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A dimensão económica da China

Henrique Morais *

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A diplomacia do século XXI, sobretudo na sua vertente económica, não poderá ignorar os novos ventos vindos do Oriente, que parecem querer fazer girar o centro do mundo comercial e financeiro para os lados do Índico e do Pacífico.

Para um pequeno país periférico no contexto europeu, como é claramente o caso de Portugal, este novo enquadramento internacional que se prefigura no horizonte é, muito mais do que uma ameaça, um enorme desafio.

Os dados económicos são, a respeito desta nova realidade asiática e do mundo, perfeitamente devastadores: é na Ásia que se têm observado as maiores taxas de crescimento do produto interno bruto (em média, 7,2% no período de 1986 a 2005, claramente acima dos 2,9% registados nas economias avançadas), é em direcção à Ásia que rumam os fluxos de investimento internacional (a China é hoje o maior destino “real” (1) desse investimento), lá se situando ainda as economias mais dinâmicas em termos de crescimento do comércio internacional.

De entre as economias asiáticas, há todavia duas que merecem especial atenção no contexto actual: uma, a Índia, pelas potencialidades que encerra de vir a ocupar nas próximas décadas uma posição privilegiada no contexto das nações. Em termos estritamente económicos, é um país bem organizado e com as estruturas de mercado completamente adaptadas ao mundo da globalização e do livre comércio, com uma mão-de-obra english speaking e altamente qualificada. Trata-se de uma economia a acompanhar nos próximos anos e que deveria ser foco de especial atenção por parte da nossa diplomacia económica.

A outra é o tema do momento e chama-se República Popular da China. Já se apresentaram anteriormente algumas das suas limitações em termos políticos e sociais; noutro documento desta publicação irá analisar-se a situação algo periclitante, e susceptível de gerar desequilíbrios e fragilidades preocupantes a nível económico, em que se encontra o seu sector financeiro.

Em qualquer dos casos, o modelo de crescimento claramente vocacionado para o sector exportador e a atracção do investimento estrangeiro que foi implementado nos últimos anos começa agora a ter consequências e ameaça tornar rapidamente a China no gigante económico mundial.

Deste modo, a China deve ser monitorizada pelo menos em dois contextos: em termos da política económica europeia (e mundial), pela elevada probabilidade de que algum fenómeno de abrandamento do crescimento da economia chinesa (muito provável, dados os desequilíbrios actuais) possa condicionar fortemente as restantes economias; em termos da diplomacia económica europeia (portuguesa?) porque a China começa a ser um destino incontornável para as empresas que pretendam assumir papel de relevo no contexto internacional.

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A actividade económica

Descrever a economia da China é ainda hoje uma tarefa complexa, não só pela escassez de informação sobre um país e uma economia ainda relativamente “fechados” à comunidade internacional, mas sobretudo pela falta de qualidade de boa parte da informação disponível e pela dinâmica de um país em que o ritmo dos acontecimentos não segue os critérios/ padrões europeus.

De qualquer forma, sobretudo com base nos dados de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outras, é possível constatar sem tibieza que a economia da China tem vindo a registar nos últimos anos ritmos de crescimento sem paralelo a nível mundial. Segundo dados do FMI, o Produto Interno Bruto (PIB) registou entre 1987 e 1996 uma taxa média de crescimento de 10%, muito acima do observado, quer nas economias avançadas (3%), quer no conjunto da Ásia em desenvolvimento (7,8%). Por outro lado, o abrandamento do crescimento previsto para os próximos anos é pouco expressivo, sendo esperado um crescimento médio no período de 1997 a 2006 de 8,3%, que continua a não ter paralelo a nível internacional.

O modelo de crescimento da economia chinesa tem assentado essencialmente no sector externo, com as exportações (e também as importações) a revelarem ritmos de crescimento assinaláveis. Deste modo, no período entre 1990 e 2004, as exportações cresceram a uma taxa média anual de 17,5%, substancialmente acima dos 7,2% observados no mundo, contribuindo para a formação de excedentes comerciais assinaláveis desde 1994.

No entanto, outras componentes das contas nacionais têm contribuído para a evolução favorável do crescimento económico na China. O consumo privado tem registado ritmos de crescimento anuais entre 5% e 10%, que se situam muito acima dos padrões médios das economias avançadas. Por exemplo, nos EUA e na Alemanha o crescimento médio anual do consumo privado nos últimos 40 anos situou-se próximo de 3,5% e, nos últimos 10 anos, o melhor que se pôde observar foi um crescimento do consumo privado de 5,1%, em 1999. Na Alemanha, desde o início da década de 90, o crescimento mais acentuado do consumo privado foi observado em 1992 e 1999, situando-se ”apenas” em 2,9%.

Como se poderá constatar adiante, a China começa hoje a ter um peso considerável a nível do produto mundial, sendo responsável por cerca de 4% do PIB global, quando em 1988 representava apenas 2,2%. No entanto, e em contraste claro com os padrões das economias avançadas, o PIB per capita da China é extremamente baixo, situando-se ligeiramente acima dos 1.300 dólares norte-americanos (muito abaixo dos cerca de 41.800 USD nos EUA ou dos 34.200 USD na área do euro). Mesmo quando se consideram os valores em paridade de poder de compra, a diferença continua a ser significativa, com o PIB per capita chinês a representar cerca de 15% do congénere norte-americano e 23% do observado na área do euro.

Por outro lado, o sector produtivo chinês denota algumas (muitas) características que o afastam dos países mais avançados, designadamente a nível da repartição sectorial do produto. Deste modo, o peso do sector industrial continua a ser esmagador (53,3%) e tem estado inclusive a aumentar (era de apenas 41,6% em 1990), contrastando com o que se verifica nas economias mais desenvolvidas apresentadas (em que já não ultrapassa os 26%) e mesmo com o que se verifica na Coreia do Sul e até na Índia, em que o peso do sector dos serviços é muito superior ao peso do sector industrial (2).

Aliás, o reforço do peso relativo do sector industrial na China a que se tem vindo a assistir desde o início da década de 90, e que tem sido feito essencialmente em detrimento do sector agrícola, não foi acompanhado pelo reforço do peso do sector dos serviços que, entre 1990 e 2005, aumentou marginalmente, de 31,3% para 32,4%.

No mercado de trabalho, é de assinalar o nível relativamente reduzido da taxa de desemprego que, segundo os últimos dados disponíveis, terá atingido os 4,2%, em Março de 2005. Nota-se, todavia, um aumento ligeiro mas gradual da taxa de desemprego, face aos níveis residuais observados em meados dos anos 80 (cerca de 2%, em 1986). Estes indicadores devem todavia ser encarados com algumas reticências, podendo esconder situações de subemprego (sobretudo no mundo rural), bem como largos milhões de postos de trabalho que apenas subsistem graças à utilização massiva do emprego público como estratégia de perpetuação do regime político vigente.

No que diz respeito às contas públicas, registou-se, entre 1996 e 1999, algum agravamento do défice orçamental, tendo-se observado neste último ano um défice do governo central de 4% do Produto Interno Bruto. Na origem próxima deste comportamento do défice esteve, em grande medida, o próprio abrandamento do crescimento a que se assistiu no período em causa. Na verdade, perante as tensões inflacionistas que se observaram em meados da década de 90, as autoridades chinesas recorreram a medidas de contenção dos salários e dos preços que, conjuntamente com a crise asiática do Verão de 1997, induziram algum abrandamento do crescimento económico na China (que em 1999 se situou em “apenas” 7,1%). Nos últimos anos tem-se assistido todavia a uma diminuição do peso do défice orçamental face ao produto, o qual se situou em 2,4%, do PIB, em 2004, prevendo o Fundo Monetário Internacional que possa reduzir-se para 2%, em 2005, e 1,7%, em 2006.

Ora, tendo como referência os valores observados nos países mais avançados, verifica-se que o défice orçamental chinês não só apresenta um nível perfeitamente aceitável, como aliás se situa ligeiramente abaixo da média dos países avançados (que foi de 3,5%, em 2004, e deverá manter-se nesse nível em 2005, devendo reduzir-se para 3,4%, em 2006).

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1 O Luxemburgo ocupa o 1º lugar do ranking do investimento directo estrangeiro (principal componente do investimento internacional) o que está todavia relacionado com motivos de carácter fiscal e operacional. Deste modo, desde 2003 é a China que ocupa essa posição privilegiada, tendo destronando os EUA que era tradicionalmente o maior destino do IDE a nível mundial.
2 De notar que, no caso da Índia, tivemos de nos socorrer de um artifício estatístico, uma vez que a informação de base divulgada pelo Economist Intelligence Unit era: Agricultura (19,0%); Indústria (26,1%) e Serviços (46,3%), isto é o somatório dos três sectores perfazia apenas 91,4%. Deste modo, optou-se por distribuir o remanescente de forma proporcional a estes pesos.


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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório das Relações Exteriores da UAL.

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Dados adicionais
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Link em nova janela Distribuição sectorial do produto

Link em nova janela Taxa de desemprego

Link em nova janela China: evolução do PIB per capita

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