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ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS CLIQUE AQUI! O número de estrangeiros oriundos dos 14 parceiros de Portugal na UE eram 27.997 em 1989 (nessa altura os países de origem de alguns não integravam ainda a União) e 52.273 dez anos depois. O seu peso no conjunto da imigração legal manteve-se rigorosamente igual: 27,7 por cento do total de 101.011 residentes legais no final da década de 80, 27,5 por cento dos 189.717 ao cabo de 1999. As últimas estatísticas disponíveis sobre as características da população estrangeira e a sua distribuição pelo território são as do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras referentes a 1998, quando este grupo de estrangeiros da UE ainda só eram 48.223. Confirmam, de qualquer forma, uma realidade que se tem vindo a desenhar nas últimas décadas: são claramente a capital e o Algarve os locais em que se concentram a maior parte desses cidadãos: 20.290 residiam no distrito de Lisboa e 12.781 no de Faro. Além de Lisboa e Faro, o Porto (4023 residentes), Setúbal (2197), Coimbra (1435), a Madeira (1038) e Aveiro (1015). A concentração de estrangeiros em Lisboa não constitui uma surpresa. Pode ser entendida à luz do cruzamento de elementos de dois tipos — o carácter macrocéfalo do país que concentra na capital boa parte das suas instituições e actividades e o perfil profissional dos estrangeiros em causa. Os dados de 1998 dão conta, no conjunto de uma população activa de 25.483 pessoas, da presença de 10.335 que se dedicam a profissões científicas, técnicas, artísticas e similares; e de 3619 directores ou quadros superiores administrativos, presumivelmente representantes de empresas transnacionais cuja actividade é, tendencialmente, desenvolvida nos grandes centros populacionais. No capítulo profissional, tinham ainda expressão considerável os 4734 que trabalhavam num conjunto de actividades relacionadas com a indústria extractiva e transformadora; os 3.391 que se dedicavam ao comércio ou à actividade de vendedores; os 1588 que se ocupavam na protecção e segurança, em serviços pessoais, domésticos e similares; ou os 1336 que viviam do trabalho administrativo ou de profissões do mesmo tipo. A situação perante o trabalho é um factor que também ajuda a caracterizar este conjunto de comunidades, agrupadas sob o "chapéu de chuva" comum da UE: 8542 no total de activos eram patrões, sendo o grosso desse grupo constituído por 2.373 britânicos, 1726 alemães e 1438 espanhóis. Mas a par deste retrato mais conforme ao estereótipo do europeu rico e empreendedor, e que de facto coincide com o retrato de uma franja importante desta população, as estatísticas confirmam que um número significativo trabalha por conta de outrem em actividades menos qualificadas acima referidas: 15.927. Entre os não activos, destaque para 9909 com actividade doméstica, 5161 estudantes e 4103 reformados. A insuficiência de dados sobre habilitações não permite estabelecer relações ente a formação recebida e a actividade desenvolvida. O cruzamento de dados parece mostrar uma motivação profissional de boa parte dos residentes no país, sendo, no entanto, igualmente significativo o número dos que escolheram viver em Portugal mesmo sem que — caso dos aposentados — isso esteja estreitamente ligado ao desempenho de uma actividade económica. Em 1999, por exemplo, dos 4307 estrangeiros que solicitaram o estatuto de residente, 166 estavam já para além dos 65 anos convencionados como o limite da idade activa.
Britânicos e espanhóis, mas também alemães e franceses As grandes colónias de estrangeiros da UE em Portugal são, como eram no final da década de 80, a britânica e espanhola: com 24.433 pessoas, a soma de ambas as comunidades representava, no final de 1999, quase metade do total de residentes da UE, então fixado em 52.273 pessoas. A comunidade alemã, e depois a francesa, têm também uma expressão numérica que as destaca de todas as restantes: 9593 alemães, 6474 franceses. Concentremo-nos, contudo, no caso dos britânicos e espanhóis. Apesar do peso relativamente semelhante que ocupam no conjunto da imigração da UE (13.331 contra 11.102, dados de 1999), as duas colónias apresentam algumas variações em matéria profissional e de situação perante o trabalho ou ocupação, mas a forma de distribuição no território é estatisticamente a que mais as separa. Os dados mais recentes sobre distribuição geográfica, relativos a 1998, mostram uma indisfarçável atracção dos britânicos pelo Algarve, onde viviam mais de metade do total: 6449 em 12.680 recenseados nesse ano, constituindo a maior concentração de estrangeiros no distrito. Lisboa, com 3884 ocupava o segundo lugar nas suas preferências, sendo a presença de nacionais do Reino Unido nos restantes distritos bem menor, quase residual ou mesmo inexistente (caso do distrito da Guarda). O Porto, pólo urbano com ligações históricas e comerciais bastante fortes à Grã-Bretanha, era apenas, com 749 residentes, o terceiro distrito do país em número de britânicos. O prolongamento de laços comerciais tradicionais poderá igualmente ser a razão para a quarta região em número de britânicos ser, com 374 cidadãos, a Madeira. O interesse britânico pelo Algarve não parece apenas explicável pela deslocação para o país de cidadãos reformados. É certo que os britânicos são também o maior contingente de estrangeiros radicados no país que ultrapassaram já a idade activa — 1.815 num total de 3943 em 1998 — mas ainda que todos escolhessem fixar-se no Algarve, a região continua a ser um pólo de atracção para estes europeus das ilhas: já em 1989 a maior parte dos nacionais britânicos a viver em Portugal ali residia. Sendo a mais numerosa no país, a comunidade britânica apresenta ainda algumas particularidades. A forte concentração em dois distritos e idiossincrasias próprias deram corpo a práticas de tipo autárcico, levando boa parte dos seus membros a fecharem-se nos seus redutos culturais: igrejas anglicanas, jornais e escolas em língua inglesa são expressões de um viver num mundo à parte, ainda que em país estranho, às vezes desde há gerações. Mas o Algarve dos estrangeiros da UE não se faz apenas de britânicos. Os 2480 alemães que ali viviam em 1998 representavam mais de um quarto do total da comunidade germânica e os 1417 holandeses residentes no distrito de Faro (mais do que os 904 residentes em Lisboa) eram quase metade do total de oriundos dos Países Baixos radicados em Portugal. Sem que o seu número seja particularmente significativo no seu conjunto, também a maior parte dos finlandeses que procuram o país para viver prefere o Algarve: 167 em 454, mais do que os 153 radicados em Lisboa. Os espanhóis não manifestam a mesma predilecção pelo Algarve. Considerando igualmente aos dados de 1998, Lisboa é o distrito em que se concentra a maior parte — 6266 num total que então se quedava pêlos 10.191. Mas a sua distribuição pelo território é bastante mais harmoniosa do que a dos britânicos. No Porto, com 1078 cidadãos, constituíam também a maior comunidade de estrangeiros da UE. E em Setúbal e Faro, apesar de não serem a principal colónia de estrangeiros comunitários, — respectivamente, 503 e 368 — os espanhóis eram a terceira e quarta maior concentrações de naturais do país vizinho. Ainda que com números modestos, inferiores aos dos distritos de Setúbal e Faro, a mais harmoniosa distribuição de espanhóis, associada ao desinteresse a que boa parte das outras comunidades estrangeiras tem votado aos outros distritos, faz com que os espanhóis sejam a principal colónia de estrangeiros da UE em diversos distritos, para além de Lisboa e Porto. Acontece, sobretudo, no interior e ou em regiões fronteiriças: Braga, Bragança, Castelo Branco, Évora, Leiria, Portalegre, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. Ao todo, em dois terços dos distritos do Continente, os espanhóis são a principal comunidade estrangeira, bastando-lhes para isso, em alguns casos, serem escassas dezenas: é o caso dos 44 que residiam em Castelo Branco em 1998, dos 47 que viviam na Guarda e de outros tantos com domicílio em Vila Real. A proximidade geográfica pode ajudar a explicar a maior — às vezes quase única — presença de espanhóis nos distritos fronteiriços, onde o número de radicados de outros países da UE é diminuto. A distribuição de estrangeiros da UE acaba por também quase decalcar a forma como os portugueses se fixam no país: uma crescente atracção pêlos maiores centros à custa da desertificação do interior.
Informação complementar Bragança fica mais longe da Europa Bragança é o distrito que menos capaz parece ser de atrair estrangeiros, sejam ou não da União Europeia (UE). Os nascidos na UE que ali residiam em 1998 não iam além de 99, o número mais baixo de todos os distritos e regiões de Portugal. E não fossem os 58 espanhóis com domicílio no distrito transmontano, o número seria ainda mais elucidativo do diminuto interesse que os estrangeiros têm demonstrado em ali se fixar. Além dos espanhóis, as mais recentes estatísticas sobre distribuição territorial dão apenas conta da presença de 19 franceses, nove alemães, sete britânicos, quatro italianos, dois austríacos, dois belgas e dois holandeses. Já assim é há muito tempo. Os dados relativos 1989 sublinhavam com maior força esse alheamento: só residiam no distrito 37 estrangeiros oriundos de países que hoje integram a UE, com destaque para 18 espanhóis e 12 franceses. Dinamarqueses, finlandeses, gregos, irlandeses, luxemburgueses e suecos só terão sido vistos no distrito de Bragança de passagem, uma vez que não há, nos últimos anos, registos de que algum ali se tenha fixado. Estrangeiros da UE com residência legalizada em Portugal (país de origem) Estrangeiros da UE com residência legalizada em Portugal (1998-1999)
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