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O Grupo de Alto Nível Em 14 de Julho de 2005 foi formalmente anunciada por aquele Secretário-Geral o lançamento da iniciativa “Aliança de Civilizações” numa declaração solene realizada na sede da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque. A que se seguiu, após consultas, o anúncio da constituição, em 2 de Setembro de 2005 de um grupo de Alto Nível (veja-se a sua composição no sítio da Internet desta iniciativa – United Nations, Alliance of Civilizations . Disponível em http://www.unaoc.org/) para orientar a iniciativa, o qual reuniu pela primeira vez em Palma de Maiorca, Espanha entre 26 e 29 de Novembro de 2005. Outras reuniões deste grupo se seguiram, uma (25 a 28 de Fevereiro de 2006) em Doha no Qatar, outra (28 a 30 de Maio de 2006) em Dakar no Senegal, mais uma (5 e 6 de Setembro de 2006) em Nova Iorque, outra (22 de Setembro de 2006) de novo nesta cidade, na sede da ONU, e a última (12 e13 de Novembro de 2006) em Istambul, na Turquia.
O Relatório do Grupo de Alto Nível O Grupo de Alto Nível apresentou nesta cidade ao Secretário-Geral Kofi Annan um relatório (13 de Novembro de 2006) que o mesmo submeteria a apresentação em sessão informal da Assembleia-geral da ONU em Nova Iorque em 18 de Dezembro de 2006. Aquele relatório seria objecto de publicação em Nova Iorque ainda em 2006. Na sequência, e dando cabal cumprimento à primeira recomendação daquele texto, seria nomeado pelo novo Secretário-Geral Ban Ki-moon, em 26 de Abril de 2007, o Dr. Jorge Sampaio, antigo Presidente da República Portuguesa como Alto Representante para a Aliança de Civilizações. O relatório é um documento de 62 páginas e composto de duas partes; a primeira organizada em cinco capítulos; a segunda estruturada em três capítulos, contendo este último as recomendações do Grupo de Alto Nível; ainda, três anexos, mais um apêndice elencando outros documentos úteis (p. 61).
Os conteúdos do relatório O primeiro capítulo, intitulado “Reduzir as divisões do mundo” faz o ponto da situação das relações internacionais no mundo de hoje, realçando um desequilíbrio alarmante, um mundo cada vez mais complexo, a inquietação e perplexidade causada pela teoria do “choque de civilizações” (veja-se para o efeito outros textos neste capítulo), e constatando a necessidade de lançar pontes de diálogo e compreensão entre as sociedades e a necessidade da Aliança de Civilizações assumir o ónus de resolver, prevenir e apaziguar as divisões crescentes entre sociedades, mediante a reafirmação de um paradigma de respeito mútuo entre povos de tradições culturais e religiosas diferentes. Tomado o pulso à situação internacional, o Grupo de Alto Nível leva a cabo no capítulo segundo, a formulação dos princípios directores em que se baseará a acção da Aliança de Civilizações reafirmando os princípios fundadores da Carta das Nações Unidas e dos preceitos constitucionais da UNESCO, pelo respeito completo e coerente dos Direitos do Homem e a diversidade cultural e civilizacional, consagrando a necessidade de se encarar o mundo numa perspectiva multipolar, interdependente e globalizada, em que a erradicação da pobreza, do terrorismo, a institucionalização de uma governança democrática global e o respeito pelo retorno do religioso nas sociedades hodiernas constituem princípios basilares para o sucesso da iniciativa e o apaziguamento global, à luz de um paradigma inteiramente novo na história das relações internacionais. O capítulo III.º desenvolve as várias vertentes do contexto sistémico mundial, realçando a necessidade de se olhar o mundo sempre numa perspectiva de conjunto face às rápidas interdependências criadas, a assunção da existência de identidades culturais claras que não devem ser postas em risco sob pena da degradação dos ambientes políticos regionais e mundial, mesmo entre as sociedades democráticas. Analisa ainda a emergência do extremismo nas suas diversas dimensões. No IV.º capítulo faz a abordagem à dimensão política da Aliança de Civilizações realçando o enfoque político e não meramente culturalista nas relações internacionais em geral e nas relações entre as sociedades ocidentais e as muçulmanas em particular, não escapando a essa abordagem o conflito israelo-palestiniano e as actuais tendências das sociedades muçulmanas e a perspectiva que nelas vai cristalizando do outro civilizacional ocidental. O capítulo V.º debruça-se sobre as especificidades regionais a considerar no debuxo de uma aliança de civilizações, detalhando a abordagem da questão do Médio Oriente e enunciando recomendações de política geral para o sucesso global da iniciativa, realçando o papel de um multilateralismo renovado e o respeito total e coerente do Direito Internacional e dos Direitos do Homem; a coordenação de políticas no âmbito das migrações; o combate à pobreza e injustiças económicas; a protecção da liberdade de culto, o exercício de lideranças responsáveis não islâmofóbicas, xenófobas e anti-semitas, o fomento do activismo na sociedade civil e o estabelecimento de parcerias para o progresso e consolidação de uma aliança de civilizações.
Os campos de acção, recomendações e concretização de iniciativas da Aliança de Civilizações A segunda parte do relatório (VI.º, VII.º e VIII.º capítulos) define a esfera e campos de actuação desta iniciativa. Quanto aos principais campos de acção o Grupo de Alto Nível elege a educação , a juventude as migrações e os media como alvo prioritário da Aliança, definindo para cada uma delas, no capítulo VII.º recomendações que levem a bom termo o projecto global representado por esta iniciativa política da ONU. O capítulo VIII.º específica os modos de concretização dessas recomendações elencando-as em sete alíneas fundamentais.
O Grupo de Alto Nível e sua articulação estratégica com o Secretário-geral da ONU O anexo I deste relatório especifica o contexto do lançamento pelo Secretário-Geral da iniciativa de uma Aliança de Civilizações co-patrocinada pelos primeiros-ministros de Espanha e Turquia. Define ainda as circunstâncias, objectivos e missão específica do Grupo de Alto Nível na identificação das ameaças emergentes à paz e segurança internacional bem como das contra-medidas colectivas e institucionais de neutralização daquelas, a recomendação de programas de acção exequíveis ao nível de Estado, organizações internacionais e sociedade civil de promoção da harmonia entre sociedades. Ainda, o estabelecimento de um secretariado de apoio dirigido por um director experimentado, cabendo-lhe a preparação de estudos, análises e propostas, a submeter ao Grupo de Alto Nível.
A composição do grupo de Alto Nível O anexo II faz a listagem dos membros do grupo de Alto Nível. Para além de dois co-presidentes (Turquia e Espanha) este possui uma composição que pretende traduzir uma representação regional, incluindo nela o grau de conflituosidade ou ameaça. Assim o Médio Oriente tem três membros; a África do Norte dois; a África Ocidental um; a África do Sul um; a Europa Ocidental dois; a Europa de Leste um; a América do Norte dois membros; a América Latina outros dois; a Ásia do Sul igualmente dois membros; a Ásia do Sudeste um membro e finalmente, a Ásia Oriental um membro; num total de vinte personalidades dos mais variados quadrantes, mas com reputado currículo no domínio das relações políticas e internacionais, enquanto antigos protagonistas ou como observadores e investigadores. Finalmente, o Anexo III é integralmente composto por um memorando específico sobre o conflito israelo-palestiniano e o papel que o Grupo de Alto Nível poderá assumir naquele contexto. O relatório termina elencando outros documentos úteis disponíveis no sítio da Aliança de Civilizações para fornecer informação complementar sobre a natureza, missão e objectivos desta iniciativa que prossegue em moldes eminentemente políticos o enfoque culturalista iniciado anos antes (2001) pela UNESCO, outra organização do universo onusiano.![]() Informação Complementar Recomendações do Relatório do Grupo de Alto Nível da Aliança de Civilizações quanto aos príncipios que devem guiar a Aliança Uma Aliança de Civilizações deve por natureza ser baseada numa perspectiva multipolar. Como tal, o Grupo de Alto Nível guiou as suas deliberações pelos princípios que formam o quadro para promover a cultura do diálogo e o respeito entre todas as nações e culturas. A Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que pretende libertar a humanidade do medo e da miséria, tal como outros documentos fundamentais sobre direitos culturais e religiosos, são a referência básica para os princípios enunciados infra. 1.º – Um mundo cada vez mais interdependente e globalizado só pode ser regulado através do primado do Direito e de um sistema multilateral efectivo, com o sistema das Nações Unidas no seu núcleo. Tal requer o respeito pelo direito internacional e pelos tratados, incluindo pelos direitos e responsabilidades que governam a conduta da guerra tal como estipulado pelo direito internacional humanitário (em particular pelas Convenções de Genebra), o respeito pelas instituições que criam o direito e o apoio aos mecanismos destinados a decidir sobre as violações a essas normas. 2.º – O respeito pleno e consistente pelos standards de direitos humanos forma a base das sociedades estáveis e das relações internacionais pacíficas. Estes direitos incluem a proibição da tortura física e psicológica, o direito à liberdade de religião e o direito à liberdade de expressão e associação A integridade destes direitos funda-se na sua natureza universal e incondicional. Estes direitos devem, assim, ser considerados invioláveis e todos os Estados, organizações internacionais, actores não-estatais e os indivíduos devem respeitá-los em todas as circunstâncias. 3.º – A diversidade das civilizações e culturas é uma característica básica da sociedade humana e uma força motivadora do progresso humano. As civilizações e culturas reflectem a enorme riqueza e herança da humanidade e a sua natureza é de forma a se sobreporem, interagirem e evoluirem umas em relação às outras. Não há qualquer hierarquia entre culturas, tendo cada uma contribuído para a evolução da humanidade. A história da humanidade é na verdade uma história de influência e fertilização mútua e constante. 4.º – A pobreza leva ao desespero, sentido de injustiça e alienação que, quando combinados com queixas politicas, pode alimentar o extremismo. A erradicação da pobreza diminuiria estes factores ligados à marginalização e alienação económica e deve por isso ser procurada de forma ostensiva, tal como se apela nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. 5.º – O terrorismo nunca pode ser justificado. A fim de conseguir que as instituições internacionais e os governos parem o terrorismo, precisamos de lidar com todas as condições que são conducentes a este fenómeno, reconhecer as ligações entre a paz, segurança, desenvolvimento social e económico e direitos humanos. A este respeito, a Estratégia Global contra o Terrorismo das Nações Unidas, recentemente aprovada, representa um passo importante. 6.º – O governo democrático que é representativo dos seus cidadãos e responde às suas necessidades e aspirações constitui o meio mais eficaz para os indivíduos atingirem o seu máximo potencial. Para terem sucesso, os sistemas democráticos devem surgir organicamente no âmbito da cultura de cada sociedade, reflectindo os seus valores partilhados e adaptados às necessidades e interesses dos seus cidadãos, Tal é possível apenas quando as pessoas são livres e sentem-se em controlo do seu destino. 7.º – A religião é uma dimensão cada vez mais importante de muitas sociedades e uma fonte significativa de valores para os indivíduos, Pode desempenhar um papel fundamental em promovera compreensão de outras culturas, religiões e de modos de vida que ajudem a construir harmonia entre elas.
Membros do Grupo de Alto N ível da Aliança de Civilizações Co-Presidentes Médio Oriente Norte de África África Ocidental África do Sul Europa Ocidental Europa de Leste América do Norte América Latina Ásia do Sul Ásia do Sudeste Ásia de Leste
O Grupo de Alto Nível O Grupo de Alto Nível foi nomeado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas Kofi Annan na sequência de diligências com os países co-patrocinadores da iniciativa, Espanha e Turquia e os seus respectivos Primeiros-ministros. O Grupo de Alto Nível da AdC é composto por vinte líderes proeminentes nos campos da política, personalidades reconhecidas nos meios académicos, na sociedade civil, nas finanças internacionais, e nos meios de comunicação de todas as regiões do mundo. Na origem, o Grupo de Alto Nível surgiu com a missão de orientar o trabalho da Aliança de Civilizações, analisando, avaliando e interpretando a natureza das forças que contribuem para o extremismo e radicalização nos vários pontos do globo e em particular nas regiões e países sujeitos a processos de confrontação militar e civil. Ao Grupo de Alto Nível cabe a tarefa de produzir e enunciar recomendações para uma acção colectiva de confinamento dos focos de conflito e redução do seu impacto e efeito de contágio a países e regiões limítrofes, definindo metodologias de acção e combate a essas forças. Na sequência da sua criação o Grupo de Alto Nível reuniu cinco vezes entre Novembro de 2005 e Novembro de 2006 com vista a elaborar um relatório – o Relatório do Grupo de Alto Nível – o qual apresentada um conjunto de metodologias para uma abordagem multipolar das tensões nacionais e regionais objecto desta iniciativa (AdC), no qual se define como prioritárias as relações entre muçulmanos e sociedades ocidentais. A primeira reunião teve lugar em Palma de Maiorca, Espanha, entre 26 e 29 de Novembro de 2005; a segunda, em Doha, no Qatar, entre 25 e 28 de Fevereiro de 2006. A terceira reunião deste grupo realizou-se em Dakar, no Senegal, entre 28 e 30 de Maio de 2006. O relatório produzido foi então apresentado numa reunião final, em Istambul, Turquia em 12 e 13 de Novembro de 2006. Pouco antes realizou-se ainda um encontro de trabalho em Nova Iorque entre 5 e 6 de Setembro de 2006 para ultimar os conteúdos do documento. O relatório do Grupo de Alto Nível apresenta uma série de recomendações com vista a levar a bom termo a estratégia gizada pela iniciativa AdC de desenvolvimento de uma melhor cooperação e parceria entre todos os actores indispensáveis à concretização com êxito dos objectivos da Aliança. O Grupo de Alto Nível enuncia o modus faciendi , as medidas práticas para reforçar, de forma construtiva, o papel interventor de todos os apoiantes da iniciativa e sua publicitação entre os meios de comunicação social. No relatório o Grupo de Alto Nível propõe abordagens educativas e métodos de apoio à mobilização dos jovens, na promoção dos valores de moderação, de cooperação, bem como a valorização da diversidade. O plano proposto neste relatório tem como objectivo identificar os sistemas e estratégias de acção colectiva para produzir as condições em que a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento possam prosperar. ![]() * Fernando Amorim Licenciado em História pela Universidade Autónoma de Lisboa – UAL. Mestre em História – História Moderna, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FL/UL). Professor da Universidade Autónoma. Investigador do Observatório de Relações Exteriores. Membro do Conselho Directivo do Observatório de Relações Exteriores. Editor do Janus: Anuário de Relações Exteriores.
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