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Janus 2006



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Indicadores da economia mundial

Manuel Farto e Henrique Morais *

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A conjuntura económica internacional é susceptível de ser avaliada em função de um conjunto de indicadores relevantes, alguns dos quais são aqui analisados em maior detalhe, com particular destaque para as grandes áreas económicas mundiais (Estados Unidos, área do euro e Japão, entre outros), para além de Portugal.

 

Do dinamismo norte-americano...

Os gráficos apresentados rapidamente nos induzem à conclusão de que os EUA continuam a ser a “locomotiva” do crescimento económico mundial. Na verdade, após terem registado, em 2004, um crescimento do PIB superior a 4%, alicerçado num forte crescimento da procura interna, tudo indica que, em 2005, o PIB possa vir a aumentar próximo de 4% (o FMI previa, em Abril, 3,6%).

A economia norte-americana beneficiou em 2004 de um conjunto de estímulos acumulados ao longo dos anos anteriores, designadamente de cariz orçamental e monetário. A nível orçamental, os principais estímulos concentraram-se essencialmente no período de 2003 a 2004, pelo que os seus efeitos começam agora a esgotar-se, seguindo aliás a salutar tradição norte-americana de utilizar a política orçamental de uma forma absolutamente contra-cíclica, isto é, revelar um maior expansionismo nos períodos de fraqueza da economia, para se tornar mais restritiva nos momentos em que a economia revela maior dinamismo.

Também no que diz respeito à área monetária é patente o carácter anticíclico da política norte-americana. Deste modo, verificou-se uma trajectória de forte descida das taxas de juro oficiais pela Reserva Federal, as quais passaram de 6,5%, em Dezembro de 2000, para 1%, em Junho de 2003, nível em que se mantiveram durante 12 meses. Embora entretanto esse estímulo tenha sido atenuado, dado que, entre 30 de Junho de 2004 e Agosto de 2005, as taxas de juro oficiais subiram 2,5 pontos percentuais, para 3,5%, os seus efeitos perduram ainda, com o consumo privado a evidenciar elevado dinamismo (pese embora os efeitos nefastos para os consumidores da forte subida do preço da energia), tendo aumentado cerca de 4%, em 2004 e prevendo-se para o corrente ano um ritmo de crescimento próximo de 3%. Por outro lado, o esforço de reestruturação desenvolvido pelas empresas norte-americanas, especialmente no período de 2001-2004, que implicou uma substancial redução nos quadros de pessoal, tem vindo a reflectir-se num aumento dos lucros das empresas, as quais, até ao presente, conseguiram acomodar o aumento do preço da energia através da redução das respectivas margens. Neste enquadramento, o investimento tem-se mantido dinâmico, apresentando em 2004 um crescimento próximo de 10%, nível que poderá registar novamente em 2005.

É todavia de referir que se mantêm as debilidades estruturais da economia norte-americana, materializadas nos chamados “défices gémeos”, isto é, um défice pronunciado da balança corrente e um saldo orçamental igualmente negativo. O primeiro, aproximou-se, em 2004, de 670 mil milhões de dólares, ou seja, 5,7% do PIB, muito acima da média dos últimos 10 anos, num contexto em que os EUA continuam a evidenciar défices esmagadores da balança comercial (cerca de 617 mil milhões de dólares nesse ano). O défice terá atingido 343 mil milhões de dólares no 1º semestre de 2005, o que aponta para um agravamento substancial face ao ano anterior, provavelmente para valores muito acima da projecção do FMI. Em Abril, o Fundo projectava para 2005 um défice na ordem dos 5,8% do PIB mas, presentemente, alguns analistas apontam para um nível próximo dos 7%. Do lado orçamental, as notícias são mais favoráveis, sendo possível que se assista, em 2005, a uma diminuição do défice em relação a 2004 (em que este atingiu 400 mil milhões de dólares), eventualmente para valores na ordem dos 320-330 mil milhões de dólares.

 

...à tímida recuperação europeia

Deste lado do Atlântico as notícias são bastante menos favoráveis. Penalizada por uma política monetária bastante menos pro-activa do que nos EUA (entre finais de 2000 e Junho de 2003 o BCE desceu as taxas de juro oficiais de 4,75% para 2%, enquanto a Reserva Federal dos EUA fez diminuir a taxa dos Fed Funds de 6,5% para 1%) e pelo rigor orçamental imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, a área do euro viu a recuperação económica ser sucessivamente adiada. Deste modo, ao crescimento de 1,7% observado em 2004 (1) deverá suceder-se um ano de 2005 ainda pior, sendo esperado um crescimento entre 1,4% e 1,6%. A área do euro continua a ser penalizada pela anemia do consumo privado, directamente associada à manutenção de elevados níveis de desemprego (a taxa de desemprego estava, em Junho de 2005, nos 8,7%) e aos baixos níveis de confiança dos consumidores europeus. Por outro lado, o fortalecimento do euro ao longo de 2003/2004 (que culminou com o máximo histórico face ao dólar em 1,3667, em 30 de Dezembro de 2004) tem penalizado a componente externa, cujo contributo para o crescimento foi negativo em 2003 e marginalmente positivo em 2004 (+0,1%).

Neste enquadramento, não se vislumbra no futuro próximo uma recuperação efectiva do crescimento económico na área do euro, tanto mais que esta continua espartilhada entre o avanço aparentemente irreversível da globalização e suas exigências em matéria de flexibilização da organização económica e produtiva e, por outro lado, o modelo social europeu, com as respectivas virtudes e ambiguidades, designadamente em questões tão sensíveis como a protecção social e do trabalho.

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... passando pela robustez asiática!

Os mercados emergentes e em desenvolvimento revelaram na última década ritmos de crescimento económico substancialmente superiores aos observados nas economias avançadas. De acordo com os dados do FMI, no período de 1997 a 2006, o crescimento médio do PIB naqueles países deverá rondar os 5,3%, enquanto nas economias avançadas se quedará pelos 2,7%.

Entre os referidos mercados emergentes e em desenvolvimento, o destaque cabe indiscutivelmente à Ásia, com um crescimento médio nesse período de 6,6%, em grande medida devido ao forte crescimento económico na China, mas também devido ao dinamismo de economias como a Índia, Tailândia, Malásia ou Vietname.

Outras economias asiáticas mais avançadas, designadamente, a Coreia, Singapura e Taiwan, deverão registar em 2005 crescimentos que oscilarão entre cerca de 2,7%-3%, em Singapura, e 3,8%-4%, em Taiwan. A “força” destas economias radica, regra geral, na robustez do sector exportador, designadamente de componentes electrónicos (com especial peso na economia de Taiwan) e automóveis (sobretudo na Coreia), muito embora seja já considerável o peso da procura interna, com o consumo privado a assumir uma importância fulcral para a evolução do crescimento económico, designadamente na Coreia.

Uma palavra final para o Japão. Após os decepcionantes dados económicos do 2º semestre de 2004, que “empurraram” o crescimento do PIB para 2,6% (muito abaixo das estimativas que ao longo do ano se foram formando em torno dos 4%-4,5%), em 2005 tem vindo a observar-se uma solidez assinalável do consumo privado, alicerçada na recuperação do mercado de trabalho (a taxa de desemprego, que chegou a situar--se em 5,5% no início de 2003, recuou para 4,2% em Junho de 2005). A confiança dos agentes económicos no Japão é aliás visível na evolução dos indicadores bolsistas, com o índice de referência Nikkei a situar-se, em Agosto, nos máximos de 4 anos. Deste modo, tudo indica que a previsão anterior do FMI para o crescimento económico (0,8%) venha a ser substancialmente revista em alta, provavelmente para valores no intervalo de 2%-2,5%, tanto mais que se espera um impacto positivo decorrente de uma nova intensificação do crescimento nalgumas das economias preferenciais para as exportações japonesas, em especial nos EUA.

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1 De notar que este dado é substancialmente diferente do avançado pelo FMI em Abril de 2005 (2%), o qual deverá ser entretanto corrigido pelo Fundo, tendo em conta os dados finais das contas nacionais da área do euro.

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* Manuel Farto

Licenciado em Economia pelo ISEG. Doutorado em Economia pela Universidade de Paris-X. Docente no ISEG. Docente visitante da Universidade de Orléans (França) e da Universidade Federal da Paraíba (Brasil). Subdirector do Observatório de Relações Exteriores da UAL.

* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório das Relações Exteriores da UAL.

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