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- JANUS 2009 -



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Londres: cidade global

António Silva *

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Entre 1831 e 1925, Londres foi a cidade mais populosa do mundo, até perder esta posição para Nova Iorque. A introdução do caminho-de-ferro, em 1836, e do metropolitano, em 1863, contribuíram para o alargamento da cidade, pela urbanização crescente de zonas circundantes.

As dimensões multi-étnica e multicultural são, desde meados do século XIX, algumas das principais características de Londres o que tem, naturalmente, a ver com o facto de Londres ter sido a capital do Império Britânico e ter sido, desde então, ponto de encontro de gentes vindas de todo o mundo para aí viver, trabalhar, estudar ou fazer negócios.

Hoje, dos 8 milhões de habitantes de Londres, um em cada três nasceu fora do Reino Unido. A população londrina é mais jovem que a do resto do Reino Unido, com 44% da população na faixa etária dos 20 aos 45 anos. Quase três milhões de emigrantes vieram atraídos pelas múltiplas oportunidades que a cidade oferece em termos de emprego, enquanto centro económico e financeiro e também cultural e científico.

Londres é não só uma das capitais financeiras e económicas do mundo mas é também uma referência essencial na cultura, nas artes, nas ciências, nas ideias, na economia. Ter sucesso em Londres, para um artista, um académico, um gestor ou para um produto ou uma empresa, é meio caminho para ter sucesso em qualquer parte do mundo.

O seu estatuto de metrópole mundial é reforçado pela «ponte» que estabelece entre os Estados Unidos e a Europa, os dois esteios da civilização ocidental. Estatuto que, aliás, os britânicos fazem por sublinhar e reforçar, defendendo as suas características próprias tanto em relação aos Estados Unidos como em relação à Europa (« the continent », como teimam em referir-se-lhe, sublinhando as distâncias…). A língua inglesa como «língua franca» do mundo em que vivemos é também um elemento importante para fazer de Londres uma megacidade global e cosmopolita onde convivem diferentes culturas e raças.

A cidade de Londres é, por si só, responsável por 35% do PIB britânico, com uma actividade económica assente nos serviços, como os serviços financeiros e o turismo, as indústrias culturais e do conhecimento.

Em Londres está o centro financeiro mais importante do mundo, concentrado na City onde, num escasso quilómetro e meio quadrado (a « square mile ») se estabeleceram as sedes europeias de milhares de firmas de todo o mundo: dos Estados Unidos ao Japão, da Índia ao Canadá, do Médio Oriente à China, do Brasil à Rússia, todas as grande empresas estão presentes em Londres, levando consigo recursos financeiros e funcionando como pólo de atracção para quadros e gestores de todo o mundo. Mas não só. Centenas de milhar de emigrantes procuram em Londres uma oportunidade de trabalho nos múltiplos serviços que uma metrópole desta dimensão exige em áreas como os transportes, a restauração, a construção.

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O poder de atracção de Londres deve muito também à sua capacidade de renovação e modernização sem, no entanto, perder as características tradicionais. Milhões de turistas acorrem anualmente para ver o Palácio de Buckingam ou The Houses of Parliament mas também os edifícios contemporâneos da City , para visitar o British Museum mas também a Nova Tate ou para dar uma volta no London Eye uma roda gigantesca criada para assinalar a passagem do Milénio e que hoje é a principal atracção turística da cidade!

Mas há «várias Londres» em Londres; pelo menos tantas como as diferentes comunidades que nelas habitam: dos muito ricos e britânicos lordes (em Eaton Square) aos multi-milionários russos e sauditas (em Chelsea e em Belgravia), dos chineses da China Town (no centro de Londres) aos bengalis do Bangladesh (em Brick Lane), dos africanos e caraíbenhos pobres (em Brixton) aos portugueses (em Stockwell) são muitas as cidades que Londres alberga, com as suas regras específicas, características e manifestações culturais próprias.

A vida numa cidade com estas características não é, naturalmente, isenta de contradições e conflitos e os atentados de Julho de 2005 foram um sinal forte disso mesmo. Há problemas crescentes ao nível da segurança dos cidadãos, da criação de emprego, dos transportes, da habitação, da distribuição da riqueza. Londres é uma cidade desigual e dividida onde coexistem bolsas de pobreza extrema com um novo-riquísmo agressivo, onde o desemprego atinge 6% da população activa e onde mais de 650.000 crianças vivem abaixo do limiar de pobreza. Mas, apesar das muitas desigualdades e injustiças óbvias e chocantes entre ricos e pobres (sobretudo entre os muito ricos e os muito pobres), Londres continua a ser uma cidade com um grande poder de atracção. Mesmo depois dos atentados de 2005, quando se temia uma deriva securitária, Londres foi capaz de manter a sua característica mais importante: ser uma cidade multi-étnica e multicultural, uma cidade aberta, onde a tolerância, o respeito pelo outro e um sabor especial da liberdade são valores comuns da convivência entre os cidadãos.

 

Uma cidade-região policêntrica

Nos últimos anos, Londres tem sido uma das poucas grandes cidades europeias que continua a crescer. Mas ao mesmo tempo, e dadas as infraestruturas de transportes e de comunicações, por um lado, e a escassez e custo elevado da habitação, por outro, Londres vem reforçando as ligações com centros urbanos secundários vizinhos que integram uma macro-região com centros diversos que hoje abarca parte substancial do sudoeste da Grã-Bretanha e que totaliza cerca de 17 milhões de habitantes, ou seja, quase um terço da população britânica. Milhares de trabalhadores deslocam-se diariamente, de fora de Londres para aí ir trabalhar fazendo uma ou mais horas de viajem.

Os próximos Jogos Olímpicos, em 2012, em Londres, não são apenas um motivo para um ressurgimento do entusiasmo e da auto-confiança da cidade, o que é sensível no contacto com os seus habitantes. Milhares de empregos serão criados e o projecto prevê a construção de milhares de novas habitações numa zona (leste de Londres) até agora marginal e, em grande parte, degradada. Um enorme esforço financeiro está a ser desenvolvido, juntando recursos estatais e privados, para recuperar uma área equivalente à de dez Expo-98 em Lisboa, o que será objecto de um ambicioso processo de requalificação urbana. Este projecto constituirá um importante factor de modernização de uma larga superfície que será integrada na cidade-região policêntrica que Londres já é hoje.

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* António Silva

Economista. Trabalha na Agencia para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal (AICEP) em Lisboa. Foi responsável pelas Delegações da Agência em Cabo Verde, Bruxelas e Londres, tendo vivido e trabalhado nesta cidade de 1998 a 2007.

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Referências bibliográficas

ACKROYD, Peter, 2001 – London: The Biography. Londres: Vintage.

HALL, Peter, 2003 – «Divided City: The Crisis in London», in Divided Cities: The 2003 Oxford Amnesty Lectures, Ed. Richard Scholar, Oxford University Press.

Key Facts. Corporation of London. London: 2006.

Office for National Statistics: Focus on London, 2008.

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