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- JANUS 2004 -

Janus 2004



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Léxicos específicos e políticas da língua portuguesa

João Maria Mendes e Francisco Rui Cádima *

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O léxico técnico-científico da língua portuguesa apresenta um atraso de mais de 400.000 "conceitos" próprios em relação às duas "grandes línguas" da União Europeia, o francês e o inglês. A fonte desta informação é o Eurodicautom, o sistema de tratamento electrónico de terminologia multilingue que cobre todas as actividades da Comissão Europeia. Segundo dados de 1996, e sendo onze as línguas de trabalho nas instituições da União, o sistema registava cerca de 300.000 conceitos em português, quase 800.000 em francês e mais de 700.000 em inglês. Estes números têm de ser ponderados: o atraso no registo de "conceitos" pode dever-se ao facto de uma língua ser recém-chegada à U.E., como é o caso do sueco ou do finlandês, que, na mesma data (Outubro de 1996), apenas iniciavam a entrada no Eurodicautom, sendo o registo de "conceitos" de ambas inferiores a 50.000. Mas não é este o caso da língua portuguesa, que já há cerca de dez anos mostrava um atraso de 350.000 "conceitos" em relação às duas línguas líderes, quando a União Latina e um grupo de trabalho sediado no Luxemburgo chegou a primeiras conclusões sobre a posição comparada das línguas oficiais das então Comunidades Europeias. O atraso do português ter-se-á, assim, agravado.

Os valores em questão têm de ser ponderados por outra razão, e esta não diz directamente respeito à língua portuguesa: é que a velocidade e a quantidade de registos no Eurodicautom exprimem, à sua maneira, as raízes e a história da instituição europeia. Só isso explica a liderança do francês em relação ao inglês, quando todos os indicadores confirmam que a língua inglesa se tornou hegemónica com a informatização das sociedades, o surgimento dos new media e o domínio global no binómio cinema-televisão, e mantém a sua hegemonia na literatura técnico-científica e nos manuais escolares. O atraso da língua portuguesa no léxico técnico-científico espelha, no novo universo da globalização, o grau de desenvolvimento dos países lusófonos e a capacidade que a língua mostra, ou não, para integrar com rapidez os novos termos de outra(s) língua(s) que exprimem novos segmentos da apreensão da realidade, entendida na sua acepção mais genérica e abrangente. (Sobre iniciativas em matéria de política da língua, ver texto de Rui Cádima sobre a RTPi).

Claro que o Eurodicautom não inclui registos de conceitos do português do Brasil, mais veloz que o de Portugal na adopção de neologismos, corruptelas e meras adaptações fonéticas de línguas estrangeiras, designadamente do inglês, devido à proximidade dos Estados Unidos da América. Quanto aos restantes países de expressão oficial portuguesa — os africanos —, nenhum deles está em condições de liderar a inovação e actualização do léxico técnico-científico do português, e mostram actualmente, em função da sua situação geográfica, maior permeabilidade à influência crescente de outras línguas (o francês no caso da Guiné-Bissau, o inglês no caso de Moçambique, por exemplo). Importa definir, para se entender a importância e extensão do atraso de 400.000 "conceitos", o que significa "léxico técnico-científico" no Eurodicautom e porque é que o sistema prefere a designação "conceito" a "palavra" ou "termo". Criado em 1976, o sistema, concebido como base de dados terminológica, é o Thesaurus multilingue da Comissão Europeia, avaliando cada "conceito" numa escala de 0 a 5 (onde 5 representa a terminologia standardizada). Cobre todas as áreas de actividade da Comissão, especialmente as de administração, seguros, indústria, energia atómica, comércio, economia, ambiente, finanças, direito, ciências exactas e da natureza, construção e engenharia civis, transportes, informação tecnológica, telecomunicações e novas tecnologias, agricultura, aço e minas, engenharia mecânica, saúde e segurança, etc. É a soma das terminologias específicas destas áreas que o sistema designa por "léxico técnico-científico".

O Euridicautom é mensalmente actualizado, cresce à razão de 20.000 a 30.000 termos por ano e a sua manutenção está entregue ao serviço de tradução da Comissão Europeia, que trabalha em conjunto com outras organizações internacionais e centros nacionais de terminologia, ministérios e organizações diversas dos Estados membros, além de recorrer continuamente a publicações especializadas e glossários temáticos. Em 1996, as línguas do Eurodicautom eram o francês, inglês, alemão, italiano, holandês, dinamarquês, português, espanhol, grego, sueco e finlandês, além do latim (para acrónimos, abreviaturas e nomenclaturas científicas). Com os sucessivos alargamentos da actual U.E., a perspectiva é de que o número de línguas oficiais duplique nos próximos anos. Em 1995, o sistema continha cerca de 500.000 entradas multilingues correspondentes a mais de 2,5 milhões de termos, acrescidos de cerca de 150.000 acrónimos e abreviaturas.

Quanto à preferência pela designação "conceito", vale a pena invocar o que diz, a este respeito, o Repertorium du Groupe Interinstitutionnel de Terminologie, de 1993: "Por exemplo, a palavra portuguesa 'direito' tanto pode significar um conjunto de leis e disposições legais, como a faculdade de praticar ou deixar de praticar um acto, como ainda um imposto ou uma taxa [estas acepções só esgotam a polissemia da palavra em análise no léxico técnico-científico, não incluindo outras acepções na linguagem corrente, por exemplo na frase 'siga a direito'. Nota do autor.] (...). O ideal seria realizar a equação impossível 'um termo = um conceito', tendo nesse caso o termo 'direito' um único sentido, situação que não se verifica em língua nenhuma (...). O especialista de línguas navega, portanto, entre numerosos escolhos, tendo em conta que deve adoptar ou adaptar termos propostos ou impostos por especialistas, criar novos termos com o apoio de especialistas, procurar equivalências linguísticas, respeitar o espírito de uma língua, etc." (João Maria Mendes)

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Informação Complementar

RTPi - Televisão Sem Fronteiras

Enquanto conceito, os canais públicos de radiotelevisão «sem fronteiras» são consensuais. No caso da RTP Internacional, é desde há cinco anos (data de lançamento: 10 de Junho de 1992) a lança audiovisual portuguesa não só em África, como no resto do Mundo. É, em termos de media, por assim dizer, o instrumento estratégico da lusofonia junto das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do Mundo. Mas se o conceito é inquestionável, os conteúdos que nele são injectados já podem ser discutíveis. E nalguns casos são-no — e muito. Designadamente no campo dos programas educativos. A difusão da cultura, da língua e do «ser» português não têm tido a atenção necessária no quadro de uma política lusófona do Estado português. A aposta numa programação generalista onde desponta um conjunto de cerca de 120 jogos de futebol/ano é paradigmática. As 24 horas de programação da RTPi são exclusivamente preenchidas por programas de língua portuguesa, na sua maioria produzidos pelos quatro canais da RTP (RTP1, RTP2, RTP-Açores e RTP-Madeira). Actualmente, a RTPi dispõe de uma rede de satélites que lhe permite cobrir os cinco continentes e ter uma audiência estimada em mais de 30 milhões de telespectadores: entre eles, o Hot Bird 2 sobre as regiões da Europa, Médio Oriente e Norte de África, com uma cobertura de cerca de 60 milhões de lares; na Ásia, através do Asiasat 2, a RTPi chega inclusive a Timor Leste; e na África, América do Sul e Costa Leste da América do Norte através do Express 2; na Costa Oeste pelo Galaxy 6. A RTPi é recebida potencialmente por mais de 25 milhões de pessoas nos cerca de 6,6 milhões de lares onde a RTPi é sintonizável, seja através das redes cabo e MMDS seja através do sistema DTH Digital.

 

RTP África

Precisamente no dia comemorativo do seu 40º aniversário, a RTP iniciava entretanto as emissões da RTP África, numa primeira fase integrada em espaço cedido pela própria emissão da RTPi. O grande objectivo da RTP-África é criar um espaço alargado de intercâmbio de programas e de parcerias com as televisões de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e S.Tomé e Príncipe. A sua emissão é de uma hora diária, com programação específica, incluída na emissão da RTPi. O conceito aponta para a existência de delegações nos PALOP e uma equipa em Lisboa e passar a canal autónomo a emitir 24 horas por dia. De acordo com Afonso Rato, "a RTPi sempre procurou espelhar a actividade das comunidades, e a sua cobertura televisiva de uma forma mais sistemática é uma das prioridades do futuro próximo".

Até ao fim de 1997, deverão estar os cinco continentes cobertos, em termos de actualidade televisiva. E já começou o investimento em programas concebidos a pensar nessas mesmas comunidades, como Sinais, Cidade Aberta, Na Ponta da Língua, Café Lisboa e Jardim das Estrelas. Dirigida a todos os grupos etários e aos diversos interesses culturais, a RTPi inclui na sua emissão programas com origem em países da CPLP – Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, tendo no conjunto uma grelha muito variada com informação, desporto, musicais, ficção, infantis, documentários e telenovelas, essencialmente. A médio prazo, antes do final do século, previsivelmente em meados de 1999, prevê-se o lançamento de um outro projecto neste âmbito, a RTP Brasil. Mas muito há ainda a fazer no sentido de reconfigurar este canal como um verdadeiro canal de difusão de uma política de lusofonia destinada a África, ao Brasil e às comunidades portuguesas da diáspora. (Francisco Rui Cádima)

 

A RTPi em números

A RTPi chega a mais de quatro milhões de lares em onze países europeus, através de centenas de redes de cabo. Prosseguem negociações com redes da Hungria, Suécia, Holanda e Rússia, visando novas audiências. A legislação de alguns países europeus, em matéria de direitos de autor, nomeadamente no Norte da Europa, é o principal obstáculo à penetração nestas redes de cabo. No Sul da Europa, nomeadamente em Itália e na Grécia, só recentemente se iniciaram os trabalhos de instalação de redes de cabo. A RTPi já iniciou contactos com vista à distribuição nestes dois novos mercados. Em França, através do CanalSatéIlite, um pacote digital, a nossa emissão é vista por mais de 300.000 famílias, estando prevista a ampliação da distribuição a outros países europeus, casos da Suiça, Bélgica, Mónaco e Espanha.

A RTPi tem um papel fundamental em todos os PALOP Com excepção de Angola, dispomos de uma rede terrestre em cada um destes países de língua oficial portuguesa. De referir igualmente a nossa presença no Senegal onde a RTPi pode ser vista em mais de 120 mil lares através do sistema MMDS, na grande Dacar. O Sul do continente africano é coberto também pelo sistema DBS da Multichoice, um pacote digital, através do qual chegamos a perto de 100 mil lares. O principal problema na distribuição da RTPi na América do Norte está no Canadá, onde legislação restritiva tem impedido a nossa penetração nas redes de cabo. Nos EUA, a RTPi está presente em cerca de 730 mil lares através das redes de cabo. Esta presença é mais significativa nos estados de Massachusetts, Rhode Island e Califórnia. A RTPi é a estação europeia de maior implantação neste mercado, servindo uma variada audiência de expressão lusófona, incluindo brasileiros, cabo-verdianos, angolanos e portugueses. Há negociações em curso para a distribuição através do DBS para toda a América do Norte, facto que permitirá completar a cobertura de todo o continente americano através deste sistema.

Na Venezuela, a cobertura da RTPi tem crescido significativamente através de redes de cabo e do MMDS. Essa cobertura tende a aumentar com o desenvolvimento das empresas de distribuição local No Brasil, a distribuição da RTPi é feita pela TVA, através de redes de cabo e MMDS, bem como por satélites DBS, chegando a mais de 800 mil lares. A RTPi está disponível em toda a América Latina, através da GLA (Galaxy Latin America), um sistema de recepção directo por satélite que este em grande expansão em todo o mundo e que complementa a distribuição das redes de cabo. A RTPi está, desde o início de Fevereiro, a ser distribuída no Japão através do sistema DBS da PERFECT TV. De salientar que no Japão existem cerca de 180 mil pessoas que falam português. Este sistema permite ainda a recepção em diversos países da região, nomeadamente em Macau e Hong Kong. Decorrem neste momento conversações com uma rede de cabo australiana para a distribuição da RTPi, o que permitirá chegar a mais de 70 mil portugueses. (Francisco Rui Cádima)

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* João Maria Mendes

Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Lovaina (Bélgica). Doutorando no Departamento de Ciências da Comunicação da UNL. Jornalista. Professor na ESTC.

* Francisco Rui Cádima

Doutorado em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Docente na Universidade Nova de Lisboa.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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