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Estados Unidos a tremer… Entre os economistas, em geral, e os analistas do mercado, em particular, não existe ainda um consenso sobre a verdadeira extensão do abrandamento da economia norte-americana. Uns defendem, com base numa abordagem relativamente mecanicista, que esta não se encontra em recessão, apontando como exemplos o facto de o Produto Interno Bruto (PIB) trimestral continuar a crescer (pelo que estaremos ainda longe da “regra”, indiciadora de recessão, dos dois trimestres consecutivos de queda do PIB) e os elevados níveis de produtividade do trabalho evidenciados. Outros, porventura mais pessimistas, avançam com alguns indicadores económicos particularmente devastadores, nomeadamente a nível da evolução do sector industrial, do progressivo enfraquecimento da procura interna e da queda acentuada do segmento accionista, em particular das empresas ligadas às chamadas “Novas Tecnologias”. Mas vejamos em pormenor os sinais transmitidos. No que diz respeito ao PIB, pese embora o crescimento homólogo de 5% observado no ano 2000 ter sido o mais elevado da década, verificou-se um claro enfraquecimento nos últimos trimestres desse ano (de um crescimento de 4,8% e 5,6%, nos 1º e 2º trimestres, passou-se para 2,2% e 1%, nos 3º e 4º trimestres). Mesmo a surpreendente taxa de crescimento de 2% observada no primeiro trimestre de 2001 é um tanto ou quanto falaciosa, dado que assentou mais numa descida significativa das importações (cerca de 10%), por si só sintomática do abrandamento global da economia, do que num comportamento mais favorável do consumo privado. Basta aliás observar o comportamento desta última rubrica (a componente mais importante do produto), para se depreender facilmente a verdadeira amplitude da desaceleração nos Estados Unidos (ver gráfico da coluna seguinte). Além disso, tem vindo a registar-se uma diminuição do ritmo de crescimento da produção industrial e, em simultâneo, assiste-se a alguma quebra da produtividade. Como é sabido, a força recente da economia norte-americana baseou-se, em especial, na existência de um mercado de trabalho extremamente flexível e, sobretudo, num claro avanço tecnológico, nomeadamente no chamado sector TMT - Tecnologias, Media e Telecomunicações, o que permitia às empresas norte-americanas obter níveis de produtividade dos seus trabalhadores superiores aos principais concorrentes. Ora, com a degradação do cenário macro-económico, essas empresas vêem-se agora a braços com a diminuição das suas vendas, o que, numa primeira fase, arrasta o decréscimo dos níveis de produtividade mas, em seguida, poderá gerar vagas de despedimentos em massa. É precisamente essa ideia que parece transparecer dos últimos indicadores disponíveis no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego a subir para os 4,5%, em Abril (e com tendência para aumentar), quando no final do ano 2000 atingia 4% (ver gráfico correspondente). Apesar de estes níveis de desemprego poderem “fazer inveja” a muitos (por exemplo, a taxa de desemprego na área do euro anda pelos 8,4%), é porventura um sinal de alteração do comportamento do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Finalmente, tem sido preocupante a evolução do mercado de capitais e, em particular, do segmento accionista. Durante os anos dourados da década de 90, muito se comentou sobre a espiral altista da bolsa, em particular dos títulos da Nova Economia. Na altura, alguns responsáveis, nomeadamente o superpoderoso A. Greenspan, presidente da Reserva Federal (FED), chegaram mesmo a alertar para os perigos da “bolha”, numa alusão à sobrevalorização das acções. Talvez em parte devido a uma estratégia agressiva de subida das taxas de juro oficiais pelo FED (de 4,75%, em meados de 1999, para 6,5%, um ano depois), verificou-se efectivamente uma acentuada correcção dos principais índices de acções. Deste modo, o NASDAQ que em Março de 2000 chegou a ultrapassar os 5000 pontos, anda agora perto dos 2100, tendo mesmo atingido um mínimo de 1.640, em 4 de Abril do corrente ano (ver gráfico relativo ao mercado de acções). Num país onde grande parte das poupanças são canalizadas para as acções, compreende-se os efeitos devastadores, nomeadamente em termos da confiança dos agentes económicos, provocados por este comportamento da bolsa, que nem a recente (e forte) descida das taxas oficiais pelo FED veio atenuar.
… o Japão em colapso … No Japão a deterioração do cenário macro-económico é bastante mais preocupante. Penalizado pela existência de estruturas económico-financeiras muito pesadas, por erros de política económica e ainda pela existência de um sector financeiro mal organizado e que parece não ter ainda aprendido a lição do final dos anos 80 (em que colaborou no fenómeno da sobrevalorização do segmento imobiliário que tão graves consequências acarretou), o Japão está a braços com uma crise económica de contornos ainda pouco definidos. Alguns indicadores são elucidativos: o PIB cresceu apenas 1,7%, no ano 2000, muito longe dos 5,3% observados no início da década de 90, e ainda mais distante dos 9,7% registados em 1980 (ver respectivo gráfico). A produção industrial e as vendas estão em queda, indiciando que a crise é visível tanto do lado da oferta como da procura. Por outro lado, e este será provavelmente o fenómeno mais importante a ter em conta, o Japão está em deflação desde 1999, com o índice de preços no consumidor a descer 0,3% nesse ano e 0,6%, em 2000 (ver gráfico correspondente). Nem a recente eleição de um reformador para primeiro-ministro (J. Koizumi) parece ser suficiente para afastar o país da recessão, primeiro porque não se consegue ainda ter uma ideia clara das reformas que serão empreendidas (nomeadamente o saneamento das empresas industriais e de serviços e o fim dos célebres pacotes orçamentais que parecem não servir rigorosamente para nada…) e, depois, porque a efectiva realização dessas reformas gerará, no curto prazo, efeitos muito penalizadores para a população nipónica.
… a Europa a aguardar por melhores dias. Na Europa, foi durante muito tempo veiculada a ideia de uma certa imunidade face aos ventos de crise oriundos do Atlântico, a qual era justificada pelo facto de, em especial a zona euro, ser relativamente fechada (o peso do comércio intracomunitário é muito mais importante do que o comércio extracomunitário). Por outro lado, preocupado mais com a evolução da inflação do que com o evoluir da situação económica, o Banco Central Europeu seguiu uma estratégia de manutenção das taxas de juro oficiais, contrariando não só a perspectiva dos agentes do mercado que ansiavam por descidas das taxas (à semelhança do que ocorreu, entre outros, nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Canadá) mas também os “conselhos” de entidades como o Fundo Monetário Internacional. De qualquer forma, se bem que não se vislumbrem sinais de crise económica na Europa, os indicadores disponíveis parecem apontar para algum abrandamento: além de descidas, entre outros, do PIB, da produção industrial e das vendas a retalho, observa-se uma clara deterioração dos indicadores de confiança, nomeadamente a nível dos consumidores e do indicador de sentimento da economia (ver gráfico sobre indicadores económicos – Área do Euro).
E Portugal? A economia portuguesa dificilmente passará incólume ao que vier a ser a evolução da conjuntura a nível internacional e, em particular, na área do euro. De qualquer forma, embora o país possa não estar tão exposto como outros Estados da área do euro aos efeitos do abrandamento nos EUA (nomeadamente a Alemanha, por via da descida das suas exportações para este mercado), Portugal confronta-se actualmente com alguns fenómenos preocupantes, em particular o sobreendividamento das famílias e a subida da inflação. Num cenário de deterioração das condições económicas, o sobreendividamento das famílias poderá acarretar consequências muito negativas quer em termos sociais, quer para o sector financeiro ou mesmo para a procura interna. Já a aceleração da inflação que se situa muito acima da média comunitária indicia dificuldades acrescidas para o sector industrial e para as famílias, revelando alguma reversão face ao processo de convergência a que se assistiu no âmbito da adesão do país ao euro. Evolução do PIB e consumo privado (EUA) Evolução da taxa de desemprego (EUA) Índice de preços no consumidor (Japão) Mercado de acções - NASDAQ (EUA) Indicadores económicos (área do Euro)
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