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Ásia: da crise de 97-98 à recuperação de 2003?

Henrique Morais *

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Em 1997 deflagrou na Ásia uma grave crise financeira, com consequências sobre toda a região, com destaque para o Japão. Em 2001, este país entrou novamente em recessão, em resultado de causas externas — diminuição da procura mundial, perda de competitividade face aos seus vizinhos — e internas, um avultado volume de crédito mal-parado.

A Coreia e a Tailândia, aproveitando o ambiente externo favorável e tendo optado por uma elevada especialização em sectores industriais de elevado valor acrescentado, (nomeadamente a indústria electrónica) conseguiram recuperar o ritmo de crescimento.

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Deflagrou na Ásia, em 1997 uma violenta crise, cujos contornos passaram pelo enfraquecimento do sector financeiro, a sofrer as consequências de anos de práticas de gestão desajustadas no sector financeiro, nomeadamente a nível das estratégias de concessão de crédito, dos resquícios de movimentos especulativos nos mercados de capitais e imobiliário (cujo epílogo havia sido observado no final dos anos 80) e ainda de decisões de política económica, no mínimo, discutíveis.

No entanto, economias como a coreana ou a tailandesa souberam aproveitar o ambiente externo favorável vivido no final dos anos 90 para, sobretudo baseadas numa fortíssima especialização produtiva em sectores industriais de elevado valor acrescentado (nomeadamente a indústria electrónica), encetarem ritmos de crescimento económico bastante fortes.

 

A Ásia, o petróleo e...o Japão!

Na segunda metade do ano 2000, a forte subida dos preços do petróleo penalizou a região asiática, tanto mais que a esmagadora maioria dos países são importadores líquidos dessa matéria-prima. Já em 2001, os preços do crude evidenciaram uma trajectória mais favorável, que todavia acabou por ser interrompida nos finais desse ano, comprometendo a recuperação que havia sido entretanto encetada.

Para além dos efeitos negativos do aumento do preço do petróleo, a região asiática teve ainda de se confrontar com dois problemas de grande amplitude: por um lado, o enfraquecimento do gigante económico regional (o Japão), que nos últimos 10 anos passou por três recessões (em 1993, 1998 e 2001) e algumas fases em que os ritmos de crescimento se situaram bastante abaixo do padrão normal das economias mais avançadas. Para além de se tratar de um importante parceiro comercial, o Japão é um investidor líquido de capitais na região, papel que recuou consideravelmente na sequência das crises que afectaram o país.

Por outro lado, em grande medida numa reacção dos mercados aos desenvolvimentos negativos da economia nipónica, o iene registou nos últimos anos uma acentuada depreciação (1) que, aliás, foi amplamente fomentada pelas autoridades monetárias japonesas. Ora, esse movimento de queda do iene penalizou os países da região, cuja competitividade piorou consideravelmente, não só em termos do comércio bilateral com o Japão, como ainda no que diz respeito à competitividade noutros mercados exteriores à região asiática.

Deste modo, em países como a Coreia e a Tailândia assistiu-se na segunda metade da década de 90 a uma descida significativa dos ritmos de crescimento do Produto Interno Bruto face à média observada desde o início dos anos 80. Na Coreia, o PIB evidenciou entre 1981 e 2001 um crescimento médio anual de 7,3%, largamente superior aos 5% observados entre 1995 e 1999; na Tailândia os dados são ainda mais esclarecedores: 6% e 1,5%, respectivamente.

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O Japão – situação actual e perspectivas económicas a médio prazo

O Japão entrou em 2001 novamente em recessão (2), tendo-se registado três trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto que, em termos anuais, desceu 0,5% (após um acréscimo de 2,2%, em 2000). Este cenário recessivo foi propiciado por choques ao nível da oferta e da procura, com o sector industrial a ressentir-se de algum abrandamento da procura internacional e da perda de competitividade da economia nipónica face a alguns dos seus vizinhos asiáticos e a procura interna em claro abrandamento, num contexto em que a diminuição dos resultados das empresas, o aumento do desemprego e algum pessimismo reinante determinaram a quebra da confiança dos consumidores e, por arrastamento, a diminuição do consumo interno.

Por outro lado, a economia japonesa continua a braços com um problema que se vem arrastando desde o final da década de 80 e que, com excepção de alguns períodos curtos de bonança, parece não ter fim: referimo-nos à situação e às práticas do sector financeiro. Na verdade, os bancos continuam a braços com volumes astronómicos de crédito mal-parado (ou em vias de o ser), cuja resolução tem sido sucessivamente adiada pelo poder político, certamente receoso das consequências devastadoras que isso acarretaria, no imediato, para muitos desses bancos.

Não surpreende portanto que o Japão se tenha visto repentinamente a braços com uma economia em queda, um sector financeiro degradado, ao mesmo tempo que implementava uma política monetária ultra-expansionista (que ficou conhecida pela “Política de Taxa Zero”, dado que o banco central passou a ceder liquidez ao mercado a taxas nulas), cujos resultados, quer a nível da oferta, quer sobretudo no desenvolvimento da procura interna, foram praticamente nulos. Para agravar mais ainda a situação, o país embrenhou-se numa espiral deflacionista que dura há mais de três anos e cujo fim parece ainda longínquo.

Após um ano de 2001 verdadeiramente negativo, os bons ventos pareceram voltar a soprar no Império do Sol Nascente em 2002. Desde logo, alguma animação a nível da economia internacional, sobretudo no 1º trimestre do ano, dado que entretanto o clima de algum pessimismo parece querer voltar aos mercados, contribuiu para uma melhoria substancial do sector externo, com as exportações a voltarem a evidenciar os fortes ritmos de crescimento a que se assistira no passado (6,4%, no 1º trimestre de 2002, face ao 4º trimestre de 2001). Este comportamento das exportações foi impulsionado pela evolução da procura oriunda dos Estados Unidos, que pareciam liderar então o processo de recuperação da economia à escala global, e, sobretudo, de países vizinhos do sudeste asiático.

Além disso, o processo de correcção de existências a que se assistira durante o ano de 2001 (3) parece estar a terminar, o que, conjuntamente com a referida dinamização do sector externo, tem provocado efeitos consideráveis a nível da produção interna, sobretudo no sector industrial.

Todavia, os sinais de recuperação são ainda ténues: em primeiro lugar, o investimento mantém-se deprimido e, no sector da construção (normalmente um bom barómetro para a evolução da economia japonesa), são ainda pouco evidentes os indícios de retoma. Em segundo lugar, o mercado de trabalho continua a sofrer as consequências dos processos de reestruturação das empresas actualmente em curso, com a taxa de desemprego a situar-se em níveis historicamente muito elevados, e incomportáveis para a cultura nipónica (4). Finalmente, as medidas (dolorosas, sem dúvida) que se exigem para o definitivo saneamento do sector financeiro estão longe de ser adoptadas, num contexto em que a luta partidária pelo poder tem inviabilizado a tomada de decisões importantes para a economia japonesa, tanto a nível do sector financeiro, como das políticas orçamental e monetária.

 

A Coreia

A economia coreana revelou algum abrandamento em 2000, tendo a retoma do crescimento tido lugar apenas no final de 2001, sobretudo devido ao fortalecimento do consumo privado. Este aumento do consumo foi especialmente sustentado pelo acréscimo observado na procura de bens duradouros, nomeadamente automóveis, num contexto em que os indicadores de confiança dos consumidores revelaram um forte aumento, em parte devido à subida dos preços no mercado habitacional.

Ao comportamento favorável da procura interna veio acrescentar-se um maior dinamismo do sector externo, com os sinais de alguma retoma da economia internacional a impulsionarem as exportações coreanas, com particular destaque para as relacionadas com as tecnologias da comunicação, que representam cerca de 35% do total exportado pela Coreia.

Todavia, a degradação do cenário económico a nível internacional a que se tem assistido nos últimos meses, num contexto de forte queda do mercado de acções e dos níveis de confiança dos agentes económicos (5), começa a ter efeitos nas economias abertas do sudeste asiático, com os indicadores mais recentes do sector industrial e do investimento a indiciarem o enfraquecimento do crescimento no 2º semestre deste ano.

Deste modo, o crescimento do PIB na Coreia dificilmente irá ultrapassar este ano os 6% (apesar de tudo muito acima da média regional e mais ainda dos padrões de crescimento da Europa Ocidental ou dos EUA), enquanto a Tailândia, Singapura e Indonésia poderão registar crescimentos próximos de 3%. Nos extremos, prevê-se que o gigante chinês continue a evidenciar taxas de crescimento do PIB entre 7% e 8%, enquanto Hong Kong não deverá ultrapassar os 2%.

 

Informação complementar

Efeitos económicos do Mundial de Futebol

Do Mundial de Futebol, cuja organização foi este ano partilhada pelo Japão e pela Coreia, esperava-se um forte impulso económico, especialmente neste último país, em resultado não só das receitas de bilheteira e de publicidade, mas também devido à dinamização do sector do turismo e do mercado interno. Embora não tenhamos tido acesso a indicadores finais sobre o resultado financeiro da competição, a média de espectadores por jogo (42.269) foi a mais baixa desde a competição realizada em Espanha (1992), apesar do total de espectadores ter sido idêntico ao verificado no França/98 (cerca de 2,8 milhões), dado que o número de jogos realizados aumentou de 52 para 64, desde 1998.

Sobretudo para a Coreia, cuja equipa teve um percurso desportivo consideravelmente mais auspicioso do que a congénere japonesa, o Mundial teve todavia alguns impactes negativos, que podem ser avaliados pelo menos a dois níveis: o primeiro está relacionado com a diminuição dos indicadores de actividade (nomeadamente do número de horas trabalhadas e da produtividade) durante o evento, num contexto em que a população coreana “viveu” intensamente os jogos efectuados. Por outro lado, surpreendentemente, a própria procura interna na Coreia ressentiu-se no mês de realização do evento (Junho), o que indicia algumas dificuldades adicionais para o 2º semestre deste ano.

__________
1 Desde finais de 1999, o iene caiu 17% em relação ao dólar norte-americano e 13% face ao euro.
2 Após ter registado uma recessão técnica no 1º semestre de 1998, em que se verificaram dois trimestres consecutivos de queda do PIB.
3 E que consistiu basicamente na venda dos produtos existentes em armazém, em detrimento de nova produção, uma vez que as empresas visualizavam uma forte quebra da procura, pelo que não expandiam a produção, antes a retraíam.  
4 Em Dezembro de 2001, a taxa de desemprego atingiu o nível mais elevado desde a II Guerra Mundial, nos 5,5%. Em Junho estava nos 5,4%. De 1980 a 1995, a taxa de desemprego média anual no Japão esteve sempre abaixo de 3%, tendo atingido 5%, em 2001. 
5 Ao ponto de se voltar a equacionar a possibilidade do FED vir ainda a descer mais as suas taxas directoras (actualmente em 1,75%), quando no final do ano transacto se antecipava que a amplitude da subida dessas taxas em 2002 pudesse ser superior a 100 p.b..


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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo ISEG. Mestre em Economia internacional pelo ISEG. Professor na UAL.
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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

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