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Onde estou: | Janus 2004 > Índice de artigos > Conjuntura internacional e nova Europa > Aspectos da economia mundial > [A retoma da economia mundial e as políticas de estabilização (II)] | |||
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A política monetária A inclinação da curva de rendimento, medida pela diferença entra as taxas de juro de longo e de curto prazo (uma inclinação positiva pode ser interpretada como apoiando o crescimento), fornece uma indicação interessante sobre o carácter da política monetária. A evolução das taxas de juro e de câmbio constitui outra referência para a avaliação da política monetária. Nos EUA, a política monetária tem apoiado o crescimento económico. A política de moeda fácil na recessão, provocando o forte declínio da taxa de juro de curto prazo, tornou a curva de rendimento fortemente positiva em 91, política que persistiu ainda decididamente em 92. O desvio foi-se estreitando nos anos seguintes, à medida que o crescimento económico e a consolidação orçamental se afirmavam. Mais recentemente, na tentativa de enfrentar a recessão actual, a curva elevou-se de novo fortemente em 2001 e 2002, revelando a acção sempre decidida da política monetária americana. As taxas de juro reais de curto prazo situaram-se em níveis muito baixos nos anos de abrandamento e recessão de 91-93, contribuindo para estimular a retoma económica. Ao mesmo tempo, o enfraquecimento do dólar no início dos anos 90 traduziu-se numa queda da taxa de câmbio real, apoiando a economia americana, tanto no ano da recessão propriamente dita de 91, como no início da retoma. A apreciação desta moeda virá mais tarde, quando a força interna da economia americana permitia compensar a perda da competitividade internacional. O actual contexto de depreciação do dólar não deixará de contribuir positivamente para a retoma mais rápida da economia americana. Na área do euro, a política monetária anticíclica, ou tem estado ausente ou tem sido tímida e inconsequente. No período 91-93, de abrandamento e recessão da actividade económica, a curva de rendimento é negativamente inclinada, indicando uma política monetária restritiva, ou seja pró-cíclica, a qual, só a partir de 94, e em menor grau em 95, se reverteu, num momento em que a retoma já estava claramente consolidada. A fraca resposta às dificuldades por que passa actualmente a economia europeia é igualmente visível no sempre tardio e ligeiro movimento ascendente da curva em 2002. Na Europa, a taxa de juro real de curto prazo permaneceu muito elevada, apesar de ter baixado no ano de 93, de recessão económica, quando comparada com a dos EUA (em 91), mantendo-se elevada nos anos da retoma. Na actual fase, de características recessivas, esta taxa reduziu-se significativamente, embora mantendo-se acima da taxa homóloga americana. É claro, ao contrário do que ocorre com a economia americana, a apreciação do euro não vem senão dificultar as condições de retoma da economia europeia. Um euro forte, nas actuais circunstâncias, é a pior prenda que se pode dar à economia europeia, sobretudo, quando, como é o caso, a Europa continua à espera do crescimento da procura externa (isto é americana), como remédio para a sua saída da recessão.
O futuro próximo A previsão de recuperação económica para 2002 acabou por ser adiada para 2003 mas, ao que tudo indica, só poderá vir a concretizar-se em 2004, em grande medida devido aos efeitos colaterais, nomeadamente em termos da confiança dos agentes económicos, de um conjunto de acontecimentos que começaram com os atentados do 11 de Setembro e culminaram com a crise do Iraque, passando pela instabilidade na Palestina e pela SARS – Severe Acute Respiratory Syndrome. Em qualquer dos casos, uma vez mais, a liderança na recuperação vai caber aos EUA. Na verdade, assim que pressentiram os ventos da crise, as autoridades monetárias não hesitaram em descer de forma significativa as taxas de juro oficiais (1). Por outro lado, a Administração Bush lançou mão de um “agressivo” pacote orçamental de 75 mil milhões, que deverá colocar o défice orçamental, no ano fiscal de 2004, em 500 mil milhões de dólares (4,4% do PIB), mas que se espera venha a contribuir decisivamente para a dinamização da economia. Deste modo, os efeitos conjugados daquelas políticas, associados a um comportamento que se prevê mais favorável para o mercado accionista, deverão induzir uma recuperação do consumo nos EUA, eventualmente já no 4º trimestre deste ano. O consequente aumento da procura deverá gerar um acréscimo do investimento, que se irá reflectir num maior dinamismo do mercado de trabalho (cuja quebra recente afectou substancialmente a confiança dos consumidores). Pelo exposto, não surpreende que o Fundo Monetário Internacional esteja a prever uma taxa de crescimento do PIB norte-americano de 3,6%, em 2004 (face a uma previsão de 2,2%, para 2003), que colocará novamente esta economia próxima do chamado “crescimento potencial”. Já na área do euro a situação é bem diferente! Limitada por uma política monetária decidida a doze (2) e por um Pacto de Estabilidade e Crescimento que impõe restrições à adopção de políticas orçamentais mais expansionistas, o PIB da área do euro deverá registar este ano um crescimento inferior a 1% (apesar da previsão mais optimista do FMI), influenciado por um consumo privado em abrandamento face à deterioração dos níveis de confiança dos agentes económicos e, paralelamente, pela deterioração do mercado de trabalho (em meados de 2003, a taxa de desemprego na área do euro atingia 8,8%, quando nos EUA o desemprego andava pelos 6,4% e no Reino Unido era de 3,1%). Por outro lado, persistem algumas fragilidades do lado da oferta, estando o sector industrial a braços com um excesso de capacidade produtiva instalada, face à menor capacidade de adaptação das empresas europeias aos ciclos económicos (do que, por exemplo, as empresas norte-americanas), o que se prende com as leis laborais mas também com uma certa mentalidade dos empresários (3). Nos últimos tempos, a situação na indústria agravou-se, especialmente no sector exportador, devido ao forte movimento de apreciação do euro. A não serem adoptadas estratégias de política económica mais pró-activas, nomeadamente a nível orçamental, dificilmente a área do euro conseguirá acompanhar o ritmo de recuperação que se prevê para os EUA (e para outras zonas do globo, como a Ásia e o Canadá), não sendo sequer previsível, a nosso ver, que o crescimento venha a situar-se acima dos 2%, em 2004, contrariamente ao que prevê o usualmente optimista Fundo Monetário Internacional.
Conclusão Ao comparamos a evolução das economias e das políticas de estabilização entre os EUA e a área do euro não podemos deixar de sublinhar alguns aspectos: o primeiro relaciona-se com uma questão de atitude, estabelecendo-se um forte contraste entre uma posição pró-activa dos EUA e uma posição passiva da Europa em matéria de estabilização económica, como, de resto, noutras matérias. O segundo resulta directamente da análise anterior e relaciona-se com uma clara escolha americana por um tradicional mix de política anticíclica, conjugando a política orçamental e monetária, face à ausência de tal política por parte da área do euro, que privilegia a consolidação orçamental e o combate à inflação, mesmo quando, como actualmente, tal se revela dificilmente justificado. O terceiro refere-se ao aparente paradoxo de encontrarmos, por um lado, uma política económica americana inspirada nas velhas teorias keynesianas, subestimando completamente as mais recentes contribuições teóricas de académicos americanos como Robert Barro e a sua teoria da Equivalência Ricardiana, em matéria orçamental, ou Robert Lucas e os monetaristas, com a ideia da ineficácia da política monetária, e, por outro, uma velha Europa mais inspirada nas modernas orientações teóricas americanas, subestimando as usadas lições keynesianas. Finalmente, a constatação, não apenas da melhor performance económica por parte dos EUA ao longo dos anos 90, mas também do facto, eventualmente atribuível em parte à política macroeconómica de estabilização, de uma mais pronta retoma por parte da economia americana, o que contrasta com a economia europeia, onde parece desenvolver-se uma espécie de dependência que obriga esta última a “pegar de empurrão” apoiada na procura externa americana.
Informação Complementar Japão – de novo o crescimento? De entre os três grandes blocos económicos mundiais (EUA, área do euro e Japão), o Japão foi seguramente aquele em que se fizeram sentir mais rudemente os ventos agrestes da crise. Na verdade, confrontada com problemas estruturais a nível da organização do sistema produtivo e, em particular, do sector financeiro, que se arrastavam pelo menos desde meados dos anos 80, a economia nipónica foi muito abalada pelo abrandamento da conjuntura internacional que se começou a observar em 2001, entrando no final desse ano em recessão técnica (isto é, dois trimestres consecutivos de crescimento negativo do Produto Interno Bruto). Este cenário recessivo foi acompanhado pela deflação, que assola o país desde 1999. Apesar da atitude agressiva das autoridades oficiais no intuito de combater a crise, nomeadamente através de uma política monetária ultra-expansionista que levou o banco central a ceder liquidez ao mercado a uma taxa de juro de zero por cento, e à adopção de sucessivos pacotes orçamentais também eles expansionistas, o que é facto é que estas medidas mais não foram do que simples paliativos para uma “doença” bem mais complicada, cuja cura passaria por medidas mais radicais de saneamento do sector empresarial nipónico. No entanto, nos últimos meses, tem-se assistido a uma clara recuperação dos principais indicadores económicos. Mais uma vez, a motivação mais profunda para este regresso dos bons ventos à economia japonesa é externa, e corresponde à retoma da locomotiva norte-americana! Deste modo, verificou-se uma aceleração das exportações japonesas, a beneficiarem da maior procura nos EUA e no Sudeste Asiático, com esta região a ser igualmente favorecida pela aceleração da economia norte-americana. O aumento das exportações induziu maiores níveis de confiança por parte dos empresários, cuja tradução prática aparece claramente evidenciada nas contas nacionais: o investimento, que registou taxas de crescimento negativas entre o terceiro trimestre de 2001 e o terceiro trimestre de 2002, foi gradualmente recuperando, tendo crescido 5,3% no segundo trimestre de 2003, num movimento cuja amplitude só encontra paralelo, no passado recente, no final do ano 2000. Curva de rendimento (inclinação) Índice de acções (Dow Jones) e confiança dos consumidores
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