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Condicionantes da política externa: o posicionamento geoeconómico

José Manuel Félix Ribeiro *

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A análise da posição geoeconómica de um País pode realizar-se em atenção a trêscomponentes:

• A “carteira de actividades” em que o País está especializado internacionalmente, em termos de comércio de bens e serviços, havendo que distinguir especializações que acompanham a dinâmica da procura mundial, versus especializações que se centram em sectores maduros e neste último caso distinguindo as especializações concentradas nos segmentos de valor baixo ou intermédio das que se colocam numa posição mais favorável na cadeia de valor;

• A “carteira de activos internacionais” do País, detida pelas suas empresas, bancos, investidores internacionais e particulares, quer sob a forma de investimento directo internacional, contratos de licenciamento, franchising, etc., quer sob a forma de investimento de portfolio;

• A “carteira de conexões internacionais” do País, representando a matriz geográfica dos seus principais parceiros comerciais, dos seus destinos de investimento directo e de carteira e das origens do investimento directo internacional que se orientou para o País, bem como das relações privilegiadas ao nível da acumulação de capital humano (formação avançada, actividades de I&D).

Para facilitar esta análise considerou-se uma partição do sistema produtivo do País em núcleos e “coroas” conforme a informação complementar e a infografia anexas.

 

Portugal — a dinâmica das actividades

Desde 1985, embora não se tenha consolidado uma alteração profunda no padrão de especialização internacional, a estrutura produtiva de Portugal e os sectores de suporte à capacidade de inovação empresarial experimentaram transformações significativas de que se destacam:

• O crescente dinamismo e modernização acelerada dos sectores no “Núcleo Central de Serviços (II)” e dos “Sectores Infra-estruturais – Serviços” — desde o crescimento, diversificação e sofisticação dos serviços financeiros, aos serviços às empresas, com destaque para os serviços informáticos e de consultoria,

à multiplicação de serviços e operadores na área das telecomunicações e audiovisual; à mudança radical introduzida na distribuição com o crescimento exponencial das grandes superfícies e de centros comerciais; o crescimento dos serviços de educação e formação etc; toda esta dinâmica se centrou no mercado interno, mas os seus efeitos no tecido empresarial podem ter incluído efeitos positivos na competitividade das empresas que asseguraram o essencial da exportação portuguesa;

• A redução, em alguns casos drástica, da capacidade e da diversificação da oferta dos “Sectores Infra-estruturais – Indústria”, com o encerramento total ou parcial de grandes unidades na siderurgia, metalúrgicas de base, química mineral e adubeira, produção de vidro plano etc.; em contraste assistiu-se a uma consolidação do pólo pasta/papel com uma clara evolução no sentido da produção e exportação de papel;

• A afirmação de um pólo dinâmico de exportações industriais centrado na indústria automóvel e dos seus componentes e equipamentos afins, que constituiu a grande mudança operada nestes quinze anos; o desenvolvimento deste pólo incluiu a concretização do projecto da AutoEuropa e da rede de fornecedores que se instalaram em seu redor; a multiplicação de inúmeras unidades de cablagens para a indústria automóvel, sobretudo no Norte do País;

o desenvolvimento de competências na área dos plásticos técnicos para a indústria automóvel; a multiplicação de investimentos nos componentes eléctricos e electrónicos bem como na electrónica de consumo para utilização nos veículos (auto-rádios e equipamentos similares);

• A evolução, se bem que lenta, no posicionamento na cadeia de valor de algumas indústrias tradicionais fortemente exportadoras (a evolução dos têxteis para as malhas, vestuário em tecido e têxteis-lar; da pasta para o papel; das madeiras serradas para os aglomerados etc.), bem como o crescimento rápido das exportações de calçado;

• O forte dinamismo das indústrias fornecedoras da construção e obras públicas, graças ao boom de construção de habitações e de realização de grandes projectos de infra-estruturas; mas mais uma vez este dinamismo concentrou-se no mercado interno, tendo-se assistido no entanto à permanência de exportações de cerâmicas e artigos metálicos para o habitat;

• O desenvolvimento do sistema universitário nas áreas da ciência e da engenharia, o esforço realizado no sentido de fortalecer as capacidades de I&D do País, a constituição de instituições de interface entre Universidades e empresas, a criação de uma rede de centros tecnológicos de âmbito sectorial, criaram bases para a multiplicação de PMEs em novas actividades ou com novos produtos e processos em actividades tradicionais, mas o seu impacte na exportação é ainda diminuto, dada a fase embrionária em que muitas ainda se encontram.

O investimento directo internacional tem participado nesta dinâmica do seguinte modo:

• Uma concentração dos investimentos directos estrangeiros no núcleo central de actividades, referido atrás, com destaque para os Serviços Financeiros, os Serviços às Empresas e o Imobiliário e Imobiliário/Turismo;

• Uma participação de capitais estrangeiros nos Sectores Infra-estruturais – Serviços — Telecomunicações, Audiovisual, Electricidade, Águas/Ambiente, Acessibilidades, Obras Públicas — que, pelo menos até agora, se pode considerar relativamente secundária, tendo o processo de privatizações que ocorreu em vários desses sectores levado à constituição de núcleos duros de accionistas nacionais;

• Uma relativa incapacidade de atracção de investimento directo industrial de grande dimensão e carácter estruturante, com a excepção do que se passou no sector automóvel e seus componentes, e em muito menor escala no material eléctrico e electrónico; acompanhada por processos de desinvestimento estrangeiro significativos em qualquer destes sectores, e pelo desinvestimento industrial por parte de empresas estrangeiras operando na área dos bens de consumo corrente.

 

Portugal — a dinâmica dos activos internacionais

Fazendo apenas referência aos activos adquiridos por via do investimento directo internacional (ou seja, não analisando o que se passou com o investimento de carteira em títulos internacionais) pode afirmar-se que nos últimos anos se assistiu a uma significativa vaga de investimentos directos por parte de empresas e bancos portugueses no estrangeiro, que em pouco tempo colocou o País numa posição assinalável entre os países investidores, nomeadamente em certos países como o Brasil.

Recém-saído de um processo complexo de transformações de carácter estrutural — abertura de sectores à iniciativa privada, liberalização e aumento da competição no mercado interno de múltiplos sectores até então relativamente protegidos e realização de privatizações que abrangera o sistema financeiro, grandes operadores de serviços e empresas industriais líderes nos seus sectores, em Portugal — o sector empresarial português foi capaz de implementar múltiplas estratégias de internacionalização, nalguns casos paralelas à diversificação para novas actividades, noutros, prolongando no exterior as áreas de competências já enraizadas internamente.

Esta dinâmica de internacionalização, em termos de destinos geográficos, tem-se concentrado em Espanha e no Brasil, mas também teve expressão no Norte de África, nomeadamente em Marrocos; nas economias em transição do Leste europeu, sobretudo na Polónia e nos PALOPs.

Este padrão ainda distingue Portugal (e a Espanha) dos países europeus mais desenvolvidos, caracterizados pela combinação de investimentos no seio da Europa — por vezes em espaços de vizinhança — com uma forte concentração de investimento nos EUA (que não existe no caso português e espanhol) e por investimentos em larga escala no conjunto das “Economias Emergentes” — Europa de Leste e Turquia, América Latina e Extremo Oriente.

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Analisando, em termos de sectores motores, o processo de investimento internacional das empresas portuguesas destacam-se três grandes grupos:

• “Núcleo Central de Serviços (II)”– Bancos e Empresas de Grande Distribuição (com destaque para os operadores de redes de hipermercados e promotores de centros comerciais);

• “Sectores Infra-estruturais – Serviços” – dos quais se destacam as Telecomunicações, a Electricidade, a Água e o Ambiente, as Obras Públicas;

• Sectores Industriais – dos quais se destacam os cimentos, os aglomerados de madeira, a cortiça, a electromecânica, os componentes para automóveis.

Em termos de referência sectorial/ geográfica pode referir-se que no Brasil convergem estes três grupos de sectores. Enquanto em Espanha se verifica uma fraca expressão do segundo grupo (grupo em que, por sua vez, e em conjunto com a banca, se tem centrado o motor da internacionalização de Espanha, polarizada na América Latina) e uma maior diversidade de sectores industriais investidores, correspondendo ao facto, já atrás referido, de que o mercado peninsular é cada vez mais para muitas empresas portuguesas, o “primeiro círculo” do mercado interno europeu, e que a opção pelo investimento directo em instalações fabris em Espanha é um modo de consolidar uma presença comercial. Empresas de sectores como o vidro, as tintas, o mobiliário metálico, os agro-alimentares são exemplos desta superfície mais alargada de investimento directo industrial em Espanha.

Consideradas no seu conjunto, as dinâmicas de especialização internacional e de investimento no exterior foram pois marcadas por dois processos principais:

• Um intenso processo de reorganização empresarial, expansão e diversificação no sector de serviços financeiros e de distribuição, bem como nos “Sectores Infra-estruturais” — electricidade,petróleo/gás; água/ambiente; obras públicas/cimento, telecomunicações/ audiovisual que têm, em conjunto, sido responsáveis por um novo vector da internacionalização da economia portuguesa — o investimento em larga escala no estrangeiro, em especial no Brasil, Espanha e Norte de África;

• Uma fraca dinâmica de diversificação nas actividades de especialização internacional, onde a falta de capacidade de atracção de novos projectos de investimento estrangeiro estruturante se tem feito sentir, ao mesmo tempo que se assistiu ao investimento internacional no exterior de empresas e grupos portugueses nas suas áreas tradicionais de competência (vd. madeiras, minerais não metálicos, componentes para automóvel, etc.).

Recorde-se que na fase pré-globalização as empresas do “Núcleo Central de Serviços (II)” e dos “Sectores Infra-estruturais – Serviços” eram muito determinadas, quer no que respeita à sua dimensão, quer às oportunidades de crescimento, pela própria dimensão do território e da população do respectivo país de origem. Na fase de globalização e mutação tecnológica esses constrangimentos reduzem-se por via da possibilidade de diversificação para novos serviços e da expansão para “novos territórios”.

No caso de Portugal (como no de outros países europeus) a perspectiva do Mercado Único, com o que significa de aumento da concorrência nos mercados internos, tradicionalmente protegidos e regulamentados, para ambos os tipos de sectores determinou uma “corrida” à expansão no exterior não-europeu, tanto mais intensa quanto era grande a desproporção de dimensão face aos principais actores espanhóis dos mesmos sectores e difícil a “expansão de proximidade” para o mercado espanhol.

No entanto essa expansão para o exterior, nomeadamente para a América Latina, tem vindo a ser feita, no caso dos Sectores Infra-estruturais – Serviços e nomeadamente nas telecomunicações e na electricidade, na base ou com recurso parcial, a alianças privilegiadas com os grandes operadores espanhóis.

 

Informação complementar

Uma partição do sistema produtivo

As actividades que caracterizam actualmente os sistemas produtivos, e que não têm uma natureza essencialmente local, podem decompor-se do seguinte modo (ver infografia):

Núcleo Central de Serviços (I) – inclui os serviços não mercantis fornecidos pelo Estado, destacando-se pelo seu impacte directo na economia os seguintes – Educação, Investigação, Saúde, Pensões e Segurança Social;

Núcleo Central de Serviços (II) – inclui os principais serviços mercantis destacando-se os Serviços Financeiros (banca, seguros, mercado de capitais, investidores institucionais, capital de risco e relações destes entre si); os Serviços de Promoção e Mediação Imobiliária; os Serviços às Empresas (serviços informáticos, serviços de consultoria e engenharia, serviços legais e auditorias, serviços de formação etc); e os Serviços de Distribuição e Logística (em que se consideraram só as cadeias de grande distribuição de bens de consumo e a distribuição no exterior); este núcleo apresenta fortes elementos de “clusterização”.

1ª Coroa – Sectores Infra-estruturais – Serviços – inclui os sectores que fornecem bens e serviços de uso geral, através de redes de distribuição locais ou nacionais e internacionais e que na sua actividade são fortemente determinados pela dimensão do território do País; incluem-se os serviços associados à utilização da rede de auto-estradas com portagem, da rede de caminhos-de-ferro, dos aeroportos e dos portos; os serviços de produção, transmissão e distribuição de electricidade; os serviços de transporte e distribuição de gás natural; os serviços de telecomunicações, fixas e móveis, nacionais e internacionais, de voz, dados e imagens (excluindo os conteúdos que podem circular nas respectivas redes); os serviços de distribuição audiovisual em rede — radiodifusão e difusão TV — por via hertziana terrestre, por cabo e por satélite; e os serviços de distribuição de água e de saneamento básico, de âmbito regional; para efeitos desta análise as actividades de Defesa, que envolvem aquisição de equipamentos e sistemas deverão ser integradas nesta Coroa, se bem que não existam como redes;

2ª Coroa – Sectores Infra-estruturais – Indústria – inclui os sectores em que se realiza a produção dos materiais directamente utilizados na agricultura e indústria, de que se destacam o cimento, o vidro, as cerâmicas, o aço, o alumínio, o cobre, o silício, a refinação de petróleo; os produtos da química mineral de base; os produtos petroquímicos de base; a celulose/papel, etc.;

3ª Coroa – Clusters efectivos ou potenciais em que assenta a especialização internacional do País; entendendo-se por cluster um conjunto de actividades centrais marcadas pela forte competição entre empresas trabalhando para mercados semelhantes; ligadas, mais ou menos intensamente, por relações directas ou indirectas de fornecimento a outras empresas e instituições; e por um conjunto de outras actividades conexas que estão ligadas às primeiras, não por relações de fornecimento mas por outros factores imateriais); no interior desta 3ª Coroa podem-se ainda referir actividades emergentes que, se desenvolverem interligações entre si, podem prefigurar novos clusters.

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* José Manuel Félix Ribeiro

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Subdirector Geral do Departamento de Planeamento e Prospectiva.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

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