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Mercados e matérias-primas

Henrique Morais *

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Os mercados das principais matérias-primas evidenciaram ao longo das últimas décadas uma profunda instabilidade, tanto a nível dos preços, como na organização e dimensão da oferta ou ainda na actuação, muitas vezes monopolística, de vendedores e compradores. Esta realidade é bem evidente nos metais preciosos, com destaque imediato para o ouro, mas também no petróleo ou nos chamados produtos de base do sector agrícola. Embora tenham sido desenvolvidos esforços no sentido de propiciar alguma estabilidade dos preços e das quantidades produzidas, com o estabelecimento, nomeadamente no âmbito das Nações Unidas e da União Europeia, de programas integrados para os produtos de base que, de uma forma geral, visavam a criação de stocks reguladores e de mecanismos de controlo ao nível da produção e do comércio internacional (1), a verdade é que ciclicamente eclode uma crise que afecta acentuadamente a economia mundial, sobretudo quando a matéria-prima envolvida tem um nome: petróleo.

 

Petróleo: as notícias do Médio Oriente

O preço do petróleo tem vindo a apresentar nos mercados internacionais uma instabilidade que, ciclicamente, assume maior amplitude. Deste modo, para além da grande crise do petróleo de 1973, na sequência da guerra do "Yom Kippur", e da crise de 1979 no Irão, é de assinalar quatro momentos particularmente marcantes: • o primeiro, com início em finais de 1985 e termo em Julho de 1986, em que o preço do petróleo rapidamente passou de 30,8 dólares norte-americanos por barril para 8,8 USD/barril;

• o segundo surgiu em meados de Abril de 1990, altura em que o preço do crude rondava os 15,3 USD/barril, tendo o seu epílogo em finais de Setembro de 1990, com o petróleo a ultrapassar os 41,2 USD/barril, para em finais desse ano estar novamente abaixo de 20 USD/barril;

• entre Janeiro de 1997 e Dezembro de 1998, o preço baixou de 25 para 9 USD/barril;

• finalmente, desde o início de 1999, assistiu-se a uma escalada do preço, que se situa actualmente acima dos 30 USD/barril.

Embora nalguns destes momentos tenham sido factores não directamente económicos a desencadear a crise, de que o exemplo mais evidente é a Guerra do Golfo em 1990/91 e a posterior reorganização do tecido produtivo com as sanções impostas ao Iraque, no geral ela tem resultado do confronto entre uma OPEP hesitante entre aumentar a produção e assim permitir uma queda dos preços ou, ao invés, manter restrições à produção e os preços em alta. Atentemos nalguns exemplos recentes: em Março de 99, o preço do petróleo rondava os 14 dólares por barril, tendo a OPEP decidido então diminuir a produção em cerca de 1,7 milhões de barris/dia. Passados 12 meses, o preço estava já acima dos 30 USD/barril. Nessa altura, a OPEP volta a aumentar a produção, sensivelmente no montante anteriormente referido e, como seria de esperar, os preços caem rapidamente mais de 5 dólares por barril.

Todavia, nos últimos dois anos, algo se alterou no comportamento do mercado. Em primeiro lugar, os stocks a nível mundial e, em particular, nos Estados Unidos foram diminuindo progressivamente, devido à alta dos preços. Por outro lado, e não menos importante, a actividade económica a nível internacional acelerou mais do que seria de esperar, o que provocou um significativo aumento da procura.

Deste modo, pressionados pelas nações mais industrializadas, sobretudo pelos norte-americanos, alguns países no seio da OPEP começaram a encarar a hipótese de alargar, ainda que unilateralmente, as suas quotas de produção. Adormecida que parece estar a alternativa nuclear, sobretudo depois de 1986, com o acidente de Chernobil e a súbita descida do preço do crude, o Ocidente industrializado parece agora voltar-se para aquela que poderá ser a fonte energética mais importante no século XXI: o gás natural. Entretanto, o mundo continua a aguardar por boas notícias, algures do Médio Oriente.

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Ouro: o fim de um ciclo ou uma crise temporária?

Quando em finais de 1987 o ouro ultrapassou os 500 dólares por onça, ninguém ousaria sequer imaginar que, dez anos passados, o metal precioso pudesse estar cotado a pouco mais de metade. A verdade é que, desde esse máximo histórico, o preço do ouro tem vindo a cair de forma sustentada, apesar de alguns sinais mais optimistas que logo se desvanecem.

Ao longo dos tempos, o ouro foi sendo visto como (um) a reserva de valor, o activo que permaneceria sólido quando tudo o resto desmoronasse. Com o fim da "guerra fria" e a ascensão dos Estados Unidos a potência mundial única, esse papel passa paulatinamente para o dólar, o que teve naturalmente consequências negativas para o valor do ouro nos mercados internacionais.

Todavia, os factores económicos têm sido igualmente devastadores. O advento da União Europeia rapidamente tornou clara a existência de um profundo excesso de reservas de ouro nos cofres dos bancos centrais nacionais, que não faria sentido preservar no quadro de um banco central único. Os mercados, como quase sempre, rapidamente anteciparam aquilo que viria afinal a acontecer em 1999, com vendas massivas de ouro — ver informação complementar. Por outro lado, é usual os produtores das principais matérias-primas recorrerem aos chamados "mercados de derivados" (em especial, os contratos de futuros) para realizarem o hedging das respectivas posições, i.e., fixar antecipadamente o preço de venda dessas matérias-primas. Esta estratégia tem tido um efeito nefasto nos preços do ouro, uma vez que, ao aceitarem fixar a prazo o valor deste activo, os principais produtores estão afinal a cercear as possibilidades de valorização futura.

É aliás sintomático que o anúncio de duas das maiores empresas mineiras canadianas (e mundiais) de que iriam diminuir ou suspender os seus programas de hedging tenha sido aparentemente suficiente para que, em Fevereiro do corrente ano, o ouro se valorizasse, num só dia, 10%, passando de 288 para 317 USD/onça. Todavia, assim que o mercado assimilou que tal estratégia seria meramente pontual, o preço voltou a cair para os 290 USD/onça.

 

Platina: o livre jogo da oferta e da procura revisitado

A platina registou nos anos 90 um fenómeno relativamente idêntico ao que foi descrito para o ouro, com os preços a caírem quase 50% face aos valores registados no final da década de 80. Todavia, sendo a platina essencialmente utilizada para fins industriais (joalharia), o comportamento dos preços esteve associado normalmente a fenómenos estritamente de mercado. O principal produtor de platina é a África do Sul, responsável por 80% da produção mundial.

O segundo produtor mundial, também destacado, é a Rússia. Ora, foi precisamente este país que esteve na origem da recente subida do preço da platina, que passou de valores na ordem dos 350 dólares por onça/troy, em meados de 1999, para os 570 dólares que se verificam actualmente. Na verdade, as vendas da Rússia desceram, em 1999, cerca de 40%, criando importantes desequilíbrios no mercado e induzindo um acentuado aumento dos preços. Quanto às restantes mercadorias, a avaliar pêlos elementos disponíveis, nomeadamente os índices de preços divulgados pela Bloomberg (2), entre 1996 e 1999, os preços internacionais das mercadorias terão, em termos médios, descido cerca de 30%. No entanto, a partir de então, este índice não mais parou de crescer, sobretudo no que diz respeito aos mercados europeus, o que está associado ao comportamento altista dos preços dos bens energéticos.

 

Informação complementar

O ouro dos bancos centrais

Conscientes de que a manutenção de elevadas reservas em ouro não mais se justificava, atendendo à afirmada constituição de um banco central europeu, e penalizados pela queda do preço no mercado internacional do metal precioso, alguns bancos centrais dos países da área do euro implementaram programas de venda de parte significativa das suas reservas. O Reino Unido iniciou em Julho de 1999 um programa que aponta para a venda de 415 toneladas de ouro (na altura as suas reservas ultrapassavam as 700 toneladas), tendo sido estabelecidas, até Março de 2001, vendas de 275 toneladas, repartidas por 11 leilões. Também a Holanda anunciou a intenção de alienar 300 toneladas nos próximos 5 anos. No entanto, o anúncio mais importante é, sem margem para dúvidas, o da Suíça, que pretende vender, nos próximos cinco anos, 1300 toneladas de ouro. É aliás opinião unânime dos principais analistas do mercado de que, apesar dos cuidados com o que as autoridades helvéticas estão a proceder a essa venda (com leilões relativamente reduzidos e espaçados no tempo) dificilmente o ouro, nas actuais circunstâncias, poderá suportar este aumento da oferta sem que o preço deixe de se ressentir significativamente.

__________
1 A própria Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), tantas vezes apontada como "causadora" dos aumentos de preço do crude, tem por vezes tentado desempenhar um papel estabilizador. Veja-se, por exemplo, a intenção expressa, já no corrente ano, de estabilizar os preços numa banda de 22-28 USD/barril, através de alterações das quotas de produção.
2 Este índice integra as seguintes componentes: energia, gado, cereais, metais de base, bens alimentares e metais preciosos.


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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo ISEG. Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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