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Janus 2004



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Saúde e contactos internacionais

Pedro Ribeiro da Silva *

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O conceito de Saúde tem evoluído ao longo dos séculos, dependendo das diversas culturas, dos avanços técnico-científicos e das representações individuais e de grupo. Tradicionalmente a saúde está associada ao seu negativo, à sua ausência, que é a doença. Nos últimos anos a perspectiva que valoriza os factores qualitativos e positivos para a definição dos níveis de saúde tem aumentado a sua consensualidade entre a comunidade médico-científica e no público em geral. A saúde é assim indissociável das várias componentes das sociedades e da natureza. As condições de habitação, os transportes, o meio ambiente, o tipo de urbanismo e espaços verdes, os ciclos da natureza e as estações do ano, entre muitas outras variáveis, influenciam decisivamente a saúde das pessoas.

A forma como estes diversos aspectos afectam os indivíduos têm vindo a ser estudados, reconhecendo-se que, por vezes, pequenas alterações fáceis de realizar, podem ter impactes importantes e positivos no bem estar social. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, algumas empresas decidiram que, dentro de determinados limites, cada trabalhador pode escolher os seus horários segundo as suas necessidades pessoais ou familiares. Esta pequena inovação implicou aumentos da produtividade, diminuição muito marcada dos acidentes de trabalho e do absentismo por doença, bem como graus de satisfação elevados por parte dos trabalhadores.

As desigualdades perante a saúde, a doença e a morte, dos diferentes grupos socio-profissionais têm sido objecto de investigação por parte de cientistas sociais e de saúde pública. Os resultados daí obtidos mostram que os emigrantes e as minorias étnicas têm geralmente piores índices de saúde, com aumentos das taxas de morbilidade e mortalidade. Um estudo de Santos Lucas, publicado em 1985 (reportando-se a dados de 1981), sobre a mortalidade da população masculina portuguesa por classe ocupacional e grupo de idades, apesar dos dezasseis anos decorridos, é interessante de analisar pelas diferenças que torna patentes, fornecendo várias pistas de reflexão para futuras investigações.

Embora presentemente se valorize os aspectos qualitativos e positivos como indicadores de saúde, os dados que os países e as instituições internacionais continuam a utilizar para fazer diagnósticos sobre o estado de saúde das populações são essencialmente quantitativos baseando-se em variáveis de morbimortalidade. Tem-se constatado que aos países com melhores níveis sócio-económicos correspondem menores taxas de mortalidade infantil, de doenças infecciosas e um aumento da esperança de vida. Em todos os países da União Europeia as doenças do coração ou cérebro-vasculares e o cancro são as duas principais causas de morte. Os acidentes são a terceira causa de morte na Alemanha, Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Itália e Luxemburgo e apenas na Holanda não figuram nas cinco primeiras causas de morte.

Vários países apresentam um item definido por "Sinais e outros estados mórbidos mal definidos", que englobam situações em que não foi possível determinar a causa de morte. As doenças respiratórias são também uma importante causa de morte na maior parte dos países da UE. O suicídio é frequente na Áustria, Finlândia e França.

Ao contrário dos outros países da UE, em Portugal as doenças respiratórias, gastro-intestinais, hepáticas e o suicídio não figuram entre as cinco primeiras causas de morte, os acidentes estão em quarto lugar e a diabetes é a quinta causa, situação que apenas acontece em Itália.

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Informação Complementar

A saúde e as viagens

Nos últimos anos houve um grande aumento nas viagens e nos contactos internacionais e intercontinentais por turismo ou motivos profissionais, aumentando também a possibilidade de contrair diversas doenças. Este fenómeno não é recente; com os descobrimentos algumas doenças ocidentais foram fatais para comunidades de autóctones de diversas partes do Mundo e a Europa importou várias doenças desconhecidas até então. Este intercâmbio de doenças não se limita às patologias infectocontagiosas; algumas doenças genéticas foram também disseminadas pelo Globo do mesmo modo. Tudo indica que a paramiloidose teve uma origem única em Portugal, na Póvoa do Varzim, e daí se expandiu pelo Mundo, devido aos descobrimentos e contactos comerciais, com múltiplos países desde a Suécia ao Japão.

Diversos estudos permitem relacionar com Portugal os vários focos da paramiloidose, também conhecida por "doença dos pezinhos", espalhados pelo Mundo. A paramiloidose é uma doença genética, de transmissão hereditária, que afecta pessoas jovens — idade média de 31 anos — e, de forma progressiva, atinge os tecidos nervosos com perda de sensibilidade e da capacidade motora. Na Europa tem aumentado o número de pessoas portadoras de doenças não endémicas nesta região e importadas essencialmente das zonas tropicais. Um estudo efectuado no Reino Unido, com vários milhares de turistas, revelou que, destes, 14% necessitaram de cuidados médicos relacionados com doenças de importação.

Esta situação coloca vários problemas. Algumas destas patologias, como a febre amarela ou a malária, podem ser fatais. Por vezes o seu diagnóstico diferencial é difícil, até há pouco tempo estes quadros nosológicos praticamente não existiam no nosso continente e é possível numa fase inicial confundi-las com outras doenças mais frequentes no nosso quotidiano, atrasando assim o tratamento adequado. Este aumento de doenças de importação é devido não só ao acréscimo de viajantes, e à falta de cuidados preventivos, mas também à existência de microorganismos, como o que provoca a malária, que progressivamente se têm tornado resistentes aos medicamentos utilizados tradicionalmente. A malária e a febre amarela muito prevalentes nas áreas tropicais, podem causar grande sofrimento e provocar a morte se não forem tomadas as medidas preventivas específicas para cada uma delas. Não há tratamento para a febre amarela; a vacina, que se torna eficaz 10 dias após a vacinação e que tem a validade de 10 anos, é a melhor forma de protecção contra a doença.

Para a malária, também conhecida por paludismo, é necessário fazer quimioprofilaxia, a iniciar uma semana antes da partida, que deve ser mantida durante a estadia e prolongada até seis semanas após o regresso. A febre amarela, a malária e outras doenças tropicais como o dengue, tifo exantemático, Kala-Azar, doença do sono, doença das chagas, são provocadas por mordeduras de artrópodes/mosquitos; são, por isso, importantes medidas de prevenção, o uso de repelentes, de insecticidas, de roupa apropriada, especialmente ao anoitecer e de mosquiteiros durante a noite. Estas indicações tornam-se particularmente importantes nas estadias em zonas não urbanas. A doença mais comum dos viajantes é a diarreia; para a prevenir são aconselhadas algumas medidas gerais de higiene relacionadas com a água a ingerir e o consumo de alimentos. A vacina contra a Hepatite B é também prioritária, em especial, se viajar para zonas onde é muito prevalente. Existem outras situações a ter em atenção quando se viaja, como a desinfecção cuidadosa de feridas, os cuidados a observar quando se toma banho em águas doces ou se simplesmente se anda descalço.

O jet Llag ou síndrome de dessincronização é uma afecção típica das viagens aéreas, quando há a mudança rápida de mais de quatro/cinco fusos horários. Provoca alterações do ritmo sono-vigília, das secreções hormonais e até da temperatura corporal. Este fenómeno tem características diferentes consoante se viaja para Este ou Oeste. Existem várias medidas eficazes para diminuir os incómodos deste problema. O jet Llag e grande parte destas doenças podem ser evitadas se forem seguidas as medidas preventivas adequadas; com esta intenção, foram criadas em Portugal consultas de Medicina do Viajante, que fornecem a informação sobre os cuidados a observar relativamente à zona para onde se viajar e adequados à idade e ao estado de saúde do viajante.

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* Pedro Ribeiro da Silva

Licenciado em Medicina pela Universidade Clássica de Lisboa. Mestre em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Docente na UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Zonas da América em que a febre amarela é endémica

Link em nova janela As 5 principais causas de morte nos 15 países da União Europeia

Link em nova janela Taxa de mortalidade da população masculina trabalhadora

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