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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! Segundo estimativas do início da década de 80, com base em levantamentos e projecções anteriores, e que têm em conta a necessidade de, em alguns casos, ser preciso falar de "famílias de línguas" e não de idiomas claramente unificados, a família chinesa (com o mandarim à cabeça) representava 900 milhões de pessoas, a família indiana indo-europeia (com o hindi à cabeça) 450, o inglês 369, o espanhol 225, o russo e o bielorrusso 170, o português 133, o japonês 120. Estas eram as línguas ou famílias de línguas faladas, cada uma delas, por mais de 100 milhões de pessoas, no mundo, como línguas maternas. O francês representava então 95 milhões, o alemão e o árabe 85. Apesar da evolução destes números no último quartel do século, a posição relativa de cada uma das componentes deste conjunto não se alterou. De acordo com a projecção da União Latina para o ano 2000, será de 230 milhões o número de pessoas que, no fim do milénio, falarão português. Este salto fica a dever-se, como dissemos, ao fenómeno demográfico brasileiro, que corresponde à dimensão territorial do país: o Brasil estende-se por 8.511.189 km2, ocupando quase metade da América Latina. Duas das suas cidades, Rio de Janeiro e São Paulo, já contavam nos anos 80 mais de cinco milhões de habitantes cada uma, seis outras (Recife, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Brasília), mais de um milhão, e 30 outras mais de 100 mil. Deduzida das projecções da União Latina, a distribuição geodemográfica do português é a seguinte: a sua maior implantação (85 % do total de locutores) é sul-americana, e é o Brasil que a determina; a segunda é europeia, sobretudo se lhe agregarmos o peso da diáspora portuguesa; a terceira é africana (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe); a quarta, residual, é asiática (Timor e Macau). A soma dos locutores não brasileiros do português representará então um máximo de 30 milhões de pessoas -15 % do total. Quanto a Portugal, país de origem desta língua, e que a mundializou a partir do séc. XVI, a sua população é de cerca de 10 milhões de pessoas, embora se avalie em mais de quatro milhões o número de portugueses expatriados e que constituem a permanente diáspora nacional (emigrantes de 1ª, 2ª e 3ª geração; o segundo e terceiro grupos devem ser considerados mais precisamente "luso-descendentes"; a sua relação com a língua portuguesa diminui à medida que se integram localmente). Comparativamente com o português, o espanhol (castelhano) contava, segundo dados de 1982, 230 milhões de falantes na América Latina, 38 milhões em Espanha e cerca de 20 milhões nos E.U.A. (estados do Sul e colónias de porto-riquenhos), Filipinas, Médio Oriente (judeo-espanhol) e África (Ceuta, Melilla). Total nessa data (com base em levantamentos anteriores): 288 milhões de falantes. Terão ultrapassado os 300 milhões poucos anos depois. A posição de um idioma é definida pelo seu carácter de língua materna, mas também pelo seu uso veicular, ou seja, como língua segunda de comunicação para populações cuja língua materna é outra. Do ponto de vista demográfico, as principais línguas veiculares são o mandarim e o hindi. O francês, na África ocidental, e o inglês, na Índia e na África austral, são veiculares. É o caso, em menor escala, do português em Angola e Moçambique. Outros exemplos de línguas veiculares são o haussa na Nigéria e seus vizinhos, o suaíli na África oriental, etc. A vertente veicular ganhou novo contorno decisivo no mundo de hoje: ao longo do séc. XX, o inglês beneficiou do seu progressivo predomínio como língua franca na vida económica e política e na indústria de conteúdos (mercado mundial do livro, audiovisual globalizado e outros sectores da comunicação), e é agora a língua internacional por excelência (embora não em termos demográficos), como outrora aconteceu, na Europa, primeiro com o latim e depois com o francês.
Situação nos PALOP’s Não existe quantificação fiável sobre o número de falantes de português nos países africanos de língua oficial portuguesa. Entre estes, Angola é primeiro em extensão (1.246.700 km2 na transição entre a África central francófona e a África austral anglófona) e segundo em população (entre oito e dez milhões de naturais). A população é maioritariamente bantu (Ovimbundus, a etnia-chave, Mbundus, a etnia de base do MPLA, e Bakongos; em menor número, Linda-Quiocos ou Tschokwe, Ganguelas, Nhaneca-Humbe e Ovambos). As línguas bantos são ininteligíveis entre si, e aos bantos acrescentam-se, em pequeno número, Bosquímanes. O português, língua colonial, foi "naturalmente" usado pelo MPLA e por outros partidos como factor de coesão nacional. É a língua do Estado e da administração. Não se conhece o número de falantes de português no país, mas são uma parte significativa da população. Moçambique é o segundo PALOP em extensão (de valor incerto: entre 783.000 e 801.590 km2, devido à indefinição da parte moçambicana do lago Niassa ou Malawi) e o primeiro em população (15 milhões prováveis em 1988). Os bantos são maioritários; distinguem-se pelo menos dez etnias importantes. A maior, a Macua-Lomué (Makua-Lomwe), representa 40% da população. Depois vêm os Ajáua (Yao), Makonde, Nianja, Chewa, Swahili, Shona e seus aparentados, Chope, Bitonga e Thonga. À pulverização étnico-linguística sobrepõem-se populações de origem marave e shona, mas mestiçadas por influência de árabes, indianos, portugueses. Como em Angola, depois da independência, foi o partido do poder – a Frelimo – que promoveu o português como língua de coesão nacional, porque as línguas das etnias são, igualmente, mutuamente ininteligíveis. O país aderiu em 1996 à Commonwealth, abrindo-se mais à influência anglófona. O português só será língua materna para 10% dos moçambicanos (incluindo brancos e mestiços). A Guiné-Bissau – 767.469 recenseados cinco anos depois da independência, divididos em cerca de vinte etnias, as mais importantes das quais são os Balantas, os Fula (Peul), os Manjaco, os Mandinga (Malinké) e os Papel – é um pequeno implante lusófono na África francófona. O português é língua oficial, falada por 10 % dos habitantes, mas é o crioulo local a língua veicular, falada por 60% da população. A francofonia envolvente pode prejudicar, a prazo, a posição local do português. Em Cabo-Verde e em S. Tomé e Príncipe, os crioulos locais dominam.
Ortografias e oralidades A língua portuguesa segue duas normas ortográficas, a do Brasil e a de Portugal. A primeira, demograficamente dominante, não atingiu, no entanto, os PALOP’s, que seguem a norma do português de Portugal. Nos PALOP’s, porém, a língua falada manifesta tendência para se aproximar do português do Brasil, de vogais abertas, mais "sonoro" e mais fácil de aprender do que o português de Portugal. A par das actualizações ortográficas regulares, autonomamente feitas em Portugal e no Brasil, e que não interferem com a dupla ortografia de grande número de palavras, nem com a especificidade nacional de uma fracção do vocabulário, os sete países de língua oficial portuguesa tentaram, em 1990, a unificação das normas do português escrito. Um acordo foi virtualmente alcançado, mas não chegou a ser aprovado pelos poderes políticos dos parceiros e manteve-se "letra morta". Em matéria de dinâmica do vocabulário, o português do Brasil lidera a língua, pela rapidez com que incorpora novos termos, adaptando-se à mudança das línguas mais velozes a criar e socializar novos léxicos – designadamente o inglês. Em conjunto, o português apresentará, numa área tão sensível como o léxico técnico e científico, um atraso de cerca de 400 mil palavras face ao inglês – atraso partilhado, em menor grau, pelo espanhol. Em 1976, foi criado o Thesaurus luso-brasileiro, com o objectivo de padronizar e actualizar o léxico técnico e científico. A distância que separa o português do Brasil e o português de Portugal, em matéria de vocabulário e ortografia, condiciona a circulação dos produtos das respectivas indústrias de conteúdos, quando assentes sobretudo na língua escrita: o livro português entra mal no mercado brasileiro, se não adaptado ou "traduzido", e maus hábitos comerciais vieram acentuar essa rejeição. Pelo contrário, a penetração de produtos culturais e de entretenimento brasileiros em Portugal acentuou-se fortemente no último quartel do século XX: à tradicional boa recepção, em Portugal, da música popular brasileira, veio acrescentar-se a penetração maciça de produtos televisivos exportados pelo Brasil para todo o universo lusófono, a começar por Portugal. Lateralmente ao idioma propriamente dito, sumariemos em poucas palavras a situação dos crioulos gerados ao longo da história colonial: são hoje línguas vivas os crioulos de Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé, Príncipe e Ano Bom (os três últimos designados por crioulos do Golfo da Guiné); têm expressão residual os de Macau (sino-português), Ceilão, Malaca e Singapura (que sofreram influências decisivas do malaio e do inglês) e o Kriôl, ainda falado no Senegal; estão extintos os de Goa, Mangalor, Coromandel (indo-portugueses), Hong Kong (sino-português), o malaio-português de Java e os do Brasil (que eram falados por populações africanas em certas zonas do território).
Política da língua em Portugal (1) É banal, em Portugal, a ideia de que não existe uma política de defesa e de expansão da língua. Mas alguns passos têm sido dados, nos últimos anos, com vista a uma nova sustentação do país nesta matéria. Refira-se em primeiro lugar, dada a importância adquirida, no último quartel do séc. XX, pela televisão como medium privilegiado da "cultura popular", a criação nos anos 90, pela RTP, de um Canal África e da RTP Internacional, esta especialmente dedicada às comunidades portuguesas. É cedo para avaliar resultados destas experiências, mas elas não deixarão de aumentar a audibilidade do português de Portugal no mundo lusófono. Um Canal Brasil deveria entrar em funcionamento ainda em 1999. O Instituto Camões visa, entre as suas prioridades, apoiar e difundir o português e a aprendizagem da língua. Do Orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros para 1997 (48 milhões de contos), o Instituto terá recebido 3,2 milhões, além de mais 200 mil para a instalação de centros culturais no estrangeiro. Os 159 leitorados espalhados pelo mundo absorvem 1,44 milhões de contos anuais, a que se acrescentam pequenas verbas para actividades de apoio: 15 mil contos para jornais, cinco mil para livros, pouco mais de mil para viagens, três mil para conferências de autores e professores portugueses no estrangeiro, pouco mais de 1.500 para formação. Entre 15 e 20 mil contos são gastos no envio de publicações directamente para os leitorados. O Instituto pretende estar presente na Internet e tenciona editar biografias de grandes vultos da cultura portuguesa e lusófona, mas são escassos os seus meios para instalar novos centros culturais e melhorar os serviços dos existentes. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), criada em 1996, visa, entre outros objectivos, a defesa do idioma, e da sua projecção internacional. No seu âmbito, em 1998, foi decidida a criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que se localizará na Cidade da Praia (Cabo Verde). O facto de o português ser uma língua falada, hoje, por mais de 200 milhões de pessoas, torna-a, em termos demográficos, uma das "grandes línguas" mundiais. A situação do espanhol não é estruturalmente distinta da do português, mas as diferenças entre os dois universos favorecem o espanhol: a influência política, económica e cultural do universo hispanófono, quer na sua vertente europeia quer no continente americano (incluindo a crescente relevância do espanhol nos E.U.A., onde se tornou claramente na segunda maior língua materna), faz a diferença. A importância demográfica do Brasil, a política exterior brasileira com a sua nova agressividade no espaço lusófono, a nova visibilidade e integração europeia de Portugal e a evolução da posição da língua colonial nos PALOP’s determinarão a influência e o peso do português no mundo de amanhã. Posição relativa do português entre as línguas do grupo românico no início da década de 80 Línguas maternas de mais de 100 milhões de pessoas no início da década de 80
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