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Onde estou: | Janus 1999-2000 > Índice de artigos > Dinâmicas e tendências > Economia, recursos e ambiente > [As relações comerciais com Espanha] | |||
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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! 1. Até meados dos anos 60. Neste período, o peso da Espanha no comércio externo de Portugal é muito baixo, representando apenas, em média, 1% entre 1951 e 1961, quer para as exportações quer para as importações. A taxa de cobertura das importações pelas exportações é, com poucas excepções, superior à que se verifica com os restantes países, vindo mesmo a balança comercial excedentária nalguns anos. Esta situação de equilíbrio da balança comercial não se voltará a repetir depois de 1964. 2. Desde meados dos anos 60 até à entrada na CEE. Neste período verifica-se um crescimento constante, embora não muito acentuado, do peso da Espanha nas importações, mas estabilização ou ligeira tendência de crescimento, acelerado no final do período, no caso das exportações. Agora, o peso da Espanha nas importações é sempre superior ao seu peso nas exportações e a taxa de cobertura passa a ser sempre inferior ao verificado no comércio total. Desde os finais dos anos sessenta até ao início da década de oitenta, as exportações dirigidas a Espanha apenas permitiam pagar cerca de um quarto das importações provenientes daquele país. 3. 1986-1991. Efeito fortíssimo da integração dos dois países na CEE. O peso da Espanha nas importações e nas exportações passa de cerca de 5% no início do período para 15% no final do período de transição, registando-se um comportamento paralelo das importações e das exportações. A taxa de cobertura tem uma recuperação razoável, com o máximo de 61% em 1990, muito próximo da taxa de cobertura do comércio com todos os países (65%). 4. 1992 -... Terminada a fase de transição, as empresas exportadoras portuguesas parecem ter esgotado o potencial do mercado espanhol. Mas isso não se verificou relativamente ao aproveitamento do mercado nacional por parte dos exportadores de Espanha. A partir de 1991/92 há uma quebra brusca na evolução das exportações para Espanha pelo que, até 1998, o peso deste país nas exportações portuguesas estabilizou nos 15%. Todavia, o seu peso nas importações continuou a processar-se a um ritmo semelhante ao observado no período de transição, pelo que a Espanha ocupa já o primeiro lugar destacado nas importações nacionais, com cerca de um quarto do total em 1998. Naturalmente, como consequência da evolução divergente das exportações e das importações a taxa de cobertura degradou-se, caindo para 43% em 1998, elevando também para mais de 40% o peso da Espanha no défice global da balança comercial portuguesa. A comparação entre as taxas de crescimento das trocas com Espanha e com os restantes países permite também destacar os efeitos da integração e as alterações pós Mercado Único. Durante o período 1970-85, as trocas comerciais com Espanha evoluíram a um ritmo superior ao verificado com o resto do mundo. Este contraste será, no entanto, muito mais intenso no período 1985-91, onde as exportações para Espanha crescem a uma taxa quase tripla da que se registou com os restantes países e as importações provenientes de Espanha cresceram a uma taxa dupla da de outras origens. Note-se que as exportações para Espanha expandiram-se a uma taxa superior à das importações provenientes daquele país, contrariamente ao comércio com outros mercados, onde as importações cresceram mais que as exportações. Todavia, a alteração mais relevante e que importa aqui realçar é a que se traduz no fortíssimo contraste entre este período e o período pós-transição/pós-Mercado Único. Agora, as exportações para Espanha crescem a uma taxa (6%) que é metade da das importações (12%) provenientes deste país e aquela taxa de crescimento é mesmo inferior à registada nas exportações para outros destinos (7%). Além disso, tem-se aqui uma dinâmica exactamente inversa da registada nas trocas com o resto do mundo, onde as exportações cresceram a uma taxa que é mais de duas vezes a das importações. A decomposição das trocas comerciais de produtos manufacturados entre Portugal e Espanha revela que a sua intensidade em tecnologia é ainda baixa. Assim, tomando a média do período 1995-97, apenas 6% das exportações de Portugal para Espanha se enquadram numa classificação de "alta tecnologia", percentagem que sobe para 16% do lado das importações. Naturalmente, a Espanha, apesar de ser um país já mais desenvolvido, não é radicalmente diferente de Portugal em termos tecnológicos, pelo que a integração do mercado ibérico significa, em larga medida, concorrência dos produtores de Espanha e Portugal em gamas de produtos similares. Neste mercado integrado, a agressividade de Espanha nos últimos anos tem-se revelado superior à de Portugal em quase todos os sectores. Nos gráficos (ver Infografia) comparam-se as dinâmicas das importações e exportações de Portugal de (para) Espanha, por sectores construídos a partir de uma nomenclatura mais desagregada (exclui-se energia). Apenas nos casos de "móveis e artigos de madeira", "pasta de papel e papel" e "minerais" – sectores directamente ligados a recursos naturais –, a dinâmica das importações de Espanha nos últimos anos não ultrapassou a das exportações para aquele país. Mesmo no caso dos tradicionais "têxteis e vestuário" começam a registar-se algumas dificuldades concorrenciais. Os resultados do primeiro período pós-integração vieram desmentir algumas previsões catastrofistas para a economia portuguesa, em particular para a indústria, decorrentes da entrada do país na CEE. Um dos principais efeitos da adesão envolveu a normalização das relações comerciais com Espanha e o primeiro embate foi positivo. Todavia, o aprofundamento da integração ibérica no contexto da União Europeia parece revelar algumas debilidades competitivas das empresas portuguesas face às espanholas. A continuação das tendências observadas nos últimos anos, com crescimento muito mais acentuado das importações do que das exportações não é o único cenário de evolução possível. Mas não restam dúvidas que as empresas nacionais precisam rapidamente de adquirir outro dinamismo, num contexto de pressão concorrencial crescente, de globalização e de integração regional e onde conceitos como qualidade, produtividade, inovação e tecnologia assumem papel cada vez mais importante.* João Dias Doutorado em Economia pelo ISEG. Docente no ISEG. Dados adicionais Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas (clique nos links disponíveis) Peso da Espanha no comércio esterno de Portugal Taxa média anual de crescimento das exportações e importações portuguesas Decomposição das trocas de Portugal com Espanha por nível tecnológico Comércio Portugal-Espanha: importações e exportações por sectores
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