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A política de coesão como política dos alargamentos Embora existissem algumas assimetrias de desenvolvimento entre os países fundadores, como era especialmente exemplificado pela situação do Mezzogiorno italiano, pode pois assumir-se que a política de coesão é uma consequência dos alargamentos, sobretudo depois da adesão da Grécia e de Portugal e Espanha. Aliás, a própria opção de organizar os recursos da comunidade através da elaboração das chamadas perspectivas financeiras, que estabelecem o quadro orçamental que a governa numa lógica plurianual, está directamente associada aos grandes compromissos políticos que permitiram lançar a política de coesão numa base sistemática, programada e articulada, dando-lhe uma visão de médio prazo. E entre esses compromissos estão, evidentemente, os alargamentos. Foi assim, então de forma assaz inovadora e original, no período 1988-1992, quando, com a sagacidade de Delors, se abriram as portas ao chamado Pacote Delors I. Foi assim no período seguinte, 1993-1999, com o Pacote Delors II. E assim continuou com a Agenda 2000, para 2000-2006, até às decisões actuais para o ciclo 2007-2013. Tratou-se, pois, de substituir intervenções estruturais relativamente marginais e desarticuladas por políticas orientadas para a convergência de regiões com níveis de desenvolvimento claramente inferiores aos da Comunidade no seu conjunto ou com outros problemas de desenvolvimento. Quer dizer, a capacidade de a União desenvolver um quadro estrutural para as suas opções e para as suas margens de actuação financeira, através de transferências individualizadas para Estados, tem de ser creditada, ou pelo menos associada, à consolidação de uma política de coesão. Estes compromissos e esta agenda política só são compreensíveis à luz da formação de um espaço político, social e económico profunda e crescentemente heterogéneo. A persistência de padrões de vida e de contextos económicos muito contrastantes não seria apenas uma “contradição nos termos” de um processo de integração; seria, obviamente, uma situação insustentável. Mas nem por isso o espaço ocupado pela política de coesão deixou de ter de ser aberto a pulso, confrontando-se com dois adversários poderosos: os limites do orçamento comunitário, hoje ainda contidos em 1,24% do PIB da União (e sem nunca se lá chegar, porque tanto este tecto como a “margem” de não utilização são zelosamente guardados por alguns países) e a mais persistente das políticas comunitárias, aquela que os “seis” iniciais acordaram – a política agrícola – e que, continuando a ser uma política predominantemente para países ricos e agricultores ricos, ainda hoje capta uma das maiores fatias dos recursos. As orientações da política de coesão e o contexto actual da discussão sobre intervenções estruturais O ambiente europeu – balizado, em matéria de recursos, por um orçamento persistentemente na casa do 1% do PIB global e por um debate surdo sobre as implicações dos custos dos alargamentos, para já não falar no problema maior da natureza política e constitucional da União – recriou um novo contexto para a evolução da política de coesão, que é o que marca os dias de hoje. Já não é a questão dos caminhos e das modalidades da convergência das regiões mais desfavorecidas que encima o debate – é o tema das relações entre coesão e competitividade que predomina. Isso ficou muito claro no processo que levou à formulação das orientações para a política de coesão no período 2007-2013 e às respectivas perspectivas financeiras. As prioridades da União em matéria de competitividade internacional – designadamente com os Estados Unidos – e a Agenda de Lisboa revista passaram a dar lugar de destaque às questões da inovação, do espírito empresarial e do crescimento da economia, com referência obrigatória ao conhecimento e às capacidades de investigação, incluindo as novas tecnologias da informação e da comunicação. Por isso, as orientações estratégicas estabelecidas por decisão do Conselho em Outubro de 2006 foram (1) tornar a Europa e as suas regiões espaços mais atractivos para investir e para trabalhar, (2) melhorar os conhecimentos e a inovação em prol do crescimento e (3) criar mais e melhores empregos. Estabeleceu-se, assim, que a política de coesão é, ela própria, um instrumento da competitividade e da concretização da Agenda de Lisboa, na medida em que assegura o contributo dos Estados membros e das regiões menos desenvolvidos para as finalidades do emprego, da inovação e do crescimento. Para além da formulação deste princípio em si mesmo (que até pode não sofrer contestação, visto que a política de coesão não tem de ser “assistencialista”), a verdade é que ele produziu uma forte “rotação” no entendimento da função redistributiva dentro da União, sujeitando--a às restrições da macroeconomia e da competitividade. Quer dizer, os espaços em atraso (a sua transformação) são menos um objectivo da União, encarando-se antes como participantes numa lógica que está para além deles e à qual têm de se ligar. Afirma-se, assim, “a importância da política de coesão para atingir outros objectivos políticos comunitários em sintonia com a Agenda de Lisboa renovada”. O “não-Estado” europeu aproxima-se muito mais do que se convencionou chamar um Estado “schumpeteriano” do que de um Estado-Providência, agora tido como fora de moda, mas cuja natureza formou decisivamente a problemática inicial da coesão. A Agenda de Lisboa é o grande elemento impulsionador desta viragem e os princípios da coesão são, de certo modo, os barómetros da mudança em curso.
Os novos objectivos da política de coesão e os recursos mobilizados Em todo o caso, a grande parte (mais de 80%) dos recursos da política de coesão continua a concentrar-se no primeiro dos três objectivos estabelecidos para o período 2007-2013, o “Objectivo da Convergência”, que se destina a acelerar a convergência dos Estados membros e das regiões menos desenvolvidos. Ao “Objectivo da Competitividade Regional e do Emprego”, que se destina a reforçar a competitividade e a capacidade de atracção das regiões que não são definidas como das menos desenvolvidas, cabem cerca de 16% , restando um pouco mais de 2% para o “Objectivo da Cooperação Territorial Europeia”, que se destina, em geral, a reforçar a cooperação inter-regional e o intercâmbio de experiências de nível territorial. O que acontece, evidentemente, é que a execução da política de coesão nas regiões desfavorecidas tenderá a privilegiar uma lógica de contributo para a competitividade. Contudo, a estrutura do orçamento comunitário, no seu conjunto, onde os recursos acabados de analisar representam um peso de cerca de 36% do total, não acompanha esta opção por uma prioridade tão forte a favor da política de coesão (no entendimento actual ou nos que o antecederam). De facto, é a política agrícola, com uma natureza apenas marginalmente modificada, por comparação com a política de preços e mercados, que favorece uma pequena parte dos agricultores europeus, que se inclui na rubrica mais “pesada” (43%), valor que constitui, no entanto, uma redução apreciável face aos tempos em que era muito mais de metade do orçamento.
O contributo da coesão para a reinvenção permanente da ideia de Europa Parece, pois, que se pode dizer que a natureza e o entendimento da política europeia de coesão continuam a ser parte importante de muitos debates que há que fazer sobre o futuro da União Europeia. Informação Complementar A política europeia de coesão em Portugal: o QREN (2007-2013) Os fundos estruturais de coesão, que constituem as transferências comunitárias que co-financiam a execução, em bases nacionais, de projectos de desenvolvimento, traduzem-se em Quadros de Referência Estratégicos Nacionais. O QREN português para o período 2007-20013 assenta em três “agendas” principais que se supõem em consonância com as orientações e as prioridades formuladas a nível europeu. Trata-se das Agendas Operacionais para o Potencial Humano, para os Factores de Competitividade e para a Valorização do Território. Elas concretizam-se através de três Programas Operacionais Temáticos com aquelas designações e de Programas Operacionais Regionais do Continente – Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve – e das Regiões Autónomas. O co-financiamento é assegurado pelo Fundo Social Europeu (FSE), pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e, conjuntamente, pelo FEDER e Fundo de Coesão. Esta estrutura operacional (a que corresponde a distribuição de recursos que se mostra na figura) contém uma novidade relevante, por comparação com os QCA anteriores: uma redução significativa dos programas operacionais não-regionais, agora limitados a três, o que significa uma maior concentração de objectivos, prioridades e recursos. Isso está em consonância com o propósito de dotar as intervenções estruturais de maior selectividade, tendo em vista a viabilidade económica e a sustentabilidade financeira dos projectos e a necessidade de alcançar resultados mais duradouros em matéria de coesão e valorização territoriais.* José Reis Prof. Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Investigador do Centro de Estudos Sociais. Distribuição dos fundos estruturais por objectivos Distribuição dos fundos estruturais por programas
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