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O Brasil na geografia da internacionalização portuguesa

Pedro Pinto *

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Durante muitas décadas o relacionamento económico de Portugal com o Brasil resumiu-se ao comércio da saudade. Para além do bacalhau, do azeite e do vinho pouco mais se explorava de um mercado com um enorme potencial de consumo e forte proximidade em termos de língua e cultura.

 

A nova atracção dos anos 90

Esta realidade foi alterada a partir dos anos 90 com o delinear de uma nova geografia e um forte espírito de internacionalização para as empresas portuguesas. Se o início da década ficou marcado por uma clara preferência pela Espanha e União Europeia como destino do investimento directo português no exterior, a partir de 1995 o Brasil assume-se como mercado de eleição e faz descer, quase para metade, a preponderância do mercado europeu. De 1996 a 2002, as empresas portuguesas investiram mais de 14 mil milhões de euros em terras de Vera Cruz, em diversos mercados e sectores: telecomunicações, energia, banca, turismo, distribuição, indústria, comércio e serviços. Ao todo, cerca de 350 empresas criaram mais de 100 mil postos de trabalho e mudaram muito da ideia tida, além-atlântico, quanto à dinâmica e capacidade do empresariado nacional. É que com os fluxos de investimento chegaram, também, executivos modernos, altamente qualificados e integrados no competitivo mundo da União Europeia. No fundo, um perfil bem diferenciado do tradicional padrão da emigração portuguesa que ao longo de séculos fluiu para terras brasileiras.

 

Entre os melhores

Enquadrado pelo processo de privatizações e abertura da economia brasileira ao exterior, Portugal assumiu-se, em 2002, como o sexto maior investidor num mercado com 170 milhões de consumidores e porta estratégica para a entrada no Mercosul. De facto, as empresas portuguesas foram, logo a seguir aos EUA e à Espanha, as mais participativas na abertura ao capital privado dos grandes gigantes públicos brasileiros. Criou-se, então, um rasto de grandes investidores, gerador, mais tarde, de oportunidades de negócio para pequenas e médias empresas que não hesitaram em segui-las para o Brasil, até porque já em Portugal lhes forneciam serviços ou produtos. Por tudo isso, até 2003, Portugal aparece sempre nos primeiros lugares da lista de investidores, depois de em 1999 e 2000 ter sido o terceiro mais importante. Quanto à Espanha – natural rival ibérico e parceiro estrutural nalguns sectores – foi o segundo mais importante investidor em 2001, seguido da França, mas os seus fluxos caíram fortemente para 2002, embora tenham recuperado ligeiramente nos doze meses seguintes.

A evolução portuguesa demonstra que a tendência de investimento tem sido decrescente desde 1998, altura em que atingiu o valor mais alto de sempre, 40% do total de capitais direccionados para o exterior. Os últimos anos de afirmação no Brasil corresponderam às percentagens mais baixas do IDE português em termos de destino: 9% em 2001 e 17% no ano seguinte. Aliás, pela primeira vez, a percentagem do investimento no Brasil face ao total transferido para o exterior caiu abaixo dos dois dígitos, em claro contraste com o passado, mas adquirindo no ano seguinte uma expressão mais consentânea quando quase duplicou o seu peso.

De facto, logo no ano 2002, o Brasil volta a assumir-se como um dos destinos mais importantes no contexto geral português, em terceiro lugar, logo a seguir a Espanha e Países Baixos. Quanto a 2003, os dados relevam o facto curioso dos empresários brasileiros investirem mais em Portugal do que os portugueses do outro lado do Atlântico. De resto, o ano coincidiu com uma forte retracção dos investimentos em todo o mundo, com o Brasil a não ser uma excepção e a receber o valor mais baixo desde 1996. Uma derradeira nota: as estatísticas colocam Portugal na sexta posição em termos de dimensão de investimento, mas muitos empresários acreditam que o lugar é mais acima, talvez quarto. É que muito do dinheiro alocado para a região passa primeiro por outros países em busca de isenções fiscais, para além de que muitas empresas instaladas localmente continuam a reinvestir no Brasil.

 

Razões de investimento

A economia portuguesa refez então as rotas das caravelas, reinventou o interesse pela economia brasileira e criou novos laços com uma realidade económica que tinha ficado esquecida, sobretudo depois da adesão à União Europeia. Podem destacar-se três razões estratégicas para que a nova geografia da internacionalização portuguesa tenha passado fortemente pelo cone sul-americano: elevado potencial de mercado, oportunidades de negócio em diferentes sectores e afinidades históricas e culturais. O Brasil é um país muito atraente pela abrangência do seu mercado que abre ainda portas para os restantes países do Mercosul. Ao todo, 220 milhões de consumidores com tendência crescente para a subida dos padrões de consumo e maior inserção na economia mundial.

Para uma empresa portuguesa, mesmo uma pequena quota do mercado brasileiro representa uma dimensão que o mercado nacional jamais poderá oferecer. Para além disso, a proximidade histórica e cultural, as facilidades de comunicação oferecidas pela partilha de uma língua comum tornaram o Brasil como primeira experiência de internacionalização. Até porque, principalmente quanto aos grupos económicos, o mercado europeu já estava demasiado amadurecido e competitivo para convidar a uma rápida e bem sucedida internacionalização. Ao invés, no Brasil, o processo de privatizações e uma maior proximidade histórica e cultural tornavam a aposta menos arriscada e até mais apelativa. E se, numa primeira fase, apenas as grandes empresas nacionais canalizavam capital para o Brasil – e apenas para alguns sectores, aqueles que derivavam das privatizações, como a energia e as telecomunicações – actualmente são mais as pequenas e médias empresas que investem de forma significativa no país e em novos sectores.

 

Comércio modesto

Longe do fulgor do investimento, os dados comerciais entre os dois países encontram-se num patamar relativamente modesto, muito manietados pelas barreiras comerciais e por uma inércia fruto de décadas de afastamento. Distante dos maiores clientes, as exportações portuguesas para a América Latina têm subido gradualmente nos últimos anos, mas representaram em 2002 pouco mais de um por cento do total. O Brasil é o décimo quinto país de destino das vendas portuguesas para o exterior e responde por apenas 0,6% do bolo das exportações. O saldo da balança comercial luso-brasileira apresenta-se cronicamente desfavorável a Portugal, tendo o défice sofrido, após uma diminuição em 1998 e 99, um agravamento nos últimos três anos. Do lado das importações, o Brasil é o nosso décimo parceiro mais importante com um peso de 1,6% no total das compras portuguesas no estrangeiro.

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Curiosamente, são os produtos agrícolas, em alternância com o segmento das máquinas e aparelhos, a quem cabe a liderança das exportações nacionais para o mercado brasileiro. Os três sectores respondem por mais de metade da pauta de exportação. Combustíveis minerais, plásticos e borracha,madeira e cortiça, têxteis e vestuáriosão outros dos grupos importantes em termosde produtos exportados para o Brasil.Apesar da modéstia do peso de importações e exportações, é de prever, contudo, que a relação com o Brasil ganhe um outro peso nos próximos anos, à medida que consequências da entrada em vigor do acordo de livre comércio União Europeia- Mercosul tragam novas oportunidades de negócio.

Portugal é o país europeu mais próximo do Brasil, e essa é uma vantagem ímpar para as empresas brasileiras que queiram produzir e vender na União, um mercado agora alargado a 25 países e 450 milhões de consumidores. E se os portugueses já descobriram o Brasil como destino de investimento e de negócios, agora, efectivado o processo de recuperação económica depois da grave crise na Argentina e Uruguai, o futuro poderá passar também pela expansão para outros mercados da América Latina.

 

Informação Complementar

“NOVAS CARAVELAS”: DIVERSIDADE DE INVESTIMENTOS

Algumas das mais de três centenas e meia de empresas portuguesas que apostam no Brasil têm merecido referência especial no ranking dos maiores investidores ao longo da última década e traduzem a diversidade e excelência da internacionalização portuguesa.

 

Portugal Telecom

A Portugal Telecom ocupa desde 1998 o primeiro lugar destacado em volume de investimento português no Brasil. Uma internacionalização que despontou com a aquisição da Telesp Celular, a operadora telefónica mais cobiçada no decurso do processo de privatizações definidas pelo governo brasileiro. Depois, a associação à espanhola Telefónica Moviles e o sucesso do lançamento da operadora VIVO – 17 milhões de assinantes e cobertura de 85% do território brasileiro – colocam esta joint-venture como a maior operadora móvel da América do Sul e a quarta maior do mundo. A VIVO está presente em 19 estados brasileiros e conta com sete mil colaboradores directos e cinquenta mil indirectos.

 

EDP

É, naturalmente, o destaque na área da energia, com investimentos em terras brasileiras desde 1996. A holding EDP Brasil detém participações na Companhia de Electricidade do Rio de Janeiro, Bandeirante Energia, Espírito Santo Centrais Eléctricas (Escelsea) e Enersul. Entre outros investimentos a EDP prepara-se para concluir a barragem de Lajeado, em Tocantins.

 

BES, BCP e CGD

É a parte mais financeira do investimento português que entre outros representantes tem no Banco Espírito Santo – compra de uma parte do capital do Banco Boavista – no Banco Comercial Português e na Caixa Geral de Depósitos três dos seus principais representantes, que ao longo dos últimos anos têm expandido a sua influência no mercado bancário brasileiro.

 

Cervejaria Cintra

Está no Brasil desde 1997 com elevados investimentos em infra-estruturas de produção e distribuição de cerveja, refrigerantes e água. Uma projecção portuguesa que se estende por seis estados brasileiros com produção centrada nas fábricas de Pirai, no Rio de Janeiro, e Mogi Morim, em São Paulo. Para os próximos anos o grupo prevê a abertura de mais duas fábricas em terras brasileiras.

 

Sonae

A ligação surge em 1997 pela mão da Sonae Indústria e com uma meta ambiciosa: construir um shopping por ano e tornar-se líder no sector da distribuição num mercado de 170 milhões de consumidores. Depois de ter construído o maior centro comercial da América Latina – o Parque D. Pedro, em Campinas, com quase 190 mil metros quadrados – inaugurou em Março deste ano o Shopping Boavista, em São Paulo, e prepara-se para arrancar com o Parque Jockey, em Curitiba. Três empreendimentos que representam uma criação directa de 12 mil postos de trabalho. O grupo tem já no Brasil uma rede de quase duas centenas de lojas especializadas, supermercados e hipermercados com as bandeiras Nacional, Big, Mercadorama e Cândia. É neste momento a terceira maior rede de distribuição no país.

 

Pestana

É a maior expressão lusa no turismo brasileiro, um sector em franca expansão nos últimos anos. A sua entrada ocorre em 1999, com a aquisição do Hotel Rio Atlântico. Nesta altura, o grupo Pestana é o primeiro investidor hoteleiro no Brasil, onde já possui cinco empreendimentos: Rio de Janeiro, Angra dos Reis, São Paulo, Bahia e no Rio Grande do Norte, em Natal. Para este ano está prevista a abertura de mais uma unidade, em Curitiba, no estado do Paraná. O grupo pretende ainda trazer para o Brasil o modelo da rede de Pousadas de Portugal, com a aquisição do convento do Carmo, no Pelourinho, em Salvador, para a instalação de uma nova unidade hoteleira. A plataforma brasileira de investimentos encerra ainda um propósito mais ambicioso: a expansão para o Mercosul.

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* Pedro Pinto

Licenciado em Relações Internacionais pela UAL. Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo ISEG. Doente na UAL. Jornalista da TVI.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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Link em nova janela Peso do Brasil no investimento directo português no exterior

Link em nova janela Principais investidores no Brasil

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