordem clínica ou administrativa. De um modo geral, as aplicações ou sistemas informáticos são mais orientados para funções administrativas do que clínicas, aliás, até mesmo a aplicação informática destinada aos médicos (SAM – Sistema de Apoio ao Médico) é descrita como tendo sobretudo funcionalidades administrativas, ainda que contendo informação de espectro mais genérico. Este desajuste é ilustrado pelo médico em Matosinhos que criou uma aplicação informática que satisfizesse as suas carências enquanto médico, no que se relaciona ao armazenamento útil e funcional de dados clínicos dos utentes. As aplicações informáticas são maioritariamente utilizadas para controlar situações de natureza burocrática e administrativa – de que a gestão informática de doentes e a marcação de consultas são um bom exemplo – podendo ainda servir directamente os fins da gestão ao permitir um maior controlo das compras de material, da gestão de stocks e dos custos inerentes. Profissionais de saúde na era da informação: médicos, enfermeiros e farmacêuticos As TIC oferecem hoje um variado leque de ferramentas ao dispor do profissional de saúde, tais como a telemedicina, as bases de dados clínicas on-line, a comunicação por e-mail com pacientes, as bibliotecas virtuais de informação médica, a prescrição electrónica de receituário, etc. Oferecem também uma multiplicidade de serviços e de informação ao utente/paciente, desde consulta de informação médica e/ou de saúde, marcação de consultas on-line, etc. Tem sido apontado, por diversos estudos, que a maior evolução no papel da informação no sistema de saúde e, em particular, na relação médico-paciente, prende-se com o enorme fluxo de informação médica ou de saúde com presença na Internet, das mais diversas esferas e proveniências, produzida por especialistas, instituições, grupos de consumidores, etc. Deste modo, a qualidade da informação on-line é hoje debatida pelos diversos intervenientes do campo da saúde – médicos, enfermeiros, farmacêuticos e demais actores sociais, incluindo os utentes. Médicos, enfermeiros e farmacêuticos vêem--se assim perante a Internet como possível fonte de informação e de outras ferramentas para a sua prática profissional, bem como perante o facto de que os próprios utentes podem ter acesso a informação médica e de saúde na Internet. Esta nova posição do paciente/utente perante os cuidados de saúde e a informação médica e de saúde pode ser vista sobre a óptica de um ganho de autonomia devido ao acesso às TIC, ou seja, na óptica de «empowerment», no sentido da autonomia crescente do sujeito. A Internet e as demais tecnologias de informação e comunicação, ao permitirem fluxos informacionais (imagens, sons, etc.), abrem constantemente novas possibilidades para a medicina e, ao fazê-lo, «interpõem-se» entre o utente e o profissional de saúde, mas também entre profissionais e entre estes e as instituições de saúde. Na análise realizada é possível encontrar uma comparação entre os vários profissionais de saúde e alguns dos indicadores da sua relação com as TIC. Dos três grupos de profissionais de saúde utilizadores de Internet, a percentagem de utilizadores directa e regularmente é maior nos farmacêuticos (90,5%), seguindo-se os médicos (79%) e por último os enfermeiros (66,3%). A maior frequência de utilização diária surge também entre os farmacêuticos (72,3%), seguindo-se os médicos (39,1%) e os enfermeiros (32,7%). O ano de 2000, tal como para a restante população técnico-científica portuguesa, representou um autêntico boom de novos utilizadores da Internet entre os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e farmacêuticos) para a prática profissional. No caso dos médicos, a maior parte das adesões realizaram-se entre 1995 e 2000 (pouco mais de metade), nos enfermeiros, entre 2001 e 2006 (64,4%), e, nos farmacêuticos, as mesmas proporções (49%) nos períodos de 1995 a 2000 e de 2001 a 2006. O grupo mais antigo de utilizadores na área da saúde é o dos médicos, em que 4% aderiram ao uso de Internet para a prática profissional antes de 1995, seguindo-se os enfermeiros (1,3%) e os farmacêuticos (2,1%). Em geral, os índices de valorização das TIC nos vários domínios da prática profissional ligada à saúde são bastante positivos, criando a expectativa de que os valores poderão, de futuro, revelar-se ainda mais expressivos.
Conteúdos de saúde on-line: google, www e blogues A saúde individual e a sua gestão quotidiana nunca envolveram tanta informação como actualmente. Grandes quantidades de informação sobre saúde e medicina são disponibilizadas a partir de diversas fontes – sejam essas fontes profissionais de saúde, especialistas de vários tipos, instituições públicas e privadas ou grupos de doentes e/ou consumidores – através de uma multiplicidade de canais informativos, tanto a partir dos media, como de base local ou interpessoal, em interacção com médicos e outros profissionais de saúde, familiares, amigos, colegas de trabalho, etc. De acordo com os resultados obtidos, é possível afirmar que existe uma certa concordância entre conteúdos disponibilizados e conteúdos procurados. Os prestadores de cuidados de saúde dominam os conteúdos sobre a área na Internet, com especial presença dos prestadores do sector privado, algo que como vimos se deve em grande parte à natureza mais competitiva desse mercado. Neste âmbito, é de realçar a presença marcada de health-clubs e sites de nutricionismo, o que vai de certo modo de encontro às expectativas dos utentes aquando das suas pesquisas sobre saúde na Internet. Os resultados obtidos mostram ainda que soluções tais como certificar a informação sobre saúde disponível na Internet ou fornecer dados acerca dos autores da informação poderiam ser medidas a adoptar de forma a incrementar o nível de credibilidade da informação. De facto, existe uma elevada proporção de inquiridos que concorda com a criação de instituições que certifiquem a qualidade da informação médica on-line (78,6%), e com o aumento da informação disponível acerca dos autores do sítio (71,2%), o que funcionaria como uma espécie de garantia para o utente que por vezes duvida da validade das informações disponibilizadas. Pode afirmar-se que o incentivo da utilização da Internet no seio da saúde depende activamente dos conteúdos disponibilizados, da sua qualidade e credibilidade e da maior ou menor facilidade sentida por parte do utilizador em utilizar e perceber os recursos disponíveis. Deve, portanto, haver uma clara aposta no incremento da confiança dos utilizadores, através, por exemplo, de soluções de certificação, assim como devem ser aproveitadas as potencialidades oferecidas pela plataforma tecnológica em termos de agilização dos cuidados médicos. Só através de um diálogo constante entre o utilizador e os responsáveis pelos sites poderemos passar de sites meramente informativos a uma interacção efectiva, ao mesmo tempo que se vai incentivando o utilizador a fazer uso destas possibilidades, incrementando cada vez mais o papel da Internet no seio do sector da saúde.Informação Complementar As TIC e as necessidades informacionais • A Internet em Portugal começa a surgir de modo discreto como uma alternativa a métodos mais tradicionais de obtenção de informação sobre saúde. • O papel das TIC na saúde, no que diz respeito ao utente, é mais uma das vertentes de uma mudança global à qual o quotidiano do utente teve de se adaptar ao longo dos últimos anos. • A maioria dos profissionais de saúde utiliza a Internet de modo regular, e destes, a maioria, utiliza-a na prática profissional e reconhece-lhe utilidade nesse âmbito. • Ter e manter um site por si só não é suficiente. É necessário ter a certeza que o utente consegue aproveitá-lo, considerá-lo útil e perceber o seu modo de funcionamento.
Percepções e usos do serviço nacional de saúde • Quanto às práticas efectivas dos utentes, verifica-se que 80,1% dos inquiridos afirmou ter recorrido pessoalmente a uma farmácia no último ano, por razões próprias ou como acompanhante, assim como 79,4% a um centro de saúde. • A percentagem de indivíduos que afirmou ter recorrido a um hospital público é também relativamente elevada (57,9%), quando comparada com a dos que se deslocaram a hospitais privados (7,8%) ou a clínicas privadas (10,8%). • 79,2% dos utentes considera ficar esclarecido ou muito esclarecido na sequência do atendimento por parte do médico assistente, contra apenas 16,2% que fica pouco ou nada esclarecido. • Quanto à avaliação dos vários locais de prestação de cuidados de saúde, cerca de metade dos inquiridos não se mostra particularmente satisfeito: apesar de não lhes atribuir uma avaliação negativa, 53,1% dos utentes considera o centro de saúde «razoável», assim como 49,1% em relação ao hospital público. Mas se juntarmos as avaliações de «razoável» e «bom», ficamos com mais de 80% dos utentes razoavelmente satisfeitos com o atendimento realizado nos centros de saúde e nos hospitais públicos. • Quando confrontados com um problema de saúde não urgente, os utentes recorrem, em primeiro lugar, ao médico assistente do SNS (71,5%), em segundo lugar, ao farmacêutico (18,2%), e em terceiro lugar, ao médico assistente do sistema privado de saúde. As linhas de apoio telefónico do SNS têm valores preferenciais abaixo de 1% (0,2%). • A utilização de medicamentos genéricos está também a tornar-se uma prática cada vez mais recorrente: 41,7% dos inquiridos afirmou ter-lhes sido prescrito tais medicamentos pelo médico assistente.1 - Relatórios integrais disponíveis no sítio do projecto: http://sei.iscte.pt * Rita Espanha Investigadora do CIES/ISCTE nas áreas da “Comunicação e Saúde” e “Crianças, Jovens e Tecnologias de Comunicação”. É membro da Comissão Executiva e da equipa de investigação do Observatório da Comunicação e Sub-Directora e Editora da revista «Observatório». Participa nas redes de investigação europeias COST-ESF. Professora em Mestrados no ISCTE e no ISLA.
** Gustavo Cardoso Investigador no CIES/ISCTE. Professor de Tecnologia e Sociedade no ISCTE. Trabalha igualmente no Departamento de Estudos da Comunicação da Universidade de Milão e com a Universidade Católica Portuguesa. Membro do comité consultivo do Centro ICT&S da Universidade de Salzburgo. Investigador no Annenberg Research Network on International Communication (ARNIC). Desde 2001 representa Portugal no COST Domain ISCH – Indivíduos, Sociedades, Culturas e Saúde. Director do OberCom – Observatório da Comunicação e Vice-presidente da Agência Portuguesa de Noticias (LUSA). Modelo OIT de análise de impactos das TIC nas organizações
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