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Janus 1997



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Comércio

João Dias *

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Durante várias décadas, a Espanha teve uma importância anormalmente reduzida enquanto parceiro comercial de Portugal. De facto, até meados da década de oitenta, as trocas comerciais entre Portugal e Espanha foram sempre pouco significativas, registando valores nada de acordo com o que seria de esperar para dois países vizinhos. Embora com uma ligeira tendência de crescimento, as importações de Portugal provenientes de Espanha representam, entre 1970 e 1985, apenas cerca de 5% do total, percentagem que desce ainda para cerca de metade no caso das exportações, conforme se vê no gráfico Peso da Espanha no Comércio Externo de Portugal.

Outro aspecto relevante no relacionamento comercial dos dois países ibéricos tem que ver com o tradicional défice da posição portuguesa. No final da década de setenta, a taxa de cobertura global das importações pelas exportações (para o mundo) centrava-se à volta de 50%. Em relação a Espanha, essa taxa era ainda mais reduzida, atingindo apenas 21% em 1981, embora com crescimento acentuado a partir deste ano (gráfico Portugal: Taxa de Cobertura das Importações pelas Exportações).

A importância da Espanha enquanto parceiro comercial de Portugal vai alterar-se drasticamente com a entrada dos dois países na CEE. A partir de 1986 as trocas comerciais entre Portugal e a Espanha crescem rapidamente, pelo que os valores observados no período 1993-95 foram sete vezes (para as importações) e oito vezes (para as exportações) superiores aos do período 1983-85. Apesar da taxa de cobertura ter subido para valores da ordem dos 50%, o défice comercial com Espanha é muito acentuado, representando, só por si, cerca de um terço do défice global. Como consequência desta rápida expansão das trocas, muito superior ao registado com os restantes países, a Espanha ocupa já (em 1995) o primeiro lugar enquanto fornecedor e o segundo enquanto cliente de Portugal, com uma quota de 21% nas nossas importações e de 15% nas exportações.

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Em termos de estrutura, os produtos industriais ocupam, naturalmente, lugar de destaque, sendo também os principais responsáveis pelo elevado défice português. Todavia, note-se que as exportações portuguesas de produtos industriais (secções 5 a 8 da CTCI) para Espanha cresceram mais rapidamente do que as importações. Já para os produtos alimentares, gorduras e bebidas e tabacos verificou-se o inverso, num claro indício das dificuldades da agricultura portuguesa em enfrentar a concorrência espanhola, mais competitiva, num contexto de liberdade de trocas (ver artigo Agricultura e Reforma da PAC).

Uma análise mais desagregada por "produtos" revela que existe já uma elevada sobreposição na estrutura do comércio externo de Portugal com Espanha, ou seja, que as exportações e as importações se verificam, em larga medida, para o mesmo tipo de produtos. De facto, o índice de Grubel e Lloyd (um dos indicadores habitualmente utilizados para a medição do comércio intra-ramo), corrigido tendo em conta o desequilíbrio global entre exportações e importações, regista já o valor de 86,5% no período 1993-95, quando calculado tomando como desagregação dos produtos a CTCI a dois dígitos e 72,1%, com a CTCI a três dígitos. Importantes diferenças persistem, todavia, mesmo a um nível razoavelmente agregado. Nos quadros Principais Importações Provenientes de Espanha e Principais Exportações para Espanha, apresentam-se as principais importações e exportações do comércio entre Portugal e Espanha, para o período 1993-95.

Do lado das importações, registe-se o elevado peso dos veículos de estrada, que representam 18% do total das importações provenientes de Espanha e 27% do valor total dos veículos importados por Portugal (de todas as origens). Para além das máquinas e aparelhos eléctricos, surgem também em destaque os produtos alimentares e, curiosamente, aparece em nono lugar a divisão "vestuário e acessórios", o principal vector das exportações portuguesas para o mundo e também, em menor grau, para Espanha. O calçado, outro importante elemento das exportações portuguesas para o mundo, quase não existe nas exportações para Espanha.

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* João Dias

Doutorado em Economia pelo ISEG. Docente no ISEG.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Peso da Espanha no comércio externo de Portugal

Link em nova janela Portugal: taxa de cobertura das importações pelas exportações

Link em nova janela Comércio de Portugal com Espanha: valor e peso no total

Link em nova janela Estrutura e evolução do comécio de Portugal com Espanha

Link em nova janela Principais importações provenientes de Espanha

Link em nova janela Principais exportações para Espanha

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