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Timor-Leste no semanário "Expresso”

Graça Matos *

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Timor-Leste integra hoje a "opinião pública" nacional — entendida como a estrutura temática institucionalizada da comunicação pública. Contudo, a centralidade que o tema actualmente detém no nosso país corresponde ao culminar de um longo processo de aquisição de visibilidade e eco público, no qual os meios de comunicação social desempenharam um papel determinante. O estudo que realizámos teve como objecto a cobertura jornalística do tema num dos órgãos de referência do panorama mediático nacional, o semanário Expresso, no período que medeia entre 25 de Abril de 1974 e 31 de Dezembro de 1996.

A quantidade de peças publicadas sobre o tema ao longo dos 23 anos em análise permite constatar a discrição com que foi tratado até finais da década de 80. Somente a partir de então Timor-Leste foi abordado com maior frequência nas páginas do jornal, atingindo os valores máximos em 1991,1992 e 1996. À semelhança do que sucedeu em 1988, a partir de 1991 e até ao final de 1996 — data da outorga do Prémio Nobel da Paz a D. Ximenes Belo e a José Ramos Horta — o número de peças publicadas permite constatar a inclusão do tema na agenda do semanário.

 

Timor-Leste invadido

A invasão de Timor-Leste pela Indonésia, a 7 de Dezembro de 1975, pôs fim ao processo de autodeterminação iniciado meses antes. No auge da Guerra Fria, com uma disputa aberta das duas superpotências, EUA e URSS, pelo alargamento/manutenção das suas zonas de influência, Jacarta pôde contar com o apoio camuflado das potências ocidentais, e das vizinhas Austrália e Nova Zelândia, ao inviabilizar o estabelecimento de um foco de influência comunista na região.

Apesar das condenações à invasão contidas nas resoluções então adoptadas pelo Conselho de Segurança da ONU, a conjuntura internacional permitiu o bloqueio então imposto pela Indonésia. Impedindo o acesso de estrangeiros e dificultando a circulação de pessoas e de informações, a Indonésia fechou Timor-Leste ao mundo, impedindo a verificação in loco do que aí se passava e negando todas as acusações de atrocidades de que era alvo. A análise da proveniência geográfica da informação e das fontes utilizadas pelo jornal revela uma predominância da informação recolhida no próprio país, junto de fontes oficiais (governantes e diplomatas), bem como dos representantes da Resistência Timorense no exterior. A restante informação é oriunda da Austrália, dos EUA e da própria Indonésia.

Sem sustentáculo visual, sem fontes de informação no seio dos refugiados timorenses dispostas a identificar-se, por receio de represálias sobre os seus familiares ainda em Timor, num cenário em que o poder político nacional aceitava a anexação do território na Indonésia como um fait accompli, eram estas as modalidades de cobertura jornalística possíveis, pelo que o genocídio do povo timorense decorreu sem que a maioria dos portugueses dele tivesse conhecimento.

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Silêncio quebrado

O silêncio foi interrompido a partir do início da década de 80, registando então o tema pequenos picos de notoriedade que se prenderam sobretudo com acontecimentos ocorridos fora de Timor-Leste. Tal sucedeu em 1981, com a divulgação do relatório oficial da descolonização de Timor no nosso país; em 1982, quando o Governo português lançou uma ofensiva diplomática internacional em prol da defesa do direito dos timorenses à autodeterminação; em 1984, com a polémica que se instaurou em torno do início das conversações secretas entre Portugal e a Indonésia sobre o futuro do território, bem como o debruçar de atenção sobre a situação dos refugiados timorenses em Portugal, e em 1986, com a realização de sessões sobre Timor-Leste na Comissão dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra.

Quanto à informação sobre os acontecimentos no interior do território, ela era veiculada sobretudo por fontes ligadas à Igreja Católica, pêlos grupos de solidariedade entretanto criados no nosso país, com destaque para a Comissão para os Direitos do Povo Maubere, pêlos membros da Resistência no exterior e ainda por refugiados timorenses.

 

Timor-Leste: uma causa possível

Em 1988 o volume de peças publicadas pelo Expresso sobre o tema atingiu valores inéditos ate então, em consequência da adopção da defesa da causa timorense pelo sistema político nacional, bem como pelo próprio jornal. Passou a haver consenso e empenho efectivo de todos os órgãos de soberania nacionais (Governo, Parlamento e Presidente da República) no respeitante à defesa do direito do povo timorense à autodeterminação. Transformado, então, em trunfo capital da política externa portuguesa, Timor-Leste constituiu-se como tema de debate em Estrasburgo, Genebra e Nova Iorque; num clima internacional hostil, a Indonésia viu-se obrigada a retirar a sua candidatura à presidência do Movimento dos Não-Alinhados. Neste mesmo ano o subdirector do Expresso, Vicente Jorge Silva, propôs-se transformar Timor-Leste numa causa nacional, inscrevendo o tema na agenda do jornal.

No início de 1989, em reacção aos desaires sofridos no ano anterior, a Indonésia levantou parcialmente o bloqueio imposto. A partir de então, a cobertura jornalística do tema passou a ser feita em novos moldes: da acessibilidade a visitantes e jornalistas resultou a maior comunicabilidade da situação vivida no território, passando também a haver imagens daquilo que era dito. Ao realizar a cobertura da visita oficial de João Paulo II a Timor-Leste em 1989, ao utilizar novas fontes — membros da rede de resistência em Dili e Jacarta, D. Ximenes Belo e o próprio conselheiro de Suharto, Lopes da Cruz — e ao enviar em 1991 o jornalista Mário Robalo ao território, em vésperas da realização de uma programada visita de parlamentares portugueses a Timor-Leste, o Expresso empreendeu um esforço notório no sentido de definir os contornos da apresentação pública do tema, num processo cumulativo que levou à percepção pública de que a integração dos timorenses na Indonésia não estava consumada e de que estes, apesar da repressão violenta de que eram alvo, estavam dispostos a lutar pela sua liberdade.

 

Timor-Leste institucionalizado

Após o cancelamento da visita dos parlamentares portugueses a Timor-Leste, a 12 de Novembro de 1991 teve lugar o acontecimento que levou à inscrição do tema na agenda mediática internacional e à sua institucionalização no nosso país: o massacre do cemitério de Santa Cruz. A crueldade das tropas indonésias patente nas imagens captadas pela câmara de Max Stahl correram mundo. Aliadas aos relatos de testemunhas credíveis, elas determinaram a emergência do tema no plano internacional: a violação dos direitos humanos por parte da Indonésia transformou Timor-Leste num tema que diz respeito a toda a Humanidade.

 

Informação complementar

Imagem e opinião pública

Em Outubro de 1998, apenas 48% dos inquiridos declararam seguir a evolução da situação em Timor-Leste, no decorrer de uma sondagem encomendada pelo Expresso à Euroexpansão, destinado a medir o grau de institucionalização do tema no nosso país.

Três anos mais tarde, em Dezembro de 1991, cerca de um mês depois da ampla divulgação pela TV das imagens do massacre de Santa Cruz, foram publicados os resultados de uma nova consulta realizada ao painel Expresso/Euroexpansão. As perguntas desta vez formuladas com base no pressuposto de que qualquer inquirido conhecia o tema e estava apto a emitir uma opinião a seu respeito: 55% dos inquiridos considerara a reacção global do Presidente da República, do Governo e do Parlamento pouco firme, enquanto que para 66% ela não fora suficientemente rápida.

O eco público do vídeo do massacre de Santa Cruz provou que Timor-Leste se transformara num tema importante para os portugueses.

A divulgação internacional, pela televisão, das imagens de Max Stahl constituiu em si mesma um acontecimento e transformou Timor-Leste num tema da comunicação pública internacional.

À distância de vários anos, podemos hoje perguntar-nos se o destino de Timor-Leste teria sido o mesmo sem tais imagens…

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* Graça Matos

Mestre em Comunicação pelo ISCTE. Docente da Escola Superior de Comunicação Social.

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