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G5..., G6..., G7..., G8..., G?

António Monteiro *

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O G8 tem as suas raízes no primitivo embrião do G5 quando, em 1973, o então Secretário de Estado do Tesouro americano, George Schultz, convocou os Ministros das Finanças da França, Japão, Reino Unido e República Federal da Alemanha para uma reunião. O objectivo era analisar como fazer face à primeira crise do petróleo da OPEC e subsequente recessão económica nos países mais industrializados, ao colapso do sistema monetário das taxas de câmbio de paridades fixas de Bretton-Woods e ao alargamento da CEE.

Logo no ano seguinte, a França e a então RFA pressionaram para que aquele tipo de reunião tivesse continuidade, mas ao nível de Chefes de Estado e de Governo. Daqui resultou a primeira reunião do G6 com aquele formato, agora também com a participação da Itália, que se realizou em Rambouillet, França, em Novembro de 1975 — de um ponto de vista mais ou menos generalizado este é considerado o momento da institucionalização do Grupo. A este "G" juntaram-se progressivamente o Canadá, em 1976, na Cimeira de Porto Rico — o grupo passa oficialmente a G7 — e a CEE, na Cimeira de Londres de 1977 — o grupo manteve-se oficialmente G7 já que as Comunidades ficam num patamar abaixo dos membros que são Estados soberanos.

O G7 estabelece-se, assim, com a preocupação fundamental de se dedicar aos mais importantes e urgentes assuntos macroeconómicos, tais como o estabelecimento de um sistema de paridades cambiais operacional, fornecendo orientações para os ainda incipientes e frágeis FMI e Banco Mundial, ambos criados, entre outras razões, para substituir o referido falido sistema de taxas de câmbio de paridades fixas. E assim foi que, logo no "menu" da Cimeira de Porto Rico, de 76, fizeram parte, para além dos assuntos da reforma monetária, os preços do petróleo e o crescimento económico e o "Tokyo Round" sobre o GATT.

O leque de temas a que o Grupo se dedicava iria, contudo, sofrer uma expansão significativa a relativamente breve prazo

Com efeito, foi progressivamente introduzida uma mudança profunda nos objectivos e agendas do Grupo, que deixou de ser exclusivamente orientado para preocupações económicas strictu sensu, passando também a ocupar-se directamente de temas políticos particularmente relevantes ou urgentes.

A Cimeira de Otava, de 1981, incluiu, pela primeira vez, uma declaração política separada sobre terrorismo. Por seu turno, a Cimeira de Versalhes, no ano seguinte, debateu aprofundadamente a questão da invasão israelita do Líbano. Em Williamsburg, em 1983, o Grupo discutiu o problema do controlo de armamentos e no ano seguinte, em Londres, tomou posição sobre a guerra entre o Irão e o Iraque. À medida que a década de 80 se foi aproximando do fim, os temas puramente económicos foram cedendo a primazia a questões como a catástrofe de Chernobil, a SIDA, as drogas, as Operações de Paz das Nações Unidas, as armas biológicas ou o aquecimento mundial.

Finalmente, em 1991, o G7 afasta-se definitivamente das suas raízes iniciais, ao convidar para a Cimeira de Londres, na qualidade de observador, o Presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev.

Embora a composição do Grupo se tenha mantido inalterada até à década de 90, o G7 foi abrindo as portas ao diálogo oficial com outros países ou grupos de países. Esse foi o caso da reunião com 15 países em vias de desenvolvimento, nas vésperas da Cimeira de Paris, de 1989, bem como das reuniões pós-cimeiras com a URSS e, depois, com a Rússia. Estas, tendo-se institucionalizado desde a referida Cimeira de 1991, passaram a denominar-se P8 — "Political 8" — a partir da Cimeira de Nápoles, de 1994. Desde então, cada reunião do G7 passou a ser seguida por uma reunião no formato P8. Poucos anos depois, a Cimeira de Denver consagrou definitivamente, em 1997, a presença da Rússia como membro, que passou a participar nos debates em igualdade de circunstâncias com os demais, embora ainda com exclusão dos assuntos financeiros e de algumas questões económicas. Logo no ano seguinte foi dado um novo passo: a participação sem reservas da Rússia em todos os pontos da agenda da Cimeira de Birmingham, com a consequente oficialização do G8. Mas, por estranho que pareça, o G8 não eliminou totalmente o formato G7, que continua a reunir em paralelo com as Cimeiras do 8... (reflectindo, assim, o diferente peso atribuído à Rússia nos campos político e económico). Simultaneamente, as interrogações foram crescendo quanto à capacidade dos líderes e respectivos Ministros das Finanças do G7 para responder a crises económicas importantes como, por exemplo, a do colapso do peso mexicano que, como é sabido, acabou por ser resolvida com uma medida de exclusão unilateralmente tomada pelos EUA...

Na verdade, segundo muitos analistas, foi-se instalando dentro do próprio G7 um consenso segundo o qual o Grupo não estava preparado — se é que, de todo, estaria vocacionado... — para desenvolver mecanismos eficazes e eficientes de cooperação, capazes de produzir resultados concretos no terreno.

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O facto é que, apesar dos esforços notórios do Presidente Clinton para revitalizar o Grupo, muitos são os que constatam as suas enormes dificuldades, quando não verdadeira paralisação, devidas principalmente aos problemas económicos dos seus membros, tais como, por exemplo, os elevados níveis de desemprego da UE e a debilidade económica do Japão. Neste cenário algumas mudanças parecem ser cada vez mais inevitáveis e uma das mais recentes traduziu-se numa importante abertura, na Cimeira do G8, realizada em Okinawa, em Julho passado, ao diálogo com o Grupo dos 77 e China, na sequência da Cimeira daquele Grupo, que teve lugar este ano, em Havana. Trata-se de um passo inovador e promissor que se insere numa estratégia global de "construir pontes com o Sul". Neste quadro de mudança, não é, assim, surpresa alguma que certos analistas avancem agora com sugestões de criação de um novo "G", eventualmente um "G3", com traços renascentistas de uma agenda económica novamente forte, onde, a par dos EUA e Japão, a UE apareceria como uma entidade autónoma, em pé de igualdade com os outros dois. Claro que sobre isto haveria que perguntar o que fazer com o Canadá, cuja eventual representação via EUA não parece muito realista... bem como qual o modo de refundir o G8, de modo a que este se possa efectivamente ocupar, com sentido prático e resultados palpáveis, das magnas questões políticas, económicas e sociais do mundo global de hoje. Mas terá o "G" fôlego e vocação para tal?...

 

Informação complementar

Cronologia das cimeiras do G6/7/8

Rambouiliet, França, 15a 17 de Novembro de 1975;
São João, Porto Rico, EUA, 27 e 28 de Junho de 1976;
Londres, Reino Unido ("Londres l"),7 e 8 de Maio de 1977;
Bons, República Federal da Alemanha ("Bona l"), 16 e 17 de Julho de 1978;
Tóquio, Japão ('Tóquio l"), 28 e 29 de Junho de 1979;
Veneza, Itália ("Veneza l"), 22 e 23 de Junho de 1980;
Otava, Canada (Montebello), 20 e 21 de Julho de 1981;
Versalhes, França, 4 a B de Junho de 1982;
Williamsburg, Virgínia, EUA, 28 a 30 de Maio de 1983;
Londres, Reino Unido ("Londres II"), 7 a 9 de Junho de 1984;
Bona, República Federal da Alemanha ("Bona II"), 2 a 4 de Maio de 1985;
Tóquio, Japão ("Tóquio III"), 4 a 6 de Maio de 1986;
Veneza, Itátia ("Veneza II"), 8a 10 de Junho de 1987;
Toronto, Canadá, 19 a 21 de Junho de 1988;
Paris, França, 14 a 16 de Julho de 1989;
Houston, Texas, EUA, 9 a 11 de Julho de 1990;
Londres, Reino Unido ("Londres III") 15 a 17 de Julho de 1991;
Munique, Alemanha, 6 a 8 de Julho de 1992;
Tóquio, Japôo ("Tóquio III"), 7 a 9 de Julho de 1993;
Nápoles, Itália, 8 a 10 de Julho de 1994;
Halifax, Canadá, 15 a 17 de Junho de 1995;
Cimeira sobre Segurança Nuclear, Moscovo, Rússia (G7 + Rússia), 19 a 2O de Abril de 1996;
Lyon, França, 27 a 29 de Junho de 1996;
Cimeira dos 8, Denver, EUA, 20 a 22 de Junho de 1997;
Cimeira GB de Birmingham, Reino Unido, 15 a 17 de Maio de 1998;
Colónia. Alemanha, 18 a 2O de Junho de 1999;
Okinawa, Japfio, 21 a 23 de Julho de 2000;
Génova, Itália, Junho de 2O01.

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* António Monteiro

Embaixador. Representante permanente de Portugal junto das Nações Unidas.

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Dados adicionais
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