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Os factores de inovação e a internacionalização

Conceição Moreno *

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As atitudes e estratégias de internacionalização prosseguidas maioritariamente pelas empresas portuguesas, a par dos principais factores que estão na génese de comportamentos inovadores, reforçam a importância do investimento imaterial, e de forma particular a criatividade e a capacidade de antecipação como vectores chave para a conquista de posições competitivas. Os principais instrumentos da política de apoio à internacionalização surgem de forma complementar como estímulo e catalisador de um processo que se deseja virtuoso entre a competitividade empresarial e a da economia portuguesa.

Atitudes e estratégias de internacionalização

Portugal sempre se assumiu como uma pequena economia bastante aberta, sendo relevante a sua capacidade exportadora, principalmente nos anos mais recentes, cujos fluxos têm actuado de forma positiva e em contraciclo. Vários trabalhos têm apontado diferentes tipologias de atitudes face à internacionalização, desde comportamentos mais passivos associados a estratégias de dependência de clientes estrangeiros (subcontratação), a atitudes mais activas, dependendo dos sectores, da sua experiência com mercados externos e das respectivas capacidades internas (que funcionam em graus diferenciados como estímulos e condicionantes).

Efectivamente, as condicionantes internas às empresas são aspectos chave no processo de decisão e sustentação das estratégias de internacionalização. De vários estudos empíricos ressaltam a dimensão da empresa, a experiência internacional, a capacidade de gestão e os recursos mobilizáveis. Por isso mesmo, as diferentes políticas de apoio à internacionalização e competitividade das empresas actuam e dirigem os seus esforços para domínios como a estratégia/ organização, marketing, produtividade, desenvolvimento de novos produtos e serviços, propriedade industrial, investigação e desenvolvimento e qualificação dos recursos humanos.

Várias são as formas possíveis de operação em mercados externos, e frequentemente assumem um formato compósito, desde a subcontratação à exportação, aos contratos de franchising, aos contratos de licença, ao estabelecimento de alianças e parcerias, até à constituição de filiais comerciais e produtivas. Os processos de internacionalização têm sempre como objecto final o reforço da competitividade global da empresa e portanto da sua rendibilidade (criação de valor). Pretende-se proteger/ controlar mercados, reduzir custos de informação/ transacção, aceder a novos mercados e novos conhecimentos, obter economias de integração vertical e diversificação horizontal, reduzir ou partilhar riscos, optimizar as vantagens regionais, em termos de custos e qualidade dos factores de produção (cada vez mais intangíveis), etc.

Os casos de sucesso assumem quase sempre uma gestão dinâmica e uma atitude activa face à inovação. Exigem quase sempre flexibilidade e capacidade de resposta rápida e com qualidade às configurações e alterações dos mercados/ consumidores alvo, assim como uma clara interpretação dos mercados e das suas necessidades, ou seja, uma gestão e organização eficiente. Num quadro concorrencial internacional acrescido e face a um mercado interno reduzido, tem sido crescente o número de empresas portuguesas que têm vindo a empreender ou intensificar os processos de internacionalização. Os países de destino são essencialmente a União Europeia, muito em particular a Espanha e Holanda, o Brasil e o Norte de África.

Dados disponibilizados pelo ICEP, relativamente ao investimento português em Espanha, permitem constatar que a grande maioria das empresas é exportadora e cerca de 3/4 são da Indústria Transformadora. Apresentam maior representatividade a Indústria Têxtil e Indústria do Couro e dos Produtos de Couro (11%), a Fabricação de Outros Produtos Minerais Não Metálicos, e a Fabricação de Produtos Metálicos excepto Máquinas e Equipamento. Nos Serviços, destacam-se os ramos de Transportes, Armazenagem e Comunicações, as Actividades Financeiras e o Comércio por Grosso e a Retalho e Reparação de Veículos Automóveis.

As formas de internacionalização mais comuns foram a constituição de empresas comerciais e a aquisição de empresas. Inquéritos junto de empresas que encetaram processos de internacionalização permitem ainda adicionalmente referir que:

• A experiência internacional anterior condiciona o grau de profundidade do processo de internacionalização, ou seja, traduz-se numa estratégia de maior naturalidade quando se está em presença de uma empresa já com uma forte ligação a entidades estrangeiras (clientes, fornecedores, entidades de I&DT);

• As relações de cooperação com grandes clientes/ distribuidores podem constituir eficazes alavancas de um processo de internacionalização;

• Uma forte dinâmica e empenhamento da gestão podem permitir, através de um esforço de alargamento da carteira de clientes, a passagem de um estádio de subcontratação para exportação directa (aumentando a capacidade de criação de produtos/ serviços e actuando em parceria/ cooperação com clientes/ entidades de I&DT);

• Frequentemente, o processo de internacionalização passa por uma primeira fase de filial comercial, na qual se vão alargando as funções e serviços prestados (pré e pós-venda);

• Maturidade técnica e tecnológica (no sentido de existência de capacidades de concepção, produção e organização) e a existência de marca são também características comuns das empresas que encetam processos de internacionalização, não obstante a referência recorrente à necessidade de vencer a imagem negativa internacional dos produtos de origem portuguesa.

 

Factores impulsionadores dos processos de inovação

O comportamento inovador de uma empresa tem por base diversos factores, desde as suas competências internas (modelo de gestão, conhecimento, recursos humanos, capacidade financeira, I&D, tecnologias e equipamentos), às formas como se relaciona com o exterior (relacionamento com clientes, fornecedores, banca, sistema científico e tecnológico) e ao enquadramento sectorial/ territorial específico (serviços de apoio, concorrência, Estado, enquadramento macroeconómico). Nas trajectórias de inovação das empresas, muito em particular das PME, assume particular relevância o relacionamento externo no que diz respeito ao acesso à informação, nomeadamente de natureza tecnológica, e à forma como é endogeneizada internamente, à cooperação e à articulação com entidades dos sistemas regionais/ nacionais de inovação, com clientes, com concorrentes, com fornecedores e com outras entidades relevantes (serviços financeiros, política industrial e de I&DT, incentivos, etc.).

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Em Portugal, e de acordo com alguns estudos recentes, podem identificar-se como principais variáveis estratégicas no processo de inovação, a I&D, os acordos de cooperação, o investimento directo estrangeiro e a aquisição de equipamento. O desenvolvimento de actividades de investigação e desenvolvimento experimental (I&D), assumindo diferentes configurações consoante o sector e o posicionamento da instituição em termos de concorrência internacional, pode representar um simples posicionamento de vigilância (duplo papel da I&D enquanto elemento potenciador de desenvolvimento de novos produtos e processos, e enquanto aumento da capacidade das empresas em anteciparem e seguirem a evolução do meio em que operam), à estimulação das capacidades de adaptação e de criatividade, a uma atitude agressiva traduzida no desenvolvimento efectivo de núcleos de investigação/ desenvolvimento e de criação de novos produtos/ serviços.

A aquisição de tecnologia incorporada (equipamentos) e não incorporada (patentes, licenças) traduz um modo passivo de acesso à inovação mas bastante relevante para a generalidade das PME. Não obstante, a endogeneização do conhecimento tecnológico exige um posicionamento de alguma forma activo por parte da instituição, nosentido de maximizar o seu potencial nacadeia de valor.O IDE constitui outro modo de acesso àinovação pela aquisição ou participação no capital social de entidades, podendo envolverquer entidades relevantes na produçãode novos conhecimentos, quer entidadesrivais ou complementares na estratégia dainstituição.

Frequentemente, estas operaçõessão complementadas por acordos decooperação que minimizam as carênciastecnológicas, técnicas ou de mercado dainstituição. Os acordos de cooperação podem assumir diversas configurações e uma formulação formal ou informal. Podem-se destacar os contratos de transferência de tecnologia e os projectos de investigação aplicada em consórcio, envolvendo diversas entidades do Sistema Científico e Tecnológico.

Em complementaridade, as redes científicas baseando-se na partilha do conhecimento, na reciprocidade e na confiança acumulada pelas sucessivas interacções, constituem uma fonte de conhecimento e de criatividade de extrema relevância, quer assumam uma formulação mais formal ou informal. Efectivamente, as relações informais e pessoais são muito importantes e as informações trocadas são muitas vezes de carácter estratégico, respeitando frequentemente a conhecimentos tácitos e específicos não descritos em publicações científicas. São geralmente as grandes empresas e as que operam em domínios de maior intensidade tecnológica as que têm gerido de forma mais eficaz este tipo de redes com o sistema científico, seleccionando os núcleos mais dinâmicos (janela sobre a investigação) por forma a acederem em tempo real aos novos desenvolvimentos (conhecimentos) de ponta. De forma idêntica tem-se assistido em diferentes tipos de indústria à cooperação entre empresas rivais, geralmente em fases pré-competitivas, e com o objectivo principal de financiamento da investigação genérica.

Os incentivos à cooperação internacional no domínio da I&D podem, em termos genéricos, ser agrupados em 5 grandes categorias:

• Janelas sobre a ciência e tecnologia (utilização da informação obtida pela cooperação para o desenvolvimento de novos produtos, entrada em novos mercados, e/ou saída de mercados em declínio);

• Partilha de risco e poupança nos custos;

• Complementaridades (a investigação exige de forma crescente competências multidisciplinares);

• Formação (envolve a mobilidade dos investigadores e do pessoal afecto ao projecto, formação do pessoal técnico nas universidades, colocação de licenciados em empresas e posteriormente o seu convite para tarefas académicas);

• Imagem e financiamento (a cooperação com centros de excelência bem cotados e associados a grandes universidades ou parques de C&T pode imputar um selo de prestígio e qualidade à empresa; por outro lado propicia às universidades e instituições de I&D financiamentos adicionais).

 

Políticas de estímulo à internacionalização das empresas portuguesas

Não obstante um maior desenvolvimento e explicitação das políticas públicas de apoio à internacionalização em artigo específico (2.3.4), refira-se desde já a natureza multi-dimensional das medidas de intervenção preconizadas, envolvendo diferentes ministérios e actuando de forma pró-activa e integrada em dimensões empresariais chave, como a estratégia, o marketing, o investimento físico (produto/ serviços), a qualificação dos recursos humanos, a protecção dos direitos de propriedade intelectual, o sistema fiscal e o mercado financeiro.

É assim que, ao nível do apoio específico às empresas, se destaca o Programa de Incentivos à Modernização da Economia (no âmbito do QCA III), nomeadamente através do SIME (Sistema de Incentivos à Modernização Empresarial), da medida de apoio ao investimento em recursos humanos, da dinamização de parcerias empresariais e da medida Internacionalizar a Economia. Note-se, complementarmente, que o actual enquadramento comunitário em matéria de auxílios estatais à internacionalização apresenta importantes restrições que passam pela inelegibilidade das despesas de investimento em zona geográfica que não a UE, os apoios de de minimis excluem os auxílios à exportação, e apenas podem ser apoiadas as PME (sem notificação) através da participação na compra de participações e aquisições de activos.

Assumindo o actual Governo como objectivo estratégico o aumento das exportações e o reforço da afirmação das empresas portuguesas nos mercados internacionais com vista à promoção e sustentabilidade de um novo modelo de crescimento, foi desenvolvido um conjunto de iniciativas, das quais se destacam: a criação em Novembro de 2002 da Agência Portuguesa para o Investimento (API); a implementação de novo modelo de promoção de Portugal envolvendo os Ministérios da Economia e dos Negócios Estrangeiros, no sentido do desenvolvimento de uma única rede de promoção externa de Portugal, das empresas e dos produtos e serviços portugueses no exterior; e a criação no início de 2003 de um Sistema de Informação às Empresas específico neste domínio.

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* Conceição Moreno

Economista. Mestre em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia. Assessora de Coordenação no Gabinete de Gestão do PRIME, Área de Coordenação, Planeamento e Avaliação (Ministério das Actividades Económicas e do Trabalho.)

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Bibliografia

DUNNING, J.Multinational Enterprises and the Global Economy. S.I.: Addison-Wesley, 1995.

SIMÕES, V. C.Inovação e Gestão em PME. Temas de Economia. S.I.: GEPE, 1997, caps. 6 e 8.

DG Empresa – “Innovation Tomorrow – Innovation Policy and the Regulatory Framework: making innovation an integral part of the broader structural agenda”. Innovation Papers n. º 28, CE, 2002.

MALERBA, F.; MORAWETZ; A.; PASQUI, G. – “International Cooperation Between Universities, Research, Organizations and Industry”. The European Communityand the Globalization of Technology and the Economy. Luxemburgo: FAST (1994). pp. 89-124.

PORTUGAL, Ministério da EconomiaA Reforma Económica em Portugal. Lisboa, 2002.

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