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Economia internacional: o início de um ciclo recessivo?

Henrique Morais *

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Nos últimos tempos tem sido muito comentada a evolução da situação económicaa nível internacional e, sobretudo, nos Estados Unidos, país em que são evidentesos sinais de um forte abrandamento da economia face ao elevado ritmo de crescimentoevidenciado, em especial, nos últimos anos da década de 90.

 

Estados Unidos a tremer…

Entre os economistas, em geral, e os analistas do mercado, em particular, não existe ainda um consenso sobre a verdadeira extensão do abrandamento da economia norte-americana. Uns defendem, com base numa abordagem relativamente mecanicista, que esta não se encontra em recessão, apontando como exemplos o facto de o Produto Interno Bruto (PIB) trimestral continuar a crescer (pelo que estaremos ainda longe da “regra”, indiciadora de recessão, dos dois trimestres consecutivos de queda do PIB) e os elevados níveis de produtividade do trabalho evidenciados. Outros, porventura mais pessimistas, avançam com alguns indicadores económicos particularmente devastadores, nomeadamente a nível da evolução do sector industrial, do progressivo enfraquecimento da procura interna e da queda acentuada do segmento accionista, em particular das empresas ligadas às chamadas “Novas Tecnologias”.

Mas vejamos em pormenor os sinais transmitidos. No que diz respeito ao PIB, pese embora o crescimento homólogo de 5% observado no ano 2000 ter sido o mais elevado da década, verificou-se um claro enfraquecimento nos últimos trimestres desse ano (de um crescimento de 4,8% e 5,6%, nos 1º e 2º trimestres, passou-se para 2,2% e 1%, nos 3º e 4º trimestres). Mesmo a surpreendente taxa de crescimento de 2% observada no primeiro trimestre de 2001 é um tanto ou quanto falaciosa, dado que assentou mais numa descida significativa das importações (cerca de 10%), por si só sintomática do abrandamento global da economia, do que num comportamento mais favorável do consumo privado. Basta aliás observar o comportamento desta última rubrica (a componente mais importante do produto), para se depreender facilmente a verdadeira amplitude da desaceleração nos Estados Unidos (ver gráfico da coluna seguinte).

Além disso, tem vindo a registar-se uma diminuição do ritmo de crescimento da produção industrial e, em simultâneo, assiste-se a alguma quebra da produtividade. Como é sabido, a força recente da economia norte-americana baseou-se, em especial, na existência de um mercado de trabalho extremamente flexível e, sobretudo, num claro avanço tecnológico, nomeadamente no chamado sector TMT - Tecnologias, Media e Telecomunicações, o que permitia às empresas norte-americanas obter níveis de produtividade dos seus trabalhadores superiores aos principais concorrentes.

Ora, com a degradação do cenário macro-económico, essas empresas vêem-se agora a braços com a diminuição das suas vendas, o que, numa primeira fase, arrasta o decréscimo dos níveis de produtividade mas, em seguida, poderá gerar vagas de despedimentos em massa. É precisamente essa ideia que parece transparecer dos últimos indicadores disponíveis no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego a subir para os 4,5%, em Abril (e com tendência para aumentar), quando no final do ano 2000 atingia 4% (ver gráfico correspondente). Apesar de estes níveis de desemprego poderem “fazer inveja” a muitos (por exemplo, a taxa de desemprego na área do euro anda pelos 8,4%), é porventura um sinal de alteração do comportamento do mercado de trabalho nos Estados Unidos.

Finalmente, tem sido preocupante a evolução do mercado de capitais e, em particular, do segmento accionista. Durante os anos dourados da década de 90, muito se comentou sobre a espiral altista da bolsa, em particular dos títulos da Nova Economia. Na altura, alguns responsáveis, nomeadamente o superpoderoso A. Greenspan, presidente da Reserva Federal (FED), chegaram mesmo a alertar para os perigos da “bolha”, numa alusão à sobrevalorização das acções.

Talvez em parte devido a uma estratégia agressiva de subida das taxas de juro oficiais pelo FED (de 4,75%, em meados de 1999, para 6,5%, um ano depois), verificou-se efectivamente uma acentuada correcção dos principais índices de acções. Deste modo, o NASDAQ que em Março de 2000 chegou a ultrapassar os 5000 pontos, anda agora perto dos 2100, tendo mesmo atingido um mínimo de 1.640, em 4 de Abril do corrente ano (ver gráfico relativo ao mercado de acções).

Num país onde grande parte das poupanças são canalizadas para as acções, compreende-se os efeitos devastadores, nomeadamente em termos da confiança dos agentes económicos, provocados por este comportamento da bolsa, que nem a recente (e forte) descida das taxas oficiais pelo FED veio atenuar.

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… o Japão em colapso …

No Japão a deterioração do cenário macro-económico é bastante mais preocupante. Penalizado pela existência de estruturas económico-financeiras muito pesadas, por erros de política económica e ainda pela existência de um sector financeiro mal organizado e que parece não ter ainda aprendido a lição do final dos anos 80 (em que colaborou no fenómeno da sobrevalorização do segmento imobiliário que tão graves consequências acarretou), o Japão está a braços com uma crise económica de contornos ainda pouco definidos.

Alguns indicadores são elucidativos: o PIB cresceu apenas 1,7%, no ano 2000, muito longe dos 5,3% observados no início da década de 90, e ainda mais distante dos 9,7% registados em 1980 (ver respectivo gráfico). A produção industrial e as vendas estão em queda, indiciando que a crise é visível tanto do lado da oferta como da procura.

Por outro lado, e este será provavelmente o fenómeno mais importante a ter em conta, o Japão está em deflação desde 1999, com o índice de preços no consumidor a descer 0,3% nesse ano e 0,6%, em 2000 (ver gráfico correspondente).

Nem a recente eleição de um reformador para primeiro-ministro (J. Koizumi) parece ser suficiente para afastar o país da recessão, primeiro porque não se consegue ainda ter uma ideia clara das reformas que serão empreendidas (nomeadamente o saneamento das empresas industriais e de serviços e o fim dos célebres pacotes orçamentais que parecem não servir rigorosamente para nada…) e, depois, porque a efectiva realização dessas reformas gerará, no curto prazo, efeitos muito penalizadores para a população nipónica.

 

… a Europa a aguardar por melhores dias.

Na Europa, foi durante muito tempo veiculada a ideia de uma certa imunidade face aos ventos de crise oriundos do Atlântico, a qual era justificada pelo facto de, em especial a zona euro, ser relativamente fechada (o peso do comércio intracomunitário é muito mais importante do que o comércio extracomunitário).

Por outro lado, preocupado mais com a evolução da inflação do que com o evoluir da situação económica, o Banco Central Europeu seguiu uma estratégia de manutenção das taxas de juro oficiais, contrariando não só a perspectiva dos agentes do mercado que ansiavam por descidas das taxas (à semelhança do que ocorreu, entre outros, nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Canadá) mas também os “conselhos” de entidades como o Fundo Monetário Internacional.

De qualquer forma, se bem que não se vislumbrem sinais de crise económica na Europa, os indicadores disponíveis parecem apontar para algum abrandamento: além de descidas, entre outros, do PIB, da produção industrial e das vendas a retalho, observa-se uma clara deterioração dos indicadores de confiança, nomeadamente a nível dos consumidores e do indicador de sentimento da economia (ver gráfico sobre indicadores económicos – Área do Euro).

 

E Portugal?

A economia portuguesa dificilmente passará incólume ao que vier a ser a evolução da conjuntura a nível internacional e, em particular, na área do euro.

De qualquer forma, embora o país possa não estar tão exposto como outros Estados da área do euro aos efeitos do abrandamento nos EUA (nomeadamente a Alemanha, por via da descida das suas exportações para este mercado), Portugal confronta-se actualmente com alguns fenómenos preocupantes, em particular o sobreendividamento das famílias e a subida da inflação.

Num cenário de deterioração das condições económicas, o sobreendividamento das famílias poderá acarretar consequências muito negativas quer em termos sociais, quer para o sector financeiro ou mesmo para a procura interna. Já a aceleração da inflação que se situa muito acima da média comunitária indicia dificuldades acrescidas para o sector industrial e para as famílias, revelando alguma reversão face ao processo de convergência a que se assistiu no âmbito da adesão do país ao euro.

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* Henrique Morais

Licenciada em Economia pelo ISEG. Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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