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Aquecimento global: estratégias de estabilização

Ivone Pereira Martins *

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Os efeitos do aquecimento global são variados, claros e visíveis. Para além dos impactes mais facilmente perceptíveis no sistema meteorológico e, consequentemente, nos ecossistemas, determinam igualmente impactes importantes na economia e na saúde humana. Face a esta realidade, duas estratégias são necessárias: tomar medidas conducentes à estabilização ou inversão das tendências referidas; avaliar os riscos associados e definir medidas de adaptação às alterações climáticas e respectivos impactes.

 

Impactes económicos

Os impactes económicos do aquecimento global, embora apenas comecem a ser contabilizados, são expectáveis e de grande magnitude. O degelo de glaciares e a diminuição das calotes de gelo, bem como a expansão térmica dos oceanos determinaram um aumento do nível médio do mar na Europa. Durante o século XX este aumento oscilou entre 0,8 mm/ano (em Brest, França) e 3,0 mm/ano (em Narvik, Noruega). Registos efectuados em Cascais e Lagos apontam para 1,4 mm/ano e 2,2 mm/ano, respectivamente. Obras de defesa costeira e a deterioração de infra-estruturas devido a este fenómeno possuem um custo ainda difícil de contabilizar, o mesmo acontecendo com a afectação de actividades fortemente dependentes do litoral, como o turismo. Mas estima-se que os custos inerentes a fenómenos meteorológicos extremos( inundações, secas, ondas de calor) aumentaram significativamente nos últimos 20 anos, apontando-se um valor de cerca de 10 mil milhões de euros anuais no início do século XXI.

O ano seco de 2003 determinou reduções nas colheitas agrícolas dos países do sul da Europa, reduções que em alguns casos ascenderam a 30%. Más colheitas agrícolas são expectáveis no futuro devido a secas, inundações e pragas. Ao invés, a já próspera área agrícola do Centro-Norte da Europa poderá vir a beneficiar do aumento de temperatura e de CO 2 , dois factores potenciadores do crescimento vascular. Uma evolução do tipo de culturas praticadas é igualmente expectável. Por exemplo cultura experimental de vinha foi recentemente reportada no País de Gales, na Escócia e na Dinamarca.

Outro impacte do aquecimento global faz-se sentir sobre o regime hídrico. Os caudais dos rios europeus têm sofrido alterações nas últimas décadas. Na Europa do Norte e do Leste o caudal médio anual tem aumentado, enquanto no sul da Europa tem diminuído, em concordância com as alterações verificadas na precipitação e na temperatura. Este facto, com tendência a acentuar-se, determinará uma ainda maior pressão sobre os recursos hídricos das regiões que tradicionalmente sofrem de escassez de água. As implicações ao nível da produção agrícola e da produção de hidro electricidade são vastas. Poderá ainda acentuar-se a necessidade de melhor articular a gestão transfronteiriça dos rios internacionais, quer em situações de cheia, quer em condições de seca.

As alterações meteorológicas determinarão igualmente um aumento do risco de incêndio. Este risco é estimado a partir do estado dos diversos combustíveis presentes no solo florestal, directamente influenciado pelas condições atmosféricas (última precipitação ocorrida, temperatura, humidade relativa do ar, intensidade do vento). Em Portugal o índice de risco de incêndio é calculado diariamente desde 2002, sendo que o período de vigilância de Verão dos fogos florestais é alargado ao período de 15 de Maio a 14 de Outubro. O ano de 2003 continua a ser aquele em que uma maior área de mancha florestal ardeu em toda a Europa. Em Portugal cerca de 400 mil hectares foram consumidos pelo fogo em 2003, contra cerca de 130 mil até meados de Agosto de 2005.

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Impactes na saúde e bem-estar humanos

Finalmente, os impactes no bem-estar e na saúde dos europeus fazem-se igualmente sentir. Durante a vaga de calor ocorrida na Europa no Verão de 2003, a França registou um número de óbitos que excederam em 14.000 os verificados no ano anterior. Em Portugal, para o mesmo período, o excesso de mortalidade estima-se em 2000 a 4000 pessoas. A possível maior frequência e magnitude destes episódios, bem como de inundações (e sobretudo das inundações repentinas/ flash floods ), determinará um maior risco para as populações. Estudos feitos para Portugal prevêem um aumento dos dias com níveis de stress devido ao calor e uma redução consequente do conforto térmico. Ondas de calor (períodos com temperaturas máximas diárias iguais ou superiores a 32ºC durante 2 ou mais dias consecutivos) serão mais frequentes e geograficamente significativas, afectando as camadas de população mais vulneráveis (idosos), bem como os turistas.

Uma alteração da distribuição geográfica de doenças transmissíveis por um portador é também expectável. Alguns estudos epidemiológicos sobre a incidência da borreliose de Lyme (que tem como agente transmissor a carraça) apresentam uma expansão para norte e em altitude desta doença, directamente correlacionada com a ecologia do seu portador. Um número crescente de casos de borreliose têm sido registados em países bálticos, expansão que se encontra sob acompanhamento, dados os elevados custos desta doença para os serviços de saúde e para a economia em geral. Outras doenças geralmente referidas neste contexto são a malária, a febre oeste do Nilo ou a leishmaniose, entre outras. Doenças endémicas num passado recente, ou ainda hoje, as alterações climáticas podem vir a determinar condições mais favoráveis para a sobrevivência do vector e a transmissão da doença. No caso da malária, endémica em Portugal até aos anos 60, alteração das condições de humidade e temperatura, recomendam uma maior atenção e vigilância epidemiológica. Cerca de 90% dos casos de malária ocorrem hoje em África, mas um aumento dos casos importados e a ocorrência de condições climatéricas favoráveis poderão determinar a sua expansão para algumas zonas do sul da Europa.

   

O Protocolo de Quioto – estabilizar as emissões de GEE

O Protocolo de Quioto, assinado em 1997, constitui um protocolo anexo à Convenção--Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, assinada no Rio de Janeiro em 1992. Visa controlar as emissões dos gases com efeitos de estufa, constituindo uma das primeiras acções no sentido de concretizar o objectivo da Convenção-Quadro de “...estabilizar na atmosfera as concentrações dos gases com efeito de estufa a um nível que impeça interferências antropogénicas perigosas no sistema climático”.

Os requisitos para a entrada em vigor do Protocolo de Quioto consistiam na ratificação por pelo menos 55 países e que fossem responsáveis por pelo menos 55% das emissões globais. O Protocolo entrou em vigor em Fevereiro de 2005, após a sua ratificação pela Rússia, contando com a ratificação de 141 países, correspondendo a 61,6% das emissões globais. Constitui um quadro vinculativo para os Estados-parte, mas nestes não se incluem nem os EUA (responsável por mais de 20% das emissões globais de carbono equivalente) nem a Austrália.

Os 15 Estados-membros da UE-15 aceitaram em Quioto uma redução de 8% das suas emissões globais e posteriormente acordaram entre si situações diferenciadas ( Burden-sharing ). Oito países possuem metas de redução de emissões, dois países encontram-se numa situação de estabilidade relativamente a 1990, cinco países (entre os quais Portugal) possuem possibilidadade de aumento das suas emissões. Os 10 países que aderiram à UE em Maio de 2004 todos têm as suas próprias metas (excepto Malta e Chipre) que contemplam uma redução de 6-8% das emissões.

A entrada em vigor do Protocolo abre caminho à chamada economia do carbono. A 11ª Conferência das Partes (COP11) da Convenção e a 1ª Conferência das Partes do Protocolo de Quioto realizar-se-ão conjuntamente em Montreal nos finais de 2005.

Considera-se geralmente o valor de 2ºC como o aumento global máximo de temperatura, acima do qual as alterações climáticas decorrentes se poderão considerar de grande impacte no planeta. No entanto, o aquecimento verificado actualmente, impõe já grandes alterações, quer sobre os sistemas naturais, quer sobre os sistemas humanos, sendo que o alcance das medidas conducentes à limitação da concentração de GEE, nomeadamente as decorrentes da diplomacia internacional, como sejam o Protocolo de Quioto, está ainda por equacionar em toda a sua extensão. No entanto, é já hoje claro que estas estratégias de estabilização têm que ser complementadas com medidas de adaptação, transversais aos vários sectores da actividade humana.

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* Ivone Pereira Martins

Engenheira do Ambiente. Mestre em Planeamento Regional e Urbano. Administradora da Agência Europeia do Ambiente em Copenhaga.

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Referências

EEA, 2004. Impacts of Europe's changing climate . An indicator-based assessment EEA Report No 2/2004, EEA, Copenhagen.

European Commission, 2005. Communication of the Commission. Winning the battle against global climate change , COM(2005) 35 final. 9 February 2005.

European Council, 2005, Environment Council conclusions on climate change , 10 March 2005, Brussels.

IEA, 2002. Beyond Kyoto — Energy dynamics and climate stabilisation , IEA, Paris

M.A., (2005) Millennium Ecosystem Assessment Synthesis Report, A report of the millennium ecosystem assessment , 219p, http://www.millenniumassessment.org/en/index.aspx

UNFCCC, 2004. UNFCCC, 10 th Conference of the parties , Buenos Aires. December 2004. http://unfccc.int/meetings/cop_10/items/2944.php

WHO-ECEH, 2003. Climate change and human health risks and responses , Geneva, Switzerland.

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Dados adicionais
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Link em nova janela Área ardida em Portugal em 2003 (até 20 de Agosto)

Link em nova janela Alterações nos caudais médios anuais nas principais bacias hidrográficas europeias entre 2000 e 2070

Link em nova janela Colheita de trigo - comparação entre 2002 e 2003

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