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Biotecnologia – Indústria-chave do futuro A biotecnologia parecia oferecer uma alternativa para os grandes problemas revelados ao longo dos anos de 1970. Em vez das expectativas anteriores nos produtos convencionais provenientes da engenharia bioquímica, a recombinação do ADN e as técnicas hybridoma na indústria farmacêutica começaram a estimular as perspectivas de proteínas terapêuticas e de organismos biológicos, como sementes, pesticidas biológicos e células humanas modificadas de tratamento de doenças genéticas. No final dos anos de 1980, a invenção de um método bioquímico para replicação do ADN, o Polymerase Chain Reaction (PCR), significou que a clonagem não necessitava da reprodução da maior parte do material genético. Com efeito, a distinção entre técnicas químicas e biológicas, tão presente nos anos de 1970, foi-se crescentemente dissipando na década seguinte.
A rentabilidade económica da biotecnologia Até 1980, nenhuma empresa obteve qualquer tipo de rendimento a partir da produção e venda de um produto desenvolvido através da nova geração de tecnologias de recombinação do ADN. Contudo, desde finais de 1980 a situação começa a mudar e, em 2000, a biotecnologia tornou-se no sector industrial de eleição dos investidores, à medida que o movimento de expansão dos sectores da Internet e das telecomunicações foram perdendo o seu estado de graça. Globalmente, a biotecnologia atraiu cerca de 39 mil milhões de euros, com as empresas europeias a alcançar 6 mil milhões. Na sequência da euforia que acompanhou a divulgação dos resultados do programa do genoma humano, os investidores começaram a perceber pela primeira vez que a biotecnologia pode produzir produtos na área farmacêutica de grande sucesso e distintos da primeira geração de medicamentos de biotecnologia. Biotecnologia, ciência e sociedade A implicação intensa das ciências na sociedade e a mudança na natureza das próprias ciências é, na verdade, um dos factores cruciais integrantes do contexto que favoreceu directamente a institucionalização da biotecnologia como grande indústria. A partir dos anos de 1980 assiste-se a uma ligação orgânica entre a ciência, o mundo industrial e as opções económicas e políticas. As alterações nos “modos de produção dos conhecimentos”, na natureza das suas instituições, epistemologias e relação com o mundo estão no centro deste processo. A interacção entre ciência, tecnologia e indústria sofre uma intensificação através do reforço do relacionamento com o mercado e a tendência sistemática para financiar a investigação, que é orientada principalmente segundo o critério da antecipação dos resultados económicos. A passagem de um grupo de ciências e tecnologias, que se cruzavam entre si na procura da aplicação industrial do processo científico de recombinação do ADN, para o estabelecimento da biotecnologia como ramo industrial reconhecido e apoiado pelos governos, empresas e universidades, só teve lugar nesta nova situação. Embora apenas nos anos de 1980 se tenha dado um consenso internacional sobre o conteúdo rigoroso da biotecnologia, esta torna-se rapidamente emblemática das potencialidades económicas imensas das novas ciências e tecnologias da vida, bem como do novo ambiente económico e social em emergência.
As indústrias da ciência da vida e biotecnologia em Portugal Em 2005, a Agência Portuguesa para o Investimento (API) apresentava os seguintes dados sobre este sector em Portugal: Segundo a Estratégia Nacional para a Biotecnologia (ENB, APBio, 20/01/2005), a indústria farmacêutica tradicional está em declínio e as empresas farmacêuticas procuram alternativas recorrendo à biotecnologia, tendo-se tornado a primeira um dos grandes dinamizadores da segunda. A indústria farmacêutica em Portugal não é muito forte: 90% dos medicamentos vendidos são de empresas estrangeiras; as duas maiores empresas nacionais têm uma facturação anual inferior a 100 milhões de euros. A ENB caracteriza a área das ciências da vida como tendo sido alvo de um importante investimento, maioritariamente público, nas últimas décadas, em recursos humanos científicos, bem como em infra-estruturas de laboratórios e parques tecnológicos. O desenvolvimento das universidades e centros de investigação abre um cenário que, nessa interpretação, possibilita sustentar que a qualidade e quantidade do conhecimento científico produzido em Portugal não serão um factor de limitação à biotecnologia. Existe um número considerável de instituições em Portugal a realizar investigação nas ciências da vida e que trabalham em diversos projectos internacionais, ligados a uma profusão de áreas (ver quadro). Novos programas de licenciatura e de pós- A ENB destaca as numerosas colaborações com entidades de renome como sinal de credibilidade de certos grupos nacionais, bem como da dinâmica destes ao nível do estabelecimento de colaborações na esfera académica internacional. Constata também que tais parcerias são mais frequentes do que as existentes a nível nacional. Tal como no caso das instituições, verifica--se que são cobertas múltiplas áreas de investigação, existindo alguma ausência de atenção recíproca sobre o trabalho de diferentes grupos de investigação e uma atitude de pouca colaboração em domínios que poderiam justificar a união de esforços.
Informação Complementar INDICADORES INTERNACIONAIS MAIS RELEVANTES DE 2004 • O sector da biotecnologia angaria 16,9 mil milhões de dólares em capital nos EUA e 3,4 mil milhões na Europa, ultrapassando os valores de 2003; • O sector recebe aprovação para 20 novos medicamentos de biotecnologia nos EUA e 9 na U.E., comparando com 18 e 6, respectivamente, durante 2003; • A linha de produção de produtos de última fase cresce consideravelmente em 2004, e a maioria das novas aprovações de produtos em 2005 virá de empresas de biotecnologia; • As receitas globais aumentam em 17%, mantendo o crescimento alcançado em 2003; • Novos focos de biotecnologia emergem na região da Ásia-Pacífico, em especial o Japão, Índia e China; • Nos EUA as empresas de biotecnologia comercializam cerca de 230 fármacos, incluindo 13 anticorpos terapêuticos; • Só nos EUA, 55 novas aplicações de fármacos estão à espera de aprovação, incluindo terapias para o cancro, insuficiência cardíaca congestiva, dor e diabetes; • Medicamentos na fase III de testes clínicos chegam aos 365, em comparação com os 290 do ano anterior; • Apesar de a Europa ter apresentado melhorias financeiras e crescimento, além da emergência competitiva da região Ásia-Pacífico, os EUA mantêm-se na liderança do sector de biotecnologia global: 80% do capital de risco, 78% das receitas, 50% das empresas cotadas em bolsa; • Quando a Administração norte-americana colocou restrições ao financiamento para a investigação em células estaminais, regulações mais liberais na Suécia, Singapura e Coreia permitiram que esses países ganhassem destaque nesta área. Entretanto, vários estados dos EUA começaram a procurar fundos para este tipo de investigação. Fontes: Ernst & Young, Global Biotechnology Report 2005 (comunicado de imprensa)
ÁREAS DE INVESTIGAÇÃO LIGADAS À BIOTECNOLOGIA • Engenharia bioquímica Fonte: Estratégia Nacional para a Biotecnologia, APBio, 20/01/2005 Sociólogo. Investigador auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e docente convidado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Indústria farmacêutica e de biotecnologias Caracterização das empresas com actividade em biotecnologia Colaboração com entidades internacionais Algumas instituições de I&D em ciência da vida
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