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Portugal: interfaces geoeconómicos europeus e mundiais (II)

José Manuel Félix Ribeiro *

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Este texto continua o do artigo anterior, desenvolvendo dois modelos suplementares de interfaces geoeconómicos europeus e mundiais para Portugal. No texto precedente, ocupámo-nos daquilo a que chamámos o Modelo Euro-Ibérico e o Modelo Euro-Continental. Aqui, vamos ocupar-nos do Modelo Euro-Atlântico e do modelo Euro-Global. Os quatro parâmetros que caracterizam estes dois últimos são, naturalmente, os mesmos que caracterizavam os dois primeiros.

Modelo Euro Atlântico

A caracterização deste Modelo organiza-se em torno dos seguintes parâmetros:

• Inserção da Economia Portuguesa na economia europeia e mundial centrada no Comércio Internacional e nos Fluxos de Investimento Directo Internacional, envolvendo quer a atracção de IDE, quer a Internacionalização dos Grupos Patrimoniais de base portuguesa; verificando-se uma expressão menos significativa dos Fluxos de Cooperação,

• Papel central dos Mercados Europeus no comércio internacional, em articulação com o espaço do Atlântico Norte e Sul; inserção numa nova divisão de trabalho ibérica com os pólos de maior valor acrescentado em Madrid, no "corredor" Catalunha/Valência, no vale do Ebro e também no "corredor" galaico-português;

• Importância menos significativa dos Fundos Estruturais da UE na dinâmica das actividades em Portugal; maior envolvimento dos EUA e Japão, em iniciativas económicas conjuntas nos PALOP; cooperação portuguesa centrada em Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial, Moçambique e Timor Leste; iniciativas económicas e tecnológicas conjuntas com países europeus em Macau;

• Papel crucial da atracção de Investimento Industrial oriundo do Norte e Centro da Europa e do Atlântico Norte, nomeadamente da Alemanha, dos EUA e das empresas multinacionais americanas sediadas na Europa;

• Alianças privilegiadas dos principais Pólos Patrimoniais portugueses com grupos de base em Espanha, mas apoiando-se mais em alianças com grupos de Itália, para "equilibrar" relações com grupos espanhóis; uma maior competição nos Sectores Infra-estruturais em Portugal reduziria a capacidade de estes funcionarem como pólos autónomos de acumulação patrimonial e internacionalização;

• Relacionamento directo com redes internacionais de carácter global centrado nas telecomunicações e no transporte marítimo de contentores; articulação dos principais portos portugueses com o seu potencial "hinterland" ibérico e europeu, em paralelo com a aposta na criação de uma rede europeia de "transporte marítimo de curta distância" e de alta velocidade; abastecimento energético pelo Atlântico;

• Funções Geoeconómicas caracterizadas pelo predomínio de funções de Plataforma Industrial de Integração; Nó de Movimentação de Mercadorias, contribuindo para a diversificação industrial; Espaço de Prestação de Serviços Pessoais; alguma expressão das funções de Espaço de "outsourcing "de Serviços às Empresas (vd. teletrabalho para funções de "backoffice" de empresas multinacionais);

• Estrutura das Conexões Internacionais marcada pelas relações com Espanha, completadas, na Europa, pelas relações com Alemanha e Itália e pelas relações com os EUA-Canadá, apontando para uma ligação mais pronunciada com o "Norte" desenvolvido e para uma ligação mais selectiva com o "Sul" emergente, concentrada em algumas "regiões" ou "corredores" mais dinâmicos dos espaços Argentina/ Brasil, África Austral e China.

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Modelo Euro Global

A caracterização deste Modelo organiza-se em torno do seguinte conjunto de parâmetros:

• Inserção da economia portuguesa na economia europeia e mundial centrada no Comércio Internacional e nos Fluxos de Investimento Directo Internacional, com expressão da "economia do imaterial"; valorização do território aproveitando a dinâmica global de "desterritorialização" do terciário; difusão rápida do ciberespaço como meio de internacionalização;

• Papel central dos mercados europeus no comércio internacional de Portugal, mas no contexto de uma exploração de oportunidades abertas no mercado global, por meio das redes de informação telemáticas; reforço da diferenciação de actividades face a Espanha, favorecendo uma nova divisão de trabalho ibérica;

• Importância menos significativa dos Fundos Estruturais da UE e dos quadros tradicionais europeus de cooperação com os ACP; cooperação portuguesa selectiva, centrada em Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Moçambique; formação de uma plataforma internacional de cooperação para viabilizar e valorizar Timor Leste; iniciativas económicas e tecnológicas em Macau, em colaboração com países da UE;

• Papel central da atracção do investimento directo internacional, em áreas do terciário e de indústrias mais intensivas em tecnologia; importância crucial neste processo das relações com EUA – Reino Unido, Alemanha, países escandinavos e Coreia do Sul;

• Alianças internacionais dos pólos empresariais portugueses com empresas de Espanha, Itália e EUA – Reino Unido; como no modelo anterior, uma maior competição nos Sectores Infra-estruturais em Portugal reduziria a capacidade de funcionarem como pólos autónomos de acumulação patrimonial e internacionalização;

• Aposta na relação privilegiada com as redes de informação globais, com os operadores logísticos do comércio intercontinental de mercadorias (incluindo o transporte aéreo de apoio ao "comércio electrónico") e com consórcios de transportadores aéreos de passageiros; aposta no "transporte marítimo de curta distância" a alta velocidade e na inserção de Portugal num corredor terrestre de "transporte combinado" trans-europeu, articulado com os portos do sul do País;

• Funções Geoeconómicas com maior grau de complexidade, caracterizadas pelo papel motor das funções de Espaço de Prestações de Serviços Pessoais; Base de Criatividade e Conhecimento (vd. serviços de "software" e informática); Espaço de "outsourcing" de serviços às Empresas; Plataforma de Subcontratação Industrial de Alto Valor acrescentado e Plataforma de Trânsito de Mercadorias e Pessoas;

• Estrutura das Conexões Internacionais marcada pelas relações que permitam uma inserção mais directa na dinâmica global, com destaque para o "eixo" EUA – Reino Unido – países escandinavos – Alemanha – Coreia do Sul, a "Norte" e em três pólos a "Sul": Brasil – Argentina, Índia – Singapura e África do Sul.

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* José Manuel Félix Ribeiro

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras.

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