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A Europa à procura de si mesma

Eduardo Lourenço *

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Como imaginar um quadro institucional para uma Europa que não é uma nação mas uma pluralidade de nações decididas, por livre consenso democrático, a converter-se em qualquer coisa que nunca existiu no passado se não como projecto inconcluso ou apenas esboçado? A parte a "confederação helvética", tão singular que não teve imitadores, a única forma de instituição política "supranacional", com vigência histórica ou a título de fantasma fascinante, é a que conhecemos sob a designação de Império. Mais asiática na sua origem que europeia. Os romanos adoptaram-na sob a influência de Alexandre e o seu asiatismo. Quer dizer, a necessidade de congregar, ou ao menos ter essa ilusão, realidades políticas heterogéneas. Se a ideia imperial que herdámos de Roma é aquela que inconscientemente sempre esteve no horizonte do ideário político e utópico de Europa, é porque Roma a converteu numa fórmula de extrema souplesse, paradoxalmente por tê-la convertido numa ideia cultural, mais do que estritamente política alicerçada numa relação de forças. A esse título antecipa já a ideia de "universalidade a que o Cristianismo conferirá o máximo de amplitude simbólica e a Cristandade oferecerá ocasião de nova e inédita tradução "imperial" (Carlos Magno. Carlos V. Luís XIV. Napoleão). Dissociada com a Reforma do universalismo consensual da Cristandade medieval, a ideia de Império deixou de ser um horizonte utópico para uma Europa virtual no momento exacto em que o primeiro imperador, e de algum modo o último viável, teve de renunciar ao seu sonho imperial. Está ainda hoje sepultado em Yuste como D. Sebastião em Alcácer-Quibir.

Sob as ruínas do império dos Habsburgos se construiu a Europa moderna por excelência: a das nações. E é para esta, cinquenta anos após o tratado de Roma, que buscamos a mais adequada fórmula para aquilo em que a actual União Europeia se converteu, espaço económico, financeiro, de algum modo, jurídico, de conteúdo supranacional, mas sem expressão institucional política que exprima essa supranacionalidade virtual e real ao mesmo tempo.

Basta que se invoque, com alguma convicção, essa exigência, na aparência lógica, dessa configuração de estatuto político como "supranacional", para que a máquina de fazer a Europa entre em pânico, tais são os obstáculos, não apenas empíricos, mas fantasmáticos. Que qualquer coisa como a inexequível Europa-Nação. Mesmo sob a máscara de União Europeia, suscita. A Europa, como a Terra segundo Galileu, move-se, mas como se ninguém quisesse que se movesse. O único país europeu que admite sem relutância (et pour cause...) a hipótese séria de qualquer coisa como uma autêntica federação europeia recua com o pouco entusiasmo que a sua ideia suscita, como se viu pela proposta de Joschka Fischer. Não falemos no reflexo inglês, histórica e visceralmente anti-europeu. Da Diná marca a Portugal a ideia não recebe apoio digno de nota. A Dinamarca está onde estão os seus interesses de nação próspera e protestantíssima. Portugal está com a caixa em Bruxelas e a alma em Timor, catolicíssimo. Afinal, vendo bem, quem "está" e quer a Europa são os não europeus.

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No fundo, se ainda fosse viável, a única fórmula que poria os europeus, que há séculos se vivem como "guerra civil" permanente, de acordo, seria mesmo a de "Império". Mas nós sabemos bem que este fantasma é o do nosso passado europeu como imperialista e imperial. No passado quase todas as nações europeias foram "impérios", até as mais inesperadas. Quem está disposto a desfazer-se deste mítico "manto imperial" em troca de uma associação de interesses sem sonho dentro? Que fórmula para fazer sonhar, quer dizer, existir como ideia futura, uma Europa que tem mais passado "glorioso" do que presente? Foi como Estados Unidos da Europa que há mais de um século Victor Hugo visionou um continente que era. Então, disperso, o que os Estados Unidos são hoje. Quer dizer, o único império da realidade. Mas os Estados Unidos, não sendo uma "nação" segundo o modelo europeu, são um império segundo o ideal romano. E, nele e com ele, uma Europa que não sabe o que é e sobretudo para onde vai, não se pode reconhecer. A força, ou pela força das coisas, a Europa tem que se inventar. Pouco importa a fórmula institucional do seu projecto. Ela tem que se inventar contra si mesma. Missão impossível?

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* Eduardo Lourenço

Ensaísta. Professor Universitário em França.

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